Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Quatro

O conde de Keller não gostava de mudanças, principalmente em sua própria casa.

Não gostava de ver até o corredor menos usado iluminado como o dia no meio da noite e inúmeros criados extras executando em alvoroço suas tarefas sem fim.

Sentia-se exposto à luz.

As cicatrizes em seu rosto tornavam-se mais visíveis e era impossível ocultar sua compleição gigante.

Mesmo trajando as melhores roupas, percebia a repulsa no olhar da sociedade, que o fazia sentir-se mais besta do que homem.

Não que ligasse a mínima para a opinião dos outros a seu respeito, mas havia algumas poucas pessoas a quem lamentava afligir com sua feiúra e hospedá-las em sua mansão por vários meses era-lhe extremamente desagradável.

Toda vez que Lady Catherine o fitava com aquele olhar firme, tinha vontade de cobrir o rosto com a mão.

Tratava-se da única pessoa capaz de fazê-lo desejar ser alguém diferente do que era.

Abandonara o lar aos catorze anos e voltara só para o enterro do irmão.

Durante os anos de afastamento, recebera notícias da família, incluindo a do casamento de George, mas nunca vira Lady Catherine antes daquele dia.

Junto ao túmulo, vira uma mulher tão perfeita que, chocado, seus joelhos quase cederam.

Estava lançado o feitiço e, desde então, toda vez que a via a paixão o devastava.

Agora, contemplando-a junto ao fogo da lareira, com a cabeça recostada na cadeira estofada e os olhos languidamente fechados, mantinha-se na sombra, o coração mais errático do que diante dos espetáculos que sua amante e outras mulheres promoviam para seu prazer.

Em seu descanso descontraído, Catherine Chandler acalentava uma força maior do que a de uma avalanche.

— Divertiram-se, então? — indagou ele, desejando sentir-se mais à vontade com ela, achegando-se para conversar, como qualquer homem faria. — Anahí parecia satisfeita.

Catherine abriu os olhos.

— Acho que sim. Fiquei tão aliviada quanto ela finalmente foi dançar. Cheguei a pensar que a noite seria um completo desastre. — pensativa, continuou: — Não foi o que ela esperava, assim como sabíamos que não seria, mas ela se mostrou tão feliz depois. Dançar a primeira valsa com o homem mais bonito do salão deve ter correspondido aos sonhos que ela vive me contando. — adotou uma expressão conhecedora. — Como os sonhos de toda moça, imagino. Só gostaria que você os tivesse visto juntos, Vincent. Formaram um lindo casal, e Anahí dançou com perfeição. Você teria ficado orgulhoso.

— Sempre me orgulho de Anahí. — retrucou ele, tomando um gole de seu uísque. — Herrera observou a etiqueta?

— Oh, sim, fez tudo o que se espera de um jovem cavalheiro, perfeito em todos os detalhes. Duvido de que alguma moça no Almack's não tenha se corroído de inveja quando ele convidou Anahí, e somente a ela, para valsar.

Rijo, Vincent notou um certo fastio na voz da cunhada.

— Não gostou dele, Catherine?

— De forma alguma, Vincent. Mal conheço o rapaz, como poderia desaprová-lo? Mas fico preocupada com Anahí. Não quero parecer pessimista, mas... Sei que vai entender o que vou dizer. Eu quase gostaria que tudo houvesse se acabado esta noite mesmo, em vez de dar a ela um motivo de esperança. Mesmo que Lorde Herrera cumpra a promessa de levá-la para passear, temo que ela se magoe, talvez já no próximo evento social. Nenhum cavalheiro apresentado a ela convidou-a para dançar antes de Lorde Herrera. Mas aí ela ficou com tanto medo de dançar com ele que tive de obrigá-la.

— Acho que ela se saiu bem da experiência.

A cunhada inclinou-se para a frente.

— Sim, mas...

— Temos de dar-lhe essa chance, Catherine. — argumentou Vincent, firme. — Nós a alertamos e ela não quis ouvir, mas a experiência é a melhor tutora. Agora ela já sabe o que vai enfrentar e pode decidir entre seguir adiante ou voltar para casa. Anahí não é fraca, nem covarde. Se fosse, eu nunca a teria deixado sair de Vincent Hall.

Lady Catherine encarou-o com aquela expressão zangada que sempre lhe provocava o desejo de beijá-la torridamente.

— Anahí não é você, Vincent. Não é nem parecida. É uma moça ingênua, despreparada. Não sairia intacta das experiências que você viveu.

Vincent não conseguiu suprimir o riso.

— Minha cara Lady Catherine, é impossível comparar uma temporada na sociedade com um período de quinze anos na companhia de piratas, ladrões e assassinos. Reconheço que há semelhanças entre os personagens principais, mas ao menos Anahí não tem que se preocupar com a possibilidade de a Sra. Drummond-Burrell enterrar-lhe uma adaga entre os ombros se não fizer direito uma reverência.

— Palavras e atitudes podem ferir tanto quanto um ataque físico, Vincent. Talvez ainda mais partindo de uma pessoa como a Sra. Drummond-Burrell.

— A Sra. Drummond-Burrell ataca Anahí por sua própria conta e risco. — lembrou Vincent. — Não precisa se preocupar com isso.

Lady Catherine não se conformava.

— Então, vamos deixar Anahí ir em frente até que aconteça um desastre? A humilhação desta noite não bastou? Vamos deixar que continue até que a sociedade a ponha de joelhos?

Vincent nutria uma paixão violenta por Catherine Chandler desde que pusera os olhos nela pela primeira vez, mas, em momentos como aquele, quando ela cedia ao tempestuoso gênio irlandês, não conseguia pensar em nada além de levá-la para a cama e fazer amor com ela.

Quão gloriosa não seria a visão de seus cabelos castanhos soltos em contraste com a pureza dos lençóis brancos...

— A sociedade não fará Anahí se ajoelhar. — garantiu, saindo da sombra foi pousar o copo numa mesinha. — Eu não permitirei.

Lady Catherine levantou-se teimosa.

— Meu Senhor, reconheço seu imenso poder, mas nem o Senhor pode fazer toda a sociedade obedecê-lo.

— Não é preciso que toda a sociedade o faça. Bastam alguns de seus membros. Mas você está certa. Apesar do que posso fazer para facilitar as coisas, Anahí terá de encontrar seu próprio caminho. Eu não queria que ela viesse para Londres tanto quanto você, mas não podíamos mantê-la enterrada em Somerset contra a vontade.

— Ela não estava enterrada. — protestou a cunhada. — Lá ela tem amigos que a amam e respeitam, e dias cheios de atividades que ela adora. Ela tem uma vida plena e feliz.

— Mas nada que a impeça de sonhar com Londres. — observou ele.

Ela soltou um longo suspiro, evidentemente convencida.

Quando se aproximou, ele mal pôde ouvi-la, tão intenso era o rufar de seu próprio coração nos ouvidos.

— Sei que está certo, Vincent. Só gostaria de conseguir não me preocupar mais com isso. Há séculos discutimos sobre Anahí. — Catherine sorriu, mais descontraída. — Lembra-se de como brigávamos por causa dela?

— Jamais esquecerei. — Vincent riu. — As únicas vezes em que senti medo de verdade foi ao ouvir sua convocação: "Meu Senhor, temos de conversar".

Haviam discutido inúmeras vezes sobre Anahí, principalmente no início, à chegada dele a Vincent Hall após uma ausência de quinze anos.

Além de assumir os títulos e propriedades da família, vira-se diante de uma garotinha pálida e calada, a irmã por quem a mãe morrera ao dar à luz.

Embora sua mudez se devesse a um incidente infeliz em tenra idade, ela crescera aos cuidados dos criados, tratada pela família como uma idiota de nascença.

Mas ele adivinhara, ao fitar os olhinhos azuis fulgurantes, que uma mente muito inteligente se escondia atrás daquele silêncio.

Já Anahí, diante do corpulento irmão mais velho com seu rosto cheio de cicatrizes, dera um sorriso tão encantador que conseguira tocar o coração inexpugnável, e Vincent viu evaporar-se sua intenção de vender tudo o que herdara e retornar à vida de aventuras.

Continuava odiando a nobreza por sua hipocrisia, bem como tudo o que se relacionava ao sobrenome Keller, mas talvez ele e Anahí conseguissem realizar algo a partir dos destroços que haviam herdado dos ancestrais.

Podiam ao menos tentar.

Catherine contribuiu ao mudar-se para Vincent Hall com Camila a fim de cuidar da casa e da pequena cunhada.

E passaram os dois a discutir sobre tudo, desde os diagnósticos médicos quanto à mudez de Anahí, até os professores e métodos que poderiam beneficiá-la.

Quando não discutiam entre si, discutiam com os médicos e professores.

— Sou tão amedrontadora assim? — questionou Catherine, tão próxima que ele podia sentir o calor emanando de seu corpo esguio. — Devo confessar que não confiei muito em você no início. Passei anos temendo que desaparecesse de repente, como fez na adolescência. Anahí o adorava e teria ficado desolada com o seu abandono. Foi duro quando você decidiu morar em Londres, obrigado por seus deveres como conde de Keller, mas então ela já tinha idade bastante para entender.

Ele não ligava a mínima para seus deveres como conde de Keller e se regozijava imaginando os ancestrais revirando-se nos túmulos.

Fora ela, Catherine, e a tortura de vê-la todos os dias sem poder tocá-la, que o fizera sair de Vincent Hall havia cinco anos.

— Visitei-as tanto quanto pude. — mentiu. — Se soubesse que Anahí sentia minha falta, teria ido mais vezes.

— Oh, eu sei, Vincent. — gentil, ela apertou a mão sobre a dele na mesa. — Você é maravilhoso para com Anahí, para com Camila e para comigo. Aprendi há muito tempo a confiar em você por completo.

Ele não conseguia falar. Mal conseguia respirar. Só sentia a delicada mão feminina sobre a sua, feia e peluda.

— Sentimos sua falta, Vincent. Anahí, Camila... E eu.

O instinto apurado alertou-o de que a porta da biblioteca estava para ser aberta, de modo que libertou a mão.

O mordomo entrou em seguida.

— Os cavalheiros esperados já chegaram, meu Senhor. Estão no estúdio.

— Obrigado, Willis. Estarei lá num minuto.

Catherine já recolhia seus pertences.

— Vou deixá-lo para cuidar de seus negócios, Vincent. Você atende em horários tão estranhos... — deteve-se à porta. — Qualquer noite dessas, vamos jogar uma partida de xadrez. Lembra-se de quando jogávamos?

Ele aquiesceu.

— Lembro-me de que você sempre me derrotava.

Ela riu.

— A única área em que consigo vencê-lo. — pegou na maçaneta. — Boa noite, Vincent.

— Catherine... — chamou ele. — Não se preocupe com Anahí. Tudo vai dar certo, eu prometo.

A cunhada o fitou séria.

— Sei que não nos acompanharia aos eventos sociais para os quais fomos convidadas, mas gostaria de lhe pedir uma coisa.

— O que quiser.

— Que dance com Anahí no baile de debutantes. Sei que já se passou muito tempo desde que tomou aulas de dança, mas consegue dançar uma música rural, não consegue? Significaria muito para ela.

Ele soltou um suspiro desolado.

Se qualquer outra pessoa estivesse pedindo, negaria sem pensar duas vezes.

— Uma dança... — concordou, rabugento. — Só uma.

O sorriso cálido que Catherine lhe deu antes de sair mais que compensou seu arrependimento de ter feito a promessa.

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Já podem shippar VinCat KKKKKKKKKK

Bem... Uma leitora me procurou pra tirar dúvidas e caso sejam a msm de vocês... A relação do Poncho com a Maite é a seguinte, ele considera ela uma mulher perfeita para casar, até o momento ele só corteja ela, em livros de época é comum os homens terem a mulher para casar e outra de amante, a amante do Poncho não é a Maite :3

Dúvidas podem perguntar...