Fanfic: O Cavaleiro da Sereia - Ponny - Adaptada - Finalizada | Tema: RBD, AyA, Conto de fadas

            Os três últimos dias de sua provação passaram com uma rapidez surpreendente para Anahí.

            No início, havia aquele tormento que entorpecia seu coração e a dor em sua alma.

            A dor que forçou seu cérebro a rever, uma e outra vez, o olhar chocado e horrorizado no rosto de Alfonso, quando olhou para a cauda se  contorcendo. A exultação do padre. O horror de Alfonso. Uma e outra vez, e durante todo o tempo, ela chorou lágrimas silenciosas enquanto deslizava nas ondas do oceano.

            Quando seu coração estava entorpecido e Anahí não conseguia mais pensar, deixava as ondas carregá-la.

            Ela saudou as profundezas escuras. Anahí aventurou-se para o fundo e então arriscou voltar à terra quando as águas tornaram-se muito profundas e as criaturas que lá viviam eram muito, muito maiores do que ela.

            Quanto mais tempo ficava em sua forma de sereia, mais confusa a sua mente ficava. Era como se a cauda, de alguma forma, tivesse desligado parte de seu cérebro e lhe permitisse concentrar-se apenas no mundo visceral ao seu redor, o mundo do qual ela seria retirada em apenas poucas horas.

            Ela tinha falhado, e seria enviada para longe desta terra; a terra com o mar escuro, salgado, pulsante e cheio de vida. Então, Anahí imergiu, não vindo à tona para tomar ar nenhuma única vez durante aqueles três dias, vivendo como os peixes viviam, e deixando aquilo entorpecer sua mente. Com o ar viriam as lembranças, e ela queria esquecer.

            Anahí esqueceu, de tudo por algum tempo, mas seus sonhos eram assombrados por olhos escuros, traídos e cheios de horror, e Anahí acordava com a garganta e os olhos ardendo e sabia que havia chorado, mesmo debaixo d'água. Então, afundou-se ainda mais na sua vida como sereia, aquela vida na qual somente o que importava era sua cauda cortando as águas profundas e a sensação de suas guelras contra as águas do gelado oceano.

            Até que, em algum momento, começou a sentir pontadas.

            Na primeira vez, ela ignorou, pensando que era uma cãimbra muscular. A dor era uma pulsação leve na base de sua cauda, insignificante em comparação com a dor que tinha sofrido anteriormente. Mas ela continuou, cada vez mais forte e mais nítida a cada minuto, até que Anahí estava curvada sob seu corpo, lutando para nadar. Ela virou-se de costas, a barriga voltada para cima, e para sua surpresa, a dor diminuiu um pouco.

        Tomando isso como um sinal, Anahí começou a nadar para a superfície, apenas um momento antes da agonia aumentar rapidamente.

            A dor desapareceu no momento em que a sua cabeça surgiu na superfície. Ela apertou os olhos para a luz do sol da tarde, olhando o céu.

            A luz queimou seus olhos após a escuridão, frio e úmidade do fundo do oceano nos últimos dias.

            —  Aí está você! Eu estava começando a me perguntar se ia encontrá-la novamente. — A voz fina de Muffin estava esganiçada em desaprovação. —Você é uma mulher difícil de encontrar, depois que começou a ir para debaixo da água, sabe disso? Eu estive beliscando sua cauda por horas, e você só percebeu agora. Estava começando a pensar que teria que entrar na água atrás de você!

            Ela abanava- se com uma mão enluvada.

            Anahí virou-se para Muffin e observou-a. A fada madrinha estava vestida com outra de suas roupas estranhas, desta vez um conjunto de banho listrado em estilo vitoriano, complementado  com um guarda-sol de babados apoiado sobre um ombro. Uma touca de natação florida se agarrava a sua cabeça. Irritava a Anahí vê-la tão animada quando ela estava tão deprimida.

            —  Terminou meu tempo aqui? É hora de ir embora? — A voz dela era monótona, mas Anahí não se importou.

            A decepção corria através dela ao ver a fada madrinha, e ela sabia que estes seriam seus últimos momentos na Terra. Claro, o céu deveria ser o paraíso, mas ainda se sentia de alguma forma... defraudada de uma vida normal.

            Defraudada de uma vida normal, ela pensou amargamente. Que poético, vindo de uma mulher amaldiçoada a ser uma sereia.