Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Vinte E Três

Ao deixar Wílborn Place, Herrera foi direto para casa.

Sir Hatton também já iniciara seu "tratamento" com Anahí, suas repreensões severas audíveis já no saguão de entrada.

— Alfonso! Repita, Lady Anahí!

— Al-fon-so... — murmurou ela, rouca e fatigada.

— Assim não! Só uma pagã fala assim! Mais empenho, vamos! Alfonso!

Era evidente que Anahí estava à beira das lágrimas.

O mordomo Crane apressou-se em avisar:

— Meu Senhor, o mestre Christian Chávez e o jovem Eddy chegaram há uma hora. Estão na saleta azul.

— Até que enfim! — exclamou Herrera, e subiu a escadaria de dois em dois degraus.

Passando reto pela porta do quarto em que Sir Hatton torturava sua esposa, adentrou a saleta azul.

— Como pode permitir que ela se submeta a um horror desses?! — protestou Chávez, furioso.

— Também estou farto! — defendeu-se Herrera. — Eis por que os chamei aqui!

Junto à janela, outro jovem parecia ávido por sangue.

— Eddy, que bom que está aqui! Ainda não viram Lady Herrera, pois não?

— Não vimos, mas ouvimos! — replicou Chávez.

Herrera olhou para os dois aliados.

— Creio que minha esposa já teve o bastante do tratamento de Sir Hatton. Venham comigo.

Sem bater, Herrera abriu a porta do quarto ao lado.

Sir Hatton e Anahí voltaram-se, ela lívida de exaustão, de pé em cima de uma cadeira, ele vermelho de zanga, brandindo a bengala como uma arma.

Ao ver Christian Chávez, ela enterrou o rosto nas mãos e caiu em prantos.

— Lady Herrera! — repreendeu o especialista.

— Deixei-a em paz! — Chávez agarrou Anahí pela cintura e a fez descer da cadeira. — Lady Anahí, o que significa isto?! É absurdo!

— Não permanecerei na mesma sala com esse defensor da amoralidade! — avisou Hatton a Herrera. — Como permite que ele entre em sua casa?!

— O Senhor é que jamais teria entrado em minha casa, não fosse a insistência de minha esposa! — replicou Herrera.

Vendo Anahí comunicar-se com Chávez através da linguagem de sinais, Hatton pareceu apavorar-se:

— Lady Herrera, isso é o fim! Desisto de recuperá-la. Fique de vez com Satã.

— N-nã-o! — gritou Anahí. — Al-fon-so, p-por fa-vor! P-por fa-vor!

— Anahí... Deixe-o ir. — pediu Herrera, de coração cortado.

— N-nã-o! — ela agarrou a manga do especialista. — Sir Hat-ton, p-por fa-vor, e-eu im-plo-ro!

Ela se arrastou escadaria abaixo atrás de Hatton, que fingia não ouvi-la.

Depois que ele se foi batendo a porta, ficou ajoelhada no chão, chorando.

Herrera agachou-se junto dela e ajudou-a a ficar de pé.

— Anahí, vamos voltar lá para cima.

Furiosa, ela se desvencilhou e o encarou, o rosto afogueado e molhado.

— F-fa-ça-o v-vol-tar! V-vo-cê o m-man-dou em-bo-ra, a-go-ra, f-faça-o v-vol-tar!

— Não. — respondeu Herrera, categórico. — De jeito nenhum.

Cega de ódio, ela investiu desferindo inúmeros golpes em seu rosto e peito, soluçando incontrolavelmente.

Ele suportou o ataque impassível, até que ela desabou em prantos.

Erguendo-a nos braços, levou-a para a saleta azul e colocou-a num sofanete, secando-lhe as lágrimas com um lenço.

— Vou chamar o Sr. Chávez. — declarou ele, vendo-a mais calma.

— Al-fon-so... — balbuciou ela, detendo-o. — D-des-cul-pe-me.

— Eu é que peço desculpas, Anahí. Muitas desculpas.

Já era tarde da noite, e Herrera ainda não chegara em casa.

Ele saíra logo após aquela cena horrível pela manhã e Anahí não tinha idéia de onde estaria.

Oh, se pudesse reviver aquele dia, faria tudo diferente...

Christian Chávez também demorara a recuperar o autocontrole, mas então conversaram longamente na saleta azul.

"— Não posso acreditar que tenha contratado aquele homem para torturá-la! — desabafou o antigo mestre, perplexo. — Não se lembra de tudo o que passou na mão de outros "especialistas" como ele?!

Com a garganta inflamada e dolorida, só pudera responder com sinais de mãos.

"Eu era acomodada. Posso aprender a falar, se me esforçar bastante."

— Anahí, conhece o parecer do médicos. — argumentou Chávez, sério. — Suas cordas vocais sofreram dano permanente e você só piora o estado delas tentando falar. Nunca vai poder se expressar oralmente como as outras pessoas e tem de aceitar esse fato."

A conversa se encerrou sem que Anahí se mostrasse conformada com o destino.

Naquela noite, cansada do dia atribulado e da espera vã pelo marido, adormeceu sozinha na cama.

Herrera despertou-a no meio da noite dom beijos sôfregos que tinham gosto de cigarro e conhaque.

— Al-fon-so... — murmurou ela, sonolenta, enquanto ele a livrava da camisola.

— Desculpe-me. — pediu ele. — Por tudo.

Lacrimejante, ela se agarrou a ele numa súplica silenciosa.

— Não chore mais, pequena Anahí. Não suporto isso. Deixe-me amar você. Preciso tanto...

Ela o recebeu contente, feliz por estarem juntos novamente.

Depois, permaneceram com os corpos entrelaçados sob as cobertas, aconchegados e satisfeitos.

Como, mesmo em meio a tanta infelicidade, tudo parecia tão perfeito quando se encontravam na imensa cama?

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PS: Reta final