Fanfics Brasil - Capítulo 26 My world was always you ( portinõn) finalizada

Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde


Capítulo: Capítulo 26

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"Um dia desses, eu vou acordar deste sonho ruim. Um destes dias, eu rezo para que eu supere você. Um dia desses, vou perceber que eu estou tão cansada de me sentir confusa. Mas por enquanto há uma razão para que você ainda esteja aqui no meu coração..."


*************


A respiração pesada em meu ouvido me fazia arrepiar enquanto as mãos de pianista vagavam pelo meu corpo em uma caricia quase imperceptível. A cena parecia longínqua, mas as sensações tão reais que despertei ofegante ainda sentindo o toque em minha pele. Pisquei algumas vezes levando a mão ao coração disparado, a saliva acumulada em minha boca trazendo a recordação do recente beijo.


- Filha?


A voz de minha mãe me puxou de vez do sonho que ainda me encontrava. Suspirei caindo de volta nos travesseiros puxando o edredom cobrindo até a cabeça. Como fazia para voltar pro sonho?


Gruni pelo meu desejo. Era para eu esquecê-la, não desejá-la, mas ficava impossível quando surgia em meus sonhos, durante a madrugada. Podia sentir minha pele queimar onde, antes, seus beijos eram depositados. Me encolhi sentindo o corpo vulnerável ao lembrar do toque sutil das pontas dos dedos.


- Dulce!


A voz levemente irritada me fez sentar assustada. A cortina foi puxada com brusquidão fazendo os raios de sol irritarem meus olhos. Minha mãe parecia acelerada e eu não tinha um pingo de vontade de acordar para o dia.


- Temos reunião na gravadora, prova de figurino, leitura de roteiro, entrevista na radio, sessão de fotos e..


- Jantar com o Ucher. - Completei coçando a cabeça.


Minha mãe havia repetido minha agenda umas trezentas vezes durante a semana e mesmo assim parecia que deveria repetir mais. Na verdade eu não estava ligando para nada. A correria com os trabalhos me causava tédio.


Bocejei me levantando e ignorando o bufar da mulher em minha frente enquanto me dirigia ao banheiro.


- Você realmente acha que vai dar pra jantar com Ucher hoje? Já viu as inúmeras coisas que tem para fazer?


Revirei os olhos. Não sabia o que minha mãe queria: se eu ficasse feliz com o sonho de namorado adolescente, ou solteira e focada no trabalho. Uma hora incentivava, outra parecia detestar a ideia.


- Mãe, fica tranquila. - Me apoiei na pia do banheiro me olhando no espelho. - Vai dar tudo certo.. - Suspirei me encarando.


Podia sentir uma caricia invisível me deixar a flor da pele, os olhos azulados bem marcados surgindo em minha visão assim que fechei os olhos me rendendo à sonolência. A névoa era forte e o beijo na nuca fez meu ventre revirar. Podia sentir minha respiração se tornando ofegante, mas compassada. O ambiente se transformando em outro de uma maneira repentina e bizarra. O sol brilhava no céu azul e podia ouvir as ondas batendo contra as rochas. Gaivotas cantando ao longe e mordiscadas gentis sendo distribuídas em minhas costas.


A batida violenta na porta do banheiro me sobressaltou matando novamente a alucinação que estava tendo. Olhei minha mãe sentindo o sangue sumir de meu rosto, ela parecia no minimo revoltada.


- Lá embaixo em 15 minutos! E nada de dormir. - Falou alto e autoritária sumindo de minhas vistas.


*************


- Ai meu Deus, os bolinhos!


Minha atenção foi arrancada da tv que passava mais um episódio de friends indo parar sobre a loira correndo até a cozinha. Naquele momento eu podia sentir o cheiro de fumaça e os xingamentos que chegavam até a sala me confirmavam que os cupcakes haviam sido torrados.



Suspirei me levantando do sofá contando os passos até a entrada da cozinha americana. Angelique tossia algumas vezes tentando dissipar a fumaça com um pano de prato. Me aproximei dando uma olhada nos pequenos carvões grudados no tabuleiro e ri.


- Não tem graça, Dulce! - Angel bronqueou fazendo a riso crescer e se transformar em uma gargalhada. - Okay, suspende a bebida.


- Nem pensar. - Falei entre risos levando a garrafa da vodka doce até os lábios tomando um pequeno gole. - Seu comportamento lesado não tem nada haver com meu estado de embriaguez. - Retruquei brincalhona indo até a janela me sentando no parapeito.


- Isso tudo é culpa sua. - A voz melódica me fez olhá-la. - Se me ajudasse o lanche já estaria pronto e nada teria queimado. - Jogou os cupcakes no lixo e o tabuleiro na pia ligando a torneira.


- Eu disse pra pedir comida. - Dei de ombros balançando as pernas no ar. - Se me ouvisse nada disso teria acontecido. - Beberiquei mais do liquido vermelho.


- Cala a boca, Savinõn. - Ri da estupefação na voz da loira a fazendo sorri junto e se aproximar de mim. - Tudo bem, você venceu. Pode pedir o que quiser. - Abriu os braços.


- O que quiser? - Levantei uma sobrancelha maliciosa.


Angelique arqueou as sobrancelhas de maneira confusa me divertindo. Ela havia se tornado quase como minha segunda pele. Meu braço esquerdo, uma verdadeira irmã mais velha.


Era pra ela que eu corria quando as coisas se tornavam difíceis. Era ela quem fazia de tudo para eu encontrar minha sanidade entre tudo o que vinham acontecendo em minha vida.


- Reformulando. - Angel pairou as mãos no ar. - Escolha sua comida que eu vejo o que posso fazer. - Ri enquanto a garota falava, aparentemente o álcool já estava trazendo resultados porque algumas caretas da loira me pareciam bastante engraçadas.


- Eu só quero salgadinho. - Falei risonha ganhando a loira entre minhas pernas.


- Não acha que está exagerando um pouquinho na bebida não?


A pergunta da loira me fez torcer a boca de leve. Sim, eu estava exagerando mas estava tudo sob controle. Meu querer estava sob controle.


- É a última. - Balancei a garrafinha entre os dedos. - Prometo.


Angel saiu dentre minhas pernas se apoiando no batente da janela olhando a noite quieta. A noite já era avançada, uma ou duas da manhã, não me importava na verdade. O fato era que estava passando meu final de semana ao lado de minha melhor amiga esperando o telefonema do meu namorado e pensando na mulher que me arrancava o ar dos pulmões. Minha cabeça meio que dava um nó, me achava errada, mas tão certa que nada fazia sentido. Os dias estavam me levando, me guiando até meu futuro e eu não tinha ideia do que ele me reservava.


Me encostei no batente da janela olhando o sorriso no céu, tomei mais um gole ouvindo Angel cantarolar alguma coisa.


- O que vamos fazer amanhã? - A olhei tentando sair da bolha masoquista que estava me enfiando.


- O que você quer? - Angelique perguntou mirando os olhos claros sem maquiagem em mim.


- Não sei, a casa é sua. - Ri disfarçando o conformismo chato que sentia.


- Não, Dul. - Ela balançou a cabeça. - O que você está querendo, por que tem agido assim indiferente a tudo? Por que quer sempre fugir para festas ou se isolar?


Soltei a respiração voltando a olhar o céu. Eu só queria me encontrar. Por que a pergunta?


- Como assim? - Franzi o cenho.


 


- Você está mudada. Está.. - Pausou e isso me fez olhá-la. Parecia preocupada. - Está distante.


- Distante? - Perguntei confusa. - Estou aqui, não estou?


- E vive com a cabeça no mundo da lua. Ou quer participar de tudo, ou não se importa com nada. - Suspirei a fazendo suspirar também. - Só estou preocupada com você. Eu te conheço, sei que não está bem. Por que não tira umas férias?


Sorri da pergunta da loira. Férias era a última coisa que eu podia fazer no momento. E talvez fosse melhor assim.


- Não posso. - Encolhi os ombros. - Muito trabalho, eventos.. Você sabe.


- Sua saúde em primeiro lugar, Dulce. - Insistiu me fazendo grunir. - Só uma semana, que mal há?


Estava pronta para retrucar sobre o que faria se me afastasse da minha rotina, mas meu celular começou a vibrar cortando o assunto.


- Alô? - Atendi de imediato.


- Oi, Dul. Tudo bem? - Podia ouvir uma gritaria ao longe e a voz acelerada do garoto me deu a leve impressão de que a conversa seria curta.


- Tudo sim. Estou com a Angel. - Sorri para a garota que mandava beijos. - Mandou um beijo pra você.


- Mande outro pra ela. - Respondeu risonho. - Só liguei pra saber como você está. Não dá pra falar muito e daqui a pouco você dorme.


- Não, tudo bem. Só estava esperando seu telefonema mesmo. - Sorri fraco brincando com a garrafa em minha mão. - Volta quando?


- Não sei, não sei. Mas falta pouco.


- Falta.. - Confirmei olhando a Angel. - Cristopher?


- Oi? Baby, preciso desligar.


- Não, espera! - Disse urgente. - Estava pensando em ir pro litoral visitar minha família quando você voltar.


- Pode ser. Depois conversamos. - E o telefone ficou mudo.


Olhei pra garota que me olhava curiosa, ainda mantinha o celular na orelha. Desci do parapeito jogando o aparelho sobre a mesa e entornando o restante da vodka na boca tomando tudo em um só gole. Senti a cabeça girar.


- O que foi? - Ouvi a voz da loira ao longe.


- Acho que estou com sono. - Sorri esfregando as mãos no rosto.


Virei de novo na cama gigante.


- Tem certeza que está com sono? - Ouvi a voz de Angel resmungar ao meu lado. No minimo à estava incomodando, mas como ela estava assistindo televisão, não me importei muito.


- Inquieta. - Bufei me virando pra cima.


- Vou abaixar o volume, só feche os olhos.


Suspirei enquanto o som da televisão sumia. Permaneci com os olhos fechados .


- Boa noite. - Sussurrei sentindo o corpo relaxar.


- Bons sonhos, Dul.


Podia sentir o quarto sumindo aos poucos, meus sentidos ficando altos. O som baixo do piano cortando o silêncio da manhã clara. Me encontrava em um corredor com paredes douradas, o cheiro de lírios trazendo uma paz sem igual para dentro do meu peito. Era assim nas noites nostálgicas, o sonho sempre me aliviava.


Segui o som da música calma até a última porta do corredor, o ateliê era vazio e suas paredes eram espelhos. Nada estava ali, mas o piano ainda soava como se me chamasse. Entrei no amplo cômodo olhando o reflexo que as paredes me mostravam. Meus cabelos estavam com grandes cachos soltos, batiam um pouco acima da cintura, a maquiagem era tão leve que quase não existia. Pude perceber uma porta ao fundo da sala, a cortina branca esvoaçava com o vento leve e aparentemente o som vinha dali.



Andei devagar atravessando a porta e me encontrando em uma varanda do segundo andar. Os raios de sol eram tão fracos que julgava ser a primeira hora da manhã.


- Você demorou.


O tom rouco me sobressaltou me fazendo olhar para o canto da varanda larga. Meu coração disparando e a respiração irregular ao encontrar a garota atrás do piano sorrindo discretamente enquanto olhava para as notas sendo tocadas.


- E-eu.. - Ofeguei e estremeci quando seus lindos olhos azuis com a maquiagem negra caíram sobre mim.


A sobrancelha perfeita arqueou me estudando divertida.


- Perdeu a fala? - O tom zombeteiro me fez corar. Continuei em silencio a olhando. - O que foi, Candy?


Anahí pausou a execução do instrumento se colocando de pé. O local agora era preenchido pelo cantar dos pássaros. Ao piscar os olhos a garota já estava ao meu lado. Dei um passo pra trás assustada. Sua pele estava reluzente como ouro, reparei que nos pulsos haviam largas munhequeiras que cobriam até metade do braço. Fiquei angustiada mesmo não sabendo o motivo.


- O que foi? - Sorriu sem graça me fazendo suspirar e relaxar em sua presença.


- Me abraça? - Pedi em um fio de voz e logo os braços magros estava a minha volta.


O perfume fresco logo me embriagou tornando a ar mais leve, sorri minimamente enterrando o rosto do pescoço pálido. Me sentia em casa, mas estranhei não sentir calor do corpo da outra.


- Está gelada. - Comentei baixo. Tudo começava a ficar muito distante.


- Preciso de você. - A voz rouca sussurrou me fazendo sair do esconderijo.


- Estou com você. - A olhei confusa.


- Não, não está.


Aos poucos um desespero estranho foi tomando conta de mim à ponto de me asfixiar. Em um momento Anahí estava na minha frente e no outro não havia mais nada. Não havia mais varanda, mais piano, mais manhã, apenas a escuridão.


Levantei ofegante me situando de onde estava. A televisão passava um desenho qualquer do Mickey e Angel dormia profundamente do meu lado. Sentia meu coração apertado e uma vontade de chorar insuportável.


- Foi só um sonho estranho. - Sussurrei tentando controlar a respiração.


Me levantei ainda tonta saindo do quarto. Precisava de água, precisava me acalmar.


Entrei na cozinha suspirando varias vezes tentando afastar a sensação ruim do sonho. Uma culpa parecia cair sobre minhas costas, mas não sabia do quê. Abri a geladeira pegando a garrafa d'água despejando o conteúdo no copo, bebi do líquido me sentando na mesa e embrenhando a mão livre nos cabelos os puxando de leve. O sonho era pra me tranquilizar, não para me afligir. Ao menos era o que vinha acontecendo durante quase todas as noites.


Algo começou a vibrar na mesa e percebi ser meu celular ainda largado por ali, mas logo voltou a ficar silencioso. Olhei para o relógio digital do microondas me mostrando o inicio das 4 da manhã. Pensei em Ucher, mas o pensamento foi logo dissipado. Ele não me ligaria às 4 da manhã nem se eu pedisse, mal ligava durante o dia.


Engoli em seco pegando o celular rezando para ser alguma mensagem promocional, mas a tela me mostrando as três ligações perdidas me arrepiaram por completo. Levantei soltando o aparelho e voltando a ficar ofegante. As lágrimas já chegando em meus olhos. Por que ela tinha que sempre aparecer? Por que simplesmente não desaparecia da minha vida? Eu podia muito bem conviver com meus sonhos e minha realidade sem a presença dela. Pelo menos era o que eu pensava.


 


O celular voltou a vibrar com o número desconhecido de sempre. Não queria atender. Todas as vezes que escapava um pouco do poço ela voltava para me afundar ainda mais, não era certo.


"Nunca deixei e nem vou deixar você."


Minhas próprias palavras gritaram em minha mente. Eramos amigas afinal, sempre juntas. Conheciamos todos os segredos uma da outra e sempre me ligava quando a insônia aparecia. Fraca. Eu era uma idiota fraca que me afogava em minhas próprias desculpas. Ela não me queria, simples. Fechei os olhos puxando meus próprios cabelos com força. A batalha dentro de mim não me deixava respirar.


Em um impulso peguei o aparelho atendendo a ligação, mas não disse nada. Escutei um suspiro do outro lado da linha e mais nada. Estava tensa e o silêncio absoluto não ajudava em nada.


Sentei no chão da cozinha apoiando as costas no balcão, nada me passava pela cabeça. Só o quanto eu estava fodendo com o meu coração.


- Obrigada.


O sussurro da garota me fez ceder, escutei um fugar baixo. Tranquei os dentes deixando a lágrima cair. Estava com raiva, mas ela era mais importante no momento. Estar com ela era algo que eu sempre fazia. E talvez, só talvez o sonho havia me lembrado da promessa de estar sempre presente.


Deitei no chão frio começando a ouvir o som do teclado e alguns resmungos de Anahí, letras aleatórias, notas cantadas, sabia que estava compondo. O nó ainda estava na minha garganta, mas o sono era maior. Depois de quase todas as lágrimas cairem a sensação de paz foi aos poucos voltando. O teclado ainda me acompanhava quando senti a boca carnuda na minha. A lingua doce abria caminho por entre meus lábios e o aperto na cintura me puxava pra mais perto.


A música suave foi substituida por suspiros altos, a boca vermelha largou a minha indo beijar meu pescoço com calma. Minha blusa subia levemente com os dedos leves. Senti as mãos me empurrarem gentilmente para trás e logo meu corpo estava deitado na cama. Os cabelos cobreados faziam cócegas no meu pescoço e uma das mãos carinho na minha cintura.


- Ninguém pode ter você como eu tenho. - Ouvi a voz rouca antes de sentir os dentes no meu lábio inferior. - Eu sei que você o beija querendo meus beijos. - Arrepiei respirando fundo enquanto a boca deslizava até minha orelha. - Sei que ele não te toca como eu. - Senti meu lóbulo ser sugado lentamente.


As chupadas pela minha mandibula me fez ronronar sentindo o corpo da garota em cima de mim. As mãos correndo pelo meu corpo exerciam a pressão certa. A boca foi descendo pelo meu pescoço de maneira sensual, mas quase não sentia as caricias.


- Não. - Choraminguei já sabendo que tudo iria sumir.


- Amo você.


Foi a ultima coisa que ouvi antes de tudo ficar preto e o balançar no meu braço ficar irritante. Pisquei os olhos me levantando do chão gelado e olhei para a loira com cara de ponto de interrogação. Suspirei irritada me levantando cambaleante depois de pegar o celular largado no piso.


- O que estava fazendo aí? - Angelique perguntou confusa me fazendo bufar.


Deixei a garota parada no meio da cozinha e indo direto pro banheiro. Precisava de uma ducha fria.


***********


Olhei pro relógio mais uma vez. Dez e meia.


- Desse jeito vou morrer de fome. - Falei olhando pro meu pai.


Faziam cinco dias que eu estava no litoral e eu dava tudo para não voltar para a Cidade do México. Cláudia se jogou no sofá com uma lata de cerveja na mão e eu daria tudo por algo do gênero. Voltei a atenção pro meu pai que coçava o cavanhaque.


 


- Talvez eu tenha errado em emprestar o carro pra ele. - Revirei os olhos de volta para meu pai estudando deitada no chão após ouvir o óbvio.


- Todo mundo sabe que nossa querido priminho não é o melhor motorista da família. - Cláudia zombou me fazendo rir. - Só você que confia o seu carro à ele, papai.


- Deem um crédito ao garoto.


- Demorei? - A porta se abriu revelando o garoto carregando as pizzas desconcertadamente.


- Até que enfim! - Pulei do sofá pegando duas caixas. - Tô no quarto. Cláudia, pega algo pra beber. - Disse por sobre o ombro.


- Mas já estou bebendo. - Respondeu confusa.


- Algo para eu beber. - Gritei já no alto da escada.


- Abusada! - Sorri com o grito de minha irmã.


A música estava em um volume agradável e as caixas de pizza se encontravam espalhadas pela cama. Algumas latinhas de cerveja decoravam o criado mudo e aquilo me trazia ânsia de vômito. Hora ou outra sentia o cheiro da coca cola em meu poder para inibir o da bebida amarga com a qual Cláudia se embebedava.


- Acho que vou apagar.


Ri da garota se afundando entre as cobertas.


- E eu vou ter que aturar esse seu cheiro horrível? - Debochei.


- Cala a boca, coisa chata. - Ri do amor da garota. - Se alguém me chamar, eu morri.


- Ah, pode deixar. Se quiser até mato você para parecer mais real. - Dei uma mordida na pizza.


- Não me faça dormir no quarto com a Dulce, porque estou correndo risco de vida. - Ri baixo assistindo minha irmã sorrir. - Boa noite, pirralha. - Segurou minha mão já se rendendo ao sono.


- Boa noite, Cláudia.


A respiração tranquila da garota me avisou que já havia caído no sono profundo. Me levantei calma já sentindo o cansaço do dia me assolar, peguei as latas do móvel as jogando na lixeira. Tirei as caixas de cima da cama as colocando sobre a poltrona, no dia seguinte eu descia com elas.


Me acomodei na cama após diminuir o volume do aparelho de som. A voz e violão me deixava tão calma. Na verdade o tempo que estava passando com minha família, longe das minhas obrigações, estavam sendo ótimos.


Ucher havia passado dois dias com a gente e logo partiu pra continuar a turner. Bruno e Cláudia eram meus verdadeiros anjos da guarda. Me faziam rir tão verdadeiramente que minhas bochechas doíam. Agradecia por ter pessoas tão especiais em minha vida, pessoas que se importavam comigo e que me viam como uma pessoa comum, não a menina estrela que cresceu em frente das câmeras.


Eu quase não sonhava mais com Anahí, e quando sonhava eram flashes aleatórios. Sorrisos, olhares, um jardim, violão.. Só que naquela noite foi algo mais forte.


Eu estava brincando com Bruno na praia quando a cena mudou rapidamente. Estava em um quarto escuro.


Pisquei algumas vezes me situando. Parecia que uma tempestade acontecia do lado de fora, relampagos iluminavam a janela e os trovões faziam as paredes tremerem. O abajur trazia uma luz fraca e instável.


Demorou para eu perceber estar sentada e encolhida contra a parede, soluços mudos saiam de minha garganta e a vontade de gritar por alguém morria em meus lábios. Meu peito doia, doia tanto que parecia sangrar por dentro.


Sangue.


Engoli em seco segurando a gilette e olhando meu próprio pulso ensanguentado. Por que estava fazendo aquilo? O desespero começou a tomar conta de mim, mas eu precisava acabar com a dor. Meus dedos tremiam rente a pele, limpei o sangue antigo vendo os cortes leves. A dor no peito piorando e a mente gritando tantas coisas que me faziam querer sumir. Ofeguei rasgando um pedaço ainda intacto do pulso. O sangue novo brotando me fazendo respirar melhor. Ali estava o alívio então? Perfurei a pele um pouco mais fundo arfando. Só que agora eu não estava mais no chão e sim de pé olhando Anahí em meu lugar. Seus olhos hora mostravam perturbação, hora inocencia. Fitava o pulso curiosa abrindo corte após corte.


Gritei sentindo a dor no meu pulso, mas quando eu olhava ele estava limpo. Sentia as dores de cada corte que Anahí abria em minha própria pele. Abaixei rápido arrancando o instrumento perigoso das mãos da garota urgentemente. Só então os olhos sem vida caíram em mim.


- Candy? - Perguntou infantil e confusa.


- Anie, pelo amor de Deus. O que está fazendo? - Solucei a segurando pelos ombros.


- Desculpa, eu precisava fugir. - Disse amolecendo.


- De quê? - Minha voz saiu quebrada.


- De tudo.


O barulho do celular tocando me fez acordar suando. Cláudia ainda dormia e meus soluços não à atrapalhavam. O sol já estava alto do lado de fora o que me avisava que já passava das dez. Peguei o celular tentando me controlar, mas gelei ao ver o nome de Maitê piscando no visor. Atendi quase desesperada esperando a pior noticia possível.


- Mai? O que foi? O que aconteceu? - Ofeguei apreensiva pela resposta.


- Anahí saiu da reabilitação! - Disse animada me fazendo congelar. - A gente vai marcar pra comemorar. Nada demais, acho que um jantar entre amigas já está bom. Você está dentro?


 



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Autor(a): portisavirroni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21

    Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★

  • fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23

    Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?

  • candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37

    Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.

  • fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33

    Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.

  • Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49

    To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!


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O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.




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