Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Dezesseis

— Como está nossa paciente hoje? — indagou a condessa Herrera, flutuando alegremente pelo quarto. — Ah, você tomou todo o chá! Boa menina! — afofou os travesseiros de Anahí e deu-lhe uma beijoca no rosto.

Suas duas filhas acercaram-se da cama.

— Está com uma cor melhor. — comentou Lady Janette, satisfeita. — Olhe, Mel. Não está bem melhor?

Lady Melissa analisou o rosto de Anahí.

— Está mesmo, Janie! Muito melhor! Vamos abrir a janela hoje? Acha que não vai fazer mal?

Lady Janette ponderou os riscos.

— Uns dois ou três centímetros, não mais. Seu estado ainda é muito delicado.

— Mas é justamente de ar fresco que os pulmões cansados dela precisam! — argumentou Lady Melissa.

— Quatro centímetros, então. — decidiu Lady Janette. — Não concorda, mamãe?

As três damas passaram os minutos seguintes em profunda discussão quanto aos méritos e desméritos de se abrir a janela.

Anahí suspirou e deixou-se afundar nos travesseiros.

Lorde Herrera não exagerara ao descrever a dedicação com que sua mãe e irmãs se lançavam à cura de um paciente.

Após duas semanas de tratamento, sentia-se mais que disposta a retomar a vida normal, mas a condessa Herrera e suas filhas não lhe permitiam sequer colocar os pés no chão.

— Podemos abrir a janela um palmo. — resolveu a condessa, por fim. — Mas vamos acender o fogo para anular qualquer ventinho que entre.

Anahí já desistira de manifestar a vontade, mesmo porque suas "enfermeiras" não compreendiam sua mímica mais simples.

Escrever estava totalmente fora de cogitação para uma doente em recuperação como ela.

Voltara a ser invisível, como sempre fora.

— Com licença. Espero não estar incomodando.

Herrera!

Anahí empertigou-se e olhou para ele à porta, tão bonito e elegante.

Vira-o pouquíssimas vezes durante a enfermidade e sentira muita saudade.

— Lady Anahí vai tomar um pouco de ar fresco, Alfonso. — contou a condessa. — Você pode ficar cinco minutos, mas tente não cansá-la.

Vendo as irmãs abrirem a janela com exatidão milimétrica, Herrera opinou:

— Mas está tão quente e agradável lá fora... — olhou para Anahí, que lhe sorria esperançosa. — Não preferiria passar uma hora no jardim, Lady Anahí?

"Sim!", respondeu Anahí, quase sem voz, louca para sair daquele quarto.

— Não! — gritou a condessa, junto com as filhas, todas aterrorizadas. — Alfonso, isso está fora de questão. Totalmente fora de questão.

Herrera já sabia como lidar com aquele excesso de zelo, ignorando-o.

— Meia hora, então, se está tão preocupada, mãe. Eu a levarei e manterei ao sol, prometo.

Indiferente aos protestos histéricos, Herrera afastou as cobertas e tomou Anahí nos braços.

Na escadaria, ele lhe deu uma piscadela cúmplice que muito a divertiu.

Num minuto, estavam ao ar livre, no maravilhoso jardim.

Anahí estreitou os olhar sob o sol intenso.

— Vamos ficar à sombra até seus olhos se acostumarem. — decidiu ele, percebendo seu desconforto. — Mas depois vai tomar sol puro, minha Senhora.

Acomodaram-se num banco debaixo de um frondoso carvalho.

— Gosta do meu jardim? — indagou ele, beijando-lhe a mão.

Anahí respirou fundo e olhou ao redor.

O dia quente e ensolarado lhe proporcionava um prazer inesperado.

— É-é lin-do m-eu se-nhor.

Ele a afagou delicadamente na têmpora.

— É tão bom ouvir você falar de novo, Anahí.

Ela desviou o olhar, acanhada. Sabia que não tinha uma voz feminina.

— Não devia se envergonhar de falar com minha mãe e irmãs. — comentou ele, gentil.

Anahí balançou a cabeça negativamente, irredutível.

Sempre usaria sua voz estranha somente com pessoas que a amavam e compreendiam.

— Bem, se não vai mudar de ídéia, eu lhe trouxe isto. — Herrera tirou do bolso uma das pastinhas douradas dela.

— Oh! — alegrou-se ela, pegando o objeto.

Lamentara todo aquele tempo sem poder escrever. Com a maioria das pessoas, era seu único meio de comunicação.

— Lady Catherine entregou-a a mim, após visitá-la hoje cedo, pois achou que minha mãe não lhe permitiria usá-la. De qualquer forma, acho que vai ter que escondê-la.

— O-o-bri-ga-da.

Herrera apurou os ouvidos.

— De nada, mas esconda rápido! Elas estão vindo!

Segundos depois, a condessa e as duas filhas já embrulhavam Anahí em inúmeras mantas e xales, receosas de uma recaída.

Herrera retribuiu o olhar desalentado da paciente, que após a medida ficou parecendo uma múmia.

Acomodadas em cadeiras levadas pelos criados, as três militantes da saúde passaram a recordar outros casos, antigos e recentes, em que atuaram, sempre com sucesso.

Juntos no banco, Herrera e Anahí mal participavam, apenas aquiescendo e sorrindo quando interpelados.

Ele esperara gozar de alguns minutos mais a sós com ela, a fim de tratarem de um assunto sério, o casamento de ambos, a se realizar dali a duas semanas.

O prazo curto não provocaria na sociedade mais comentários do que os já circulantes, no White's.

As apostas referentes ao triângulo Herrera-Lady Anahí-Srta. Perroni já alcançavam uma soma considerável.

O que os apostadores nem imaginavam era que, três dias antes, ele tivera uma conversa definitiva com Maite, durante um passeio no parque.

Longe de se ofender com a quebra do compromisso nunca formalizado, ela demonstrara grande alívio, pois estava apaixonada por Christian Chávez, que a pedira em casamento semanas antes.

Liberando-o de qualquer responsabilidade, enfrentaria sozinha a ira dos pais quanto à troca de um partido tão bom como Herrera por um plebeu e, ainda por cima, francês!

Enfim, despediram-se amigavelmente.

A condessa e as filhas discutiam acaloradamente agora.

Herrera recostou-se e olhou para Anahí, que parecia estar se divertindo, apesar de tudo.

Envolta em cobertas como estava, conseguia ver apenas seus olhos azuis, mas eram tão lindos que ficaria o dia todo admirando-os.

Teriam filhos de olhos azuis, provavelmente. Todos loirinhos, de olhos azuis.

Agradava-lhe a imagem de uma multidão de cabecinhas douradas, ainda que uma inesperada criança de cabelos e olhos verdes não fosse desagradar.

Amaria todos os filhos que tivesse com Anahí.

— Alfonso? Está me ouvindo, querido?

— Perdão, mamãe. Eu estava distraído. O que dizia?

— Que Lady Anahí já está em condições de voltar para a casa dela.

Herrera ficou sério.

Nunca sentira tanta urgência em se casar.

— Lady Anahí não vai voltar para Wilborn Place. — declarou.

Todas olharam-no com espanto, incluindo Anahí.

— Mas, Alfonso, Lady Anahí vai se sentir muito melhor em sua própria casa. — insistiu a condessa. — Vai parecer estranho ela continuar aqui, agora que já superou o período crítico. Temos de zelar por sua reputação!

Herrera encarou a mãe.

— Lembra-se do que eu disse no dia em que chegou para cuidar dela, pois então...

A condessa fitou o filho nos olhos e compreendeu.

— Oh, sim, claro que me lembro. — levantou-se e beijou-o. — Fiquei muito feliz, Alfonso. — afastando um pouco os xales, beijou Anahí também e chamou as filhas: — Vamos, meninas. Seu irmão e Lady Anahí precisam de alguns minutos de privacidade.