Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Nove

— Bem, Alfonso, Vincent não tem do que reclamar. — tranquilizou Axel, espreguiçando-se à sombra da árvore que ambos partilhavam.

Olhava para Anahí, que passeava à beira do rio Tâmisa com outro participante do piquenique.

— Lady Anahí tem-se divertido até agora. Duvido que exista outra mulher viva, que possa dizer, que já viu Sir Margate tão patético.

Herrera riu, também observando as duas figuras próximas à água.

— Ele parece mesmo apaixonado. Nunca pensei que viveria para ver este dia. Mas quem pode culpá-lo? Ela é bonita demais.

— Sim. — concordou o visconde, apreciando detidamente uma amêndoa glaçada antes de colocá-la na boca. — Não é só isso. Anahí tem maneiras muito finas. Uma moça pra lá de agradável. Se houvesse um jeito de não tornar-me aparentado de Camila Portilla, eu mesmo me interessaria por ela.

Herrera riu de novo, balançando a cabeça.

— Isso significa que devo retirar minha aposta na banca do White de que você e Lady Camila estarão noivos ao final do verão?

— Desde que me pague por ter perdido a aposta. — replicou o amigo, mal-humorado.

— Acho que vou deixar mais um pouco. — considerou Herrera. — É uma aposta tão azarona. Eu contra metade de Londres. Não resisto à idéia dos ganhos que terei se vocês dois acorrentarem as pernas...

— Vai é ficar de bolsos vazios e ganhar fama de burro. — Axel olhou para o sempre crescente círculo de admiradores em torno de Camila. — Aquela insolente vive rodeada por esses bobocas que lembram cães farejadores. Sou menos do que nada para ela. Pior, ela me odeia. — esvaziou o cálice de vinho, que um criado a postos apressou-se em encher de novo. — Está jogando dinheiro fora, Alfonso.

— Não perca a esperança ainda, Axel. — animou Herrera. — Pelo menos ela o odeia com todas as suas forças.

— Grande... — murmurou o visconde. — Algo para lembrar na velhice. É melhor você ficar de olho em sua protegida antes que Margate a tome toda para si lá naquele arvoredo.

Herrera desencostou-se do tronco para olhar na direção indicada.

— Lady Anahí é esperta demais para deixá-lo tentar algo assim. Não é mais criança. — recostou-se de novo. — E não é minha protegida.

— Seu encargo, então. — retificou Axel. — Sua chantagem de verão.

— Talvez... — Herrera empurrava as fatias de laranja pelo prato. — A verdade é que não estou ligando muito. Acho que este é o verão menos chato que já tive. — sorriu. — Algo para lembrar na velhice.

— E aquele dia na Bond Street? Aposto como ninguém se divertiu.

— Não. — concordou Herrera, circunspecto. — Só flagrar Vincent com a amante teria sido constrangedor o bastante. Mas Lady Catherine deve ter levado um choque ao ver a semelhança da morena consigo mesma, uma cópia de qualidade inferior, digamos assim.

— Não a achei tão parecida assim. O cabelo é da mesma cor, mas o resto... — dando de ombros, o visconde saboreou o último bocado de salmão frio em seu prato.

— A semelhança é suficiente para causar alguma estranheza. — opinou Herrera. — Imagina-se o que levaria Vincent a procurar uma mulher tão parecida com a cunhada. Anahí ficou muito perturbada.

— Ah, é?

— Mais tarde, no Vauxhall, fomos dar um passeio antes dos fogos de artifício e ela me confidenciou o quanto se abalara com o acontecido. Mas é tão ingênua que chegou a me perguntar se a tal mulher era amante de seu irmão, e fiquei sem saber o que dizer.

— E por que você deveria saber? — questionou Axel. — Mal conhece o homem.

— Esqueceu que agora sou "amigo" dele?

— Ah, é mesmo... Amigos que nunca foram vistos juntos. Não sei como Anahí caiu nessa. Mas como foi que saiu-se da enrascada, afinal?

Herrera pousou o prato vazio e esticou-se sobre a toalha, contemplando os ramos da árvore contra o céu azul.

— Eu disse que sim.

— E como ela reagiu?

— Ela compreendeu. — mentiu Herrera, fechando os olhos para o dia radiante. — Aceitou que o irmão é um homem do mundo.

Herrera não queria contar a ninguém, nem mesmo ao melhor amigo, o quanto Anahí se mostrara magoada.

Extremamente pálida, ela desabafara por escrito.

"Por quê?"

Ele esmagara o bilhete e juntara-o às dezenas de outros em seu bolso.

Vendo a ansiedade em sua carinha ingênua à espera de uma resposta, apenas sussurrara:

— Eu sinto muito.

Quando ela se sentou no banco, juntou-se a ela e tomou-lhe as mãos.

— Lady Anahí... Anahí.

Ela soltou as mãos e escreveu outra mensagem.

"Ela se parece com Catherine."

— De fato — confirmou ele. —, mas é mera coincidência.

Anahí negou movendo a cabeça firmemente.

— Tenho certeza de que é. — insistiu Herrera, pegou-lhe as mãos novamente e apertou-as, sentindo sua infelicidade. — Anahí, não devíamos estar conversando sobre isso. Não é aceitável. Deve pedir a sua cunhada Catherine que lhe explique tais fatos.

— N-não. — disse ela, surpreendendo-o, pois raramente se comunicava oralmente, mesmo quando estavam a sós. — Se eu n-não pu-der fa-lar c-com vo-cê, n-não há ma-mais nin-guém.

Ele podia ter sorrido ante a confidência, ou contestado, mas ao invés disso aquiesceu.

Anahí estava certa. Havia algo especial entre eles. Uma ligação.

Pelo menos enquanto ela permanecesse em Londres, onde se tornara, a contragosto, dependente dele.

Não havia mais ninguém a quem ela pudesse recorrer. Somente ele.

Aparentemente, tratava-se da única pessoa, com exceção dos familiares, que a entendia, naquela terra estranha.

Devia ter-lhe repetido que não podia discutir tais temas com ela, no entanto, afagando as costas de suas pequenas mãos enluvadas, cedera:

— Diga o que mais quer saber.

O que ela deplorava não era a idéia de o irmão manter uma amante, mas a natureza dos homens em geral.

Ele deveria casar-se com a pobre coitada!

Herrera não pudera conter o riso antes de esclarecer:

— Céus! Minha querida, seria impossível para um homem da posição de seu irmão, para o conde de Keller, casar-se com uma mulher na condição dela.

Anahí não estava se divertindo nem um pouco.

"Então, deveria casar-se com Catherine."

Herrera ficou tão surpreso com aquele sentimentalismo que respondeu sem pensar:

— O casamento nem sempre é uma solução, minha Senhora. Muitos homens casados mantêm amantes, apesar de amarem suas esposas.

Boquiaberta, Anahí fitou-o como se ele fosse um demônio.

Zangado consigo mesmo pela falta de tato, Herrera socou o bilhete no bolso e levantou-se.

— Peço desculpas. Perturbei-a. Não deveríamos estar discutindo tais assuntos. É melhor nos juntarmos aos outros antes que comecem a estourar os fogos.

— Es-es-pe-re. — pediu ela, levantando-se também, parecia envergonhada. — Me-me des-cul-pe.

O som de sua voz começava a exercer um efeito estranho sobre ele.

Queria muito ouvi-lo. Agradava-o imensamente saber que era um dos poucos contemplados com tal dádiva.