Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde
"Primeiro, você diz que precisam conversar. Ela anda, você diz: sente-se, isso é apenas uma conversa. Ela sorri cortês de volta pra você.
Você a encara educadamente, algum tipo de janela a sua direita. Enquanto ela vai para a esquerda você continua na direita.
Entre as linhas do medo e da responsabilidade, e você começa a se perguntar porquê veio.."
*****
Soltei um suspiro pesaroso jogando o braço sobre a testa. A pressão sempre próxima de mim era quase inexistente naquele momento. O dia estava fresco, gostoso. As flores espalhadas pelo jardim me privilegiavam com uma das visões mais lindas. Rosas sortidas, margaridas, girassóis e não sei mais quais. Nunca fui de fato muito boa em jardinagem, não sabia realmente nada, mas mesmo assim a natureza me encantava.
Estava deitada em uma rede pendurada estrategicamente entre duas arvores grandes que me pareciam amendoeiras. Ergui os olhos fitando o céu infinitamente azul, um pássaro voava ao longe. Fechei meus olhos inalando o ar perfumado apreciando a calmaria enquanto invejava o pássaro por poder ir a qualquer lugar enquanto eu permanecia presa em uma gaiola. Ri do meu próprio pensamento.
– Sabia que iria encontrar você por aqui. - Ouvi a voz conhecida mas continuei de olhos fechados, o sorriso ainda em meus lábios. - Qual o motivo do riso? Ficou maluca de vez? - Indagou entre um riso contido.
– Eu nunca fui normal. - Abri os olhos avistando o ser que me importunava. - O que está fazendo aqui? - Perguntei estreitando os olhos.
O cabelo dourado já estava mais longo, faltavam alguns comprimentos pra chagar até sua cintura. A franja charmosa teimava em cair sobre os olhos marcados levemente pelo lápis. A pele pálida fazia um contraste bonito com os olhos azulados e a boca rosada.
– Não estava aguentando mais ficar lá dentro. Está uma loucura, um estresse total. Então fugi para o seu estúdio mas percebi que eles estavam procurando por você, deduzi que não estava no camarim e vim direto aqui. - Sorriu triunfante mostrando a carreira perfeita de dentes e não pude deixar de sorrir também. - Então. Por que está aqui?
Olhei para longe procurando a resposta, mas sinceramente eu não tinha. Ou melhor, tinha mas não conseguia por em palavras. Fitando a paisagem lembrei-me do pássaro.
– Eu estou aqui curtindo a natureza e invejando os pássaros.
Olhei em sua direção e vi sua testa franzir em uma expressão de desentendimento, mesmo assim esperei pelas perguntas, sabia que viriam.
– Pássaros? - Sorri ao ouvir.
– Sim. Eu estava invejando os pássaros por eles serem livres enquanto eu vivo em "cativeiro". É irônico, uma vez que normalmente são os pássaros que nos invejam, mas é assim que me sinto. Além do mais voar deve ser o máximo. - Concluí olhando excitada para o céu.
Qualquer outra pessoa me acharia louca, eu me achava, mas não ela. Em vez de sair algum comentário sobre o que eu acabará de dizer, eu escutaria uma coisa que me deixaria intrigada.
– Eu tive um sonho com você - Voltei o meu olhar para a pessoa que falava enquanto essa desviou a atenção para o céu. - Sonhei que você estava em um jardim muito mal cuidado sentada no chão. Eu procurava por você em tudo quanto era lugar, então Maitê me dizia onde procurar e eu a achava nesse jardim. Eu perguntava se estava tudo bem mas você queria ficar sozinha, me pedia pra ir embora.
Eu sabia como os sonhos eram significativos pra ela mesmo eu não dando muita importância. Ela estava preocupada comigo e não precisava falar, via no seu jeito. Andávamos meio afastadas, não porque queríamos, mas sim pelas nossas obrigações distintas. E não sei como aconteceu, mas não à procurava para contar sobre meus problemas, não como antigamente. Tinha medo de deixá-la preocupada, ou talvez estivesse apenas me enganando inventando todas essas desculpas para ignorar o real motivo. Sentia falta dos velhos tempos. Dos tempos que passávamos dias uma na casa da outra só brincando e espairecendo. Eram raros os momentos em que podia ser eu mesma e esses momentos sempre aconteciam quando estávamos juntas. Odiava ficar longe, era como se fizéssemos parte uma da outra e, pelo menos na minha cabeça, podia passar o tempo e a distância que fosse que nunca mudaria nada entre nós duas.
– Maitê estava no seu sonho? - Arqueei uma sobrancelha.
– Estranho, né? - Coçou a cabeça sorrindo encabulada - Mas você está.. bem?
Perguntou enfim e eu não podia mentir. Primeiro porque estava cansada de guardar as coisas só pra mim e segundo que nos conhecíamos tão bem que ela provavelmente já sabia tudo o que se passava na minha cabeça. Bem, nem tudo.
– Sinceramente? Eu não sei. Parece que eu vou explodir a qualquer momento. E esse teu sonho do jardim.. - Fiz uma pausa antes de completar. - Talvez esteja certo.
Soltei de uma vez. Eu não queria que ela fosse embora dali mas eu realmente queria ficar quietinha. Percebi que seus olhos se abriram um pouco em minha direção parecendo assustada, mas logo sua expressão mudou.
– Eu sinto sua falta. - Disse cabisbaixa.
Meu coração se espatifou e um arrepio frio percorreu todo o meu corpo. Vê-la naquele estado era algo chato, durante toda a minha vida eu lutava para deixá-la bem e agora perceber que eu era o motivo de sua tristeza era no minimo frustrante. Como sempre, eu tinha que fazer algo.
– Será que essa rede aguenta nós duas? - Perguntei analisando as cordas.
– O quê? Claro que não.
– Para de palhaçada garota, vem logo pra cá. - Falei em tom de ordem enquanto abria os braços.
– Se essa rede cair.. - Ela começou a abrir um espaço para se deitar - A culpa vai ser sua, senhorita Savinõn.
– Ela não vai cair, Anahí. Anda logo!
Ela se alinhou ao meu lado com a cabeça em meu peito enquanto passeava meus dedos por seus fios lisos. Ficamos caladas durante um bom tempo e não sabia se ela tinha adormecido, fechei meus olhos inalando seu perfume profundamente a aproximando mais do meu corpo. Lembrei do sonho que ela tinha me contado e automaticamente acabei me lembrando de um sonho que eu não queria lembrar, pelo menos não naquela hora. Minha respiração começou a ficar pesada, meu coração parecia querer pular para fora de meu peito. Afrouxei meu abraço enquanto pedia a Deus que ela estivesse realmente dormindo e não percebesse, mas o pedido foi em vão.
– Seu coração está batendo muito rápido. - Ouvi a voz baixa enquanto se aproximava ainda mais de meu peito. - Nossa, está descontrolado.
– Está? - Perguntei tentando parecer indiferente. - Será que não estão procurando pela gente não? - Tentei fugir do assunto.
– Com toda certeza que estão, mas não estou nem um pouco afim de voltar. Vamos fugir? - Sua cabeça levantou ficando frente a frente comigo com aquele sorriso imenso e os olhos brilhantes. Eu ri.
– Ah, claro. Por que não? Ninguém iria reconhecer a gente mesmo né? - Perguntei irônica.
– Você é muito chata. - Disse fazendo biquinho enquanto se levantava. Parecia uma criança, só agora tinha percebido que ainda estava vestida de Roberta.
– Eu não sou chata, sou apenas cautelosa. - Me defendi saindo da rede.
– Ou seja, uma chata. - Cruzou os braços.
– Desculpe-me senhorita impulsiva Savinõn. Na próxima vez tento ser mais irresponsável. - Agora quem fazia bico era eu.
– Já disse que você fica linda quando faz biquinho? - Corei provocando um gargalhar na baixinha.
– Vamos - Disse ainda encabulada - Temos que voltar ao trabalho.
——*——
Já era noite e estava quente dentro de meu camarim, mas finalmente eu iria ir pra casa. Terminei de trocar de roupa rapidamente e fui livrar meu rosto da maquiagem pesada que Alex teve que usar quando escutei alguém batendo na porta.
– Pode entrar. - Gritei enquanto me concentrava no espelho.
– Hey, está tudo bem?
A voz forte e grossa chegou aos meus ouvidos enquanto olhava a figura de Ucher através do espelho. Sua expressão era de preocupação, o que me fez pergunta o que estava havendo com aquele povo. Geralmente eu que era a cuidadosa.
– Está, por quê? - Perguntei confusa com sua primeira frase.
– Bom, levando em consideração que você parece pensativa o tempo todo, não fica mais com o pessoal depois das gravações e essa semana sumiu sem dizer nada pra ninguém, presumo que esteja acontecendo algo.
Continuei calada terminando meu trabalho com o espelho, assim que terminei fui sentar ao seu lado no pequeno sofá. Coloquei minha cabeça em seu ombro suspirando.
– Não sei, Ucher. Às vezes... - E eu travei.
Eu realmente não sabia o que dizer, mas precisava dizer alguma coisa pra alguém caso contrário iria pirar. Fiquei calada e após alguns segundos percebi que ele ainda esperava que eu falasse. Ucher era um ótimo ouvinte e nunca criticava, era isso o que eu mais amava nele. Fechei os olhos respirando fundo e continuei:
– Às vezes eu me sinto sozinha. Eu sei, eu sei. Eu tenho vocês e sou muito grata por isso, de verdade, mas eu sinto falta de algo e quando eu paro pra pensar nisso vejo que esse algo não é só uma coisa e sim muitas. Eu só queria respirar um pouco, foi por isso que eu sumi essa semana. Queria ter a oportunidade de pensar sozinha, estou cansada de fazer o que me pedem aqui. Estou cansada de ser vista como o exemplo de menina perfeita. Eu não sou perfeita, eu tenho meus erros e tenho fraqueza também, mas parece que ninguém vê que sou humana. E aqueles paparazzi, revistas maldosas, nunca falam nada haver com nada. Argh! Nossa, parece que estou me transformando na anahi agora, ela que tem essas paranoias. - Sorri escondendo o rosto entre as mãos ao perceber.
– Você já falou com ela sobre isso?
– O quê? Tá maluco? Esse é o maior problema dela. Se eu contar que estou passando pela mesma coisa é capaz de ficar pior do que eu. Ela não é forte o bastante. - Sentei abraçando meus joelhos. Em parte o que eu disse era verdade.
– Você está com problemas e mesmo assim tenta cuidar dela? Eu não quero que você me entenda mal, eu só estou falando isso porque é o que eu acho e não porque quero que você faça, apenas me escute okay? - Balancei a cabeça o incitando a continuar. - Ela não é tão frágil como você pensa. Ela cresceu, já é uma mulher, não é mais aquela menininha indefesa e insegura que dependia de você pra tudo. E sendo amigo de vocês duas sei que ambas são fortes e iram se apoiar em tudo não importa o que esteja se passando. Quer dizer, há quanto tempo vocês são amigas? Se eu fosse você parava de tentar resolver tudo sozinha e dava uma oportunidade pra alguém entrar mais na sua vida. Conhecendo você como eu conheço não há ninguém melhor do que a Anahí pra fazer isso.
Eu já sabia de tudo aquilo e não precisava que ninguém me falasse. Mesmo assim foi bom ouvir que tudo o que eu achava também era os pensamentos de outra pessoa, mas ainda faltava algo. Fitei o chão ciente da presença de Ucher ao meu lado esperando uma reação, mas eu mesma não sabia se o que estava prestes a fazer era o que eu realmente queria.
Levantei lutando internamente indo até minha bolsa. Tentei achar meu celular, perdi a paciência colocando a bolsa de cabeça para baixo fazendo com que tudo que estava dentro caísse sobre a mesinha de centro. Não precisei procurar nenhum nome na agenda, disquei o número decorado rapidamente e coloquei o aparelho no ouvido aguardando enquanto olhava para Ucher.
– Que milagre seu nome aparecer no meu visor.– Ouvi a saudação informal do outro lado da linha.
– Eu sei que você ansiava por esse momento. - Respondi com uma voz firme e sedutora.
– E você lendo minha mente como sempre.– Escutei uma leve gargalhada. - Mas me diga, o que aconteceu pra você me ligar a essa hora?
Olhei para o relógio que marcava sete e vinte da noite, as filmagens tinham acabado tarde mas naquele dia eu não teria mais nada para fazer. Nenhuma sessão de fotos, nenhuma entrevista ou autógrafos. Nenhuma social. Estava com a noite livre.
– O que você está fazendo agora e o que vai fazer depois?
Houve uma pausa do outro lado da linha e eu tinha certeza de que minhas intenções já tinham sido descobertas.
– Bom, agora eu estou olhando a Aninha se lambuzar com brigadeiro e depois eu posso sim passar na sua casa. - É, realmente nos conhecíamos bem.
– Ótimo! Eu estou saindo do estúdio agora e olha, avisa que não vai dormir em casa.
– Sim senhora. Até mais.
– Até.
Desliguei o celular ansiosa dando um sorriso nervoso para Ucher que permanecia calado. Fui colocando tudo de volta na bolsa quando escutei ele se levantar do sofá e dizer:
– Não é só isso, não é? Tem alguma coisa em relação a Anahí que você não quer me contar.
Aquilo não era uma pergunta e sim uma afirmação. Parei de fazer o que estava fazendo e me voltei pra encará-lo o avistando com os braços cruzados me olhando de forma analítica.
– Como é? - Perguntei com um frio na barriga. O sangue sumindo de minha face.
– Olha Dulce, eu entendi que você está de saco cheio de tudo e que sente falta de algo. Entendi tudinho que você me disse, mas nada disso é desculpa pra você se afastar da Anahí desse jeito. Antigamente nós também tínhamos trabalho e vocês não se desgrudavam, então não me venha com a desculpa do tempo porque você mesmo demonstrou agora que quando você quer você arruma um tempo pra ela. E além do mais sempre que você tinha problemas com seus pais ela era a primeira pessoa pra quem você corria mesmo ela tendo os próprios problemas em relação aos pais, então também não me venha com a desculpa da preocupação. Isso faz com que eu chegue a uma conclusão; Você está a evitando. Qual é o problema entre vocês?
Droga! Aquilo tinha ido longe demais. Ucher era um ótimo amigo, mas quando começava a juntar as peças e fazer perguntas se tornava um detetive um tanto quanto eficiente e isso não era bom pra mim no momento. Sua expressão estava séria, chegava a ser dura, ele realmente queria saber o que estava havendo, mas nem eu mesma sabia o que estava acontecendo. Suspirei.
– Quando eu descobrir prometo que você será o primeiro a saber, mas agora eu preciso ir. Obrigada por tudo, Cristopher. - Dei um beijo em sua bochecha e me dirigi à porta.
– Dul - Virei o encarando. - Me desculpe pelas perguntas? Sabe que sempre que precisar estarei aqui.
– Claro. - Sorri franco. - Obrigada, irmãozinho
************
Faltavam exatamente dois quarteirões para chegar em casa e o sinal estava vermelho. Assim que sai dos estúdios coloquei um CD qualquer pra ver se animava um pouco meu humor me deixando mais descontraída e como sempre deu certo. Já estava balançando a cabeça, batucando o volante e cantando sem me importar se dava pra ouvir alguma coisa do lado de fora. O sinal abriu e eu continuei meu caminho até que entrei pelos portões de madeira estacionando.
Foi só quando sai do carro que percebi que as luzes estavam acesas. Será que minha mãe tinha voltado sem me avisar? Corri para a porta ansiosa a abrindo e fechando-a atrás de mim rapidamente. Ouvi o som baixo da TV ligada e segui o barulho até a sala de vídeo esperando encontrá-la, mas tudo o que encontrei foi Anahí sentada no meu sofá, comendo meu picles e assistindo algum DVD.
– Mas que absurdo! - Falei alto me fingindo ultrajada a encarando de cima com as mãos na cintura.
Quando me ouviu e viu o meu drama ficou imóvel sem piscar. Em sua mão direita havia um pedaço de picles que iria direto pra sua boca se não tivesse parado no meio do caminho. Continuei a fuzilando com os olhos até que não aguentamos mais e caímos na gargalhada.
– Você demorou. - Começou ela. - Quando cheguei vi tudo apagado e usei minha cópia. Me desculpe pela invasão mas não dava pra ficar do lado de fora esperando por tanto tempo.
– Você já é de casa - Peguei um picles do pote - É que eu não vi seu carro lá fora e pensei que era minha mãe. - Me deliciei colocando o picles na boca, não tinha percebido que estava com fome.
– Você não viu meu carro porque o "grude" me trouxe.
– Nossa! Novo apelido pra sua irmã. Esse aí eu não conhecia. - Ri da cara de entediada que fazia.
– Babá. Guarda-Costas. Grude. Chulé. Carrapato..
– Ahhh, tá bom. Eu já entendi! - Ergui as mãos em sinal de redenção. - Vamos. Quero comer alguma coisa.
Levantei indo em direção à cozinha sendo seguida de perto e em silêncio, Anahí apenas me observava. Enquanto fatiava o peito de peru pra fazer um sanduíche percebi que ela queria falar algo mas esperava por alguma coisa pra tomar coragem então comecei.
– Você está bem? - Peguei os pães de forma no armário. Ela continuou calada olhando diretamente pra mim como se quisesse achar palavras. - Anahí... - Tentei novamente, ela sorriu.
– Não é nada demais. Não precisa ficar preocupada, mas eu queria te contar uma coisa que eu vi. - Ela brincava com os dedos então parei de olhá-la, pois sabia que ela nunca contaria nada enquanto a encarasse.
– Então diga, estou ouvindo. - Comecei a fatiar um tomate.
– Você já viu duas meninas se beijando? - Meu coração se apertou.
– Por que essa pergunta? - Soltei a faca e a olhei curiosa mas isso a fez travar. Meu coração não iria aguentar, decidi continuar a cortar coisas enquanto ela falava. - Então, por que está me perguntando isso?
– Porque eu vi. E bom, foi nojento. - Meus nervos foram se acalmando aos poucos.
– E são conhecidas as pessoas que você viu? - Tentei soar indiferente continuando com a tarefa em cortar mas...
– Maite e a Angelique - Quase cortei meu dedo.
Fiquei petrificada olhando para minhas mãos enquanto largava a faca imaginando a cena. Não que eu queria imaginar, mas foi um pouco difícil fazer com que as imagens não viessem parar em minha cabeça. Eu achava a Mai completamente retardada, mas ficar com a Angel era nojento. Senti um arrepio e uma ânsia de vômito, mas me controlei esfregando as mãos no rosto e me virei pegando água gelada pra beber. Ao acabar com o copo o bati sobre a mesa e a encarei. Ela permanecia calma, esperando que eu falasse algo mas a única coisa que saiu foi:
– Meus Deus! - Ela deu um sorriso fraco.
– É eu sei, é nojento, e olha que você nem viu em.
– Meu Deus. - Continuei, comecei a andar pela cozinha. - Meu Deus, Meu Deus..
– Você só vai ficar falando isso agora é? - Ela estava começando a perder a paciência então respirei fundo passando minhas mãos pelo cabelo.
– Meu Deus! - Gargalhei ao perceber o que tinha falado. - Desculpa Anie, é que eu não esperava por isso, ainda mais a Maitê. - Acho que meus olhos estavam arregalados. - Quando foi isso?
– Sexta-feira no aniversário de um amigo do Cristian. Elas estavam muito loucas ai começou a tocar uma música mais sensual e a Angél começou a dançar de um jeito sedutor pra Mai. Um garoto que estava com elas disse que seria excitante se as duas ficassem e quando vi as duas estavam se beijando. - Ela fazia cara de nojo e provavelmente eu também já que ao olhar pra mim ela riu.
*********
A noite já estava avançada. Não sabia exatamente a hora, mas tinha a noção de que estávamos no meio da madrugada e por mais que eu tentasse não conseguia pegar no sono. Mais uma noite maravilhosa de insônia. Virei inúmeras vezes em minha gigante cama de casal procurando uma posição confortável a fim de conseguir dormir mas acabei desistindo olhando para o céu artificial de meu quarto. As estrelas em neon pareciam saltar do teto e dançar em minha frente, minha imaginação era tão fértil que às vezes me assustava. Virei o rosto para o meu lado direito e vi Anahí agarrada ao cobertor dormindo profundamente. Como eu a invejava naquele momento, como eu queria abraçá-la e me sentir protegida.
Olhei novamente pra cima levando as mãos ao rosto, apertei os olhos com força enquanto meus dedos massageavam minhas têmporas. Tudo o que eu queria era arrancar aquele sentimento horrível e confuso de dentro do meu peito mas não sabia como. Minha vontade era de sumir, morrer. Várias coisas vinham à minha cabeça como todas as noites e com uma força que desconhecia, eu conseguia ficar firme e não cedia para a voz que soava dentro da minha cabeça: "Ninguém se importa com você" "Você não faz falta" "Nada do que você faz vale a pena".
Eu estava enlouquecendo, essa era uma resposta plausível, mas por quê?
Desisti de tentar dormir e decidi ir arrumar algo para fazer pela casa. Me levantei com cuidado para não fazer barulho e passei pela porta com a maior paciência do mundo. Desci calmamente pela escada e ao passar pela sala vi que eram três e quinze da madrugada, ótimo, agora minha insônia tinha hora marcada pra aparecer. Um sentimento de raiva tomou conta de mim e uma sensação de dor terrível tomava conta do meu estômago. Minha vontade era de gritar, mas ao invés disso inspirei fundo e fui até o mini bar da casa.
Eu não sou muito de beber, mas naquele dia essa era a minha vontade então pelo menos uma vez na vida eu poderia fazer a minha própria vontade, não? Ainda mais sozinha, sem nada e nem ninguém para dizer ou impor algum exemplo de uma das modelos de perfeição da televisa.
Procurei alguma coisa que me agradasse pela garrafa e encontrei um Licor de Menta, pelo menos o cheiro me agradava e ao colocar no copo pude perceber que o liquido era um pouco espesso o que me fazia ter uma leve ideia de que aquilo deveria de ser doce, diferente das bebidas quentes e amargas que particularmente eu não gastava nem um pouco. Levei o copo até a boca e senti o doce sabor da menta, aquilo sim era uma bebida apta para se ficar bêbada. Peguei a garrafa e me dirigi até ao rádio o nivelando em um volume gostoso que ficaria somente naquele ambiente, fechei os olhos balançando levemente a cabeça com a batida da música, o som da guitarra fez meu corpo arrepiar e meus olhos lacrimejarem. Me virei em direção a poltrona, enchi o copo mais uma vez e percebi que ainda tinham restado alguns salgadinhos que estávamos comendo enquanto assistíamos TV. aquilo seria ótimo para cortar um pouco do álcool.
Me inclinei na poltrona e pensei mais uma vez no beijo entre Maitê e Angelique. Joguei o resto da bebida na boca a tomando em um só gole, tornei a encher o copo enquanto contorcia o rosto com a quantidade de álcool que passou pela minha garganta.
– O que você está fazendo?
O som daquela voz me deu um grande susto. Meu coração parou e voltou a bater com tanta velocidade que não sei como ainda continuei viva. Derramei o liquido verde na minha roupa com o sobressalto que dei e me levantei rapidamente na tentativa de não me molhar tanto colocando o copo na mesinha.
Anahí estava no pé da escada me encarando com um olhar confuso. Como ela tinha acordado eu não fazia a mínima ideia, a conhecendo do jeito que a conheço poderia ter caído uma bomba atômica na cidade que ela não acordaria.
– Anie! Assim você me mata do coração. - Me joguei no sofá colocando a mão sobre o peito.
Senti Anahí andando em minha direção mas permaneci com olhos fechados respirando profundamente me recuperando do susto. Esperei que ela falasse alguma coisa mas nada saiu de sua boca. Abri os olhos e a vi ainda de pé olhando diretamente para mim com uma expressão de preocupação estampada no rosto. Continuei encarando esperando alguma reação mas nada aconteceu. Eu ainda esperava por gritos e perguntas, porém não presenciei nada disso.
Ainda em silêncio ela se sentou na poltrona que antes era ocupada por mim e a única coisa que nós duas ouvíamos era a voz do Kurt Cobain ao fundo, aquele silêncio estava me matando. Nós sempre conversávamos sobre tudo, em qualquer momento, independente do que se tratava. Nunca tivemos restrições uma com a outra, sempre sabíamos o que a outra sentia e pensava, mas não era a questão agora. Ela não sabia o que estava acontecendo e eu não queria nem um pouco conversar sobre isso naquele momento.
Enquanto eu travava mais uma luta interna, ela permanecia calada com a mão esquerda apoiando o queixo, suas pernas estavam a mostra por causa do mini short preto que usava para dormir. Pisquei os olhos com força fazendo com que parasse de admirá-las. Subi um pouco mais e vi que usava uma camisa da Madonna que sinceramente já não sabia mais a quem pertencia uma vez que nós duas revesávamos, mas sem dúvida alguma ficava melhor nela do que em mim. Levei minha visão até os olhos castanhos e desisti de ficar calada. Sua expressão estava relaxada mas seus olhos demonstravam tristeza e eu mais do que ninguém sabia ler aqueles olhos.
– Okay Anahí. Pode falar, estou escutando. - Sentei no sofá de maneira que ficasse de frente para ela.
– Dulce, eu acho que quem tem que falar algo é você. - Ela cruzou as pernas apoiando as mãos no joelho.
Ótimo, ela achava e eu tinha certeza de que quem tinha que falar alguma coisa era eu, mas mesmo assim ainda tinha a esperança de que ela gritasse e ficasse tudo bem. Odiava ter conversas sérias, principalmente com ela. Suspirei em sinal de desistência, me levantei indo até ao interruptor e apaguei a luz.
– Dul!
– Desculpa, mas eu acho que é o único jeito de conseguir falar e isso funcionava com você. - Disse me deitando no sofá encarando o teto.
– Eu precisava desse método quando éramos pré-adolescentes. Nós crescemos! - A senti se levantando.
– Não! Fique sentada onde você está e apenas me escute, okay? - Pedi tentando enxergar em meio a escuridão.
– Tudo bem, pode começar
Autor(a): portisavirroni
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 5
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fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21
Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★
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fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23
Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?
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candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37
Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.
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fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33
Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.
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Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49
To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!