Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Vinte E Quatro

Na carruagem, ao lado do marido, Anahí não conseguia conter o nervosismo.

Estavam a caminho do sarau anual de Lorde e Lady Orchard, um dos eventos mais importantes da sociedade, no qual praticamente estrearia como Lady Herrera.

Tentando se acalmar, sorriu para Eddy, sentado a sua frente, parecendo mais que desconfortável no traje de gala cor de vinho.

No baile, o ex-garoto das docas faria seu grande teste como intérprete da linguagem de sinais.

— Calor, Eddy? — indagou-lhe Herrera.

— Eu daria tudo por um mergulho. — confirmou o adolescente.

— Saberá o que é calor no salão de festa. — replicou Herrera, divertido.

Anahí admirou o perfil do marido, impecável no traje azul-escuro.

Seria, sem dúvida, o homem mais bonito no baile.

Não fossem suas dúvidas quanto a uma possível ligação entre ele e a Srta. Perroni, seria a mulher mais feliz do mundo.

— Chegamos. — anunciou Herrera, quando a carruagem parou diante de uma mansão fulgurante em luzes. — Eddy, lembre-se dos modos, hein?

O garoto fez uma careta.

— Já sei, já sei...

Ajudada pelos dois cavalheiros, Anahí desceu do veículo e ajeitou a saia do belo vestido azul-escuro e dourado.

Com o objetivo de impressionar, mas sem cair na vulgaridade, escolhera a dedo aquele modelo da última moda de Paris, que todas as mulheres presentes com certeza invejariam. Afinal, era agora a condessa de Herrera.

E chegou a hora do grande desafio.

Herrera apresentou-a aos anfitriões e ela, como de hábito, fez uma reverência e um movimento de cabeça, sorrindo.

Antes que o marido a levasse adiante, porém, deteve-se, reuniu toda a coragem, ergueu o queixo e falou, em alto e bom som:

— O-o-bri-ga-da p-por n-nos con-vi-dar, lor-de e la-dy Or-chard. É u-mm gran-de pra-zer es-tar-mos a-qui. — puxou Eddy para seu lado. — Es-te é m-meu in-tér-pre-te, Ed-dy. N-não fi-ze-mos mal em tra-zê-lo, p-pois não?

A própria Anahí estremecera ao som de sua voz.

Tentara fazê-la soar mais feminina, mas saíra rouca e masculina como sempre.

O período de silêncio e choque que se seguiu pareceu-lhe o mais longe de sua vida.

Então, Lady Orchard abriu um largo sorriso, avançou e apertou-lhe uma das mãos.

— Claro que não fizeram mal, Lady Herrera! Está tudo muito bem. Estamos muito felizes que tenham vindo a nossa casa esta noite, eu diria mesmo gratos. Até agora quase não saíram nesta temporada e sua ausência tem sido muito sentida. O fato de terem comparecido a nossa festa é de fato uma honra!

Com a quebra da tensão, o alívio foi tão grande que várias pessoas em torno riram, incluindo Anahí.

Vencera o desafio, o resto seria fácil.

O orgulho que viu no rosto do marido compensou todo seu sofrimento na preparação para aquele evento.

Herrera conduziu-a ao salão de baile como se fosse a rainha da Inglaterra.

— Só gostaria que seu irmão estivesse aqui. — murmurou ele, no caminho. — Ele teria ficado tão orgulhoso quanto eu.

Dançaram o minueto de abertura, depois uma valsa, então, Herrera foi confraternizar com velhos amigos, incluindo Lorde Axel, deixando Anahí com Eddy, que reaparecia após refestelar-se com muitos quitutes e pouca bebida, conforme lhe foi recomendado.

Objeto de curiosidade no início, o ex-garoto das docas logo ganhou a simpatia dos convidados, com seu linguajar popular e maneiras descontraídas.

Seu sucesso estava justamente no fato de não dar muita importância às pessoas que o cercavam, como se não estivesse entre os representantes da mais fina sociedade londrina. Estava ali para interpretar Anahí e fazia-o com precisão.

Por fim, chegaram Catherine e Camila.

Anahí ainda as cumprimentava quando Herrera se aproximou com Lorde Axel.

— Lady Catherine... — murmurou o visconde, inclinando-se sobre sua mão. Voltou-se para Anahí. — Lady Herrera...

Diante de Camila, porém, limitou-se a um breve movimento de cabeça.

— Lady Camila, é um prazer revê-la. Espero que esteja bem.

— Melhor impossível. — replicou a moça, tão formal quanto ele.

— Folgo em saber. — o visconde voltou-se para a Senhora mais velha. — Lady Catherine, dar-me-ia a honra desta dança?

Catherine sorriu desconsolada.

— Obrigada, meu Senhor, mas creio que não dançarei nem uma vez esta noite. Estou com uma dor de cabeça de matar.

Ele se voltou para Anahí.

— Lady Herrera?

Herrera tornou a mão dela.

— Lamento, amigo, mas minha esposa já a prometeu esta para mim.

Com isso, todos se afastaram deixando Axel sozinho com Camila, que parecia tão acessível quanto uma serpente venenosa.

Mal haviam dado alguns passos, porém, ouviu-se um tapa tão sonoro que Eddy não pôde evitar um assobio ao estilo do cais.

Tratava-se da resposta de Camila ao convite do visconde para dançarem.

Diante de uma platéia estupefata, Camila deu as costas ao rapaz e, de nariz apontado para o teto, foi para o terraço.

Com a bochecha avermelhada, ele a seguiu furioso.

A briga estava só começando, era evidente.

Aliviando o clima, a orquestra recomeçou a tocar.

Herrera conduzia a esposa por entre os outros dançarinos com um sentimento próximo à arrogância.

Como sempre, ela era a mulher mais bonita da festa, mas não era por isso que experimentava tamanho orgulho por tê-la.