Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Dezessete

A mãe e as irmãs de Herrera receberam com muita alegria, beijos e abraços a tão esperada notícia de seu casamento, e com uma dama de tão alta linhagem quanto Lady Anahí Portilla.

Apesar de todo o carinho, Anahí só ficou imaginando se não teriam ficado muito mais satisfeitas em ver entrar para a família uma moça como a Srta. Perroni.

Ela mesma teria se sentido mais feliz.

Amava Herrera e, nos momentos de maior egoísmo, extasiava por ser sua eleita, para dividir sua cama e dar-lhe filhos, mas o resto do tempo experimentava uma angústia profunda. Ele passaria o resto da vida amarrado a ela.

Sua própria vida também seria muito mais difícil. Como a condessa Herrera, teria de honrar o título e participar de todas as festas, bailes e jantares a que fossem convidados, não importava quão sacrificante.

Devia isso a Herrera.

Rogava apenas que ele nunca se arrependesse do que a sociedade o obrigava a fazer agora.

Havia alguns consolos. Ele a achava bonita, desejava-a fisicamente. Isso garantiria a felicidade nos primeiros anos.

Mas o tempo passava. Talvez Herrera enjoasse da situação assim que ela deixasse de ser novidade.

Então, restaria apenas uma esposa com quem não se podia nem ter uma conversa normal.

— Está nervosa, Anahí?

Sentado a seu lado na carruagem, Vincent tomou-lhe a mão.

Com a mão livre, ela sinalizou: Apavorada.

— A cerimônia terá terminado antes que perceba, e então estaremos todos de volta a Wilborn Place.

Wilborn Place.

Passariam a noite de núpcias na ancestral mansão dos Portilla e, pela manhã, tomariam o desjejum oferecido por Vincent e Catherine. Sentia-se tão grata por Herrera ter concordado...

Durante a enfermidade e convalescença, sentira muita falta da própria família e até dos criados, cuja maioria compreendia a linguagem de sinais.

Se bem que tinha havido tantas mudanças naquele último mês que sua doença podia ser considerada um marco.

Herrera e Vincent não eram mais amigos. Nas raras vezes que se encontravam, quando não conseguiam evitá-lo, cumprimentavam-se com monossílabos.

Tinha certeza de que era a culpada por essa situação.

A relação entre Vincent e Catherine também mudara da água para o vinho.

Longe de se mostrarem arredios um ao outro, agora viviam trocando olhares e sorrisos cúmplices. Até já flagrara o irmão beijando longamente a mão da cunhada.

Sem mais detalhes, porém, só lhe restava imaginar o que poderia estar acontecendo entre os dois.

A sobrinha Camila era outro enigma. Quase sempre esfuziante, ela às vezes caía em prantos sem motivo aparente.

Foi Herrera quem lhe trouxe a explicação, após uma visita ao amigo Lorde Axel.

Camila enviara ao visconde várias cartas dando-lhe permissão para visitar Wilborn Place quando quisesse, para que ela e a mãe pudessem agradecer-lhe a bravura ao salvá-las dos sequestradores, mas ele nem sequer respondera.

Estava de coração partido e só o tempo curaria.

Sendo assim, esperava-se apenas que o casal problemático conseguisse manter a compostura no altar, como padrinhos dos noivos. Nada seria mais constrangedor do que uma de suas brigas homéricas bem no meio da cerimônia.

Ao vislumbrar a catedral de St. George, Anahí apertou a mão de Vincent com mais força.

Seria um grande casamento, conforme exigira a futura sogra.

Herrera lhe dissera que seria como ela quisesse, mas sua idéia de uma cerimônia simples na capela de St. Cathyrs não agradara nem um pouco à família dele. Afinal, era o casamento do conde de Herrera, um homem de grande importância, par do reino e membro do Parlamento.

Percebendo que Herrera também gostaria de um evento grandioso, cedera, apesar do terror de pronunciar "sim" diante de metade da sociedade. Todos ouviriam sua voz grave, rouca, feia.

Ao final do dia, a outra metade da sociedade também já saberia que tipo de esposa o conde de Herrera arranjara. Uns diriam que era uma possuída do demônio, alguns ririam, outros lamentariam, mas todos sentiriam pena do conde de Herrera.

— É a noiva mais linda que Londres já viu. — encorajou Vincent. — Esperei muitos anos por este dia. Para vê-la casada com um homem que a amará e cuidará de você. Lorde Herrera é esse homem, Anahí. Nunca duvide disso.

Ela fitou o rosto amado com os olhos cheios de lágrimas.

— Não precisa ter medo, querida. — acalmou ele, segurando-lhe o queixo. — Será uma condessa maravilhosa, e realizará muito mais do que imagina. Os próximos meses lhe reservam alguns desafios, mas você não vai esmorecer. É uma lutadora, Anahí, não se esqueça disso. Você lutou para superar o silêncio e venceu. Vai sair vitoriosa desta batalha também. Não chore, querida. — secou-lhe as lágrimas com os dedos grandes. — Este é um dia feliz.

"Mas estou com medo!", confidenciou Anahí.

— É claro que está. Deve ser assustador para qualquer mulher entregar-se tão completamente a um marido pelo resto da vida. Mas é mais forte do que imagina, Anahí, e Herrera será bom para você. Sabia que ele apenas me informou que se casaria com você, em vez de pedir-me sua mão?

Ela negou balançando a cabeça, fungando.

— Como vê, ele estava determinado, embora eu dissesse que não era necessário. — Vincent olhou pela janela quando a carruagem parou. — Chegamos. Está pronta, Anahí? Pois eu não estou. Se eu começar a chorar no meio da cerimônia, lembre-se apenas de que seu irmão a ama mais do que a própria vida e não suporta a idéia de vê-la já crescida indo para os braços de outros homem.

"Oh, Vincent!" Anahí beijou-o. "Eu te amo tanto!"

— Tanto quanto eu te amo. — Vincent segurou-lhe as mãos quando a porta da carruagem se abriu. — Anahí, estou orgulhoso por você fazer isso diante de tanta gente. Não se preocupe com o que vão pensar de sua voz. Fique de cabeça erguida e mostre-lhes o quanto é corajosa e que não liga a mínima para a aprovação ou desaprovação deles. Mantenha seus olhos nos de Herrera e deixe que a opinião dele seja a única importante para você. Ele ficará tão orgulhoso de você quanto eu. Apostaria nisso tudo o que possuo.

— Acalme-se, Alfonso! Vai fazer um buraco no tapete!

Herrera estacou e olhou bravo para Lorde Axel a poucos passos.

— Falar é fácil! Não é você que vai se casar!

— Não mesmo. — confirmou o amigo, com um suspiro. — Adiantaria eu dizer que gostaria?

— Não.

— Foi o que imaginei. De qualquer forma, não estou vendo ninguém que poderia desejar se casar comigo. Acha que sua mãe vai lavar a escadaria da catedral de tanto chorar?

— Provavelmente. — Herrera olhou para os convidados que também aguardavam impacientes. — Acha que Anahí está nervosa? Devíamos ter optado por uma cerimônia simples em St. Cathyrs e não nos deixado convencer por mamãe com sua mania de grandes eventos. Anahí se constrange com o som de sua voz.

— Relaxe, Alfonso. Vai dar tudo certo.

Meia hora se passou.

Firme no altar ao lado de Axel, Herrera controlava-se, aparentando calma, ao passo que por dentro estava a ponto de explodir de nervosismo.

Então, as portas imensas se abriram e Anahí surgiu no começo do corredor, conduzida pelo irmão, e todos os temores desapareceram.

Houve como que uma perda de fôlego coletiva.

Anahí estava magnífica. Perfeita. Linda além da imaginação.

Herrera sempre se lembraria de sua noiva no dia do casamento de ambos.

Ninguém tirou os olhos de Anahí enquanto ela percorria o longo tapete vermelho rumo ao altar.

Ao final dele, Vincent tomou-lhe a mão, beijou-a e estendeu-a a Herrera.

Lady Camila tomou seu lugar como madrinha e a cerimônia teve início.

Herrera esperara vê-la temerosa, sabia que ela estava com medo. Já em seus primeiros encontros, ela deixara algo claro, tinha pavor de falar diante de estranhos.

Na hora de fazer os votos, contudo, ela não sussurrara, nem gaguejara. De queixo erguido, olhando-o nos olhos, repetiu todas as palavras bem alto, para todos ouvirem.

A voz áspera, falha e masculina com certeza chocara e provocara alguma repulsa na audiência, mas ele nunca ouvira palavras mais lindas.

Oh, amava-a tanto e estava tão orgulhoso dela!

De repente, alegrava-se com a presença da multidão, pois assim toda a sociedade saberia quão bela e corajosa era a condessa de Herrera, uma mulher da qual o marido jamais teria nenhuma queixa.

Quando ela concluiu os votos, ele lhe tomou as mãos e beijou-a reverente.

De frente para o bispo, procederam ao restante da cerimônia.

— Foi lindo... — murmurou a Sra. condessa Herrera, fungando no lenço. — Lindo demais.

— Verdade. — concordou Lady Melissa, enxugando as lágrimas.

— Foi o casamento mais lindo que já vi. — opinou Lady Janette, voltando-se para o conde de Keller. — Não concorda, meu Senhor? Deve estar muito orgulhoso da corajosa Anahí.

Vincent aquiesceu, sem graça.

Sentado ao lado da esposa, Herrera sussurrou-lhe:

— Acho que seu irmão preferiria estar em outro continente.

Anahí riu.

— As-sim co-mo Ca-the-ri-ne.

— E talvez preferissem estar juntos. — aventurou Herrera. — Tem razão quando diz que está acontecendo algo entre eles. A gente sente.

Anahí sorriu para o marido, o homem mais bonito do mundo.

Seu traje de gala azul e prata fazia seus olhos parecerem ainda mais claros e seu cabelo mais escuro.

— Se continuar me olhando assim, não vamos chegar à noite de núpcias intactos. — advertiu ele, beijando-lhe a mão. — Adoro quando enrubesce assim... Se soubesse o que estou reservando para você, amor, ficaria mais vermelha ainda.

— Alfonso?

— Sim, mãe?

— Já convidou Lorde Vincent e Lady Catherine para passarem o Natal conosco lá em St. Cathyrs?

Anahí percebeu que Herrera se enrijecia, ainda que se mostrasse calmo no exterior.

— Ainda não tive a oportunidade.

— Oh, mas o Senhor tem de ir! — insistiu a condessa viúva, olhando para Vincent. — Bem como Lady Catherine e Lady Camila!

— E também Axel. — acrescentou Lady Janette. — Tenho certeza de que Alfonso faz questão da presença de seu melhor amigo.

— Lamento — replicou Lorde Axel, sem jeito. —, mas já prometi a meus pais passar o feriado com eles em Iddington. Minhas irmãs e suas famílias também estarão lá.

— Oh, que pena. — disse Lady Melissa. — Mas Lorde Vincent, Lady Catherine e Lady Camila irão, pois não?

Anahí olhou esperançosa para o irmão, que olhou para a cunhada.

— É... muita gentileza sua. — declarou Catherine, cuidadosa. — Veremos se pode ser arranjado. Obrigada.

Anahí não se deixou abater. Sua família iria visitá-la no Natal, sim. Falaria com eles na manhã seguinte, após o café, antes de partir com Herrera para St. Cathyrs.

Seria duro para Vincent abrir mão do feriado em Vincent Hall, mas ele faria o sacrifício por ela, tinha certeza.

Gostaria que Lorde Axel também fosse. Não sabia qual dos dois parecia mais miserável, ele ou Camila. Mesmo no altar, ambos exibiram expressões sombrias, o olhar triste e sem vida.

Era como se assistissem a um funeral em vez de um casamento.

— Um brinde! — propôs Axel de repente, levantando-se, e os criados correram a encher as taças de champanhe. — Ao conde e à condessa de Herrera. Que seus dias se preencham de felicidade e que seus problemas sejam poucos. Que Deus os abençoe e a seus filhos por vir, em tudo.

Os demais concordaram festivamente e sorveram a bebida.

Lorde Axel afundou de novo no assento.

Desconsolada, Anahí viu a sobrinha pousar sua taça na mesa com a mão trêmula.