Fanfic: Riscos da paixão (vondy) | Tema: Vondy

Suspirei, porque dava para ver que o ucker falava sério ao me ameaçar.
Xingando-o de todos os nomes que pude imaginar, parei minha SUV em uma
vaga e desliguei o motor.
– Você é um babaca manipulador, sabia?
Ele finalmente abriu a porta e desceu do carro. A rajada de vento gelado
quase me derrubou, e lembrei, tarde demais, que estava apenas com a roupa de
ginástica.
O ucker deu a volta no carro e parou ao lado da minha porta, a qual ele
abriu sem dizer uma palavra. Então pôs a mão em meu ombro e me arrastou
para fora do carro. Ele sacudiu a cabeça ao perceber o quanto eu estava
tremendo, tirou seu casaco grande e pesado e o colocou sobre os meus ombros. A
roupa tinha seu cheiro, e desejei me aninhar e passar o rosto no couro do casaco,
mas estava concentrada em fazer cara feia para ele, que me disse:
– Agora você está começando a entender, Ruiva.
Como ele estava apenas com uma camiseta térmica de manga
comprida, tentei devolver o casaco, mas ele resmungou, pôs a mão na parte de
baixo das minhas costas e me empurrou até a porta do hospital. Ao soltar o ar,
minha respiração formou uma névoa à nossa volta.
– A sua irmã me odeia. Ela vai ficar louca ao chegar e me ver aqui, no
meio de todo mundo – comentei, baixinho.
O ucker deu uma risadinha, que me deixou toda arrepiada, e falou:
– A maitê é superprotetora... com os amigos, com o marido dela,
comigo, e às vezes fala sem pensar. Minha irmã não te odeia, odeia o fato de eu
ter levado a vida que levei. Para falar a verdade, a única pessoa que ela já odiou
mesmo fui eu. Aquela não foi a primeira vez que a may teve que me tirar da
cadeia, e só Deus sabe se será a última. Ela tem noção de que estava apenas
cumprindo o seu dever, Dulce. Ela só quer me salvar. Sempre quis.
Olhei feio para ele e perguntei:
– Por que não disse nada naquele dia? Aqueles moleques te atacaram, te
machucaram e, mesmo assim, você me deixou te levar para a delegacia sem
reclamar. Por quê?
É uma pergunta que me faço desde o dia em que o Dom e eu fomos
mandados ao Bar para prender o ucker.
O hospital estava lotado. Eu havia entrado lá tantas vezes que sabia como
chegar à maternidade sem precisar pedir informações. O ucker me acompanhou
sem responder à minha pergunta. Achei que ele fosse apenas me ignorar, até entrarmos no elevador e as portas se fecharem. Ele virou o rosto e me encarou
com aquele sorrisinho que me faz sonhar por toda a eternidade.
– Para quê? Sempre serei tratado como o sujeito mau, mesmo quando
não sou.
Fiz careta e respondi:
– Você era inocente, poderia ter se defendido. Aqueles moleques
armaram tudo.
As imagens das câmeras de segurança provavam isso, o que acabou
livrando o ucker de todas as acusações feitas contra ele.
Dei um pulinho quando o ucker passou a ponta do dedo indicador bem de
leve na marca de expressão formada quando franzi a testa para ele.
– Nunca mais vou me defender. Nem para a minha irmã. Nem para a
polícia. Nem para ninguém. As pessoas podem pensar o que quiserem e,
infelizmente, a maioria estará certa ao pensar mal de mim. Fiz um monte de
merda, das grandes, Dulce, e não paguei pela maioria delas. A lei do carma uma
hora cobra seu preço, principalmente quando você passou a vida inteira rindo
dela.
Fiquei perplexa com essa resposta e meio chocada com o carinho que
aquele toque tão leve continha.
– Por acaso você está dizendo que iria para a cadeia por um crime que
não cometeu como uma espécie de penitência por todas as coisas erradas do
passado? Isso é loucura, Christopher
Ele apenas encolheu os ombros, e as portas do elevador se abriram bem
nessa hora. Entramos na sala de espera cheia de amigos e parentes ansiosos e
animados. Sabia que o ucker carrega um peso grande de vergonha e remorso pelas
falhas do passado, só não tinha me dado conta, até aquele exato momento, de que
ele estava disposto a deixar esse peso esmagá-lo, em vez de colocá-lo no chão e
tentar encará-lo de frente.
A zoraide falava com a moça do balcão de informações. O poncho andava
de um lado para o outro na frente de um casal de mais idade. Concluí que eram
os pais dele e do Sebastian, já que a Angelique mal tem contato com a própria família. A
Karla estava toda enrolada em cima de uma das cadeiras, com a cabeça no colo
do Jack. O Eddy estava encostado na parede, com um boné enterrado até a
altura dos olhos. Não vi a Anahí...
Fiquei meio insegura quando todos os olhos se voltaram para nós. A
princípio, achei que todos se perguntavam o que eu fazia ali, mas logo me dei
conta de que estavam é imaginando como eu e o ucker havíamos aparecido
exatamente na mesma hora. Também deviam estar curiosos para saber por que
eu estava enrolada no casaco dele. Então sacudi os ombros para tirar aquela peça
de roupa – apesar da sensação de entregar minha naninha, de quando era bebê,
que fazia com que me sentisse segura –, limpei a garganta e falei:
– E aí?
O ucker repetiu minha saudação e apertou a mão do poncho, porque o ex-
soldado gigantesco havia se aproximado dele. Soltei um gritinho quando o
gradalhão me levantou e me deu um abraço tão apertado que não tive alternativa
senão retribuir. Ao me colocar no chão, apenas olhei para ele de queixo caído.