Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Vinte E Dois

No final de maio, o chamado "conde Negro" voltou a Londres de seu jeito costumeiro, na calada da noite, numa sinistra carruagem negra puxada por cavalos também escuros como breu.

Era de se admirar que sua irmã houvesse sido abandonada por Deus?

Se bem que a condessa de Herrera parecia disposta a ganhar uma alma.

Fazia um mês que um dos maiores especialistas ingleses em problemas de fala, Sir Benjamin Hatton, comparecia a cada dois dias à mansão dos Herrera para sessões de tratamento.

Vincent chegava apreensivo, pois Herrera avisara-o por carta que Anahí ficaria sabendo, a qualquer momento, dos artifícios sórdidos dos quais seu irmão lançara mão para garantir-lhe a felicidade.

Ela foi visitá-lo em sua primeira manhã na corte, mais linda e carinhosa do que nunca, e ele sorveu cada momento.

Em breve, todo aquele amor poderia se transformar em ódio.

No dia seguinte, o conde de Herrera procurou-o em seu estúdio para o entendimento final.

— Eu devia matá-lo pelo que fez a minha irmã, mas vendo que se encontra em estado tão lastimável quanto o dela, vou deixar passar.

— A morte seria pouco. — retrucou Herrera, aceitando o cálice de conhaque. — Tanto para você quanto para mim.

Vincent acomodou-se atrás da escrivaninha.

— É fato. Imagino se dois homens já amaram tanto uma mulher quanto nós dois. Eu devia tê-la levado de volta a Vincent Hall. Talvez seus sonhos não se tivessem realizado, mas ao menos não teria se ferido tanto.

— O pior ainda está por vir, temo.

Vincent encarou-o aflito.

— Acha que ela vai abandoná-lo quando souber?

— É imprevisível. De qualquer forma, ela irá odiá-lo também.

— Já tenho vivido o inferno que você me impôs nesses últimos meses.

Herrera mostrou-se pesaroso.

— Não vou pedir perdão, mas confesso que me arrependo de ter mantido você e Anahí separados. Isso mais a prejudicou do que ajudou. Não vou mais interferir em seu relacionamento. Tem a minha palavra.

— Isso vai fazer pouca diferença, quando ela descobrir a verdade.

Herrera se impacientava.

— Quero sua ajuda para poupá-la de uma humilhação em público. Não se trata apenas de dizer-lhe a verdade, mas provar-lhe que ambos a amamos. Pode não significar muito, mas ela há de perceber que agimos pensando em poupá-la ao máximo.

Vincent refletia.

— De qualquer forma, devemos nos preparar para o pior no início. Gostaria de uma semana com minha irmã antes de fazermos nossa confissão.

Herrera balançou a cabeça.

— É muito. Devemos comparecer a três eventos nesse período e em qualquer um deles os boatos podem chegar a seus ouvidos.

— Será que você não consegue evitar?! Gostaria de alguns dias de paz com Anahí, após tanto tempo separado dela e antes que ela passe a me odiar, talvez para sempre! Pode conceder-me isso?!

Herrera estreitou o olhar.

— Não lhe devo nada.

— Eu sei, mas se quer minha ajuda para poupar Anahí de se dilacerar por completo, dê-me esse tempo com ela. Já fui o homem mais amado em sua vida. Quero só mais sete dias para usufruir esse amor. Em vista de ganhar seu ódio pelo resto de meus dias, não é pedir muito.

— Sete dias. — concordou Herrera, por fim. — No oitavo, contamos e aguentamos as consequências.

Conformado, Vincent manifestou sua outra preocupação.

— Fale-me do tratamento a que Anahí está se submetendo com Sir Hatton. Ela se declarou satisfeita durante a visita que me fez ontem, mas, sabendo o que ela já sofreu na mão desses "especialistas" no passado, tenho minhas dúvidas.

Herrera balançou a cabeça, desconsolado.

— Esse Sir Hatton é um completo idiota, na minha opinião. Já chegou dizendo que Anahí não consegue falar devido a uma praga de Deus. Não sei como ela suporta tanta insensatez. As sessões se iniciam com Anahí de joelhos, implorando o perdão divino.

— Mas tem adiantado? Ela não disse uma palavra ontem, usamos a linguagem de sinais.

— Que nada! Aliás, ela parece pior a cada dia... Sua voz está tão rouca que ela mal consegue balbuciar. Já estou com medo de que ela adoeça de novo.

Vincent estava vermelho de ira.

— Pois então pegue esse Sir Hatton pelo fundilho da calça e chute-o para o meio da rua! — sugeriu. — Se a ama, é o mínimo que pode fazer!

— Não sou como você! — lembrou Herrera, igualmente colérico. — Se Anahí quer tentar, tem esse direito. Basta de impor-lhe as minhas vontades! — mais calmo, completou: — Mas isso não quer dizer que não possa lhe apresentar alternativas. Escrevi a Christian Chávez pedindo que trouxesse Eddy de volta o mais rápido possível.

Vincent olhou-o por alguns segundos, então, levantou-se.

— Ofereço-lhe minha mão, Senhor, o que não é pouca coisa. Com isso, peço desculpas pelas muitas ofensas que lhe dirigi. Provou ser um homem de honra e equilíbrio. Anahí está a salvo a seu lado.

Herrera fitou o outro homem nos olhos.

— Aceito sua oferta, com uma condição. Quero lhe pedir um grande favor.

— Diga.

Herrera fez-se claro. Vincent ficou chocado, mas concordou.

Os dois homens selaram o pacto com um forte aperto de mãos.