Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Dezoito

"18 de janeiro de 1818

Querido Vincent,

Você disse em sua última carta que nunca se cansaria de receber tantas missivas minhas e espero que ainda seja assim.

Não posso evitar sentir-me culpada por escrever-lhe com tanta frequência sabendo o quanto é ocupado, mas trata-se de um de meus maiores prazeres, pelo qual anseio quase tanto quanto pelo momento de nosso reencontro.

Já faz tanto tempo, Vincent...

Não vou censurá-lo por não ter trazido Catherine e Camila para St. Cathyrs no Natal, mas senti muito a falta de todos vocês, bem como da Sra. condessa Herrera, de Lady Melissa e de Lady Janette, que não puderam nos dar essa alegria, tampouco.

Apenas Lorde Axel chegou inesperadamente na véspera de Natal e ficou muito triste ao saber que você decidira passar o feriado em Vincent Hall, mas conseguimos festejar, mesmo assim."

Roçando a caneta nos lábios, Anahí cogitou se deveria contar ao irmão que Lorde Axel empreendera toda aquela viagem pela neve só para ver Camila.

Jamais esqueceria a visão do visconde adentrando a sala de visitas ensopado e vermelho de frio, indagando esperançoso:

"— Lady Camila está aqui?"

No dia de Natal, aquecendo-se junto à lareira após irem à igreja e passearem de trenó, Anahí por fim conseguiu fazer Lorde Axel desabafar seu ressentimento contra Camila:

"— Depois que salvei a ela e a Lady Catherine dos sequestradores naquela noite fatídica, Camila sentiu-se em dívida para comigo, apesar de me odiar, como deixou bem claro no baile de debutantes, ainda mais porque levei um tiro de raspão. — o jovem visconde apoiou a cabeça nas mãos, exausto: — E declarou que aceitava ser minha esposa, mas com cara de quem vai para a forca, só por causa do sentimento de culpa! — encarou o casal de anfitriões. — Isso eu não podia suportar. Foi por isso que me recusei a visitá-la em Londres. Não quero que Camila se case comigo por gratidão.

— Você deve estar equivocado. — opinou Herrera. — Talvez, ao vê-lo arriscar a vida para salvá-la, ela tenha percebido a profundeza de seus sentimentos por você. Anahí e eu achamos que Lady Camila o tem em muito alta conta.

Mas Lorde Axel estava obcecado pela própria crença.

— Foi uma grande idiotice vir aqui. — concluiu. — Tive um acesso de loucura, mas já passou. Assim como Vincent, quero que Camila seja feliz com um homem de sua própria escolha. Pode ser o único presente que jamais lhe darei."

Com um suspiro, Anahí inclinou-se sobre o papel outra vez.

"Em resposta a sua pergunta na última carta, é claro que Herrera não lê as missivas que você me envia.

Eu poderia até me sentir ofendida ante tal especulação, mas presumo que tenha algo a ver com a amizade estremecida entre vocês dois, e eu detestaria intrometer-me em assunto tão pessoal.

Só me resta repetir-lhe, jurando que é a mais completa verdade, que Herrera é um marido maravilhoso, gentil e generoso. Sempre me tratou com a máxima consideração, ainda mais desde que chegamos a St. Cathyrs, e tem se esforçado ao máximo para que eu me sinta à vontade e feliz aqui.

Ao ver a propriedade através de seus olhos e palavras, passei a amar St. Cathyrs tanto quanto ele."

Era a mais pura verdade, pensou Anahí, numa nova pausa.

Nem um dia se passara sem que Herrera lhe mostrasse algo novo e bonito no castelo ou nas terras que o circundavam, a cavalo ou de charrete.

Promoveram deliciosos piqueniques nas tardes quentes de outono e longas caminhadas nas noites enluaradas.

Várias vezes, nas manhãs mais belas, haviam acordado cedo para irem pescar.

A noite, na imensa cama de casal, ele a amava apaixonada e ternamente, depois, permaneciam abraçados, aconchegados e satisfeitos, até o sono chegar.

De manhã, faziam amor outra vez, mais lentamente do que à noite, e ela não conhecia melhor maneira de começar o dia.

"Com relação ao que relatei em minha última carta a respeito dos criados de St. Cathyrs, peço-lhe que esqueça tudo. Errei ao queixar-me. De fato, ao recordar minha petulância infantil, envergonho-me.

Decorridas várias semanas agora e tendo tido tempo para refletir, reconheço que não devo culpar a Sra. Hallowby por organizar a festa de Natal para os criados e arrendatários, uma vez que eu não havia deixado claro que pretendia assumir todas as funções da Sra. condessa, mãe de Herrera.

Tenho certeza de que ela não tomará mais nenhuma atitude sem antes se certificar de meus desejos."

Não era bem verdade, mas Anahí decidira poupar o irmão de seus problemas domésticos em St. Cathyrs, uma verdadeira chateação.

Já tentara convencer a austera governanta de que era perfeitamente capaz de tomar as decisões cabíveis a uma castelã, além de desejar fazê-lo, mas a Sra. Hallowby, a exemplo da Sra. condessa e suas filhas, tendia a tratá-la como criança.

Apesar de acostumada à condescendência das pessoas, desagradava-lhe ser desdenhada ao dar instruções, as quais eram ignoradas assim que dava as costas.

Herrera até tentara fazer os criados obedecerem-na, mas desistira.

A Sra. Hallowby e os demais empregados não eram desobedientes nem desrespeitosos de propósito, sendo assim, como repreendê-los vendo que se esforçavam desesperadamente para agradar a seu Senhor e Senhora do jeito que sabiam?

"Você perguntou-me como vai Eddy e fico feliz em informar que ele está muito bem."

Anahí recordou o dia em que Eddy chegara, na melhor carruagem de Vincent, de banho tomado e roupas novas, com um bilhete para Herrera que ele prestasse bons serviços em St. Cathrys.

Tendo ido lá a contragosto, o garoto estranhara todo aquele luxo no castelo ancestral e quisera retornar de imediato ao cais com seus marinheiros, mas Herrera o convencera a passar a noite.

Na manhã seguinte, persuadira-o a ficar por uma semana. Então, permaneceria um mês.

Agora, passados quatro meses, Eddy era tão parte de St. Cathyrs quanto o próprio Herrera.

"Eddy foi o melhor presente que você já me deu, Vincent, embora eu nunca tenha entendido como foi que se conheceram.

Herrera deve ter-lhe contado que ele nos ajudou a fugir quando fomos sequestrados e imagino que você o tenha encontrado e enviado a nós, numa maneira de recompensá-lo.

Tendo aprendido a linguagem de sinais com uma rapidez incrível, é meu companheiro mais constante hoje em dia e raramente preciso escrever-lhe, pois ele me entende muito bem.

Gostaria de poder comunicar-me a meu modo com os demais criados, mas parece que os temores contra os quais lutamos em Vincent Hall por tanto tempo persistem aqui também.

Ninguém ainda falou em demônio, mas é certo que vários arrendatários e aldeões acreditam que a linguagem de sinais seja coisa de feiticeiras.

Eddy até já brigou por causa disso e tive de apaziguá-lo. Por ora, é uma bênção que ele possa me interpretar.

Devemos estar de volta a Londres em duas semanas, pois Herrera deve estar presente à abertura do Parlamento.

Ainda não sei a data exata de nossa chegada. Meu marido adora St. Cathyrs e sei que detesta a idéia de partir, mas não há como evitar.

Por favor, diga que irá à corte enquanto estivermos lá, e que levará Catherine e Camila consigo. Sinto demais a falta de todos vocês.

Querido Vincent, tudo de bom para você, é o que rogo.

Com todo o meu amor, sua irmã mais devotada, Anahí."

Pela porta entreaberta, Herrera observava Anahí escrever havia um bom tempo.

Adorava contemplá-la, tão encantadora e feminina...

O que mais queria era aproximar-se e beijar-lhe o pescoço e as mãos, fazendo-a esquecer a carta, o irmão e o resto do mundo, exceto a ambos e aquilo que partilhavam.

Nunca fora egoísta, mas, com relação a Anahí, era. Totalmente egoísta.

Era injusto e, às vezes, assustador.

Contudo, estava ali para magoá-la, se bem que para poupá-la de um sofrimento maior.