Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde
"Repentinamente o céu está caindo. Poderia ser tarde demais para mim? Se eu nunca disse "Me perdoe" então estou errado, sim eu estou errado. Então eu escuto meu espírito chamando, imaginando se ela está ansiando por mim. E aí eu entendo que não consigo viver sem ela..."
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Alguns meses depois.
Abril
– E quantos anos esse garoto tem?
Revirei os olhos para o tom ameaçador que papai usava ao se apoiar no portal da cozinha com os braços cruzados.
– Dezesseis. - Dei de ombros buscando uma maçã na fruteira sobre o balcão a abocanhando despreocupadamente.
– Percebeu que é mais velha que ele? - Revirei os olhos mais uma vez notando o sorriso silencioso de minha mãe ao ouvir o homem. - Isso não é crime ou algo do tipo?
– Mãe! - Supliquei para a mulher sentada à mesa tomando um copo de suco.
Meu pai vinha me perturbando ao longo da semana com a história de ficar andando com José Henrique desda separação do grupo.
– O quê? - Nos olhou assustada. - Não me coloquem na confusão de vocês. Já tenho muitos problemas para resolver.
– Ótimo! - Estalei a língua no céu da boca enquanto dava atenção à sms que acabava de receber de Angelique.
– Princesa. - O tom calmo de mau pai me fez olhá-lo com mais serenidade. - Sabe que a imprensa toda está atrás de vocês, não sabe?
Sorri fraco ao ouvir a pergunta duvidosa do homem. Era óbvio que a imprensa estava atrás de nós dois, mas isso não nos impedia de sair de vez em quando.
– Eu sei. - Suspirei. - Mas não há muita coisa que eu possa fazer e não é como se estivéssemos namorando. - Tentei contornar a situação.
– Não sabia que amigos se beijavam assistindo TV.
O comentário de mamãe me fez corar violentamente e papai revezar a atenção entre nós duas boquiaberto.
– Aqui em casa? - A voz do homem ecoou entre as quatro paredes do ambiente. - Como você deixa esse moleque entrar na nossa casa e ainda beijar minha menina, Blanca?
Enquanto eu gelava por dentro minha mãe iniciava uma crise incontrolável de risos que fez o homem olhá-la com ternura e quase o amoleceu, mas logo os olhos do homem estavam sobre mim. Papai caminhou em minha direção e parou próximo me olhando de cima.
– Pai, ele é um bom garoto. - Soltei tentando acalmá-lo.
– Espero mesmo que seja, caso contrário vocês irão me visitar todo domingo na cadeia. - A declaração me fez sorrir.
– Você não faz mal nem à uma mosca, Pai. - Dei um soco leve no ombro forte.
O som da buzina nos fez olhar para o monitor que mostrava o carro preto parado enfrente ao portão.
– Ele chegou. - Me coloquei nas pontas dos pés aplicando um beijo no rosto de meu pai. - Tchau.
– Cuidado em, mocinha. - Ouvi a voz masculina atrás de mim enquanto me despedia de minha mãe.
– Tá. - Resmunguei fazendo minha mãe sorrir.
– Se divirta. - A mulher alisou levemente meu rosto me fazendo sorrir antes de sair.
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Maio
Meus olhos fitavam a caneta fazendo movimentos contínuos e circulares sobre a folha branca de papel. Isso me controlando para não desenhar a letra A em todo o espaço vazio. Eu estava com saudades de todos novela, banda e uma pessoa. Com o fim do nosso contrato acabamos nos distanciando.
Os últimos dias estavam sendo horríveis apenas pela notícia de que Anahí e Jack teriam realmente terminado e as fotos espalhadas por todas as capas de revistas adolescentes não ajudavam em nada no meu auto controle.
Queria saber como ela estava. Queria saber o que havia acontecido.
Lembro-me de ter acordado em uma manhã chuvosa e minha mãe ter me dado a notícia de que os protagonistas da nova novela finalmente haviam assumido o namoro diante das câmeras. A única coisa que fiz naquele dia foi pegar um pote de sorvete e me trancar no meu quarto para assistir maratona de friends. Mas um término? Minha cabeça parecia que em qualquer momento começaria a sair fumaça de tanto imaginar como Anahí estava.
Pisquei os olhos ao notar uma lata de coca cola flutuando em minha frente. Olhei para cima encontrando o sorriso de lábios selados de Sherlyn, os olhos escuros brilhando em meio à curiosidade e diversão.
– O quê? - Perguntei confusa antes de pegar o refrigerante que me era oferecido.
Gonzáles se sentou na cadeira vaga ao meu lado em silêncio, pegou a caneta e o papel em meu poder com uma sobrancelha arqueada.
– Estrelas, seu nome, flores, corações e uma circunferência que quase rasgou a folha... - Analisou o pedaço de papel em voz alta. - Isso se parece bastante com quando eu pensava em algo ou alguém que eu não deveria pensar. - Comentou em forma de deboche.
Ignorei o comentário da mulher e abri o refrigerante tomando um gole enquanto corria os olhos pelo refeitório bem organizado e vazio. Meus dedos se fechando fortemente na lata de alumínio me controlando para não telefonar, me controlando para não entrar em contato porque afinal ela estava bem acompanhada. Havia Marichelo, Belinda, Maite e vários outros ao lado dela.
– Dulce? - A voz de Shirley me despertando mais uma vez, estalei o pescoço na direção da morena. - Por Deus, em que mundo você está? - O sorriso fraco me fez sorrir.
– Desculpa. Eu só estou preocupada com algumas coisas, nada muito importante. - Me desculpei.
– Imagina se fosse importante. - A risada curta compartilhada. - Algo que eu possa ajudar? - Se ofereceu e pude ver pelos olhos a sinceridade da oferta.
– Não.. Obrigada.. Mas vamos esquecer isso. Temos varias coisas para fazer e não será meu problema que vai estragar tudo isso.
– Você estando preocupada não ajuda. - Comentou desenhando um pequeno coração no dorso de minha mão. - Precisa estar feliz, pirralha! - Gargalhei com o apelido carinhoso a fazendo sorrir terna. - Sério, Dul. Qualquer coisa pode vir falar comigo. Ficaremos muito tempo longe da família e dos nossos amigos então é importante que fiquemos unidas, certo? - Segurou em minha mão passando confiança. Suspirei.
– Está certo. - Concordei. - No momento eu só preciso me distrair porque não há nada para falar ou fazer.
Shirley me considerou por breves segundos antes de bater as mãos nas próprias coxas e se levantar.
– Vamos procurar o Pedro então. Ele tem varias histórias e ideias malucas. Com certeza vai te distrair.
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Julho
Me curvei levemente soltando a bola de boliche na pista fazendo o strike necessário. Sorri ao ouvir a vibração das pessoas atrás de mim, mas franzi o cenho ao sentir o bolso traseiro vibrar anunciando uma chamada em meu celular. Ignorei os acenos e comentários que recebia ao voltar para minha mesa tendo a atenção voltada para o número em oculto piscando no visor do aparelho móvel.
– Alô? - Cruzei os braços esperando alguma identificação, mas logo a linha ficou muda.
Pisquei algumas vezes fitando a pequena tela que indicava o fim da ligação. Despertei do transe e sorri com a figura de Angel saltitante aparecendo ao meu lado com uma máquina fotográfica.
– Faz bico. - Instruiu e eu gargalhei incapaz de me posicionar para tirar uma foto descente. - Do que está rindo? - Perguntou com ar de inocência.
– Nada, querida. - Algumas risadas ainda me escapando. - Bate logo isso.
Fizemos algumas caretas e após alguns flashes a loira ficou satisfeita com o material que conseguiu nos permitindo visualizar a área de lazer que nos cercava com calma e em silêncio. Silêncio esse que não demorou nem cinco minutos com a curiosidade e preocupação nítida na expressão da minha amiga.
– Ainda tem se encontrado com o Pee? - A pergunta na voz melódica.
Olhei para a loira estranhando o nome, mas logo a imagem de José Henrique me veio à cabeça.
– Ah sim. - Desviei dos olhos azuis aparentando humor. - Às vezes. Estamos muito ocupados e quase nunca dá para nos encontrar, mas tudo bem. - Dei de ombros.
– Passaram da fase de amizade colorida e já tenho um cunhado ou...
– Nada disso! - Neguei rapidamente. - Eu não quero me envolver com isso agora. A companhia dele é ótima, mas não.
Angelique ergueu uma sobrancelha em minha direção parecendo confusa, mas logo balançou a cabeça mirando outro local que não fosse em mim.
– Eu não entendo, mas tudo bem. - Os lábios rosados sorrindo de lado. - Eu.. Encontrei com ela em Los Angeles essa semana..
Meu coração parou de bater e meus olhos dobraram de tamanho para a loira ao meu lado. O ar parecia ter dificuldade para alcançar meus pulmões.
– E c-co-como ela está? - Perguntei nervosamente tropeçando nas palavras.
Angélique abaixou os olhos claros sorrindo para os próprios pés, uma risada curta chegou aos meus ouvidos antes dos olhos azuis bem marcados pelo delineador me encarar com intensidade.
– Viu a diferença? - Angelique perguntou risonha. Isso me fez fechar a boca e engolir em seco. - Viu a maneira que se comportou falando do Pee e como ficou só de eu mencioná-la?
Senti meu rosto esquentar violentamente e meu corpo começar à suar frio. Não conseguia disfarçar, mas quem se importava? Era Angelique Boyer ali e eu estava morrendo para saber como Anahí estava.
– Só me diga se ela está bem, okay? - Fechei os olhos com força tentando controlar as batidas dentro do peito. - Faz tempo que não tenho notícia real e concreta da vida dela. Sabe desde a separação do grupo.
Senti o braço magro me puxar para o colo amigo e a leve carícia em meu cabelo me fez suspirar. Angel apoiou o queixo no topo de minha cabeça enquanto a abraçava e tentava voltar ao normal.
– Ela esta com saudade de você. - A confidencia me fez tremer e ao notar a loira firmou o braço ao meu redor com mais força. - Disse que sente sua falta.
– E por que ela não me procura? - Argumentei manhosa.
– E por que você não à procura?
A pergunta revidada me fez sair do colo de Angelique e encará-la em um misto de raiva e frustração.
– Eu sempre procurei, Angel. Sabe disso! - Cruzei os braços inquieta.
– Esse orgulho ainda vai matar vocês duas. - Disse seriamente. - Ela está bem. Estranha e um pouco 'estrela' demais, mas está bem. - Soltou impaciente. - Perguntou por você e eu disse que estava muito atarefada e que continua a menina linda de sempre. Só. Se quiser saber de mais coisas vá você perguntar para ela. - Concluiu me fazendo pestanejar silenciosamente.
– Não queria te envolver nisso. - Mordi a língua ganhando os olhos azuis novamente.
– Mas eu estou envolvida, okay? - Suspirou. - Você é especial para mim, o Pee é um garoto que admiro muito e a Anahí é uma ótima pessoa. Quero que todos vocês fiquem bem.
– Vamos ficar. - Franzi o cenho tentando achar uma saída, mas nada me vinha à cabeça.
– E você vai procurá-la?
A pergunta me fez paralisar momentaneamente. Algo na minha expressão fez a Angelique balançar a cabeça parecendo desapontada antes de caminhar para um grupo de pessoas reunidas em uma das mesas do ambiente.
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Outubro
O toque irritante começou a ficar alto demais aos meus sentidos até que despertei do sonho instável que me encontrava. Abri os olhos com certa dificuldade e gruni ao perceber que ainda era noite do lado de fora. Peguei o celular inquieto sobre o criado mudo e atendi a chamada no automático.
– Alô! - Minha voz saiu ainda grogue pela névoa que me envolvia. Alguns segundos se passaram sem haver sinal. - Alô? - Tentei outra vez, mas a linha subitamente ficou muda.
Engoli em seco com o arrepio me subindo pela espinha. Não era a primeira nem a segunda vez que aquele tipo de ligação breve acontecia e isso fez com que uma ideia me atacasse fortemente.
Me sentei rapidamente na cama ligando o abajur, as horas piscando no relógio digital fazendo meu coração disparar. Era ela. A madrugada gritava o nome dela.
Procurei a ligação recente no aparelho achando a chamada em oculto, mais calafrios. Tentei controlar minha respiração e o aperto no coração com a possibilidade diante de mim. A brisa fresca da noite entrando pela fresta da janela e tocando em minha pele fez a nostalgia me atingir violentamente. O som do celular tocando novamente me assustou. Meus olhos caíram para o aparelho vibrante em minhas mãos, o nome em oculto piscando na tela.
– Alô? - Atendi em um fio de voz recebendo o silêncio como resposta novamente. - Eu sei que está me escutando. - Falei mais firme ganhando um suspiro conhecido que me fez tremer da cabeça aos pés. - Fala comigo. - Sussurrei ciente da garota ao outro lado da linha.
O dedilhar leve no violão me fez soltar a respiração detida em meus pulmões e fechar os olhos enquanto o choque de realidade bombardeava meu corpo. Não escutava nada além do instrumento impecavelmente tocado. Algo me dizia para encerrar a ligação, mas meu querer de ficar ali escutando o som familiar era maior do que qualquer outra coisa.
Me deitei de volta na cama deixando a noite e a melodia acalmar o turbilhão de mensagens que meu cérebro recebia. Masoquista? Sim. Idiota? Sem dúvida. Mas o vício em tê-la por perto vencia tudo isso. O vício de ter um momento apenas nosso vence qualquer coisa até hoje.
Meus olhos permaneciam fechados, mas me mantinha acordada escutando o som suave até que tudo ficou silencioso do outro lado da linha. Abri os olhos contemplando a lua nova através da janela de meu quarto, ouvi o suspiro sofrido que me fez imaginar o choro mudo de Anahí e rapidamente a ferida em meu coração reabriu.
– Fala comigo. - Sussurrei suplicante mais uma vez, mas não demorou cinco segundos para a linha ficar muda e eu não saber se o que havia acontecido teria sido uma ilusão ou mais um momento único e secreto de nós duas.
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Novembro
Eu havia acabado de fazer a prova de figurino para " Verano de Amor'' daquele dia e só de pensar que estávamos apenas no começo da tarde o cansaço já me atingia.
Estava deitada no sofá do estúdio e Pablo fazia massagem em meus pés me dando mais vontade ainda de dormir. Pee não parava de me ligar porque estava na cidade e por esse motivo meu celular estava desligado repousando lindamente sobre minha barriga.
Havia acordado com uma sensação desconfortável e sem muita paciência. Não estava muito afim de conversa, mas isso vinha sendo normal na época. Ana Laveska se encontrava na poltrona lendo o roteiro completamente muda. A televisão estava desligada também, o que era estranho porém plausível já que só havia nós três por ali.
Meus olhos estavam fechados e estava quase pegando no sono quando ouvi a voz de Pablo ao longe. De primeira eu não me importei pensando ser alguma espécie de sonho, mas então a voz grossa ficou mais próxima e urgente.
– Dulce! - Levei um susto me sentando rapidamente no sofá tentando olhar para o garoto.
– O que aconteceu, Pablo? - Esfreguei a mão no olho tentando afastar o sono avassalador.
– Você precisa ver isso. - Respondeu rápido ligando a televisão e correndo por alguns canais.
Observei Pablo com a expressão séria e ao que parecia ele havia encontrado o que queria. Se afastou do aparelho me dando a completa visão da tela. Era um noticiário. A foto de Anahí estava colocada no canto direito da TV enquanto a jornalista informava aos telespectadores a notícia. No roda pé pude ler a seguinte frase "Anahí Portilla ex RBD é internada em clinica de reabilitação." Um frio percorreu toda a minha espinha e um peso horrível apareceu em meu estômago. Despertei imediatamente atenta ao que a mulher da tela falava.
– ..abandonando sua turnê com o novo single. Por enquanto, a divulgação foi que a cantora e atriz Anahí Portilla tenha se internado por motivos de distúrbios alimentares e automutilação. Ficaremos atentos à novas notícias. E à seguir...
O programa deu espaço para os comerciais enquanto eu ainda fitava a tela sem emoção ou atenção alguma. O ar estava tão pesado que eu tinha desistido de respirar. Tudo à minha volta foi ficando branco e minha mente viajou no tempo.
Eu estava subindo uma escada. Me lembrava muito bem daquele dia. Marichelo havia aberto a porta e me mandado subir para encontrar com Anahí enquanto conversava com minha mãe sobre as aulas particulares. Segui pelo corredor vazio e silencioso. Parei rente a porta fechada como sempre e entrei sem cerimonias.
Roupas jogadas pelo chão, cama desarrumada e nem sinal de Anahí. Ouvi um barulho vindo do banheiro e me aproximei da porta. Escutei um fungar e reconheci o choro baixo. A porta não estava fechada e pela fresta pude ver a figura conhecida com as mãos dentro da pia, vi seu rosto contorcido em choro pelo reflexo do espelho.
– Anahí.. - Abri a porta com cuidado tentando evitar um susto mas foi em vão.
– D-d-dulce... - Tentou se afastar pegando uma toalha a envolvendo na mão esquerda. - S-sai daqui. - Segurou o choro.
– O que aconteceu aqui? - Olhei confusa para a pia e reconheci sangue ali. Muito sangue. Uma preocupação absurda tomou conta de mim. - Você se machucou? - Perguntei nervosamente dando um passo em sua direção.
– Não foi nada demais. - Deu um passo para trás. Fungou limpando o rosto com a mão direita. - Sai daqui, por favor? - Pediu.
– Anie.. - Olhei para a pia mais uma vez notando uma gilete suja de sangue. Pensei ter sido um acidente. - Espera que vou chamar sua mãe. - Virei as costas mas as mãos me impediram trancando nós duas em seguida. Olhei para o rosto tentando entender o que estava se passando ali. Os olhos azuis não conseguiram mais segurar e as lágrimas vieram. - Anahí... - Me aproximei alisando o braço direito desprotegido. - O que aconteceu?
O corpo pequeno desabou no chão sentando contra a porta fechada em meio aos soluços. Abraçou os joelhos depositando a cabeça entre eles se balançando para frente e para trás. Me abaixei com o coração nas mãos tentando chamar sua atenção sem muito sucesso. Peguei o braço esquerdo estendido e retirei a toalha dali.
A teoria de ter sido um acidente deu adeus aos meus pensamentos dando lugar à uma certeza que foi difícil de engolir. Senti uma pontada forte na cabeça, uma náusea horrível me atingiu e meu corpo começou a tremer. O sangue preso ali no pulso pálido mostrava nitidamente quatro cortes distintos. Os analisei com cuidado e fiquei um pouco aliviada quando percebi que nenhum deles passavam por suas veias.
Me levantei apressada em direção ao armário pegando algodão e álcool.
– Vai arder. - Avisei.
O rosto bonito levantou em minha direção concordando. Peguei um pedaço do algodão e o molhei no líquido incolor. Limpei com cuidado em volta dos cortes enquanto me concentrava em parar de tremer. Meu coração se contraía cada vez mais em meio a raiva, ao medo e ao amor fazendo com que as lágrimas pinicassem em meus olhos, mas eu não iria chorar. Não na frente dela. Pressionei os dentes um no outro me segurando.
Após alguns minutos em silêncio o choro pareceu ir embora. Ainda estávamos sentadas no chão quando a voz fina rompeu o silêncio.
– Por favor.. - Começou hesitante. - Não conte a ninguém.
– Mas.. - Franzi a testa. - Você não pode esconder isso. - Argumentei.
– Por favor, prometa que não vai contar a ninguém. - Pediu mais uma vez me olhando nos olhos.
– Anie.. - Perdi o ar. - Eu preciso contar. Você.. você acabou de se cortar. Por que você fez isso?
– Eu fui fraca. - Uma unica lágrima rolou pelo rosto de porcelana. - Eu não estava pensando direito. Estava com raiva. Estava com vergonha de mim. Mas por favor, promete pra mim que isso vai ficar entre a gente? - A voz embargada pelo choro novamente.
Pensei durante alguns segundos sobre o ocorrido. Nós eramos novas, tínhamos apenas onze anos e ela tinha sido fraca. Todos cometemos erros. Olhei para os pulsos e para seu rosto novamente. Ela era a pessoa com quem eu mais me importava e eu sempre a protegia. Eu poderia cuidar dela naquela hora, certo? Errado.
– Prometo. - Disse a palavra que faria eu me arrepender todos os dias.
– Obrigada. - Suspirou aliviada.
– Mas, posso te pedir uma coisa?
– Diga. - Hesitou na palavra.
– Não faça mais isso. - Adverti duramente.
– Vou tentar.
O burburinho de vozes foi me despertando aos poucos e uma voz mais forte chamava pelo meu nome. Senti alguém checar meu pulso e aspirei algo que subiu ardendo pelas minhas narinas. Balancei a cabeça tentando me livrar daquele cheiro horrível e a voz que julguei ser de Ana informou que eu estava acordando. Pisquei algumas vezes forçando à abrir os olhos que teimavam em ficar fechados. Levantei a cabeça e percebi vários corpos ao meu redor. Meu diretor estava mais próximo de mim com o rosto expressando preocupação.
Afirmei que estava bem e tentei me levantar recobrando os sentidos. Lembrei do motivo que me fez desmaiar, engoli em seco. Precisava saber como ela estava, precisava telefonar mas meu celular não estava mais por perto.
– Preciso de um telefone. - Disse urgente.
Meu diretor tirou um pequeno aparelho do bolso e me entregou. Algumas pessoas foram se dispersando do local, mas ainda havia muita gente ali. Queria privacidade.
– Vou para meu camarim. - Informei já me levantando.
– Sozinha não. - A voz grave dele preencheu o lugar. - Você acabou de desmaiar. Precisa de observação.
– Eu estou bem! - O sangue correndo em alta velocidade pelo meu corpo. - Ana e Pablo vão comigo, pode ser? - Sugeri e ele concordou.
Sai apressada pelo corredor discando o número, que mesmo após tanto tempo, ainda estava fixo em minha memória. Escutei o som de chamada torcendo para que a ligação fosse atendida.
– Alô?
A voz do outro lado da linha fez meu coração parar junto com a mão que estancava na maçaneta da porta do camarim. Sabia que Ana e Pablo estavam atrás de mim mesmo não fazendo som algum.
– Anahí... - Disse com a voz controlada. - É verdade o que eu soube?
Ouvi um suspiro do outro lado da linha. Aguardei em silêncio enquanto abria a porta à minha frente correndo para me sentar no sofá. Encolhi as pernas abraçando os joelhos. Observei apenas Ana entrar e se sentar o mais afastada possível me dando espaço. Meu coração agora saltava desesperadamente esperando alguma resposta do outro lado.
– Dulce ..– A voz era calma. - Eu estou bem. Não se preocupe.
– Giovanna.. - A irritação tomou conta de mim. - É verdade? - Minha voz saiu quebrada. Anahí ficou em silêncio aumentando ainda mais minha ansiedade
– Sim. É verdade.– Respondeu em voz baixa e eu me senti fraca.
Um vento frio passou por mim trazendo náusea e ânsia de vômito. Meu coração batia lentamente e o oxigênio não conseguia entrar por minhas narinas. Senti minha visão escurecer mas lutei para permanecer acordada. Algo estava sufocando dentro do meu peito me fazendo sentir uma dor insuportável. Doía. Doía demais.
Mordi a palma de minha mão concentrando toda a dor que sentia ali. As lágrimas vieram tão facilmente, tão avassaladoras que eu nem me esforcei para travá-las. Eu precisava colocá-las para fora. Eu precisava chorar e no momento não me importava se ela presenciaria aquilo ou não. Soltei tudo o que vinha reprimindo durante todo aquele tempo. Ali, naquele momento, eu me permiti ser fraca. Permiti mostrar todo o meu sofrimento. Chorei como a criança que sempre evitei ser; uma criança frágil.
Solucei algumas vezes até que consegui me controlar um pouco e falar alguma coisa.
– C-como? - Funguei. - Você parecia tão bem. Você estava bem. - Disse por cima do choro e ouvi uma risada fraca.
– E você dizendo que eu não era uma boa atriz.
– Onde você está? Onde é essa clínica? - Limpei as lágrimas rapidamente.
– Você não vai vir aqui.
– Eu vou sim. - Alterei a voz. - Eu preciso saber como você está.
– Não, você não vai!– Gruni. - E já disse que estou bem. Você não pode largar tudo por minha causa, Dulce. Eu sei o quanto está ocupada e sei dos seus projetos. Eu não quero que você perca seu foco.
– Você não entende. - Minha voz estava embargada pelo choro que não conseguia controlar. - Isso tudo é minha culpa.
– Nunca mais diga isso está me escutando?– Senti a voz falhar. - Eu sou a única culpada disso tudo. Eu sempre fui fraca e egoísta com você, com minha família, com todo mundo.– O fungado denunciou o choro.
– Mas eu podia ter evitado isso tudo. Eu podia ter ficado ao seu lado. Eu podia ter sido menos orgulhosa..
– Como Dulce?– Uma risada baixa superou o choro. - Por favor, pare de falar besteiras e pare de se culpar. Eu afastei você, se esqueceu? Eu era a única que podia me ajudar e é isso o que eu estou fazendo. Agora eu estou bem. Eu vou ficar bem.
– T-tem certeza? - Tentei falar em meio aos soluços. - Estão t-t-tratando você b-bem? Você está comendo e dormindo d-direito?
– Pare de chorar, meu amor.– Pediu com a voz embargada. - Eu juro que estou bem. Eu juro que estão me tratando bem.– Um silêncio prevaleceu durante alguns segundos enquanto tentava parar de chorar. - Quero te pedir uma coisa.– Escutei sua voz baixa. - Promete que não vai vir atrás de mim.
– Não posso. - Fui firme.
– Eu não quero que você venha aqui, Dulce.– Disse dura.
– Não importa. Nunca mais prometo nada estupido para você. - Cuspi.
– Isso não é estupido.– Retrucou. - Apenas continue sua vida sem se preocupar comigo.– Ficou em silêncio. - Não faça isso.
– Vou tentar.
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FERNANDAAYD : Que bom que vc esta acompanhando. E obrigada pelo elogio mas acho que ainda estou em processo de desenvolvimento. Sim eu geralmente posto todos os dias ou quando dá.
Autor(a): portisavirroni
Este autor(a) escreve mais 3 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
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"Estou condenada se eu fizer e condenada se não fizer. Então, estou aqui para brindar no escuro ao final da minha estrada. Estou pronta para sofrer e pronta para ter esperança. É um tiro no escuro mirando direto na minha garganta, pois buscando pelo paraíso, encontrei o demônio em mim..." ************** Estreitei mais os olhos fitan ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 5
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fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21
Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★
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fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23
Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?
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candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37
Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.
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fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33
Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.
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Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49
To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!