Fanfic: Fanfic sem Título

__ Ganhar  o quê?__ perguntou Emilio, que não  entendia muito dessas coisas.

   Ganhá-la simplesmente, domá-la, tê-la a seus  pés como um adversário humilhado, ou pelo menos se enganar, acreditar, como todos nós, que a  questão se resolve com uma profissão, uma esposa, uma casa segura e filhos. A luta de Dulce não é simples, tem raízes profundas, de muito tempo atrás, de gerações anteriores; a vida lhe pesa tanto quanto pesa  seus genes que carregam uma raça de fidalgos e filhos-da- puta que lhe abriram  caminho na vida a machadadas, e  continuam fazendo assim. Hoje o machado é um trabuco, uma 9 mílimitro, um  puta revólver. Mudou a arma, não  o uso. A história também mudou, tornou-se pavorosa, e como e quando tudo aconteceu. Não sabemos o quão longa é  nossa história mas sentimos seu peso. E Dulce suportou sempre, por isso, no dia em  que nasceu não chegou trazendo pão, mas sim a desgraça debaixo do braço.

___ E aí, soube alguma coisa?___ perguntou Emilio assim que  atendeu o telefone.

___ Nada, continuam com ela lá dentro.

___ Mas  e aí? O que é  que eles dizem?

___ Não dizem nada, ninguém sabe nada.

___ Então me ligou pra quê?___ rebateu  ele confuso ___ Liga pra mim quando souber de alguma coisa . Estou preocupado, cara.

___ Que horas são ?__ perguntei.

___ Não faço a mínima idéia. Devem ser quatro e meia.

  Jhonny pensou que tivessem engravidado Dulce com o estupro. Viu como ela foi engordando mas  as contas não batiam. Obrigou-a  a air ao médico para tirar a  dúvida, ainda que ela insistisse que não  havia gravidez  alguma.

___ Tomara que esteja certa ___ dizia ele __, porque nesta casa não vamos criar  filhinhos-da puta.

  O que  Jhonny  não notou  é  que Dulce podia  esvaziar a geladeira num só dia. Ela  inventava mil  maneiras para que ninguém notasse. Tornava a colocar na geladeira as embalagens vazias cujo conteúdo já havia devorado, repunha o que comia com o que pegava fiado na lojinha da esquina, quando não engolia no trajeto para casa. Mas  foi justamente a conta do estabelecimento que acabou com as dúvidas de Jhonny e imediatamente entregou Dulce.

 ___ Vamos lá, me explica___ disse ele com a conta na mão.

___ Dois quilos e meio de   bacon, três de açucar, dois litros de sorvete, uma torta, 23 barras de chocolate, como alguém consegue comer 23 barras de chocolate?, seis dúzias de ovos, quatro quilos de leite, e aqui só comemos nós  dois e as vezes  a Glória, e me vem com esta conta  esse mês, faça-me o  favor de explicar.

____ VAMO LÁ EXPLICA ___  disse ele aos berros.

____ O que quer que eu explique?__  contestou desafiadoramente.

____ Comi tudo, e se vocÊ vai ter um ataque por causa dessa puta conta , eu PAGO.

____ Dá pra notas de longe que foi você quem comeu tudo. E você pensa que eu ralo pra caralho nessa vida pra você ficar aqui sem fazer nada, engordando feito uma vaca, enquanto  dou a cara para bater pra conseguir a grana pra você viver aqui encostada, como se fosse uma RAINHA??

___ Se isso te ofende tanto__ continuou Dulce com o mesmo tom __ volto pra cas ada minha mãe.

___ Você ta cansada de saber que a mãe não quer saber da sua cara. Não sei o que vocÊ andou fazendo por lá, mas  como foi que  deixou a casa naquele estado?, que foi que vocÊ fez Dulce? Porque aquela historinha de menstruação ninguém acredita, porque , se é verdade então vocÊ ta morrendo.  E não comece a chorar, não chora. e nem  você  Glória!  Por que diabo será que as mulheres começam a chorar quando alguém tenta conversar com elas?

___ NÃO  TÔ CHORANDO __ disse dulce chorando . 

___ Nem eu  __ disse Glória, sufocada pelas lágrimas. 

 Dulce quase sempre chorava de raiva, poucas vezes era tristeza. A verdade é que não era muito dada ao choro, só recorria a ele nas situações extremas, e ver seu irmão, o amor da sua vida, injuriado com ela , era uma dessas situações.

continua....