Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Dois

— Aquela não pode ser a moça. — Lorde Axel franziu o cenho. — Não esperava que fosse bonita, tendo Vincent como irmão, mas tampouco imaginei que lembrasse mais um homem do que uma mulher. Tem certeza de que não há como sair dessa enrascada?

— Tenho. — replicou Herrera, as mãos unidas atrás das costas enquanto contemplava a moça alta, morena, no outro lado do Almack's. — Vincent rechaçou todas as minhas tentativas de saldar minhas dívidas. É evidente que tem seu próprio exército de degoladores. Meu alfaiate ficou tão deprimido quando tentei pagá-lo pessoalmente que pensei que fosse ter um ataque. Foi igual em toda parte. Parece que as pessoas respeitam muito Lorde Vincent.

— Vai seguir adiante, então? — questionou Axel, estudando a moça. — Com ela?! Olhe só os ombros! Se comprasse briga com qualquer homem no salão, venceria fácil. As moças do campo são mesmo robustas...

Herrera riu.

— Não é tão má, Axel. Talvez não seja bonita, não como a Srta. Perroni, mas apresentável. Desde que tenha boas maneiras, não me importo de acompanhá-la por Londres.

— Apresentável... — ironizou Axel. — Sei. Se é o que aprecia numa mulher...

— Gosto de mulheres altas, e ela parece ser mais alta do que a Srta. Perroni. E olhe aquele sorriso... Arrebatador. E ela está jogando charme para o velho Hanby, Creio que nunca o tinha visto rir antes. Pode imaginar o que ela está lhe dizendo?

— Provavelmente: "Ria, ou vai ficar de olho roxo, seu magricela". — sugeriu Axel, seco. — Céus, e lá vai Curtis oferecer-lhe uma xícara de ponche... Mas essa moça tem mais homens cercando-a do que um cavalo tem moscas! Com o que Vincent está preocupado? Ela não parece precisar de ajuda. Você devia ir àquele casarão mal-assombrado dele e dizer-lhe que a irmã está se saindo muito bem sem ajuda. — sentiu um puxão na manga. — O que foi?

— Olhe ali. — Herrera indicou o outro lado do salão. — Sentada logo atrás da irmã de Vincent em pé. Está vendo?

Inclinando a cabeça para ver através do redemoinho de dançarinos, Axel viu e, superado o choque inicial, declarou:

— Ela é minha. Você já tem Lady Anahí para tomar conta e a Srta. Perroni para entreter.

— Ela é maravilhosa. — murmurou Herrera, sem piscar. — Nunca vi cabelo daquela cor, quase branco de tão loiro. É como se a pintura de um anjo houvesse criado vida. Quem acha que ela é?

— Não importa, velhão. — desconversou Axel, esfregando as mãos à frente da elegante casaca. — Ela é toda minha. Vá cuidar de Lady Anahí. Eu tomo conta do anjo. Acha que ela tem permissão para valsar? — olhou em torno. — Onde está uma das patrocinadoras?

— Lá está Lady Jersey. — informou Herrera, dirigindo à dama seu sorriso mais charmoso, enquanto lhe fazia uma mesura elegante. — Ah, foi o bastante. Aí vem ela...

— Até que enfim você chegou, Herrera. — alegrou-se Lady Jersey, aproximando-se, então baixou a voz: — Estou esperando há uma eternidade. Eu garanti a Lorde Vincent que sua irmã seria bem assistida mesmo antes de você chegar, mas nenhum dos cavalheiros que lhe apresentei convidou-a para dançar. Não sei o que Vincent espera, senão um milagre. É claro que, se você dançar com a moça, o resto o seguirá. Venha, vou apresentá-lo à cunhada dela. Você, também, Axel.

Os dois rapazes trocaram olhares enquanto seguiam Lady Jersey.

— Lady Catherine! — exclamou Lady Jersey, estendendo a mão para uma mulher alta e elegante que conversava amigavelmente com outras da mesma idade.

A mulher pequena de traços delicados, cabelos castanhos claros e com olhos claros, era de uma beleza arrebatadora, e Herrera não pôde evitar admirá-la.

Lady Jersey puxou-a para a frente.

— Minha querida, quero apresentar-lhe dois cavalheiros. Alfonso Herrera, o conde de Herrera, e Axel Aguillar, visconde Aguillar. Senhores, esta é Lady Catherine Chandler, a condessa de Keller.

Os três trocaram saudações polidas e então Lady Jersey confidenciou a Lady Catherine:

— Lorde Herrera manifestou o desejo de dançar com sua cunhada. Se estiver de acordo, eu os apresentarei um ao outro e darei a ela permissão para valsar.

Lady Catherine olhou para Herrera com tanta frieza que, durante o exame silencioso, ele começou a se sentir desconfortável.

Por fim, manifestou-se:

— Se Anahí quiser, dou minha aprovação. Terá de pedir-lhe, é claro. — a Lady Jersey acrescentou: — Sou grata, minha Senhora, por sua gentileza.

E lá se foi Herrera atrás das duas mulheres, com Axel a reboque.

Quando se aproximaram do ajuntamento de cavalheiros alvoroçados, a jovem morena em pessoa se destacou, indo ao encontro deles com um sorriso tão arrebatador que Herrera ficou embasbacado.

Era mesmo alta e, conforme Axel observara, robusta.

Sua pele lisa e bronzeada, seus olhos castanhos escuros brilhavam. Seu cabelo era castanho claro, reluzindo sob os lustres do Almack's.

— Mamãe! — exclamou ela, agarrando as mãos de Lady Catherine. — Não imagina o que aconteceu! Lorde Hanby trouxe vários de seus melhores cavalos à cidade e disse que podemos cavalgar com ele quando quisermos!

— É muita gentileza dele, minha querida. — concordou Lady Catherine. — Camila, gostaria de apresentar-lhe o conde de Herrera e o visconde Aguillar. Meus Senhores, esta é minha filha, Lady Camila.

— Minha Senhora... — cumprimentou Herrera, calmo, apesar da mente rodopiando.

Ao inclinar-se sobre a mão forte de Lady Camila, seu olhar caiu sobre a moça sentada logo atrás dela.

Aquela era a irmã de Vincent.

A belíssima Lady Anahí Portilla.

E ele era o homem afortunado que teria o prazer de acompanhar aquele anjo por toda Londres durante os três meses seguintes.

"Oh, não!", pensou Anahí, abafando um lamento. "Não ele. Qualquer um, menos ele, por favor, Catherine!"

Gostaria de nunca ter ido a Londres.

O que a levara a imaginar que se encaixaria naquele lugar, entre pessoas que não cogitavam conhecer, muito menos relacionar-se com alguém como ela?

Vincent alertara-a, bem como Catherine, mas fora teimosa.

E tola, completava agora, profundamente arrependida. Como fora ingênua!

Sonhar com Londres, com festas e roupas bonitas, dançando com cavalheiros elegantes como aqueles que, educados, haviam passado a última hora inventando desculpas para deixá-la sozinha.

Oh, céus...

Ele lhe sorria agora. O homem mais bonito no salão, admirado por todas as mulheres presentes.

Não conseguiria disfarçar a humilhação desta vez.

Conseguira diante dos outros, de alguma maneira, mas quando visse no rosto daquele homem a repulsa, não seria capaz de deixar a dor de lado.

Apertando as mãos trêmulas, levantou-se quanto Catherine o trouxe para a frente.

Era difícil encará-lo.

Vira-o assim que chegara, aliás, todos no salão voltaram-se para admirar o rapaz alto e mOreno, elegantíssimo no conjunto de cetim azul.

— Meu Senhor... — dizia Catherine, mas Anahí mal ouvia, a ponto de desmaiar, considerando que talvez fosse uma bênção se acontecesse. — Posso apresentar-lhe minha cunhada, Lady Anahí Portilla. Anahí, este é o conde de Herrera.

Ele lançou um sorriso tão charmoso que Anahí contorceu os pés dentro dos sapatos.

Se já não fosse muda, com certeza teria ficado.

Sua mão levantou-se como que por conta própria, e sentiu os dedos dele se fecharem gentilmente sobre os seus, aproximando-os da boca, ao mesmo tempo que ele se inclinava para pousar os lábios brevemente sobre a seda de sua luva.

— Minha Senhora... — murmurou ele, a voz tão acariciante quanto o olhar verde. — Sinto-me honrado.

Na infância, Anahí passara horas de joelhos rezando por um milagre, mas nunca, nem naqueles momentos chorosos, desejara mais, que nesse momento, poder falar como todo mundo.

Ele continuava sorrindo, segurando-lhe a mão, esperando uma resposta.

Anahí fez-lhe um pequeno movimento de cabeça e olhou ansiosa para Catherine, que prosseguiu:

— Lorde Herrera pediu permissão para dançar com você, Anahí, e Lady Jersey já concedeu a você permissão para valsar.