Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Dezenove

Londres estava lúgubre, assim se mostrara quase todos os dias desde a chegada de Herrera.

Em fevereiro, nevara. Em março, chovera. Já estavam em abril, perto da Páscoa, e nem sinal da primavera.

Não que ele se importasse com o clima, mas, com o Parlamento em recesso devido ao feriado, poderia finalmente ir para casa, e para Anahí.

Já contava as horas.

O fato de ela não responder a suas missivas torturava-o.

Zangada e magoada, ela não poderia haver escolhido castigo mais eficaz.

Mas era inevitável que o clima miserável se refletisse em seu humor.

Ressentido com a sociedade, a quem responsabilizava por estar separado da esposa, já não comparecia aos eventos sociais, até porque não era nos jantares e saraus que conheceria o teor das fofocas envolvendo o conde e a condessa de Herrera.

Uma cortina de silêncio o envolvia assim que se aproximava.

— Posso ajudá-lo, Lorde Herrera?

Herrera olhou para o atendente da livraria.

— Vou levar este. — informou, estendendo o livro que estivera folheando.

— "Seminários sobre os Poetas Ingleses". — leu o rapaz, aprovando. — Um dos melhores trabalhos de Hazlitt. Prefere esperar que seja embrulhado, meu Senhor, ou devemos entregá-lo em seu endereço? — olhou pela janela. — Ainda está chovendo forte, receio...

— Mande entregar. — optou Herrera, e pegou seu chapéu e bengala junto à porta.

— Meu Senhor, permita-me mandar um dos garotos chamar sua carruagem! — ofereceu-se o atendente, aflito.

— Não. — Herrera girou a maçaneta, lá fora a tempestade parecia transformar-se em furacão. — Eu mesmo chamo.

Na calçada, o vento forte lançou a água da chuva contra seus olhos.

A carruagem demorava a chegar, provavelmente, o cocheiro tinha dificuldade em manejar os cavalos sob aquela intempérie.

Já pensava em ir ao encontro do veículo quando foi abalroado por outro transeunte.

— Oh! — exclamou uma voz feminina. — Desculpe-me!

Herrera segurou a moça pela cintura e levou-a para debaixo do toldo da livraria.

— Maite? — indagou, ao vislumbrar o rosto sob o capuz. — Srta. Perroni?!

Ela ficou igualmente surpresa.

— Lorde Herrera!

— Mas o que faz aqui nesta tempestade? Eu nem sabia que estava em Londres. — ele tentou enxergar através da chuva. — Onde está sua criada? E seu cocheiro? Onde Lady Perroni estava com a cabeça quando a deixou sair?!

A jovem tinha o rosto molhado, tanto de chuva quanto de lágrimas.

Ela sufocou um soluço.

— Ela não sabe que saí, e eu não trouxe a criada. — encarou-o suplicante. — Por favor, não ralhe. Sei que é errado, mas eu precisava sair e ficar só, por algum tempo.

— Eis minha carruagem. — anunciou ele, puxando-a pelo cotovelo, um lacaio saltou para abrir a porta. — Vou levá-la para casa.

Dentro do veículo, Herrera envolveu a moça com uma manta e então, por decoro, acomodou-se no banco de frente para ela.

Qual não foi sua surpresa ao vê-la enterrar o rosto nas mãos e cair em prantos.

— Maite, o que foi? — indagou, tocando-lhe o ombro.

— Por favor... — pediu ela, aos soluços. — Não me leve para casa. Ainda não.

— Está bem, vamos passar na minha casa e tomar um chá primeiro. — decidiu Herrera.

Meia hora depois, em roupas secas, já bebericavam chá quente junto à lareira, na sala de visitas de Herrera.

Ele convencera Maite a pegar um vestido de Anahí emprestado.

Era constrangedora a situação em que se encontravam, mas nenhum dos dois parecia se importar mais com a língua ferina da sociedade.

— Quer dizer que seus pais não permitiram que o Sr. Chávez pedisse a sua mão? — replicou Herrera.

— Papai nem sequer o deixou entrar em casa. — detalhou Maite, o olhar fixo nas chamas. — Ameaçou deserdar-me se eu voltasse a falar com o Sr. Chávez, mas eu estava disposta até a fugir com ele para nos casarmos. Pouco me importava o que todos iriam dizer.

— Mas o Sr. Chávez se importou, imagino. — adivinhou Herrera.

Ela aquiesceu.

— Ele se recusou a me expor a essa vergonha, bem como a separar-me assim de meus pais. — lágrimas brilharam em seus olhos. — Eu lhe implorei que reconsiderasse, mas ele achou que seria melhor tentarmos esquecer um ao outro. — suspirou fundo. — Nunca sequer respondeu a minhas cartas.

— Oh, Maite, eu lamento... — declarou Herrera, inconformado. — Lamento profundamente.

— Não havia nada que pudesse fazer. — consolou a jovem. — Mas sei que teria tentado. Sempre foi muito bom para mim, meu Senhor.

— Eu devia ter falado com seus pais naquele dia em que decidimos romper. Jamais deveria ter permitido que os enfrentasse sozinha. Eles ficaram muito zangados?

— Papai ficou furioso, enquanto mamãe não parava de chorar. Acho que subestimei a esperança deles de ver a filha casada com alguém da alta nobreza. Por um bom tempo, só falavam na decepção que lhes causei, e agora estão aborrecidos comigo porque tenho recusado convites para os eventos mais importantes. — Maite levou a mão à testa, aflita. — Sei que deveria me esforçar para encontrar outro pretendente, pelo bem deles, senão pelo meu, mas... Não consigo! Não sinto o menor ânimo para dançar e flertar, como antigamente. Nunca vou me casar. Rezo apenas para que meus pais aceitem o fato e me levem logo para casa. Estou farta de Londres.