Fanfics Brasil - Capítulo 11 My world was always you ( portinõn) finalizada

Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde


Capítulo: Capítulo 11

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"Nunca deixarei você cair, eu estarei de pé com você eternamente. Eu estarei lá por você do começo ao fim de tudo, mesmo que salvar você me mande para o céu..."


 



************


 


Alguns dias já haviam se passado, o mês virado, mas ainda estávamos em meio a segunda semana de julho. Meu pai havia acabado de me deixar no portão e eu havia andado uma grande parte do condomínio até ali. A porta escancarada me permitia ouvir a aparente discussão que estava havendo na casa de Anahí. Me dei a liberdade de entrar cautelosamente avistando a família toda reunida na sala. Marichelo estava sentada no sofá abrigando Aninha que chorava em seu colo enquanto dizia "Fiquem calmos", seu olhar era fixo em Enrique que andava de braços cruzados de um lado para o outro. Próximo a escada, Anahí batia nervosamente o pé no chão enquanto roía as unhas. Mari saiu da cozinha trazendo um copo d'água o entregando para a caçula que só agora percebi estar com o braço esquerdo ralado. Uni as sobrancelhas tentando entender o que estava se passando ali.


 


– Dul... - Escutei a voz de Mari próxima a mim, ergui meus olhos novamente para a mais Mari que se posicionava ao meu lado.


 


– O que aconteceu? - Sussurrei para que somente ela escutasse.


 


– O mesmo que aconteceu com Anahí. - Fixou seu olhar em mim significativamente, os braços cruzados com força sobre o busto demonstrava o nervosismo.


 


– O colégio e.. - Meus olhos tremeram com a lembrança me fazendo travar, mas ela continuou.


 


– Isso mesmo. Só descobrimos porque hoje foram além. Uma das meninas a empurrou contra o muro de entrada, Um dos professores viu e a trouxe logo para casa. - Vi os nós dos dedos ficarem brancos com as mãos fechadas em punhos e o maxilar rígido quando terminou de relatar.


 


– Isso aconteceu no colégio e ninguém viu? Que absurdo! - A última palavra saiu mais alto do que esperava o que fez os olhos de Anahí cair sobre mim.


 


Uma simples troca de olhar fez com que todas as lembranças vinhessem à tona. Anahí me telefonando para dizer o quanto odiava ir à escola, as vezes que eu passava dias em sua casa para que não se sentisse solitária, quando ia buscá-la depois das aulas junto com Mari apenas para mostrar às outras crianças que ela não estava sozinha. As noites que passávamos em claro por causa dos pesadelos que a assombrava, o dia em que a encontrei no banheiro com os pulsos cobertos de sangue.


 


A observei mexer na pulseira que escondia as cicatrizes amargas enquanto os seus opacos olhos azuis se enchiam de lágrimas, os lábios formaram uma linha dura e os olhos de frágeis se transformaram em raivosos em questão de segundos. Respirei fundo e me lembrei que Aninha era quem estava sendo bombardeada no momento. Caminhei até o sofá e me abaixei ficando de frente para a pequena, sequei com meus próprios dedos as lágrimas que escorriam dos olhos miúdos.


 


– Ei, princesa... - Sussurrei ganhando atenção. - Sabia que eu te amo? - Ela fungou tentando se recompor e acenou timidamente com a cabeça. - Que ótimo, agora me dá um abraço?


 


Percebi os olhos hesitantes antes de se jogar contra meu corpo se rendendo ao choro mais uma vez. A acolhi protetora, uma de minhas mãos afagava os fios finos tentando passar conforto. Os soluços ecoavam pela casa fazendo Enrique correr as mãos nervosamente pelo pescoço e Anahí estalar os pulsos involuntariamente com a testa franzida em preocupação. Sem consentimento, uma lágrima atrevida riscou minha face ao perceber que mais uma vez me encontrava na mesma situação de sete anos atrás.


 


– Eu não acredito que vocês não irão fazer nada! - Anahí explodiu.


 


– Querida, agora não adianta. Amanhã eu e sua mãe iremos a escola e conversaremos com a diretora. Tudo vai se resolver.


 


– Igual resolveram comigo? - Sorriu em completo deboche para Enrique.


 


– Anie.. - Mari a repreendeu levemente tentando amenizar a situaçã


 


O olhar fulminante que Anahí lhe lançou foi o suficiente para Mari ficar quieta. Eu ainda estava abraçada com Aninha que chorava sem parar em meu peito, Anahí nos olhou demoradamente parecendo pensar, sua postura me mostrou que havia tomado uma decisão.


 


– Se vocês não vão fazer nada, eu vou. - Caminhou até a poltrona pegando a bolsa parecendo procurar por algo.


 


– Anahí, amanhã a gente resolve isso. - Ouvi a voz de marichelo.


 


– Não! Eu vou ir naquele colégio agora. - Tirou o chaveiro da bolsa antes de se abaixar ao nosso lado. - Fica tranquila meu bem, eu vou cuidar de tudo. - Passou a mão no queixo da pequena a beijando no rosto. - Dulce, você vem comigo.


 


Não ousei questionar em nada. Desde criança Anahí era calma, risonha, divertida, alegre... Quase nada a deixava com raiva, mas quando isso acontecia era uma espécie de furacão. Confesso que ficava com medo quando via esse lado de Anahí, mas graças a Deus aquela raiva nunca havia sido dirigida à mim. De certa forma eu gostava de vê-la forte daquele jeito e naquele momento ela parecia uma leoa protegendo seu filhote, mas sabia que por dentro estava destroçada. Coloquei um beijo na testa de Aninha antes de seguir Anahí em direção à porta de casa.


 


– Eu cuido dela. - Sussurrei para Mari que me olhava suplicante.


 


Entrei no carro ao mesmo tempo que senti a porta do motorista ser fechada com uma batida violenta. Observei a chave se encaixar rapidamente na ignição e os pneus cantarem com a velocidade da saída do automóvel. Os olhos claros estavam fixos na pista, as mãos apertavam o volante com tanta força que os dedos se tornavam brancos. Não havia música no carro e estávamos andando mais rápido do que deveríamos.


 


– Anahí é melhor você encostar e eu dirigir. - Sugeri temerosa.


 


– Eu estou bem. - Sua voz era forte e baixa.


 


– Pelo menos diminua a velocidade então. - Pedi suplicante. - E pare de cortar esses carros. - Me segurei no banco com mais uma ultrapassagem.


 


Escutei o suspiro fraco e então a velocidade diminuiu. Suas mãos se afrouxaram sobre o volante guiando o carro até o acostamento o desligando em seguida. Fiquei em silêncio enquanto a fitava, meu coração aos tropeços enquanto minha respiração pesada. Vi uma lágrima rolar na pele cor de giz, o rosto pendeu para baixo fungando. A puxei para meu peito e ali ela desabafou tudo o que tinha segurado dentro de casa.


 


– Não quero que ela passe por aquilo. - Disse com a voz embargada pelo choro. - Ela não pode passar por aquilo.


 


– Ela não vai. Ela tem você. - Afaguei os fios dourados - A gente não vai deixar isso acontecer.


 


***********


 


A chuva fina embaçava os vidros das janelas, o burburinho era quase natural aos meus ouvidos. Estávamos em nossa pausa para o café da tarde e quase toda a equipe ocupava a área de alimentação. Rolei os olhos de Angelique para Fuzz que terminava de comer um bolo de chocolate.


 


– É, acho que já está bom. - Olhei para Angelique descrente, ela havia passado quase meia hora embaralhando o objeto.


 


– Você acha? - Perguntei irônica arrancando o cubo mágico das mãos da loira.


 


– Posso começar a marcar? - A voz macia de Zoraida perguntou enquanto eu ainda analizava as posições das cores.


 


– Espera um pouco. - Olhei um pouco mais. - Sim, avise quando começar.


 


Esperei Zoraida ativar o cronômetro para começar a girar as peças móveis. Fuzz não calava a boca um só segundo, mas era nas cores que estava minha atenção. Azul, verde, amarelo, vermelho, laranja, branco. Qual era a próxima posição mesmo? Formei o primeiro lado o revirando brevemente para arrumar um outro. Franzi a testa com as peças se encaixando só faltava o amarelo, sempre o amarelo. Um giro, mais um.. Bati o objeto na mesa satisfeita com meu desempenho em resolver o cubo. Angelique bufou enquanto Zoraida erguia os braços em comemoração.


 


– 57 segundos! - Zoraida exclamou estendendo o celular.


 


– Menos de um minuto, é seu novo recorde? - Sorri com a pergunta de Fuzz.


 


– Não faço ideia, é a primeira vez que alguém marca o tempo. - Dei de ombros voltando a embaralhar o objeto.


 


A conversa entre nós cessou enquanto o burburinho e a música ambiente preenchia o local. Angelique pegou algumas torradas e suco ignorando os comentários e olhares abismados de Fuzz.


 


– Já decidiu o que fará no seu aniversário? - A pergunta veio de Zoraida a minha direita.


 


Suspirei me encostando no descanso da cadeira. A correria que minha vida estava não permitia pensar na data comemorativa, mas algumas pessoas ao meu redor sempre me faziam lembrar do tal evento.


 


– Eu não sei. Talvez passe na estrada com a banda. - Estreitei os olhos tentando me lembrar da agenda que minha mãe havia me mostrado no dia anterior.


 


– Longe de mim? - A pergunta me fez sorrir. - Sério, Savinõn Isso não se faz. - Um pequeno biquinho se formou nos lábios vermelhos.


 


– Vem comigo. - Dei de ombros imaginando o quão divertido seria ter Zoraida viajando comigo e o pessoal.


 


– Sabe que não posso. - Soltou um muxoxo chateado pegando uma das torradas do prato de Angelique.


 


– Hey! Pega um pra você. - Angelique resmungou puxando o prato para longe. - Ah, a Alison mandou um beijo cheiroso para todos vocês. - Sorriu sem mostrar os dentes.


 


– Estou com saudades daquela garota. - Reclamei, uma ideia me passando pela cabeça. - Nós podemos marcar pra fazer algo juntos antes do meu aniversário. Seria uma boa maneira de comemorar com vocês. - Sugeri.


 


– Eu sou especial, era para eu estar com você no dia certo! - Eu e Angelique olhamos para a Fuzz que cruzava os braços enfezada.


 


– Já tomou seus remédios hoje? - Perguntei fazendo Zoraida soltar um riso contido e Fuzz rolar os olhos.


 


Balancei a cabeça sorrindo, o celular vibrou sobre a mesa. Olhei para a tela com a testa franzida, não esperava visualizar o nome de Mari. As meninas já haviam engrenado em uma conversa sem mim me dando privacidade para atender. Apertei o botão para aceitar a chamada o colocando no ouvido.


 


– Mari? - Atendi ainda em dúvida.


 


– Oi Dul, está tudo bem?– Ouvi a voz familiar na conversa rotineira.


 


– Sim, o que aconteceu? - Uni as sobrancelhas.


 


– Precisa acontecer alguma coisa para eu poder ligar pra você?– Revirei os olhos cruzando os braços.


 


– Claro que não, mas geralmente é assim que funciona. Me enganei?


 


– Não, eu liguei por um motivo mesmo.– Sorri por conhecer a mulher tão bem. - Está ocupada?


 


– Estou gravando. - Cocei a nuca impaciente com a enrolação. - Por que?


 


– Vai demorar?


 


– Acho que daqui a uma hora e meia já estou liberada. O que houve? - Tornei a perguntar.


 


– Será que você poderia passar aqui?


 


– Hoje? - Ergui as sobrancelhas surpresa. - Eu... bom... Eu não tenho mais nada pra fazer depois da gravação. O que você quer Mari, fala logo de uma vez. - Me estressei ganhando a atenção das garotas que dividiam a mesa comigo.


 


– Sua mulher está trancada no quarto desde ontem. A única vez que saiu de lá acabou brigando com a mamãe e se escondeu na bat caverna novamente.


 


Eu não sabia se ria da maneira como a Marichelo me informou os fatos ou se me preocupava com Anahí. Esfreguei o vinco entre as sobrancelhas com um dedo enquanto pensava. Eu poderia sim ir à casa De La Tica.


 


– Daqui a pouco eu apareço por aí. Você e Aninha estão no quarto com ela?


 


– Claro, mas sei que você estando aqui as coisas melhoram.– Sorri de lado enquanto meu peito se aquecia. - Obrigada, Dul.


 


– Sabe que não precisa agradecer. Até mais.


 


– Até.


 


*************


 


Mari abriu a porta para mim me acolhendo em um abraço de gratidão. Entrei pela passagem que me era concedida notando a sala de estar completamente abandonada. Me virei para a Marichelo notando o short jeans e a camisa pólo azul marinho, o cabelo um pouco mais claro que da última vez estava preso em um rabo de cavalo simples.


 


– Ela está dormindo, acabei de colocar um filme pra Aninha assistir. Quer ir subindo?


 


– Sim. - Respondi dando alguns passos ladeando com a Mari. - Sua mãe e seu pai.?


 


– Estão no quarto desde o almoço. - Respondeu enquanto subíamos a escada. - Mamãe perdeu a paciência, como se isso fosse novidade. - Bufou.


 


Cerrei os dentes me impedindo de comentar, aquela declaração sempre fazia meu sangue ferver. Desembocamos no corredor simples decorado com quadros pintados a tinta óleo.


 


– E você? Como está? - Me apoiei no batente da porta fechada, meus braços cruzados enquanto analisava Mari minuciosamente.


 


– O mesmo de sempre. - Deu de ombros apoiando a mão na parede branca. - Eu realmente não me importo com o que eles fazem ou deixam de fazer em relação à mim, mas não se importar com as meninas é.. - Suspirou coçando nervosamente a cabeça, a frustração era nítida.


 


– A gente pode fazer isso. - Alisei o braço fino tentando confortá-la. - Sempre fizemos, certo? - Sorri de lado.


 


– Certo. - Soltou uma respiração se rendendo. - Vê o que tenta fazer pela Anie, qualquer coisa estou no quarto da Aninha.


 


Acenei a cabeça enquanto observava a mulher entrar na porta ao lado. Encarei o material de madeira a minha frente correndo os olhos pelos pequenos adesivos aleatórios que se encontravam por ali, girei a maçaneta a abrindo com cuidado. O aposento estava escuro, mas a luz do fim da tarde conseguia iluminar alguma coisa através da janela fechada e da cortina vermelha. Fechei a porta atrás de mim me deparando com a bagunça que era o cômodo, peças de roupas espalhadas entre o chão e o criado mudo, o violão largado na cadeira giratória, papeis espalhados e revirados pela mesa que abrigava o notebook, a guitarra largada aos pés da cama ligada a pequena caixa amplificadora que repousava na poltrona branca.


 


Meus lábios tremeram em um sorriso sem dentes com a figura angelical deitada no meio da cama. Deixei minha bolsa no chão atrás da porta antes de dar alguns passos em direção ao centro do quarto, notei uma toalha que lutava para não cair do colchão. A peguei sentindo a umidade, olhei envolta tentando achar um lugar para colocá-la, optei em jogá-la no cesto de roupas sujas inutilizado naquele lugar. Me sentei com cuidado para não despertar a pequena adormecida, os lábios carnudos e pálidos minimamente abertos para a passagem de ar. O conjunto de moletom preto que usava a engolia, as mãos finas mal podiam ser avistadas por causa do tecido o polegar levemente pelas sobrancelhas bem desenhadas, o cabelo úmido e dourado contrastava magnificamente com a pele alva. Os cílios tremeram antes dos olhos azulados serem revelados, sorri de lado enquanto Anahí piscava os olhos algumas vezes tentando despertar completamente. Os lábios se contorceram brevemente, os olhos claros ficando inundados e rapidamente as lágrimas escorreram.


 


 


 


– Ei. - Franzi o cenho me deitando e puxando o corpo para meu colo preocupada. - O que foi, pequena?


 


Escutei um fungar enquanto as mãos da garota se agarravam a minha camisa. A apertei com mais força aguardando o choro silencioso cessar, um nó se formando em minha garganta por ainda não saber o motivo da cena. Senti as mãos aliviarem o aperto em minha blusa e a respiração voltando a normal com pequenos soluços.


 


– O que está acontecendo? - A beijei no topo da cabeça lhe acariciando a nuca.


 


– Você se importaria em não conversarmos agora? - A voz fraca pediu, a apertei um pouco mais em meus braços. - Só... fica aqui comigo.


 


Suspirei acenando com a cabeça, não tinha muito o que fazer. Meus dedos corriam pelos fios lisos enquanto meus olhos fitavam o teto, o ar parecia pesado, o cheiro da garota em meus braços invadindo minhas narinas confundia minha cabeça. Alisei a cintura fina com a mão que a segurava contra meu corpo, a respiração estava tão controlada que não sabia se havia voltado a dormir. A luz vinda de fora desapareceu deixando o aposento completamente escuro, a noite já havia chegado mas não tinha coragem de me mexer para pegar o celular em meu bolso traseiro. Minha mãe me veio a cabeça, eu nem havia avisado onde estaria. Deixei de afagar o cabelo cheiroso para coçar minha própria sobrancelha, um suspiro involuntário escapou de meu nariz fazendo Anahí se mexer e suspirar também.


 


– Obrigada. - O sussurro rouco fez meu corpo relaxar.


 


– Sabe que não precisa agradecer. - A puxei para nos encararmos. - O que aconteceu? - Notei os olhos opacos desviarem dos meus por um segundo.


 


– Um pouco de tudo. - Mordeu o lábio inferior desviando o olhar mais uma vez.


 


– Anie.. - A incitei com um olhar que julguei ser acolhedor.


 


– Anunciaram as gravações da terceira temporada. - Franzi o cenho com a conversa. - Eu não quero fazer. - Confessou no escuro.


 


– E por que você não quer? Será ótimo pra você e..


 


– Não, não será. - Me cortou ganhando força na voz. - Eu não quero fazer essa novela estupida, eu não quero ficar perto dos meninos. Nosso diretor é um idiota que só sabe criticar, nada está bom o suficiente, nada que eu faço tem valor pra ele. - Senti a voz oscilar, eu estava confusa.


 


– Baby.. - A puxei um pouco mais para mim. - Por que isso agora? - Anahí balançou a cabeça com os olhos fechados.


 


– Eu disse pra minha mãe que não queria fazer, mas ela disse que estava no contrato e que eu não podia dispensar essa oportunidade. Eu não quero saber de contratos, queria que me apoiasse, perguntasse o que está acontecendo. Isso é pedir demais? - Neguei com a cabeça engolindo em seco. - Mari é a única pessoa que está comigo durante os eventos e as gravações, ela sim veio aqui me perguntar o porque de tudo, ela sim se comporta como mãe. Coisa que Marichelo não faz.


 


– Não faz isso. - A repreendi com a voz macia. - Sua mãe é uma ótima pessoa, você sabe.


 


– Com os outros. - Resmungou se escondendo em meu peito, sabia que tinha falado besteira.


 


– Você não pode ficar com raiva da sua mãe, ela quer o melhor para você. - Um riso seco e sarcástico me chegou aos ouvidos. - O que mais está acontecendo? - Tentei mais uma vez.


 


– Voltei a ter pesadelos. - Choramingou ainda escondida em meu corpo, as mãos tornando a se fechar em minha camisa. - São sempre os mesmos e... - Pausou. - Ele aparece na maioria.


 


Não precisavamos ir muito ao fundo, o "ele" a qual Anahí se referia era seu passado. Massageei as costas coberta pelo moletom passando segurança, ela sempre era aquele turbilhão de emoções. Ouvir seus desabafos requeriam paciência e compreensão.


 


 


 


– Desde quando? - Sussurrei de volta.


 


– Uma semana. Todas as noites. - Suspirou. - Tenho medo de dormir, eles são tão reais... - Ouvi a voz embargar novamente.


 


– Sh... - A apertei de novo escutando um soluço seco. - Está tudo bem. - Assegurei.


 


Alguns minutos se passaram enquanto permanecíamos em silêncio, a luz do luar já conseguia iluminar o quarto em breu. Eu nunca entendi muito bem como a cabeça de Anahí funcionava, mas me esforçava ao máximo para que se sentisse bem.


 


– Me desculpe por isso. - Abaixei a cabeça para olhar a face que mantinha os olhos fechados.


 


– A quantos anos eu venho fazendo isso? - Perguntei ganhando os olhos azulados em minha direção.


 


– Uma vida? - Esboçou um sorriso sem graça me divertindo. - Mas vamos deixar de falar sobre mim. - Respirou fundo se esticando para acender o abajur e iluminar o ambiente à nossa volta. - Mari ligou para você? - Ergueu as sobrancelhas curiosa.


 


– Ligou. - Acenei me interessando mais na calça jeans que cobria minhas pernas. - Disse que era pra eu vir aqui porque minha mulher estava trancada na bat caverna. - Sorri de lado com o riso baixo que Anahí soltou.


 


– Minha irmã é louca. - Comentou ainda risonha.


 


– Você disse alguma coisa pra ela? - A olhei desconfiada mas seu semblante estava suave e tranquilo.


 


– Não, mas ela sabe. - Respondeu simples.


 


– Como assim? - Perguntei mesmo que já soubesse mais ou menos a resposta.


 


– Eu não disse nada pra ela, mas conheço minha irmã. Ela já descobriu, só está esperando que eu vá falar com ela. - Explicou me fazendo torcer a boca.


 


– Qual era o discurso mesmo? - Estreitei os olhos fingindo pensar. - "Se ela descobrir nossas vidas virarão um inferno"? - Indaguei em zombaria.


 


– Minha vida. - Corrigiu me fazendo sorrir. - Quando eu resolver contar ela irá me perturbar eternamente, por enquanto deixa eu continuar me fazendo de sonsa.


 


O brilho de descontração nos olhos vermelhos e o sorriso nos lábios sem cor desmancharam na mesma velocidade em que apareceram. Meu coração se apertou a observando brincar com a manga do casaco.


 


– Já decidiu o que fará em seu aniversário? - A pergunta tímida vez meu coração dar alguns pulos mais rápidos.


 


– Não. Ainda não sei se estarei na cidade lembra. Estava pensando em marcar alguma coisa com o pessoal antes da data dos shows. - Escutei um suspiro.


 


– Essa nossa rotina é uma droga. - Concordei com a cabeça sem nada a acrescentar. - Sua mãe sabe que está aqui?


 


A pergunta me fez dar um pulo para me sentar na cama e puxar rapidamente o aparelho celular do bolso traseiro da jeans. Apertei o botão de discagem rápida o colocando no ouvido, Anahí balançou a cabeça com um meio sorriso nos lábios.


 


– Dulce María, onde é que você está?– A voz autoritária de minha mãe atendeu do outro lado.


 


– Na casa da Anie, desculpa. Por que a senhora não me ligou?


 


– Confio em você. O que aconteceu?– A voz se amaciou.


 


– Mari me ligou pedindo pra vir.


 


– E você nem queria, né?– Ri do tom irônico que minha mãe usou.


 


– É.


 


– Pode dormir aqui? - Ouvi o sussurro de Anahí, os olhos afetado pelas lágrimas voltando a ficar tristonhos.


 


– Hã.. Mãe? Tem algum problema se eu passar a noite por aqui? - Franzi a testa aguardando a resposta.


 


– Marichelo ou a Mari estão em casa?


 


– Sim. Enrique também.


 


– Tudo bem. Só não se esqueça que amanhã temos ensaio fotográfico.


 


– Obrigada, mãe. Quer falar com a Anie?


 


– Não, não. Só mande um beijo, okay? Deus lhe abençoe minha filha, juízo.


 


– Beijos, mamá. Tchau.


 


– Tchau.


 


Desliguei o aparelho olhando para Anahí sentada de frente para mim, algo me parecia extremamente semelhante à um passado praticamente esquecido. Pedaços de quebra cabeça bagunçados era como a desordem emocional que faiscavam entre nossa troca de olhares. Se eu consegui arrancar alguns sorrisos de Anahí durante a noite? Sim. Se eu consegui impedir os pesadelos de lhe atormentarem? Não.


 


Já era a segunda vez na noite que o choro contido de Anahí me despertava do sono superficial. Meus sentidos em alerta não permitiam que me aprofundasse demais em meus próprios sonhos. Puxei o corpo quente e trêmulo para meus braços sussurrando palavras reconfortantes, o resfolegar alto me fez olhá-la.


 


– Malditos. - Os olhos se fecharam com força ao sibilar.


 


– O que foi dessa vez? - O nó em minha garganta se tornando insuportável.


 


– Aninha. Sonhei com o que fizeram com ela. - Fungou esfregando a testa em sinal de desespero.


 


– Já passou. Já cuidamos disso. - A assegurei orando para que as palavras penetrassem em sua mente.


 


Mas por algum motivo o choro se tornou mais forte, senti meu corpo ser abraçado com urgência. A madrugada já estava avançada, a última vez que havia olhado no relógio iria dar três da manhã, naquele momento já não fazia ideia. Mari havia ficado feliz ao colocar Aninha para dormir cessando assim a preocupação dela para com Anahí. Enrique me encontrou na cozinha enquanto lanchávamos e Marichelo se limitou à me dar uma saudação do alto da escada. O quarto de Anahí ainda era a mesma bagunça, tirando o fato da guitarra já ter sido retirada de cima da cama.


 


– Sh.. - Limpei delicadamente as lágrimas que molhavam o rosto perfeito, sua respiração ofegante batia em meu rosto com a proximidade. - Estou aqui com você, já passou. - Repeti tentando cessar o choro que me corroía por dentro.


 


Anahí engoliu as lágrimas tomando uma respiração profunda, seu corpo ainda recebendo pequenos tremeliques. Seus braços estavam fechados ao meu redor, deitadas uma de frente para a outra.


 


– Eu...


 


Escutei o pronome ser pronunciado com um fio de voz enquanto os olhos a minha frente se fechavam bem apertados. Em um movimento minimo que fez para frente conseguiu capturar meus lábios com desespero, a boca cálida sobre a minha não encontrava nenhuma restrição. Senti o gosto salgado de mais lágrimas, mas Anahí não se afastou. Pelo contrário, a caricia ficava cada vez mais intensa, intensa e violenta. Puxei o ar sentindo o perfume do corpo quente me embriagar, a língua incitando a minha enquanto as mãos apertavam minha cintura com força e dominância. Com um movimento brusco conseguiu afastar as bocas encostando a testa na minha, nossa respiração ofegante se mesclando na curta distância.


 


– Me desculpe. - Assoprou em meu rosto enquanto as mãos aliviavam o aperto em minha pele.


 


– Está tudo bem. - Sussurrei tentando entender a necessidade de aliviar o sofrimento de alguma maneira.


 


– Eu te amo.


 


A frase dita em um sussurro rouco me fez congelar. Meu coração deu um salto único e parecia não querer bombear mais sangue, minha respiração havia travado e não fazia falta. Meus olhos tremeram observando os de Anahí fechados, as sobrancelhas bem desenhadas levemente franzidas, sua respiração ainda estava ofegante mas as lágrimas haviam cessado. Soltei o ar preso em meus pulmões voltando a sentir o coração bater lentamente, eu precisava responder uma coisa que ia contra todos os meus conceitos. Meu peito ficando incrívemente quente com as palavras que saíam de minha boca.


 


– Eu também te amo


 



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Autor(a): portisavirroni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21

    Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★

  • fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23

    Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?

  • candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37

    Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.

  • fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33

    Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.

  • Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49

    To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!


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O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.




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