Fanfics Brasil - Capítulo 14 My world was always you ( portinõn) finalizada

Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde


Capítulo: Capítulo 14

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"Somente feche seus olhos, o sol está se pondo. Você ficará bem, ninguém pode te machucar agora. Ao chegar a luz da manhã nós ficaremos sãos e salvos..."



***********
Parei o movimento circular que fazia no dorso da mão pálida apoiada em meu joelho ao descansar o queixo no ombro à minha frente. O filme passando na televisão da sala já havia perdido minha atenção nos primeiros minutos de exibição. O carpete grosso no qual estava sentada impedia que a friagem do piso frio chegasse até à mim, minhas costas apoiada confortavelmente na poltrona desocupada. Anahí se refugiava em meu peito sentada entre minhas pernas encolhidas, os dedos leves brincando com meus joelhos por cima da calça jeans. Parecia tão compenetrada no filme, em alguns momentos seu cenho franzia com alguma cena ou fala, os olhos se estreitavam enquanto a boca carnuda se abria minimamente. Poderia passar horas à observando e cada detalhe seria uma coisa nova, poderia passar o tempo que fosse e qualquer movimento seu ganharia minha total atenção.


Afastei delicadamente os fios loiros do pescoço à minha frente os colocando sobre o ombro direito, o cheiro do cabelo e da pele alva entorpecendo minha razão. Nada mas parecia existir, era só eu e Anahí no meu mundinho particular. Meu perfeito conto de fadas. Sorri com a estupidez passando por minha cabeça, mas era impossível não pensar naquelas coisas quando tudo o que eu queria estava tão ao meu alcance, tão palpável.


Deslizei a ponta do nariz pela pele macia traçando o caminho do trapézio ao pescoço aspirando o perfume doce que ela exalava, fechei os olhos tentando memorizar o cheiro bom. Deixei uma mordida delicada no lóbulo da orelha e um sorriso no canto de meus lábios apareceu ao notar a pele da garota completamente arrepiada. Voltei a prestar atenção no rosto de Anahí, sua atenção ainda estava na exibição que a tela lhe proporcionava, mas o corpo rígido, os olhos azulados e a expressão minimamente modificada me avisou que não estava tão concentrada como antes. Um suspiro pesado chegou aos meus ouvidos e o corpo relaxou contra o meu quando passei as unhas por seus braços em uma caricia leve e gostosa. Ergui a sobrancelha esquerda maliciosamente ao notar que o pescoço havia ficado completamente livre para mim. Passei os braços pela cintura fina sentindo o ar entre nós ficar abafado, desci o rosto lhe mordendo a nuca antes de aplicar um beijo molhado. Repeti o ato três vezes em locais distintos sentindo a respiração de Anahí se tornar ofegante, cheguei a orelha envolvendo a cartilagem entre os lábios. Anahí virou o rosto retirando o brinquedo de minha boca e me olhou com os olhos intensos.


– Se você queria me desconcentrar do filme, fique sabendo que já conseguiu. - Sussurrou sem desviar os olhos dos meus.


– O que eu fiz? - Perguntei sonsa.


Ganhei um olhar de censura que me fez sorrir. Anahí se aconchegou melhor em meu corpo deitando a cabeça em meu ombro, o nariz perfeito roçando na lateral de meu maxilar em uma caricia fofa. A apertei mais contra mim esquecendo do mundo, o som vindo da televisão não chegava mais aos meus ouvidos. Uma de suas mãos subiu para meu rosto me fazendo fechar os olhos sentindo o afago leve, virei a cabeça apoiando minha testa na dela. Eu poderia ficar ali para sempre sentindo a respiração controlada batendo em minha boca, o toque suave e delicado em minha pele, o calor que nossos corpos juntos provocava. A mão trocou a maçã de meu rosto pela minha nuca enquanto o nariz roçava carinhosamente no meu.


Algo leve bateu em meu olho e Anahí se afastou de meu rosto me fazendo abrir os olhos com as sobrancelhas franzidas. Olhei para baixo encontrando algumas pipocas caídas entre nossos corpos. Olhei pra cima seguindo a atenção de Anahí encontrando a irmã de Anahí sentada no sofá maior com um balde de pipoca entre as pernas.


– Sem pornografia na minha frente, por favor.


A declaração de Marichelo me fez esconder meu rosto em brasa no pescoço à minha frente. Anahí passou a mão pelos meus cabelos tentando me tirar do esconderijo mas eu prefiria ficar ali até que a vergonha passasse. Ainda não havia me acostumado com o fato de Mari saber que eu e Anahí estavamos tento algo mais íntimo. Pelo que Anahí havia me contado elas estavam sozinhas em um camarim e então resolveu falar, a reação da irmã mais velha foi: "Okay, agora vai se arrumar para não se atrasar tanto para o show." Sorri ao imaginar a cena, muito típico de Marichelo mesmo


Sai do pescoço quente que me abrigava voltando à apoiar o queixo no ombro da garota que ainda acariciava minha nuca. Os pais de Anahí haviam levado Aninha para passear nos deixando sozinhas. Já estávamos no meio da tarde quando meu celular apitou anunciando a nova mensagem. Soltei um dos braços que envolvia Anahí e o estiquei para pegar o celular no assento da poltrona. Corri os olhos pelo visor lendo a mensagem de Ucher, já estava na hora de ir. Suspirei deixando o aparelho no chão mesmo e abracei a Anahí firmemente ganhando sua atenção.


– Quem era? - Sussurrou meiga alisando um de meus braços que circulavam sua cintura.


– Cristopher. Preciso ir. - Confessei com a boca colada em seu ouvido. Escutei um grunido chateado que me fez sorri.


– Agora? Jura? - Mudou a caricia em meu braço para apertar minha coxa com um pouco de força.


– Você acha que se eu pudesse adiar isso eu não faria? - Me encaixei em seu pescoço escutando o suspiro de rendição lhe escapar.


Era a última vez que nos veríamos sem a correria do nosso dia a dia. No dia seguinte voltariamos para a estrada completando focadas na banda. Senti a ausência já chegando com bagagens para se instalar em meu peito.


**********


Tirei a chave da ignição buscando minha bolsa no banco do passageiro com calma, bati a porta do carro antes de me dirigir à porta de entrada da minha própria casa. Já eram quase nove da noite e a casa parecia solitária. Franzi o cenho reparando nas luzes apagadas, o som da bomba vindo da piscina era a única coisa que chegava aos meus ouvidos. Abri a porta encontrando duas malas pretas no hall de entrada, conhecia aquelas malas. Adentrei a sala deixando a bolsa no sofá me dirigindo a passos rápidos para o corredor de acesso à cozinha, cruzeis os braços sobre o peito vendo a luz daquele cômodo acesa, os barulhos sutis de talheres e portas batendo.


Me encostei no portal observando a mulher se movimentar dentro da cozinha americana. Os cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo alto, estava usando camisa e calça preta simples, notei os pés descalços tocando o chão frio quando saiu de trás do balcão para abrir uma porta no alto do armário, os calcanhares se elevaram para que alcançasse o que queria. Suspirei alto apoiando a cabeça no portal e isso a fez despertar.


– Ah, você chegou. - Fugiu de meus olhos pegando algumas tigelas para por embaixo da pia.


Sorri sem vontade acompanhando a mulher com os olhos. Alguma coisa estava a afligindo, tinha mania de arrumação quando precisava distrair a cabeça ou simplesmente pensar. A inquietação com que fazia as coisas me deu a leve certeza de que na verdade estava tentando se distrair.


– O que aconteceu? - Minha resposta não veio mais a gaveta dos panos de prato foi aberta. - Que malas são aquelas lá na entrada? - Endireitei a cabeça permanecendo com o ombro escorado.


– Filha. - Suspirou puxou os panos de dentro da gaveta e se pôs à dobra-los. Sua sobrancelha levemente franzida, os olhos fixos na tarefa que executava. - Ter um relacionamento é uma coisa complicada e um mal entendido pode acabar com tudo que construímos. - As mãos ficavam mais rápidas à cada palavra que soltava. - Nós tentamos resolver as coisas, tentamos manter uma convivência saudável, mas desgasta. Às vezes desgasta. - Completou frustrada, a língua umedecendo os lábios rosados.


Franzi o cenho notando a hiperatividade da mulher em fazer algo para esquecer do real problema.


– Mãe, o que aconteceu? - Tentei ser direta.


– Seu pai está vindo buscar as coisas dele. Nós tivemos uma conversa hoje mais cedo e terminamos.


Engoli em seco sentindo uma zonzeira estranha. Papai? Meu pai? O nó desconfortável surgiu em minha garganta me trazendo a vontade de chorar. Como assim meus pais estavam se separando? Abri a boca na intenção de falar mas a mulher inquieta atrás do balcão prendia minha atenção. Caminhei até ela me encontrando impossibilitada de respirar. Apoiei as mãos no mármore frio olhando confusa para os olhos chocolates vermelhos e tremulos que pareciam distantes.


 


– Que bobeira é essa? Vocês estavam bem, nós estávamos bem. - Me certifiquei de que ela entendesse aquilo e tentasse corrigir aquela bagunça.


– Você não entende. - Meneou a cabeça colocando os panos dobrados para dentro da gaveta. - Não dá mais.


– O que eu não entendo? Me explica. - Elevei a voz perdendo a calma. - Mas que droga, vocês se amam.


A gaveta se fechou com violência e as mãos pequenas espalmaram no balcão olhando diretamente em meus olhos, sua expressão de dor e raiva me fez prender a respiração.


– Eu quero que você me escute com muita atenção, Dulce María. - Engoli em seco sentindo minhas vistas queimarem ao ver uma lágrima rolar dos olhos opacos a minha frente. - Às vezes só o amor não é o suficiente.


Meu coração de lento e dolorido passou para acelerado e apertado. Por que não? Eu queria debater com minha mãe, dizer que ela estava sendo estupida por expulsar meu pai de casa, dizer que ela estava enganada sobre o amor dos dois. Os dois eram perfeitos juntos, como ela poderia acabar com algo tão perfeito. Cerrei os dentes enquanto fechava as mãos em punhos, estávamos perdidas encarando uma à outra até que o limpar de garganta nos despertou. Nos viramos para a entrada da cozinha encontrando papai desconcertado. Soltei um suspiro sofrido ao encontrá-lo com os ombros caídos, os olhos castanhos temerosos.


– Desculpe, eu só queria... - Resfoleguei vendo o homem perder as palavras.


– Eu.. - Tomei a voz olhando de um para o outro rapidamente. - Eu vou para o meu quarto. - Me encaminhei para a saída com a cabeça baixa evitando mostrar meus olhos inundados.


Me sentei no alto da escada tentando escutar alguma coisa, mas o silêncio era perturbador. Brinquei com minhas unhas repassando o que minha mãe havia dito na cabeça. Era possível ou só havia falado aquilo da boca para fora? Quantas vezes os dois haviam brigado até chegarem aquele ponto? Que eu me lembrava, apenas uma vez. Os passos me fez levantar de onde estava sentada e me esconder atrás do corrimão. Papai parou perto das malas se virando para minha mãe que estava na defensiva com os braços cruzados. A baixinha era tão cabeça dura quanto eu, revirei os olhos.


– Blanca.. - Papai deu um passo para frente afim de tocá-la mas a mulher ergueu a mão direita fazendo sinal para que ele parasse.


– Não. - A voz forte e rouca me mostrou que estava segurando o choro, mas eu já estava em prantos.


Papai soltou um suspiro lento antes de começar com um discurso baixo e quase inaudível. As palavras que chegavam até à mim eram relacionadas a amor, amizade, filha e família. Percebi a cabeça de minha mãe pender para baixo e meu pai conseguir tocar em seu ombro. Limpei as lágrimas que escorriam por meu rosto e dei um sorriso fraco ao ver o homem puxá-la para o peito forte. Sempre achei engraçado o carinho e a gentileza com que papai tratava as pessoas apesar de seu tamanho.


– Eu quero ficar com você pra sempre, está me entendendo? - Meu pai disse mais alto levantando a cabeça de minha mãe delicadamente pelo queixo.


O beijo de paz me fez dar as costas a cena e entrar para meu quarto. Corri os olhos pelo aposento bem arrumado e organizado. Abri a porta de meu armário a procura de roupas para tomar banho e bati de frente com o pôster de Anahí grudado no interior da porta. Corri as pontas dos dedos pela face bonita estampada no pedaço de papel agora pensando na frase de meu pai. Eu queria ficar com ela para sempre.


**********


Abri a porta me sentindo em casa, dei mais uma mordida no biscoito em minhas mãos notando a sala vazia. Rumei para o segundo andar subindo as escadas correndo, parei de frente para a porta entreaberta vendo a silhueta andar de um lado para o outro. Empurrei a porta me divertindo com Anahí dançando pelo quarto ao som da música animada que saia das caixinhas do notebook. O short curto e justo preto deixava as coxas grossas completamente expostas enquanto os quadris balançavam de acordo com a batida gostosa, ergui uma sobrancelha apreciando a cena. Fazia mais ou menos uma semana que haviamos voltado para a cidade. Estranhei o largo casaco de moletom cinza, estava calor, estava muito calor na verdade. Entrei fechando a porta atrás de mim, o som a fez se virar com o sorriso largo.


 


– Chegou! - Correu pulando em meu pescoço.


Deixei um riso escapar de minha garganta erguendo a pequena do chão, cada dia parecia mais leve. Mari havia viajado com algumas amigas e o resto da família haviam programado coisas que não agradavam Anahí, então ficou combinado para ela dormir na minha casa naquela noite. Coisa que era comum desde sempre.


– Cheguei e você ainda não está pronta. - Bronqueei a colocando no chão.


– Perdi a noção do tempo enquanto estava no banho. - Desculpou-se voltando em direção a cama. - Vou trocar de roupa e já volto. - Pegou algumas peças rumando para o banheiro.


Rodei o molho de chave no dedo olhando ao meu redor, sorri ao encontrar o violão jogado ao chão acompanhado de um caderno e varias folhas soltas. Me sentei na cadeira giratória minimizando o programa de execução de arquivo multimídia encontrando o papel de parede antigo. Eu sorria olhando para baixo enquanto Anahí beijava minha bochecha. Ouvi a porta do banheiro se abrir após alguns minutos e me virei para encontrar a garota vestindo jeans e uma camisa xadrez vermelha de mangas compridas.


– Pronta? - A voz doce me perguntou jogando a bolsa por cima do ombro.


Girei na cadeira olhando para a vestimenta de Anahí. Eu não era a pessoa mais calorenta do mundo mas o sol ao lado de fora pedia por algo mais fresco.


– Não está com calor? - Me levantei caminhando para ficar de frente para o corpo pálido, coloquei delicadamente uma mecha da franja para trás da orelha.


– Não muito. - Trocou o peso do corpo para a outra perna parecendo inquieta.


Estreitei os olhos a olhando desconfiada, ela poderia mentir para todo mundo mas não para mim. Conhecia aqueles olhos azulados muito bem para me deixar ser enganada pelo sorriso estampado no rosto bonito.


– Fala. - Ordenei dando um passo acabando com a distância entre nossos corpos e ganhando uma risada da garota.


– Nada, Candy. - Me empurrou levemente mas não sai do lugar a encarando de cima.


– Anie. - A olhei significativamente mostrando que não adiantaria negar.


– Para de ser paranoica, garota. - Brincou me empurrando mais uma vez. - Vamos logo, sua mãe já deve estar nos esperando.


Seu corpo fez menção de me dar as costas indo em direção a porta, mas a puxei firmemente pelo seu pulso a fazendo voltar com um gemido alto. O som me fez olhar para minha mão fechada sobre o pano da blusa e soltar o local rapidamente. Engoli em seco observando Anahí massagear o local enquanto arfava. Os flashes me atingindo quase me fez vomitar: Escada, quarto, banheiro, pia, sangue, muito sangue. Anahí puxava respirações profundas enquanto a minha estava estranhamente controlada. Minha mandíbula trincada, não sabia se sentia raiva ou compaixão.


Sai do estado de estupor tirando a mão da dela de cima do pulso puxando o tecido da blusa de flanela para cima com brusquidão. Apertei a mão macia com um pouco mais de força ao ver a pele irritada, as linhas brancas me mostrando a profundidade de cada corte na carne macia. Cerrei os dentes com um zumbido insuportável em meus ouvidos. Afastei minhas mãos dela mas não meus olhos, ainda encarava as provas da recaída. Pisquei mudando a atenção para os olhos azulados mortos que me encaravam.


– Você prometeu. - Sibilei dando um passo para trás. Massageei o peito mirando em qualquer outro ponto tentando aliviar a pressão desconfortável que minhas costelas exerciam contra meu coração. - Você não podia fazer isso. - Corri os olhos pelo quarto engolindo o sentimento ruim que subia pela minha garganta.


– Você não entende. - A dona da voz baixa e rouca ganhou meus olhos imediatamente. - Você não sabe. - Ergueu uma das sobrancelhas com uma expressão neutra.



– Eu.. - Fechei os olhos momentaneamente esfregando o cenho com o indicador. - Me explica. - Ergui os braços com a estupefação aguda em meu tom de voz. - Então me explica o que é que eu não entendo e o que é que eu não sei.


Me joguei na cadeira giratória mais uma vez observando a garota diante de mim, Anahí não demonstrava nenhum sentimento e aquilo me intrigava. Seus olhos estavam tristonhos mas o resto do corpo parecia morto para emoções. Vi a bolsa em seu ombro ser jogada sobre a cama e os braços feridos e maltratados serem cruzados sobre o busto. Meu joelho saltava em um ritmo veloz enquanto os minutos em silêncio se perpetuavam. Quanto tempo mais?


Me levantei me colocando de frente para a garota que olhava para todos os cantos do cômodo menos em meus olhos. A segurei pelo queixo fazendo com que nosso olhar se encontrassem, a turbulência que ocorria nos olhos de anahi me fez franzir a testa. Arrependimento, solidão, confusão, raiva. Engoli em seco sentindo todo meu corpo rígido ao ver as lágrimas inundando os olhos da pessoa que amo até que transbordou.


– Eu me odeio. - A declaração na voz grossa me fez gelar. - Eu me odeio, Dulce. Você consegue entender isso? Eu não suporto quem eu sou, não suporto minha aparência, não suporto minha vida. Consegui explicar? - O calafrio subiu pela minha espinha com o tom sarcástico e frio que vinha da garota. - Não entende. Ninguém entende. Eu não sei porque eu estou aqui nessa droga de mundo.


Puxei uma respiração profunda procurando a calma que havia fugido de mim. Como ela poderia se odiar? Seus olhos faiscavam hostilidade, mas não iria ser aquilo que me faria recuar.


– Anahí - Pausei vendo seu rosto vermelho e molhado pelas lágrimas teimosas que caiam mesmo sem sua permissão. - Quantas vezes eu vou ter que dizer que você é linda? Quantas vezes terei que enumerar a quantidade de pessoas que te amam e que precisam de você? Você me prometeu que nunca mais faria isso. Você olhou em meus olhos e prometeu que nunca mais se machucaria e agora faz isso. - Peguei em sua mão esquerda a erguendo entre nós. - Você se odeia? Eu te amo. - Minha voz quebrou na frase e vi a confusão de emoções bombardeá-la violentamente. - Você não consegue entender isso? Não importa o que falam sobre você, não importa essas criticas idiotas que conseguem fazer a sua cabeça. Eu sempre acharei você perfeita e linda. E sempre irei amar você. Sempre. Isso não é o bastante? Isso não consegue superar a opinião desses babacas? - Me encontrei ofegante com o jato de palavras que saía de minha boca. Puxei respirações curtas tentando me controlar.


Passei as mãos pelo cabelo o jogando para trás. O choro engasgado na minha garganta não iria ser derramado, não em companhia. Passei por ela indo em direção a porta mas as mãos geladas me puxaram de volta, a olhei ainda com raiva à encontrando aos prantos. Os olhos perdidos e sua expressão frágil.


– Me desculpe. - Disse com dificuldade enquanto fungava. - Por favor, não me deixe sozinha. Por favor.


A declaração fez relaxar parte da tensão que meu corpo sentia, os sentimentos pesados se aliviando consideravelmente. A puxei para meus braços sentindo o choro se tornando mais forte em meu pescoço, alisei suas costas tentando passar segurança.


– Eu não vou deixar. Não vou. - Assegurei. - Pare de chorar. Sh.. - A balancei levemente enquanto a embalava em meus braços. - Pare de chorar.


***********


Entrei no carro ganhando Anahí no banco do passageiro, não conseguia olhá-la. Dirigi pacientemente em direção à minha casa, minha atenção sempre além do para brisa e retrovisores, nunca em Anahí, mas meus ouvidos conseguiam captar cada fungar e cada suspiro por mais baixo que fosse. Abri a porta de casa esperando a garota entrar para fechá-la. Adentramos a sala ainda em silêncio encontrando meu pai assistindo ao noticiário com minha mãe deitada em seu peito.


 


– Olá, mocinhas. Quase que Fernando não deixa comida para vocês. - Minha mãe fez menção de se levantar mas a parei.


– Não estou com fome, mãe. Obrigada. Depois como alguma coisa. - Respondi seca me dirigindo para a escada.


– Anahí? - Minha mãe tentou inutilmente.


– Obrigada, tia. Mas vou lanchar junto com ela. - Ouvi a resposta antes de sentir que me seguia.


Tentei bater a porta do quarto com força mas Anahí a segurou impedindo o barulho alto que o impacto causaria. Puxei a blusa para fora de meu corpo com raiva, abri uma gaveta puxando algumas peças de roupa. Nunca havia escondido minha insatisfação pelos meios que Anahí conseguia resolver seus problemas. Era de mais procurar alguma ajuda ao invés de ver o próprio sangue escorrer para fora de sua carne?


– Dulce, por favor, fale comigo. - Sussurrou se aproximando mas ergui a mão ainda de costas.


– Não consigo conversar agora. Preciso de um banho.


Apoiei as mãos no azulejo frio deixando a água gelada bater forte contra minha nuca. Minha respiração desregulada causada pelo choro reprimido, fazia quanto tempo que estava na mesma posição e não conseguia achar uma solução? Eu pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo. Por mais que tentasse resolver aquilo sozinha, não conseguia. Fechei o registro me secando e me vestindo brevemente, algumas gotas ainda pingavam de meus cabelos quando sai do banheiro. Encontrei Anahí sentada contra a cabeceira abraçando as pernas encolhidas, olhou para mim parecendo esperar alguma coisa.


– Você não podia ter feito isso. - Minha voz saiu rouca e morta, queria sumir do mundo.


– Não queria decepcioná-la. - Desviou os olhos trêmulos para longe de mim.


– Então por quê? - Franzi o cenho cerrando as mãos em punhos.


– Estava desesperada, sem controle, precisava de uma maneira de fugir das coisas que venho suportando.. - Disse com a voz controlada. - Eu não queria magoar você, não quero magoar ninguém. Mas na hora eu não pensei em nada, só conseguia pensar em uma maneira de aliviar tudo aquilo. Só conseguia.. - Fechou os olhos suspirando pesadamente.


Subi na cama me colocando de frente para a garota. Ainda estava ressentida, mas a necessidade de confortá-la e colocar algum juízo naquela cabeça era maior.


– Você deveria voltar a ter sessões com psicólogo, ajudaria. - A vi negando com a cabeça. Nunca gostou de responder as perguntas simples e íntimas para o profissional. - Você tem que ficar forte por todos que amam você. - Apelei ganhando seus olhos direcionado aos meus olhos.


– Não é uma coisa que eu possa controlar. - Sibilou cabisbaixa.


– Se você não pode controlar então peça ajuda. Eu não posso ficar me arriscando a perder você desse jeito. - Declarei com o coração apertado.


– Eu não vou fazer nada estupido. - Contra argumentou.


– Você está entrando em contradição. - Suspirei olhando em volta.


– Dulce. - As mãos frias seguraram meu rosto me forçando a encará-la. - Eu sei que eu havia prometido, me desculpe.


– Não foi a primeira vez desde a promessa, não é? - A falta de reposta me deu a confirmação. - Eu não quero que você faça mais isso, está me entendendo? Todas as vezes que você se corta está cortando à mim também, me fere, Giovanna. Se eu ver essas malditas marcas em você novamente eu mesma irei obrigar seus pais a fazer alguma coisa a respeito.


 


– Por que está me dando outra chance? - A pergunta tímida.


– Porque minha promessa ainda continua intacta, mas está avisada. - Me levantei do colchão. - Vem, vamos comer alguma coisa.


*******


– Está tudo bem entre você e Anahí?


A pergunta vinda de minha mãe tirou a concentração que tinha em meu prato. Olhei para Anahí e papai jogando vídeo game antes de encarar minha pizza novamente.


– Mais ou menos. - Cortei mais um pedaço de massa a colocando em minha boca.


– Quer conversar ou apenas ficar calada? - Olhei para minha mãe soltando um pequeno suspiro tristonho.


– Ela está com alguns problemas e eu não sei como resolver. - Confessei ganhando um olhar de ternura de minha mãe.


– Apoiá-la não ajudaria? - Acenei rapidamente fugindo dos olhos profundos que me encaravam minuciosamente. - Acredito que se tratando de Anahí basta você ficar ao lado dela e tudo ficará bem. - Sorri com a inocência de minha mãe.


– Mas não posso estar sempre ao lado dela, não posso estar sempre a protegendo. E se acontecer alguma coisa enquanto estiver longe? Há varias viagens, vários compromissos.


– Existe celular e internet. - Respondeu simples me calando. - Não perca esse tempo que tem com ela brigando. Seja você mesma.


– Ser eu mesma? - Ri achando graça da questão.


– Se for fazer algo estupido seja outra pessoa. - Se corrigiu me fazendo sorrir mais abertamente.


– Obrigada, mãe.


O horário foi avançando até que meus pais se retiraram para irem dormir nos deixando com a permissão de fazermos o que quiséssemos menos barulho. Um som fraco e conhecido me fez franzir o cenho e caminhar até a porta de vidro que dava acesso à piscina. As gotas começando à aparecer no vidro.


– Chuva? - Anahí parou atrás de mim.


Olhei para o céu encontrando as nuvens carregadas manchando o azul limpo. Empurrei a porta para o lado a abrindo minimamente aspirando o cheiro da terra molhada. Ótimo. O tempo estava assim na primeira vez que nos beijamos. Me virei encontrando Anahí próxima, os olhos fugiram da paisagem da janela se refugiando em mim.


– Essas chuvas fora de época parece ajudar você, minha pequena. - Sorri de lado a puxando delicadamente para mim.


– Me desculpa. - Sussurrou apoiando a testa na minha.


– Sh.. Está tudo bem. - Alisei o rosto de porcelana com o polegar. - Você vai ficar bem, não vou deixar ninguém te machucar. - Toquei seus lábios com os meus brevemente e me afastei olhando a feição mais tranquila.


[...]


Me virei na cama mais uma vez acordando do sono inquieto. Abri os olhos encarando a escuridão parcial de meu quarto, olhei para o lado pensando encontrar a figura de Anahí dormindo mas seus olhos estavam abertos fitando o teto.


– Não consegue dormir? - Sussurrei sonolenta.


– Não. - Franziu o cenho. - Você?


– Estou com sono, mas não consigo. - Suspirei olhando para o teto também.


O barulho da chuva batendo contra o vidro sendo a única coisa que preenchia o vazio.


– O que você faria se eu dissesse que quero namorar com você? - Anahí cortou o silêncio fazendo meu coração ficar descontrolado, minha respiração se tornando superficial.


– Eu diria tudo bem. - Confessei com uma sensação estranha tomando conta de meu corpo.


– Mas você não pode dizer isso. - A olhei, estava com a testa franzida. - Você tem que dizer que não podemos.


Umedeci os lábios analisando a garota.


– Mas eu quero. - Me virei pairando sobre o corpo pequeno. - Como irá me impedir? - Arqueei uma sobrancelha em desafio.


– Eu não tenho condição de impedir. Você é quem tinha que me impedir, você é a racional. - Tentou explicar quase em desespero.


Sorri afastando algumas mechas loiras do rosto bonito, corri a mão pela lateral do corpo até chegar em sua mão esquerda e puxá-la para cima. Beijei com cuidado o pulso maltratado.


– Não me importa se o mundo inteiro ficar contra nós. Você é meu mundo e eu não vou à lugar nenhum enquanto me quiser por perto. - Sorri fraco quando Anahí soltou um suspiro sofrido e frustrado.


Me abaixei capturando os lábios macios e gelados, as mãos me puxaram para baixo completando a junção de nossos corpos. Provoquei a entrada da boca com a língua passeando as mãos pela cintura fina. Larguei a boca lhe mordendo o maxilar e descendo para o pescoço.


– Por que faz isso comigo? - Sorri sugando o ponto de pulso acelerado.


– Isso o que?


Minha voz saiu rouca voltando para beijar a boca receptiva. Brinquei com a barra da camisa larga que usava tocando a cintura por baixo do pano, arrastei as unhas pela pele do abdômen aprofundando mais o beijo. A mão em minha nuca puxava meu cabelo levemente, sentia o corpo esquentar a cada segundo que se passava, mais exatamente em um ponto entre minhas pernas. Não percebi que a blusa de Anahí já estava muito elevada até que a ponta de meus dedos tocaram a base de um dos seios, um gemido baixo vibrou contra minha boca mas não houve restrição. Abaixei um pouco a mão com o ventre revirando, a respiração completamente disforme tentando puxar ar pelo nariz enquanto ainda investia na boca doce de Anahí. Voltei a subir pela cintura fina encontrando a base do seio novamente, arrisquei passar o polegar pela região sentindo o bico rígido, o corpo se revirou embaixo de mim e meu lábio inferior foi sugado com fome. Minhas costas foram apertadas com força me instigando a massagear meu novo brinquedo, escapei da boca indo lhe morder o pescoço tentando controlar a pulsação forte que sentia em meu íntimo. Ameacei remover a camisa que Anahí usava mais com um movimento rápido me vi contra o colchão e a Anahí ofegante em cima de mim.


– Isso. - Disse irritada. - Eu faço um monte de besteiras, você continua do meu lado e faz isso. - Apertou meus ombros com força mostrando a frustração que estava sentindo.


– Porque eu quero isso. Eu quero você. - Embrenhei minha mão em seus cabelos a puxando para baixo bicando seus lábios.


– Sabe que não podemos fazer isso aqui e muito menos agora. - O lapso de racionalidade da garota me fez bufar. - Dulce?


– Oi. - A olhei levemente irritada sentindo meu corpo voltar à temperatura normal.


– Isso é sério? - Sorriu divertida, soltei um muxoxo desviando a atenção dela. - Seus pais estão no quarto ao lado e você querendo se aproveitar de mim. Não sabia que era uma pervertida. - Soltei uma risada curta.


– São atributos que ainda não conhece. - Ergui uma das sobrancelhas a provocando.


– Okay.. - Fechou os olhos saindo de cima de mim voltando a se deitar comportada ao meu lado. - Vamos dormir.


– E quem diria que quem negaria fogo seria você. - Gargalhei no escuro recebendo um tapa. - Vem pra cá. - A puxei para meus braços novamente. - Eu não vou te estuprar.


– Mas eu não posso garantir a mesma coisa para você. - A voz de Anahí acompanhada da gargalhada me veio abafada por ter enterrado o rosto em meu peito.


– Quer que eu cante para você dormir? - Perguntei risonha passeando a mão pelos cabelos lisos.


– Por favor.


Comecei a cantar em um sussurro brincando com os fios a minha mercê. Senti sua respiração se tornando suave e constante, leve. O corpo relaxado contra o meu, a face serena me mostrando tranquilidade. Continuei cantando a melodia suave enquanto velava pelo sono de meu pequeno mundinho.


 



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Autor(a): portisavirroni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21

    Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★

  • fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23

    Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?

  • candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37

    Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.

  • fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33

    Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.

  • Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49

    To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!


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