Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Catorze

Anahí dormiu mal, tossindo e tremendo, agitando-se o tempo todo na cama, apesar da exaustão profunda.

Adormecera segundos após se deitar, enquanto Herrera estendia sobre ela todos os cobertores disponíveis.

De certa forma, reconfortara-o o fato dela ainda confiar nele a esse ponto.

Toda vez que pensava no que lhe fizera, desnudando-lhe os seios para explorá-los com a boca, tocando-a intimamente com os dedos, estremecia de remorso.

Ela devia considerá-lo um animal. Um nojento animal movido pela lascívia.

Não que fizesse alguma diferença. Agora, teriam de se casar, independentemente de sua vontade.

Quase lhe tirara a virgindade, o que equivalia a ter tirado. Teriam de se casar. Não havia outra saída.

O simples fato de terem passado algumas horas sozinhos num quarto fechado bastaria para destruir a reputação de Anahí, se chegasse aos ouvidos da sociedade, de modo que havia apenas uma maneira de salvá-la, tornando-a sua esposa.

Antes, porém, livraria a ambos do cativeiro.

Subindo na cadeira, constatou que alcançava facilmente a janela.

Assim que a abriu deixando entrar a névoa gelada, uma pedrinha atingiu o vidro, atirada por alguém de fora.

— Meu Senhor! — sussurrou uma jovem voz masculina. — Está aí?!

Era o rapazola com quem Herrera conversara até o momento do sequestro.

— Eddy?

— Sim. Fale mais baixo, companheiro, ou vamos ter problemas. Consegue sair daí?

— Não há guardas?

— Dei um jeito neles, mas podem aparecer outros a qualquer momento. Saia logo daí!

Apoiando-se no peitoril, Herrera avaliou a parte externa.

Quase indistinto na cerração, Eddy se encontrava a mais de três metros abaixo da janela.

— Minha mulher está aqui comigo. — informou ao garoto. — Terei de suspendê-la e passá-la pela janela. Você a segura aí embaixo. Ela está muito doente.

— Ai, não! — desesperou-se o jovem, — Vou cobrar um extra, então. Mas ande depressa, se me pegam, me matam!

Herrera desceu da cadeira e correu para a cama.

— Anahí... — sussurrou, dando-lhe tapinhas no rosto. — Anahí, acorde.

Ela abriu os olhos, mas mal conseguia se mexer.

— M-meu se-nhor... — gaguejou, rouca e confusa.

— Vamos fugir pela janela. — explicou, erguendo-a nos braços envolta nas cobertas. — Há um garoto lá fora que vai ajudá-la a descer. — com cuidado, subiu na cadeira. — Agarre-se no peitoril. Eu a levanto até conseguir passar. Vá com calma.

Tossindo, ela aquiesceu. Em segundos, sentou-se no peitoril e passou as pernas para o lado de fora.

— Eu a peguei! — avisou Eddy, dali a pouco. — Sua vez!

Como Anahí não parava de tossir, repreendeu-a:

— Silêncio!

Herrera atirou os cobertores ao chão e, ágil, pulou a janela para a liberdade.

— Obrigado. — disse ao garoto, assim que pós os pés no chão.

— Deixe isso para depois, fazendo valer. Agora, vamos!

— Só um segundo. — Herrera envolveu Anahí nos cobertores e tomou-a nos braços. — Pronto. Vá na frente. Só você para nos guiar nesse nevoeiro.

Com a tranquilidade de quem conhece um lugar como a palma da mão, o garoto conduziu-os cautelosamente pelas docas, na direção da cidade.

Não foram perseguidos, ou porque os sequestradores não notaram a fuga, ou porque tinham instruções para deixá-los fugir.

— Deixei minha carruagem por aqui... — comentou Herrera, reconhecendo a área dos primeiros atracadouros.

— Porter a dispensou com uma desculpa qualquer, em seu nome. — informou Eddy.

— Então, arranje uma caleche. — pediu Herrera. — Será bem pago.

Vinte minutos depois, aos primeiros raios da aurora, Herrera acomodava Anahí no banco de uma caleche meio caindo aos pedaços.

— Quer uma carona, Eddy?

— Não se preocupe comigo. Sei tomar conta de mim.

Herrera cogitou se o garoto agira por conta própria ou a mando de seu patrão, o conde Negro. De qualquer forma, ajudara-os.

Sacou a bolsa de dinheiro e retirou uma moeda, que guardou no bolso.

— Por precaução. — explicou, e colocou a bolsa inteira nas mãos do jovem maltrapilho.

O garoto engoliu em seco ao entender que aquela pequena fortuna agora lhe pertencia.

— Pelos serviços prestados. — Herrera preparou as rédeas do pangaré. — Moro na Berkeley Square. Se um dia precisar de algo, procure-me.

Após apertar a mão grudenta de Eddy, pôs a caleche em movimento.

— Seu estado é preocupante. — informou o médico na casa de Herrera, horas depois, assim que acabou de examinar Anahí nos aposentos da condessa. — Está com uma grave inflamação nos pulmões, acompanhada de febre e calafrios. Só daqui a um ou dois dias saberemos se irá se recuperar totalmente.

Exausto da noite insone, com as mesmas roupas sujas e amassadas, além da barba por fazer, Herrera tinha consciência da péssima aparência. Mas só pensava em Anahí.

— Recuperar-se totalmente?

— Meu Senhor, talvez ela nem sobreviva.

— Não. — Herrera encarou o médico. — O que podemos fazer?

— Vou proceder a uma sangria de imediato, é claro. Então, deverão mantê-la aquecida e confortável. Nada mais a fazer até a febre passar. Em um ou dois dias, saberemos.

Herrera aquiesceu.

— Mandei chamar minha mãe e irmãs.

— Melhores enfermeiras eu não conheço. — aprovou o Dr. Patterson. — Sua mãe já realizou mais de um milagre.

— Só espero que ela chegue a tempo de realizar mais este.

Anahí foi submetida à sangria, fraca demais, não protestara.

Recusara-se a levá-la a Wilborn Place, conforme pedira, e talvez nunca lhe permitisse voltar lá.

Era sua agora, totalmente sua. Em poucas semanas, seria sua esposa.

Apenas por obrigação, despachara à residência dos Portilla uma missiva informando o paradeiro e o estado de Anahí, e indagando a respeito de Lady Catherine e Lady Camila.

Já chegara a resposta informando que ambas estavam sãs e salvas em casa.

Lorde Axel levara um tiro de raspão ao localizá-las e libertá-las de seus algozes, mas encontrava-se fora de perigo.

— N-não! — murmurou Anahí, agitada na cama, horas após a partida do médico.

— Calma, meu amor... — acalmou ele, afastando as mechas de cabelo coladas a seu rosto úmido e quente. — Está tudo bem.

Ela pegou-lhe a mão e levou-a aos lábios para um beijo.

— Durma, Anahí. — sussurrou, segurando a mão delicada.

Recostando-se na cabeceira da cama, por fim deixou-se tragar pelo turbilhão do sono.