Fanfics Brasil - A chegada do inimigo O Mundo de Dunas

Fanfic: O Mundo de Dunas | Tema: Futuro apocalíptico, guerra, aventura


Capítulo: A chegada do inimigo

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“Chico! Para de olhar para trás e corre…” o capitão estava impaciente, Chico se sentia aflito com a possibilidade de ainda haverem pessoas nos escombros. Mas antes que pudesse parar de correr, suas preocupações haviam acabado. O prédio havia caído e, se alguém estivesse lá, já era tarde.


Ao olhar para trás por um instante, a nuvem de poeira incomodou muito seus olhos e ele precisava continuar correndo, mas para onde? Antes de entrar no prédio, o Capitão  havia combinado o ponto de retorno na beira da estrada, mas agora não enxergava onde ela estava. Conseguiu ver alguns soldados, numerosa sombras de movimentando em uma direção, o Capitão às seguiu.


Era para lá que Chico ia, mas quando ia se virar para correr também, viu dois vultos que sumiram na poeira. Eles corriam em direção contrária e ele se perguntava se aqueles soldados, se é que eram soldados, haviam tido alguma indicação de ir para lá, ou se só estavam perdidos.


“Capitão!” ele se aproximou para perguntar se era para lá que deviam ir, mas sem tirar os olhos da direção de onde viu os vultos. Quando ia falar, para sua surpresa, viu outras duas sombras indo na mesma direção e sumindo mais uma vez.


“Chico, o que foi?” o Capitão não esperou Chico se virar para falar e continuou apressado “vira pra cá, corre pro ponto de encontro, essa missão não pode ter nenhuma ocorrência…” o soldado achou melhor não discutir, o Capitão não era muito de escutar, ainda mais relatos imprecisos sobre coisas que eles não sabiam o que eram. Ele seguiu o superior para a direção onde a maior parte dos soldados iam. A medida que a nuvem se dissipou era possível ver melhor e corrigir o caminho. Quando parou de correr, se virou para a Sede e teve a impressão de ver as portas se fechando.


Algo estava acontecendo e, apesar de mais esse indício, Chico já tinha ouvido falar das punições que os oficiais davam aos soldados que percebiam as movimentações secretas do próprio exército. Descobrir acidentalmente uma operação do exército seria muito pior que irritar o Capitão com um relato impreciso. Por via das dúvidas, preferiu se calar enquanto ouvia o General fazer seu discurso.


“Bom soldados... homens e mulheres, seus capitães e tenentes, muito obrigado!” a voz do General Appalachian era solene “Hoje conquistamos a última Fazenda da nova província, a Província da Guanabara!” Todos aplaudiram, mecanicamente, estavam exaustos depois do confronto e da invasão. Além disso, já haviam ouvido vários discursos iguais do General. “Apesar dos percalços inesperados, do inimigo nos esperando no caminho, nós vencemos bravamente! Hoje é necessário domar esta última fazenda, a missão de guardar esta fronteira será dada àqueles que serão privilegiados em se manter alocados com o Capitão Sérgio Agulhas-Negras…” enquanto o general ainda dava detalhes sobre a ocupação da Fazenda, Chico olhou para o Capitão. O seu superior tinha o rosto num vermelho vivo, parecia que ele também não sabia que seria designado para ficar lá. O Capitão olhava o general com os olhos arregalados, enquanto o segundo não o lançou sequer um olhar “... por fim a Fazenda será designada para a produção acelerada de bens primários. Quanto à nós, eu como general, os demais capitães e a maior parte dos oficiais, vamos partir para reunir nossas forças com as frotas que  nos aguardam nos portos da Guanabara e partir nos navios para a Capital da Prata. Nosso golpe final irá derrubar a última cidade que se opõe à Liga dos Sete nesse continente.” Quando o General acabou, os soldados começaram a repetir o grito de guerra, saudando as suas palavras. Chico se virou mais uma vez para o Capitão, que havia se recuperado do susto e, com um sorriso amarelo, recebia os cumprimentos de diversos oficiais.


Chico achou melhor ir cumprimentar também, ainda estava sob as ordens do Capitão. Quando se aproximava via que o Capitão estava desconfortável. Ele estava diferente, não mantinha mais a mesma posição altiva de antes, parecia não se importar com o que estavam fazendo alí. O Capitão viu Chico e foi na direção do soldado, Chico estranhou mais ainda.


“Chico… vamos conversar…” disse apontando para onde estavam os escombros do prédio “vamos andando por lá, onde não há ninguém” os dois foram e o Capitão só continuou falando quando os soldados não poderiam escutar a conversa “eu não queria ficar aqui, mas uma decisão anunciada publicamente… não tem como o General Appalachian mudar… agora minha carreira acabou, vou passar os próximos anos preso aqui…” o Capitão olhou para o chão, parecia estar pensando no que ia falar.


“Chico…” ele chamou o soldado pelo nome de novo, se aproximando para falar “eu já vi… como posso dizer… você com outros… soldados, soldados homens… você sabe…” Chico olhava o rosto do Capitão, sentiu seu próprio ficar vermelho. O Capitão era um homem grande e forte, estavam tão próximos que seu tamanho o envolvia. Chico nunca havia pensado que ele, ou outra pessoa, tinha percebido “... o fato é, eu não quero te designar  para ficar aqui se você não quiser…” o Capitão olhou para Chico “... mas eu gostaria que ficasse aqui... comigo.”


“Mas Capitão… os outros soldados… eles podem notar” Chico achava arriscado, mas gostou da situação. Não queria continuar na Guerra, em campo aberto, mas sabia que relacionamentos no exército eram proibidos “alguem pode reportar isso…”


“Para quem? Eu vou ser o oficial mais importante aqui… provavelmente não vão me tirar dessa Fazenda, da guarda dessa fronteira, até minha aposentadoria, se você não quiser continuar no campo aberto… você não parece ter posses, não tem graduações, não vai ter carreira…” o que o Capitão falava era parcialmente verdade, Chico não gostava de falar do passado e sabia que não teria para onde voltar, ser um soldado era sua única opção “do campo de batalha você só sai morto… vamos ficar…” o Capitão olhava firme nos olhos de Chico, que pesava os problemas que poderia ter versus a morte quase certa no campo de batalha.


“Eu… eu vou ficar com você…” Chico soltou quase se arrependendo, mas parou de falar quando sentiu o Capitão colocar o braço em torno dos seus ombros, a sensação era estranha. Ele era mais alto e mais forte, o abraço estava muito quente, muito apertado. O Capitão começou a falar baixo, com o rosto muito perto do ouvido de Chico.


“Agora vamos patrulhar a Sede…” e foi embora andando.


-


Chico foi andando atrás do Capitão. O oficial não se apressou para falar com o General, realmente parecia ter se conformado com o fim de sua carreira. Depois de receber as ordens, ele foi levando Chico para onde estavam duas Tenentes de confiança do Capitão..


“Serra, já temos a ordem para entrar, você vai levar dez soldados para vasculhar a Sede…”, a tenente concordou, ele se virou para a outra “Clara, você vai para os outros prédios, leve mais ou menos cinco oficiais, vasculhe um por um, supervisionando os soldados. Provavelmente as provisões e produções ficam guardadas em alguns desses prédios, identifique quais e o que há neles. Vai ser preciso comida para os batalhões que estão aqui...” ele se virou para Chico, com um sorriso no canto da boca, “Nós vamos com a Serra”.


O grupo comandado pela Tenente Serra foi para a Sede. A tenente ia a frente, liderando o grupo, no lugar que seria do Capitão que estava mais interessado em ir atrás, conversando com Chico. Ao entrar, ela esperou o Capitão analisar o saguão:


“Tenente, eu e Chico vamos para o andar de baixo. Vocês vasculhem o térreo e subam depois.” Os dois se separaram do grupo, que foi andando pelo salão. A dupla ia pela escada que descia para o andar de baixo. Viram que era uma lavanderia, havia roupas espalhadas pelo chão e algumas portas. Os dois foram seguindo pelo corredor, enquanto se aproximava da primeira porta, Chico podia sentir o Capitão olhando para suas costas. Ele estava tenso com o que podia acontecer agora que os dois estavam sozinhos.


“Chico, a gente não precisa vasculhar tão rápido…” o capitão disse, enquanto Chico abria a primeira porta.


“Argh… é o quarto das roupas sujas” Chico disse tampando o nariz, viu duas pilhas de roupas, amontoadas de uma forma estranha, mas não quis ficar muito tempo vasculhando a sala “... não quero entrar aí não, vou sair” normalmente não teria ousado falar isso para o Capitão, mas pela situação, sabia que agora poderia.


“Vamos continuar nas outras Chico…” nesse momento o Capitão o puxou pela mão e não o soltou enquanto caminhavam. Eles entraram nas outras salas e consideraram tudo certo. Era a primeira vez que os dois se davam as mãos por tanto tempo. Chico ficou desconfortável.


Ao terminar, resolveram subir. O Capitão parecia querer continuar lá e deu um suspiro quando Chico começou a subir as escadas. Eles subiram  até o saguão, estava vazio, então continuaram subindo. Os dois encontraram a Tenente Serra no segundo andar, se preparando para subir para o terceiro e foram junto. Ela foi designando os soldados para vasculhar dentro das poucas portas do andar. Quando chegou perto de Chico, pediu que ele  entrasse em uma delas.


“Sozinho senhora?” ela acenou que sim. Enquanto ele se virava, ela falava com o Capitão, mas o assunto o fez parar.


“Capitão, alguns soldados estão reconhecendo os andares superiores, já acharam um salão trancado. Sobre a porta há uma placa, lá fala que é a sala conselho, deve ser onde estão os líderes daqui...” ela se virou de novo para Chico quando percebeu que ele não tinha ido ainda “... pode ir soldado, é só um vestiário, não precisa ter medo de ir sozinho…” ele acenou com a cabeça e foi rapidamente.


-


Azul e Branco foram correndo para o vestiário. Era necessário subir duas escadas. Os dois estavam bufando quando entraram no banheiro no terceiro andar. Como esperavam, não havia ninguém.


“Como vamos fazer com as roupas?” Azul olhava para o gêmeo aflito “não podemos sair daqui vestidos assim” Branco começou a andar pelo vestiário, haviam algumas toalhas jogadas mas nenhuma roupa às vistas. Além dos bancos, das toalhas e dos chuveiros, a sala tinha alguns armários. Os gêmeos sabiam que eles tinham alguns materiais de limpeza e uniformes dos funcionários da limpeza.


“Vamos abrir um desses armários” Branco falou, começando a forçar o trinco. Azul viu que precisariam de alguma ferramenta.


“Branco, você não trouxe nenhuma ferramenta no seu macacão?” Azul falou e completou “os plantadores costumam levar...”


Branco estava com uma expressão contrariada. Não gostava da o curso para o qual tinha sido escolhido e sentia que era humilhante tirar aquelas ferramentas do bolso.


“Sim… sim, aqui” tirou uma chave de fenda “vou quebrar o cadeado…” Branco falou enquanto forçava o cadeado. Com um estalo, Azul viu que o cadeado tinha sido quebrado e no armário, em meio à garrafas de detergente e outros produtos, haviam alguns macacões cinza, eram os uniformes dos funcionários da limpeza.


“É isso Branco, agora vamos tomar banho…” Azul começou a se despir e a dobrar o jaleco e a roupa. Ele precisaria ir até a lavanderia para lavá-las. Branco também tirou a sua, mas só embolou a roupa e deixou do lado da do irmão.


A parte da sala de banho, onde estavam os chuveiros, era rebaixada para a água não escorrer, mas era totalmente aberta. Os dois ligaram o chuveiro e sentiram um alívio enorme.


“Vamos ficar aqui um tempo?” Branco falou pensando nas últimas vinte e quatro horas, que tinham sido muito difíceis. Parecia que haviam se passado séculos desde que Nilo os havia deixado pela primeira vez.


“Mas temos que ir procurar o Nilo ainda” Azul lembrou, mas se sentia inclinado a ficar.


“Não adianta, não vamos ver ele tão cedo…” Branco argumentou.


Isso foi suficiente para Azul, o corpo doía muito e a água era um bálsamo. Branco se sentia do mesmo jeito e por alguns minutos os dois se esqueceram dos problemas.


-


Depois de muito tempo, Azul se lembrou que os guardas já deviam estar entrando na Sede. Ele se perguntava se iriam vasculhar tudo. Era melhor estar nos alojamentos junto com os outros estudantes.


“Vamos Branco” Azul disse apontando para fora do chuveiro.


“Não…” Branco falou rindo, com a cabeça encostada na parede.


“Vem Branco, se alguem chegar…” Azul puxou Branco pelo braço. Branco puxou Azul de volta pro chuveiro e os dois começaram a medir força rindo. Os gêmeos eram muito parecidos, os corpos dos dois eram altos e fortes para a idade, nisso se pareciam com Nilo. Mas Branco superava gêmeo em habilidade, já tinha experiência brigando com os colegas na escola. Azul ficou imobilizado rindo com os braços presos em suas costas.


De repente Branco o soltou e Azul saiu sem entender, mas quando se levantou viu um soldado parado no meio do vestiário.


Chico havia escutado o som dos dois jovens ofegantes e suas risadas abafadas. Ele via os dois nus, agarrados no chuveiro, mas o vapor era muito, não podia ver seus rostos. O soldado se perguntava como eles poderiam estar lá rindo, se divertindo. Não tinham medo da invasão? Se estivessem fazendo algo escondido, resolveram aproveitar a oportunidade em que não teria ninguém fora do dormitório.


Chico sentiu um frio na barriga, já conhecia essa cena, tinha levado muitos amigos para o banho. Ao se aproximar, os dois gêmeos ficaram imóveis. Chico agora podia ver seus rostos, corou muito quando viu que eram gêmeos. Ele tentou falar algo.


“...Ah … rapazes… vocês deviam…” de tanto hesitar colocou a mão na testa. Não conseguia para de olhar a cena. Quanto mais olhava para os gêmeos, mal conseguia disfarçar o desconforto com a situação. Teria dito aos dois que estava chocado, se não sentisse vontade de entrar chuveiro também. Ele suspirou.


“Nós… nós vamos pro alojamento… desculpa estar aqui…” Azul se apressou a falar, se aproximando alguns passos de Chico. Agora o soldado podia ver os olhos azuis do jovem, também via seu corpo melhor, os cabelos ruivos molhados. A visão do corpo do jovem causava uma grande simpatia no soldado, mas sua atenção foi tomada mesmo pelos olhos do garoto, não pode resistir ao sentimento de paz que eles causavam.


“Não se preocupem… eu vou ajudar” ele sorriu ao falar, se aproximando. Chico foi guiando os jovens para fora do chuveiro com as mãos. Azul disfarçou bem mas Branco não escondia a contrariedade, um soldado inimigo tão perto, tocando os dois nessa situação. Eles estavam tão vulneráveis, completamente nús. Chico voltou a falar “... podem se vestir, vou escoltar vocês para o alojamento”. Enquanto os gêmeos começaram a vestir as calças que haviam roubado do armário, não sabiam se estavam se sentindo mais desconfortáveis com o fato do homem ser um soldado inimigo, ou com o olhar que o ele tinha para os seus corpos.


Chico, sem desconfiar do real motivo de estarem lá, não podia disfarçar o sorriso, nem o olhar de desejo.


“Chico!” o sorriso se fechou quando ele ouviu o Capitão chamando pela porta “O que siginifica isso? Quem são esses?” o Capitão parecia aborrecido, não tinha gostado de ver Chico tão perto de dois jovens quase nús, que mal haviam vestido as calças. Mas Chico disse rindo.


“Eles estavam aqui tomando banho…” falou as palavras com muita ironia “... o senhor acredita nisso?” Chico se virou para o Capitão que se aproximava, “vou escoltar os gêmeos para o alojamento dos estudantes”.


“Os gêmeos?” O Capitão disse, rindo grosseiramente. “Não quero nem imaginar o que estavam fazendo aqui…”. Os dois ficaram vermelhos ao entender o que estavam insinuando, mas preferiram deixar que achassem isso do que desconfiassem da real situação.


Eles mantiveram a cabeça baixa, sem dar uma palavra e seguiram Chico, que os acompanhava para os andares superiores. Eles explicaram onde era o alojamento deles. No caminho passaram por alguns soldados que os olhavam com estranheza, mas todos deixaram para lá ao ver os sinais de Chico.  Finalmente chegaram na porta.


“Estão entregues, entrem…” Branco entrou apressado e enquanto Azul passava pela porta, Chico o segurou pelo braço, com muita delicadeza, e falou “Vou ficar aqui na Fazenda um tempo, se precisar de ajuda… meu nome é Chico”.



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Autor(a): drumal

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

“Argh… esse quarto de roupas sujas...” Nilo e Volga estavam imóveis embaixo das pilhas de roupas sujas, ouvindo o oficial Chico patrulhando. Escondidos eles sentiam um frio no estômago, aterrorizados com a possibilidade de serem pegos. Ouviam atentamente o soldado “... não quero entrar aí não, vou sair”. Quando ...


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