Fanfic: O Silêncio da Paixão *AyA*Ponny* | Tema: Ponny, AyA

Capítulo Sete

Nos últimos três anos, toda noite antes de dormir, Anahí sonhara acordada com todas as experiências maravilhosas que uma moça podia viver em sua primeira temporada em Londres, como passear num parque no horário mais movimentado, às cinco da tarde, na companhia de um belo cavalheiro. Realista, porém, nunca acreditara que um sonho assim pudesse acontecer.

Mas os céus deviam ter ouvido suas preces, pois lá estava ela, não só passeando no Hyde Park na mais linda caleche imaginável, como também acompanhada de um cavalheiro cuja beleza excedia em muito seus sonhos mais extravagantes.

Sentado a seu lado, Lorde Herrera parecia inumanamente perfeito em seu conjunto de calça amarela e casaco azul-escuro.

Numa postura relaxada, quase indolente, batia os longos dedos ritmadamente no topo da bengala, sorrindo para Camila, sentada de frente para ele, que o entretinha contando algumas das trapalhadas que as duas já haviam aprontado em Vincent Hall.

Era difícil acreditar que ele achasse as histórias interessantes, mas seu prazer e divertimento pareciam genuínos.

Então, como se sentisse que era observado, ele a olhou, o sorriso mais terno.

— Está gostando do passeio, Lady Anahí? O que acha desse aperto todo? — com um gesto, indicou o congestionamento de veículos.

Ela achava maravilhoso, embora, pensando bem, não fizesse sentido tanta gente sair para desfilar no fim da tarde, dia após dia.

Desde que entraram no parque, tinham sido cumprimentados por muitas pessoas elegantes, algumas a cavalo, outras em faetontes e carruagens abertas dos mais variados tamanhos, todas querendo ser apresentadas a ela e Camila.

A maioria se mostrara bastante desolada ao descobrir que ela não falava, tratando logo de inventar alguma desculpa e se afastar, mas já estava acostumada.

Apenas conhecer tanta gente chique fora um acontecimento e tanto, e já se via de volta a Somerset, fascinando os amigos com as lembranças de sua estadia em Londres.

Bem, Lorde Herrera aguardava uma resposta, e Anahí abriu a bolsinha dourada pendente de sua pulseira. Esquecera-a ao sair para cavalgar pela manhã, mas tratara de levá-la ao parque.

Tirando uma das minúsculas folhas de papel e a canetinha dourada, escreveu: "Maravilhoso! Melhor do que o Circo do Hassim."

Grifou a palavra circo duas vezes e estendeu-lhe o bilhete, sorrindo satisfeita ao vê-lo gargalhar.

— Céus, tenho de me esforçar para que as jovens tenham uma impressão mais favorável da corte. — concluiu Herrera, passando o papel a Camila. — Digam-me, há algum lugar em Londres que gostariam de visitar em
especial?

— A Torre! — exclamou Camila, enquanto Anahí escrevia sua opção.

— Vauxhall — leu ele, olhando-a de soslaio, divertido. —, e madame Tussaud. Amanhã, caso estejam livres, posso acompanhá-las à Torre de Londres. Seria uma honra.

— Oh, sim! — concordou Camila, extasiada. — É muita gentileza sua, meu Senhor! Tenho certeza de que mamãe também vai querer ir!

— Combinado, então. Falarei com Lady Catherine quando chegarmos a Wilborn Place.

Um rapaz montado num magnífico cavalo negro emparelhou com a carruagem e Herrera cumprimentou-o:

— Olá, Axel. Achei que o encontraríamos aqui.

Elegante de calça bege e casaco escuro, o qual realçava seu físico musculoso, Lorde Axel parecia tenso e desconfortável.

— Boa tarde, Lady Anahí, Lady Camila... — cumprimentou, fazendo uma reverência na sela.

Camila respondeu com um olhar glacial.

— Herrera, espero que esteja bem.

— Muito bem, obrigado. Apesar de cheio, o parque está muito agradável esta tarde, não concorda?

Axel não parecia interessado no parque.

Olhou de novo para Camila e ela levantou o queixo e virou o rosto.

— Concordo.

— Se soubesse que você viria passear hoje, eu o teria convidado a vir conosco. Tenho certeza de que as moças teriam apreciado sua companhia.

Anahí confirmou e sorriu.

Camila bateu a sombrinha no chão da carruagem e expressou desdém.

Axel limpou a garganta.

— Eu... É... Eu reconsiderei algumas das observações que fiz a Lady Camila hoje de manhã e concluí que, talvez, um pedido de desculpas se faça necessário.

Camila parou de bater a sombrinha e encarou-o.

— Talvez?!

Axel estava tão constrangido que Anahí teve dó dele.

— É... Não... Eu sem dúvida lhe devo um pedido de desculpas, embora a Senhorita tenha de admitir que provocou a situação e que ambos dissemos coisas de que qualquer pessoa normal se arrependeria...

— Perdão, meu Senhor — interrompeu Camila, —, mas não me arrependo de uma palavra sequer que lhe disse esta manhã. E eu não provoquei a situação.

— Provocou! — replicou Axel, colérico. — Ao cavalgar feito uma louca, com risco de quebrar o pescoço e aleijar o animal...

— Olá, Hanby! — cumprimentou Herrera, ao avistar outro cavaleiro conhecido. — Boa tarde. Por favor, junte-se à baixaria aqui. — convidou, dando a Anahí uma piscadela cúmplice que a fez cair das nuvens.

— Boa tarde, Herrera. Aguillar. Baixaria? — Lorde Hanby ergueu a cartola da cabeça meio calva, numa mesura às damas. — Boa tarde. — disse a Camila, mal incluindo Anahí em seu sorriso.

— Boa tarde, meu Senhor. — respondeu Camila, polida, ignorando a carranca de Axel quando ela sorriu para o outro.

— Vai ao baile de Lady Pebworth hoje à noite, Lady Camila? Gostaria muito de reservar uma dança com a Senhorita, se possível.

— Ha! — desdenhou Axel, como se acabasse de ouvir um absurdo.

Camila brindou Lorde Hanby com seu sorriso mais ofuscante, o mesmo que derrubara mais homens em Somerset do que Anahí conseguia se lembrar.

Imediatamente enfeitiçado, o homem inclinou-se para ela na sela até esbarrar no cotovelo duro de Axel.

— Será uma honra, meu Senhor. Anahí e eu teremos o máximo prazer em reservar uma dança para o Senhor, se nos disser que estilo prefere.

Oh, Camila..., pensou Anahí, desolada.