Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Vinte E Seis

Vincent Hall estava diferente.

Anahí não saberia especificar o que faltava, mas havia algo diferente.

Talvez porque agora comparasse o lar da infância a St. Cathyrs, que também passara a amar.

Talvez porque, pela primeira vez, estivesse ali sozinha, sem Catherine, sem Camila... e sem Vincent.

Tinha a companhia de Eddy, naturalmente, bem como a dos demais criados, que a conheciam desde pequena e se comunicavam com ela usando a linguagem de sinais, contudo, sentia-se tão só no casarão ancestral dos Portilla quanto se sentira em St. Cathyrs.

Vincent prometera deixá-la em paz, sem jamais tentar revê-la ou estabelecer qualquer tipo de contato, e tinha certeza de que ele cumpriria a palavra.

Fora o que lhe restara, após ela ter jurado, no momento mais horrível de sua vida, que jamais o perdoaria.

Agora, porém, mergulhada na solidão, voltava a desejar toda a família. Gostaria que a vida voltasse a ser agradável e descontraída.

E, acima de tudo, queria Herrera.

Ao cavalgar pela propriedade imensa, passando por prados verdejantes, junto ao lago de águas límpidas e em meio ao bosque úmido e sombreado, pensava em Herrera.

A noite, na cama, chorava por ele em total desconsolo.

Tudo em vão.

Logo estariam divorciados e ele, livre, poderia enfim se casar com Maite Perroni. E ambos seriam felizes para sempre.

Todo o ano anterior, do momento em que Vincent o chantageara até aquele em que ela o libertara, com o tempo desaparecia da memória do conde de Herrera.

Já para ela, a lembrança dos dias e noites, passados com ele, seria sempre seu bem mais precioso.

"— Ele virá buscá-la. — prenunciara Eddy, no dia em que chegaram de Londres. — Pode escrever o que digo."

Ela mesma chegara a acalentar o sonho. Mas uma semana se passou, depois outra, e nenhuma notícia.

Assim como seu irmão, Herrera faria sua vontade e a deixaria em paz, para sempre.

Pensando numa maneira de sentir-se menos infeliz, decidiu, certa noite após o jantar, tocar piano.

A quebra da rotina do jogo de cartas na sala de visitas agradou também a Eddy.

A sala de música, contígua ao imenso salão de baile, parecia tão lúgubre quanto os demais ambientes da mansão, apesar de iluminada e aquecida, mas Anahí achou que tudo mudaria com um pouco de música, ainda que não tivesse o talento da sobrinha Camila.

Acomodando-se na banqueta, começou a tocar uma valsa conhecida, lenta e pausadamente a princípio, devido à falta de prática, mas depois com mais destreza.

Absorta em aperfeiçoar o desempenho, perdeu a noção do tempo e até se esqueceu de Eddy.

Ao procurá-lo com o olhar, viu o marido.

Surpresa, Anahí parou de tocar e levantou-se.

Em traje de montaria e botas enlameadas, Herrera estava corado e com os cabelos em desalinho após a cavalgada.

Nunca o vira mais belo, nem no mais fino traje de gala.

Com a diferença de que ele estava sério, muito sério, o que lhe provocou um aperto no coração.

— Boa noite, Anahí. Desculpe-me por chegar sem convite, mas fiz uma longa viagem só para vê-la e não suportaria esperar um minuto que fosse na sala de visitas. Espero que não se importe.

Ela sentou-se de novo na banqueta, sem saber o que dizer.

Não lhe passou despercebido o sorriso convencido de Eddy.

— Em sua carta de despedida, pediu-me que a deixasse em paz, mas receio que seja impossível. — continuou Herrera, aproximando-se um passo. — Há assuntos pendentes que temos que discutir. Pessoalmente.

Naturalmente, pensou Anahí, com o coração aos pulos. Se iam se divorciar, devia haver documentos a assinar.

Levantando-se, sinalizou a Eddy: "Peça para trazerem uma garrafa de conhaque para o Senhor aqui na sala de música, por favor."

— Depois, vá se distrair em outro lugar. — acrescentou Herrera. — Lady Herrera e eu queremos conversar a sós.

Anahí e Herrera acomodaram-se junto à lareira, frente a frente.

Ela pensou em escrever sua parte do diálogo, mas então lembrou-se de que nunca carregava a pastinha de anotações em Vincent Hall.

— Espero que não tenha de se esforçar demais. — comentou ele, adivinhando seu intento frustrado.

— P-pou-co m-e im-por-ta.

— Pois deveria, Anahí, principalmente se estiver ansiosa para se livrar de mim. — retrucou Herrera, perspicaz. — Não vai ser tão fácil.

Ela o encarou brava.

— É vo-cê q-quem es-tá an-si-o-so!

Ele balançou a cabeça, desolado.

— Reconheço que sua raiva se justifica, Anahí, mas gostaria que tivesse me dado uma chance de me explicar antes de sumir daquele jeito! Eu a teria deixado partir então, se assim quisesse.

— A-a-chei que fi-ca-ria fe-liz e-em ver-se li-vre de mim. — cortou Anahí, chorosa. — A-fi-nal, a-ma a se-nho-ri-ta Per-ro-ni. N-não pre-ci-sa con-ti-nu-ar fin-gin-do! Vin-cen-t me con-tou tu-do. N-não pre-ci-sa se sen-tir em dí-vi-da de hon-ra. E-eu o li-ber-to.

Um criado chegou com o conhaque. Herrera serviu-se de uma dose generosa e encheu um cálice para Anahí, que recusou.

— Vai querer daqui a pouco. — previu ele. — Quando sua voz ficar rouca. — recostado na poltrona, sorveu mais da bebida antes de retomar a conversa: — De fato, seu irmão cometeu vários crimes, de chantagem à sequestro, ainda que pensasse em seu benefício. De minha parte, é claro que senti muita raiva quando ele ameaçou tomar St. Cathyrs de minha família, chegando a acalentar a idéia de fazer você se apaixonar por mim e então desgraçá-la, para me vingar, mas desisti no instante em que a vi, Anahí. Se não foi nesse momento que me apaixonei, foi logo depois.

Ela balançou a cabeça, inconformada.

— F-foi só de-se-jo. Na-da m-mais.