Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Assim que as zelosas damas se afastaram, Herrera livrou Anahí de todas as mantas e xales, deixando-a só de camisola.

— Aposto como estava morrendo de calor.

Anahí parecia indiferente ao ambiente.

— Al-fon-so, e-eu que-ro v-vol-tar pa-ra ca-sa.

Ele lhe tomou uma das mãos.

— Anahí, esta é sua casa agora. — fitou-a no rosto magro e ainda pálido. — Nunca gostei tanto de uma mulher como gosto de você e para mim não pode haver bênção maior do que nos casarmos. Dá-me a honra de ser minha esposa, Anahí?

Ela pareceu transformar-se em pedra.

De pé, afastou-se dele vários passos.

— N-nã-o! — protestou, indignada.

Ele também se levantou.

— Anahí...

Ela levou a mão à testa, exasperada.

— N-não v-vou dei-xá-lo fa-zer is-so! Vin-ce-nt o a-me-a-çou?

— Não. Na verdade, quando lhe pedi sua mão, ele não gostou muito. Disse que não era necessário. Mas eu disse que era. Porque quero que seja minha esposa.

Ela balançou a cabeça, inconformada.

— N-não po-de!

Herrera segurou-a pelos ombros e fez com que sentasse a seu lado no banco.

— Posso, e vou, se você disser "sim". Não se aflija, minha Senhora. Saiba que a condessa não a deixará sair nunca mais se der uma fungada após esta saída hoje. Não imagina quantas vezes fiquei semanas trancado no quarto quando pequeno, por causa de um resfriado qualquer. — afagou-lhe as faces afogueadas. — Espero que não sejamos tão preocupados com a saúde de nossos filhos.

— M-meu se-nhor...

— E espero que tenhamos muitos. — prosseguiu ele. — Meninos e meninas, e pouco importa a ordem em que cheguem. Ainda não estou desesperado por um herdeiro. Anahí, amor, você está vermelha como um tomate!

— Al-fon-so!

Ele a beijou então, apaixonadamente, até sentir que ela enlaçava os braços em seu pescoço.

— Adoro o jeito como você diz meu nome. — murmurou, acomodando-a contra o encosto do banco. — Adoro o som de sua voz. Nunca vai saber o que me provoca. Sonho em ouvi-la todas as manhãs, com você ao meu lado na cama. Não, não baixe os olhos... Eu a embaracei?

Anahí balançou a cabeça.

— O que foi, então? Não quer se casar comigo?

— A se-nho-ri-ta Per-ro-ni...

— Já falei com Maite, e ela nos deseja felicidade.

Anahí encarou-o desconfiada e incrédula.

— V-ver-da-de?

Herrera conteve-se para não revelar que a Srta. Perroni provavelmente se casaria com seu querido professor Christian Chávez. Afinal, nada fora oficializado ainda e, além disso, seria melhor ela receber a notícia do próprio amigo.

— Verdade. — entrelaçou os dedos nos dela. — Ela acha que você e eu devemos nos casar. Não consegue dizer "sim"? Considera-me tão mau pretendente? Ou acha que serei um mau marido?

Anahí livrou a mão e tirou a pastinha dourada do local em que a escondera.

Num minuto, estendia-lhe o bilhete.

"É impossível para mim ser sua esposa, independentemente de minha vontade. Minha voz, ou a falta dela, torna isso impossível. Percebe?"

Herrera guardou o papelzinho no bolso. Sentira falta deles.

— É claro que já refleti a respeito e sei que haverá dificuldades, mas nada que não possamos superar. Nós dois nos comunicamos muito bem e isso me basta. Não vou exigir que atue como anfitriã em eventos formais, se achar que está além de sua capacidade. Nunca vou exigir nada, a menos que se sinta à vontade para realizar.

"Mas você precisa de uma esposa que possa atuar como anfitriã."

Sublinhou a palavra precisa duas vezes.

"Você precisa de uma esposa que o ajude, não de um fardo."

— Oh, Anahí, você jamais será um fardo para mim! Tê-la como minha esposa será uma grande alegria! Só espero que goste igualmente de ter-me como marido.

"Nada me agradaria mais, mas é impossível! Alfonso, imagine como seria para você e seus filhos ter uma esposa e mãe que não pode nem ir o uma loja sem um intérprete. Não percebe quão dependente de você eu seria?"

— Percebo, mas não me sentirei nem um pouco entediado. E crianças encaram as deficiências com muito mais naturalidade do que os adultos. Nossos filhos a amarão muito, sem ligar a mínima para seu problema de fala. Você será uma mãe maravilhosa.

"Lamento profundamente recusá-lo, Alfonso. Estou cônscia da grande honra que me presta e gostaria que tudo pudesse ser diferente. Mas, por favor, não insista. Gosto demais de você para obrigá-lo a tamanho fardo. Deve encontrar uma dama mais adequada para ser sua esposa."

Herrera leu e releu a mensagem várias vezes.

Não imaginara ter que persuadi-la a se casar.

De qualquer forma, não aceitaria a recusa. A reputação dela não sobreviveria se não se casassem.

Agora, só havia uma maneira de fazê-la concordar.

— Anahí, eu não queria implorar, mas o farei. Se não se casar comigo, minha reputação estará arruinada. Perderei minha posição na sociedade e talvez até no Parlamento. Sei que é de um egoísmo extremo pedir-lhe que faça tamanho sacrifício por mim, mas não tenho opção. Estou desesperado. Passei a maior parte de minha vida lutando por um lugar no Parlamento e, se o perder agora...

— Al-fon-so! — interrompeu Anahí, furiosa, e escreveu o resto.

"Não pode ser! Só porque me salvou? Porque estou em sua casa?"

— Sim, e também porque passamos horas trancados naquele quarto, sozinhos. Esse fato somado a incidentes anteriores, como o do piquenique em Greenwieh, provocaram boatos em toda a corte, inclusive nos jornais. Sabe muito bem o que a sociedade espera de nós. Estaremos ambos desgraçados se não mostrarmos cara limpa e anunciarmos nosso casamento para breve. Nem a Srta. Perroni escapará de danos, se não agirmos rápido. Quanto mais quentes as fofocas, mais ela correrá o risco de se prejudicar.

Anahí levantou-se, preocupada.

— A s-se-nho-ri-ta Per-ro-ni... — murmurou. — S-se-ri-a m-mui-to in-jus-to.

— Sem dúvida.

Ela o encarou.

— Vin-ce-nt po-de d-dar um jei-to.

— Minha querida, gostaria que ele pudesse, mas nesse caso nem seu poderoso irmão pode fazer qualquer coisa. O único jeito de evitarmos o desastre é nos casando.

Anahí sentou-se e escreveu.

"Você disse que Vincent não gostou da idéia de nosso casamento. Que não era necessário."

— Não para salvar a sua reputação. — mentiu Herrera. — E é verdade. Bastaria que você voltasse imediatamente para Vincent Hall. Somerset fica muito distante e o conde de Keller sem dúvida conseguiria distorcer os fatos à sua conveniência. Sua vida social lá não seria afetada. — raciocinando febrilmente, continuou: — Minha reputação aqui em Londres, e talvez a da Srta. Perroni, é que sofreriam mais. Eu serei visto como o canalha que seduziu e abandonou Lady Anahí Portilla. Quanto à Srta. Perroni, se nos casarmos, será vista como a coitada preterida que no fim teve se unir a um pulha infame. Se não nos casarmos, se tornará objeto de pena, aquela que foi jogada fora. Por outro lado, se você e eu nos apresentarmos como casal apaixonado e nos casarmos, a sociedade se inclinará a consolar a Srta. Perroni. Já aconteceu antes.

Vendo Anahí desolada, Herrera sentiu-se um patife por mentir-lhe, mas não havia outro jeito de convencê-la a fazer o que era melhor para ela mesma.

— Vamos, Anahí, seria tão ruim? Da minha parte, nada me agradaria mais, como já lhe disse. Vou me esforçar ao máximo para fazê-la feliz. Vai dar tudo certo, eu prometo. Diga que vai se casar comigo.

Ela refletiu por um longo tempo, tão longo que ele começou a se sentir inseguro e um tanto temeroso.

Nunca imaginara que a resposta dela tivesse tanta importância.

— S-sim. — declarou Anahí, fitando as próprias mãos. — E-eu m-me ca-so c-com vo-cê, Al-fon-so.

Ele pôs a mão sobre as dela.

— Obrigado, querida. Prometo que jamais terá motivo para se arrepender dessa decisão. Seremos felizes juntos.

Ela ergueu o rosto e sorriu.

— S-sim.

Culpado, Herrera sentiu uma dor no peito e, a fim de aplacá-la, abraçou Anahí.

Nas duas semanas em que ela estivera doente, desesperara-se com a perspectiva de perdê-la. Mas agora ela seria sua.

Totalmente sua.

— Vamos nos casar em duas semanas. A notícia sairá nos jornais amanhã. Quer uma festa grande ou pequena? Você decide, Anahí.

Ela atirou os braços em torno dele e abraçou-o com força.

Ele se lembrou de que ela ainda estava em convalescença.

— Vamos entrar agora, amor. Já passamos muito tempo ao ar livre. Mamãe e as meninas já devem estar preocupadas. — erguendo-a nos braços, tomou o caminho de volta à mansão. — Elas ficarão felizes quando souberem que vamos nos casar. Já adoram você.

Anahí descansou o rosto contra o dele.