Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Não sabia quem estava mais constrangido, se ela mesma ou Lorde Hanby.

Para completar, viu Herrera apertar a mão na bengala, como que embaraçado com tudo aquilo.

Estava acostumada a ser tratada como se fosse invisível, mas para algumas pessoas, como Lorde Herrera com seu coração gentil, presenciar isso podia ser uma experiência muito desagradável.

— Bem, eu... — gaguejava Lorde Hanby, sem saber o que dizer.

— Já reservei uma valsa com Lady Anahí — declarou Herrera, de repente. —, bem como a dança da ceia.

— E eu reservei uma valsa e uma quadrilha. — informou Axel. — Vai ter que se virar com o que sobrou.

— Bem... — Lorde Hanby olhou para Anahí constrangido. — Poderia reservar-me a primeira música do interior, então, minha Senhora?

Anahí aquiesceu de modo quase imperceptível e ele se voltou para a outra jovem.

— Lady Camila, espero que ainda não tenha reservado a dança da ceia, pois não?

— Já reservou. — respondeu Axel, sem dar a Camila chance de falar. — Comigo. Você fica com a quadrilha. Agora, seja um bom camarada, Hanby, e caia fora.

Lorde Hanby arregalou os olhos, apreciando a compleição maciça de Axel, e conformou-se:

— Ficarei muito satisfeito com uma quadrilha, Lady Camila. Boa tarde. — cumprimentou Anahí e Herrera nervosamente. — Boa tarde a todos.

Camila ergueu a sombrinha com a óbvia intenção de batê-la na cabeça de Axel.

Anahí se adiantou para detê-la, mas sentiu a mão de Herrera sobre a sua.

— Ah, Lady Perroni e a Srta. Perroni! — exclamou ele, no momento em que outra caleche emparelhava com a deles na longa fila de veículos em marcha lenta.

Camila baixou a sombrinha.

— Que agradável surpresa!

— Lorde Herrera... — cumprimentou a bela senhora de meia-idade. — Uma surpresa, de fato. Maite e eu esperávamos vê-lo aqui.

A bela moça a seu lado sorriu para Herrera e Anahí.

— Não vai nos apresentar a suas companheiras?

— Com prazer. — retrucou Herrera.

Num prazo de quinze minutos, Anahí viu-se passeando de braço dado com a Srta. Maite Perroni no paraíso colorido de Kensington Gardens.

Ao lado, Herrera escoltava Lady Perroni.

Alguns passos atrás, Camila e Axel continuavam discutindo, bem baixinho.

Maite tinha quase a mesma idade de Anahí e lembrava as amigas que ela e Camila tinham em Somerset.

Extrovertida e bonita com seus cabelos escuros e doces olhos castanhos, a moça da corte encarou com naturalidade a deficiência de Anahí.

Lendo as palavras escritas como se ela as pronunciasse, não pausava a conversa e logo aprendeu o significado dos principais sinais da linguagem de mãos.

— Espero que compareçam à pequena reunião que minha mãe vai promover na semana que vem, Lady Anahí. — comentava a Srta. Perroni. — Será um evento literário, mas teremos também música e jogos de cartas. É claro que não ser nada comparado ao baile que Lady Pebworth vai dar esta noite. Vocês irão? Oh, que bom! Diga-me que vestido vai usar? Estou tão feliz por não ter de usar branco nesta temporada, como no ano passado. Já não aguentava mais!

A Senhorita Perroni tinha o timbre de voz que Anahí sempre admirara, clara e límpida, musical, tão feminina e agradável que mal disfarçava a inveja.

— Por favor, diga-me, qual a cor do seu vestido! — insistiu a moça Perroni. — Se bem que isso não tem a menor importância, pois você é tão bonita que qualquer cor ficará perfeita. Todo homem que a vê deve se apaixonar por você.

O elogio fez Anahí corar. Sorrindo, ela balançou a cabeça.

— Mas é verdade! — confirmou Maite, apertando-lhe o braço. — Não concorda, meu Senhor?

— Plenamente. — disse Herrera.

Embaraçada, Anahí caminhou até uma roseira carregada de flores branco-rosadas. Após afagar uma das pétalas sedosas, passou a mão pela saia.

— Que tom lindo, uma ótima escolha! — aprovou Maite. — Branco, mas não branco demais. Devíamos ter tido essa idéia, mamãe, na minha primeira temporada, em vez de comprarmos todos aqueles vestidos brancos.

Herrera sorriu para a jovem, segurando uma de suas mãos delicadas.

— Apreciei-a deveras naqueles vestidos. — murmurou. —Você fica linda de branco. — inclinando a cabeça, beijou-lhe a mão com delicadeza, então fitou-a nos olhos longamente antes de soltá-la.

A jovem ruborizou, o prazer indisfarçável, diante da mãe que sorria aprovadora.

Imóvel, Anahí assistira à cena como se fosse invisível.

Eles estavam apaixonados, concluiu. Lorde Herrera e a Srta. Perroni.

Percebeu também que não podia ser coincidência aquele encontro no parque, nem a receptividade de Maite para com ela.

Consideravam-na uma idiota?!, cogitou, furiosa. Só porque era muda, achavam que era também incapaz de raciocinar?!

Já fora ruim ver Herrera e Axel mentirem quanto às danças reservadas, mas essa... essa piedade bem-intencionada, essa gentileza forçada...

Odiava-as!

Só odiava mais não poder dizer-lhes o quanto se ressentia por ser tratada dessa maneira, como se requeresse tratamento diferenciado em relação a todas as outras pessoas.

"Mas você é diferente.", disse a si mesma, destruindo sem querer as delicadas pétalas da rosa nas mãos. "Você nem sequer existe a maior parte do tempo. Devia sentir-se grata a Herrera por seu esforço."

Mas não se sentia.

Por que ele o fizera? O que o obrigara a fazê-lo?

— Você é um espírito de porco teimoso, cabeça-dura e estúpido! — Camila continuava xingando o inseparável Lorde Axel.

— Posso até ser, mas ao menos monto sem matar meu cavalo, Lady Camila! — replicou ele, tão zangado quanto ela.

Anahí nunca encarara tão bem o mau gênio da sobrinha.

Quando Herrera sugeriu que partissem antes que a guerra estourasse em Kensington Gardens, já estava novamente sob controle e permitiu que ele a conduzisse de volta a caleche.