Fanfics Brasil - Capítulo 36 My world was always you ( portinõn) finalizada

Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde


Capítulo: Capítulo 36

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"Confie em mim, você vai ficar bem. Eu preciso de sua confiança apenas para esta noite..."


*********


Pisquei com a iluminação forte no cômodo branco. O silêncio absoluto e cheiro de medicação me deu uma noção imediata de onde eu me encontrava. Umedeci os lábios ressecados tentando abrir mais os olhos. O par de olhos cor de mel que encontrei pareciam extremamente preocupados. A barba castanha por fazer envolvendo os lábios crispados me deu uma sensação gostosa. Uma sensação de estar em casa.


- O que você está fazendo aqui?


Indaguei com a voz grogue para papai que se mantinha de pé e com os braços cruzados sobre o peito ao lado da porta do quarto. Tentei sentar na maca e senti o leve incomodo nas costas de minha mão onde encontrei a agulha intravenosa me passando o que julguei ser soro.


- Cuidando de você. – O homem respondeu baixo e sério se aproximando. – Você está sentindo alguma coisa?


Pisquei mais uma vez afastando os olhos do moletom preto que o homem usava. Minha visão permanecia precária, manchas pretas flutuavam em meio ao branco das paredes.


- Um pouco tonta. - Suspirei apoiando as costas no travesseiro. - O que aconteceu? Como você chegou aqui?


Papai descruzou os braços e segurou a barra de ferro da lateral da cama. O ar saiu pesado pela boca rosada como se houvesse acabado de percorrer uma maratona.


- Pedro me ligou e eu estava na cidade com sua mãe. - Seu tom foi calmo.


Meus olhos estalaram para meu corpo constatando as roupas que eu lembrava estar usando quando tudo ficou escuro. O que me levou ao pensamento de que eu não fiquei apagada por muito tempo.


- Que lugar é esse? - Minha voz saiu mais grossa e senti a garganta arranhar.


- A enfermaria do hotel. - Meu pai pôs os dedos em meu ponto de pulso no pescoço e em seguida em minha testa. - A gente vai voltar pra casa e te levar pro hospital, tudo bem?


- Não. - Bufei tentando passar segurança ao homem. - Não precisa. Eu estou bem.


Papai voltou a cruzar os braços e sua boca se contorceu como se não adiantasse o que eu falasse. No mesmo instante a porta se abriu revelando minha mãe sendo acompanhada por uma senhora rechonchuda de pele escura vestindo um uniforme azul bebê.


- Graças a Deus. - Minha mãe se adiantou me envolvendo em um abraço cuidadoso. - Como você está? - As mãos quentes seguraram meu rosto e não pude deixar de sorrir dos olhos castanhos fitando os meus.


- Eu estou bem. - Garanti ainda sorrindo. - Sério. Está tudo bem.


- Já falei com Pedro. Estamos indo para a capital agora mesmo.


- Mãe, não precisa. - Dispensei o aviso calmamente enquanto a mulher no uniforme retirava a agulha de minha mão. - Diz, por favor, à minha mãe que não precisa. - Sussurrei para a senhora que riu baixinho.


- Me desculpe, senhorita. Mas é melhor que vá fazer alguns exames. - As mãos abraçaram a minha carinhosamente e o sorriso terno me fez calar qualquer protesto. - A propósito, minha neta é uma grande fã sua. Não posso correr o risco do ídolo dela ficar doente, certo?


Choraminguei manhosa enquanto minha mãe trocava um olhar com meu pai.


- Okay. - Resmunguei me sentando na beirada do colchão fino. - Vocês venceram.


- Pelo mau humor, até parece estar boa. - Papai prendeu o riso quando meus olhos miraram os seus. - Calei.


Balancei a cabeça rindo fraco e desci da cama. Minhas pernas vacilaram por um segundo e tive que me apoiar de volta na cama quando o quarto começou a girar.



- Dulce? - Ouvi minha mãe no mesmo instante que as mãos delicadas me seguraram. - O que foi?


Respirei fundo fazendo esforço para voltar a abrir os olhos. O quarto ainda girava, mas meus pés pareciam bem fixos no chão.


- Só tontura. - Respondi baixinho.


As mãos delicadas foram substituídas pelas grandes de papai que me pegou no colo com facilidade. Não fiz questão de olhar a vista, me estirei no banco traseiro cobrindo os olhos com um braço enquanto os dois adultos conversavam sobre algo que não me incomodei em prestar atenção. A dor de cabeça já havia ido embora, mas a sensação incomoda nas têmporas ainda reinava.


A palavra internação me gelou da cabeça aos pés, mesmo o Doutor de pele rosada e cabelos grisalhos avisando que aquilo era apenas um procedimento seguro para a bateria de exames.


Eu lutava contra o sono para manter os olhos abertos. Minha mãe andava de um lado para o outro falando no aparelho celular e o barulho dos dentes de papai mastigando salgadinhos no sofá de visitas era a única coisa além do zunido que era a voz de minha mãe. A televisão muda exibia um noticiário local quando o Sol desapareceu dando seu lugar à Lua.


Eu já estava quase apagando quando a batida fraca na porta foi ouvida. Estreitei os olhos para o garoto que passava pela porta meio confusa com a situação.


- Hey. - O sorriso fraco nos lábios finos. - Como você está?


Pisquei algumas vezes enquanto Ucher se inclinava depositando um beijo leve em minha testa.


- Bem. - Respondi rouca. - O que.. - Balancei a cabeça tentando me concentrar no fato presente. - O que você está fazendo aqui?


Ucher torceu a boca escondendo as mãos nos bolsos da calça jeans escura. A troca de olhares entre ele e meu pai não me passou despercebida.


- Foi eu que avisei. - Meu pai se pronunciou ao notar meu olhar acusador. - A gente conversa sobre isso depois, pode ser?


Olhei para o garoto ao meu lado que ergueu os ombros minimamente como se fosse inocente. Fechei os olhos respirando fundo e voltando a me deitar no travesseiro de maneira preguiçosa. Os segundos pareciam minutos, e os minutos, horas. Em determinada conversa entre basquete e carros, eu dormi acordando com a caricia leve de minha mãe nos meus cabelos. Me espreguicei sonolenta encontrando o mesmo doutor de pele rosada. O óculos quadrado de armação grossa enfeitando os olhos verdes e um sorriso terno em minha direção.


- Olá. - Suspirei me sentando na cama hospitalar. - Eu já posso ir embora?


O homem mais velho riu baixinho sentando em uma banqueta alta ao meu lado. A prancheta simples nas mãos gorduchas.


- Sim. Você pode sim. - O homem respondeu calmo. - Mas precisamos conversar primeiro.


Franzi as sobrancelhas olhando os três rostos familiares na sala. A sensação fria na boca do estômago sinalizando o inicio do medo.


- Alguma coisa errada, Doutor? - Perguntei mais urgente.


- Não. - O homem balançou os ombros em uma risada quase muda. - Sua saúde física é praticamente de ferro. Seus exames não acusaram nada.


- E o que causou o desmaio então? - Dessa vez foi minha mãe que se aproximou mais ganhando a atenção do doutorado.


- Exaustão. Pânico. - O homem deu de ombros. - É muito comum nessa idade. Dulce.. - O doutor se voltou para mim outra vez. - Faz quanto tempo que não tira férias?


Minhas sobrancelhas se arquearam surpresa tanto com a pergunta, como com a resposta que veio à minha mente. Olhei para a mulher ao meu lado outra vez antes de responder.


 


- Alguns anos? - Minha resposta teve entonação de pergunta e o homem acenou a cabeça compreensivo.


- O ser humano vive em transição. Sendo genérico no assunto, passamos da infância à adolescência. Da adolescência para jovem adulto e assim por diante. Mas essa não é minha especialização. Então vou precisar encaminhá-la. Tudo bem?


- Doutor. - Apertei os olhos fechados por dois segundos antes de encarar os verdes novamente. - Eu não estou compreendendo muito bem.


- Eu vou encaminhá-la à um terapeuta. - O homem assinou algo na prancheta. - E estou te afastando temporariamente do seu trabalho.


A folha assinalada foi entregue a minha mãe que já corria os olhos pelo papel branco.


- Mas eu não posso me afastar agora. - Franzi as sobrancelhas. - Eu estou fazendo um filme, novela e tenho shows marcados, gravações, premiações. - Enumerei quase desesperada.


- Exatamente por isso estou te afastando. - O homem se levantou da banqueta calmamente. - Depois dessa sua agenda corrida, vai haver outra, outra e outra. Ou você dá uma pausa agora, ou nunca vai dar.


Esfreguei as mãos no rosto tentando achar um argumento válido. A reviravolta no estômago voltando e as dores nas minhas juntas me fazendo estalar qualquer ponto do meu corpo quando as mãos quentes do homem seguraram as minhas.


- O que está sentindo? - O homem perguntou incisivo conectando os olhos verdes nos meus.


- Dor. - Puxei o oxigênio com dificuldade. - Falta de ar.


Minha resposta ganhou um sorriso suave do rosto rosado e uma das mãos quentes afagou paternamente meu rosto.


- É disso que estou falando, menina. - O homem falou comigo antes de levar os olhos para as pessoas atrás de mim. - Eu já passei na recepção. Vocês já estão liberados.


A quantidade de flashes que me atingiu ao sair do hospital me cegou momentaneamente. Senti a mão de alguém na minha enquanto outra segurava meu ombro. Abaixei o rosto como de costume deixando a mão gelada de Ucher me guiar pelo caminho que meu pai abria. Foi um alivio quando entrei no automóvel logo após Ucher e minha mãe trancou a porta. Joguei a cabeça contra o estofado do banco traseiro tentando estabilizar a respiração quando os dedos gelados de Ucher tentaram tocar os meus.


- Não me toca! - Me afastei do garoto irritada olhando meu pai pelo espelho retrovisor. - O que ele está fazendo aqui, Pai?


- Dulce! - Foi a voz de minha mãe que me repreendeu.


- O que é? - Perguntei mal criada enrijecendo no assento. - Vocês não sabiam que iria estar cheio de paparazzi na porta daquele lugar? Pelo amor de Deus! - Bufei. - Pai, por que ele está aqui?


- O produtor do Ucher sugeriu para a gravadora que seria bom se vocês fossem vistos juntos. - Meu riso descrente saiu em meio as palavras de meu pai.


- E ninguém imaginou que eu poderia querer ficar longe o suficiente de boatos, certo? - Mordi os lábios sentindo meus olhos embaçarem devido um pouco de lágrima. - Ótimo. - Conclui.


- Dul? - Ucher falou pela primeira vez, mas o ignorei olhando a cidade pela janela. - Can..


- Pare! - O cortei trancando a mandíbula. - Eu não quero conversar agora, muito menos quero que você me chame assim. - Fui grossa mesmo sabendo que meu ex-namorado não fosse exatamente o culpado.


O caminho até minha casa foi longamente silencioso. Ignorei a sala, seguindo para meu quarto na inútil tentativa de me afastar dos três que me acompanhavam. Mas minha mãe me seguiu deixando os dois no andar de baixo. Após alguns minutos, resolvi quebrar o silêncio enquanto encarava meu closet a procura de algo confortável para vestir após o banho.


 


- O que foi, mãe? - Suspirei cruzando os braços.


- Nós precisamos resolver isso. - A mulher sentou na minha cama. - Eu não vou te matar nesse ramo. - Estalei o pescoço esperando que continuasse. - Eu liguei para o seus avós.


- A senhora fez o quê?! - Franzi o cenho a observando encolher os ombros.


- Eu não acho uma boa ideia você permanecer aqui na capital.


- Ah, ótimo! - Puxei irritada uma toalha da pilha organizada. - Então é isso? Vai me dispachar? - Girei nos calcanhares quando ouvi a risada divertida da mulher. - Isso é sério? - Choraminguei.


- Você sempre gostou de ficar com eles, querida. Só estamos juntando o útil ao agradável. - Gesticulou. - Já pesquisei todos os hospitais de lá e os médicos também. Só basta você escolher. - Suspirei olhando para o teto decorado, talvez não fosse tão ruim assim. - Está considerando?


- Talvez. - Torci a boca chegando a conclusão de que eu realmente precisava de algum repouso. - Mas tenho uma exigência. - Olhei os castanhos que me encaravam ansiosos. - Não quero que saibam onde estou e, principalmente, não quero Ucher atrás de mim.


- Dulce, eu..


- Sinceramente, mãe! - A cortei. - A senhora sabe o quanto odeio esse marketing irreal!


Mamãe coçou a cabeça incomodada, o que me irritou ainda mais. Ela estava em qual lado afinal?


- Tudo bem.


Pisquei com a resposta curta.


- Tudo bem? - Perguntei confusa.


- Sim. - Se levantou caminhando em minha direção. - Arrume suas malas. - Os dedos finos colocaram uma mecha de minha franja atrás da orelha. - Vou ligar para o seu avô e pedir que venha te buscar.


- Eu posso ir sozinha. - Me desvencilhei da mulher para acariciar o cão que havia acabado de passar pela porta. - Hey, garoto. - Sorri me agachando na altura de Baylor.


- Você ainda está fraca. Não vou conseguir ficar sossegada te deixando pegar um avião sozinha.


- Hum. - Cocei a barriga do animal de estimação que já havia se esparramado pelo assoalho. - E o que a senhora sugere? Que ele venha até aqui e tenhamos uma reunião em família?


- Basicamente. - Ri sem humor com a resposta da mulher. - Seu avó e eu somos dois adultos, Dulce. Se é para o seu bem, a gente vai se entender.


- Isso soa muito irônico. - Me levantei enquanto o cachorro pulava em minha cama. - Mas quer saber. - Suspirei. - Tanto faz.


*********


"Pode fazer o favor de retornar minhas ligações?"


Alisei a tela do aparelho celular encarando a última mensagem de Anahí, sem saber ao certo o que fazer. A vontade de responder entrando em conflito com a vontade de simplesmente ignorar a insistência causava um desconforto em meu peito.


- Está com fome?


A voz de meu avô me despertou para o banco do motorista. Um sorriso de lado presenteava os lábios modulados pelo cavanhaque preto enquanto os olhos astutos permaneciam na pista. Havia me ausentado de toda a conversa entre meu avô e minha mãe, focando no jogo rápido de basquete com papai. Mas durante toda a viagem, meu avô analisou a lista de clinicas e médicos disponíveis que minha mãe havia lhe entregado.


- Não. - Suspirei me ajeitando no estofado do carona. - Só.. cansada.


Ignorei o olhar confuso do homem ao meu lado e fechei os olhos tentando organizar os pensamentos bagunçados.


 


- Tem certeza? Você não comeu nada durante a viagem. - Meu avô tornou a falar. - Abriu um novo restaurante no centro, perto do Tayles, e o tempero de lá é realmente muito bom.


Sorri fraco e girei a cabeça no encosto para olhar o homem atrás do volante.


- Eu não duvido disso. - Deixei um riso seco escapar. - Mas vamos deixar para depois, pode ser?


O aceno positivo foi minha resposta enquanto eu digitava uma mensagem para a pessoa que tomava conta de minha mente.


"Me desculpe não responder antes. Acabei de chegar em casa e não sei quanto tempo ficarei por aqui ainda. Eu aviso qualquer coisa."


Me arrependi de enviar o texto no exato momento em que a enxurrada de perguntas confusas e desesperadas começaram a chegar.


Um sorriso franco me surgiu assim que entrei na casa familiar. O cheiro de incenso suave impreguinava os cômodos como de costume. A saudação de minha avó sentada na poltrona clássica e o abraço forte de minha prima no meio da escada descarregou meia tonelada das minhas costas.


A entrada e saída de pessoas na casa colonial me dava sensação de aconchego. Risquei alguns nomes na lista repousada na mesa de madeira da sala de jantar e indiquei com a caneta o nome do local que o homem a minha frente deveria marcar minha consulta.


Duas consultas por semana. Foi o que a terapeuta e psiquiatra havia recomendado. A primeira se resumiu em perguntas e respostas simples. A segunda também. Assim como a terceira e a quarta. Perguntas e respostas simples. Simples e superficiais.


O problema em si não eram as perguntas da mulher baixinha de cabelos encaracolados. O problema era que eu percebia dar voltas e mais voltas em uma consulta de uma hora e meia, onde nada relativamente significante entrava em pauta. Muito menos se resolvia alguma coisa.


- Como se sente hoje, senhorita Savinõn?


Ouvi a pergunta me controlando para não revirar os olhos. Olhei para o relógio pendurado na parede. Nem havia começado ainda e eu já queria pular para fora daquela sala.


- Entediada. - Suspirei me recostando na poltrona verde musgo. - E a senhora?


A sombra de um sorriso perpassou os lábios finos da mulher que mantinha o óculos de leitura na ponta do nariz pequeno enquanto anotava algo em uma prancheta antes de me olhar.


- Muito bem. - Sorriu sincera retirando o óculos de grau. - Como foi o final de semana?


Suspirei outra vez esfregando as mãos em minhas coxas cobertas pela jeans clara. Sempre iniciava assim.


- Nada extraordinário. - Dei de ombros. - Na sexta, quando sai daqui, fui para a casa do meu primo com Priscilla. Assistimos uns filmes, bebemos e dançamos um pouco. No sábado acordamos já na parte da tarde, fui para casa e meu avô pediu pizzas. No domingo recebi alguns telefonemas e foi bom conversar com alguns amigos. E agora estou aqui. - Abri os braços forçando um sorriso.


Doutora Sullivan se levantou de sua cadeira rindo fraco e dando a volta na mesa que nos separava. Foi até uma estante recheada de livros parecendo procurar por algo.


- Eu prometi à minha sobrinha que levaria um bom livro de introdução à psicologia para que ela tivesse uma noção de como seria na faculdade, mas não consigo decidir entre História da psicologia moderna ou Os princípios de psicologia. - Franzi o cenho olhando a mulher que mantinha as mãos nos quadris enquanto encarava os livros. - O que você acha?


Engasguei em um riso quase descrente quando a mulher se virou para mim. A pergunta me soou cômica e ela me soou louca.


- Eu não faço ideia. - Respondi já não conseguindo segurar as risadas entrecortadas.


 


- Droga. - A mulher tirou as mãos dos quadris voltando a se sentar na poltrona de frente para mim. - Eu queria e não queria que ela fizesse o curso, mas ela está realmente interessada. - Pisquei tentando não rir da hiperatividade da mulher. - Eu tenho uma tara por William James. Queria muito que ela o lesse, mas eu tenho tanto ciúmes de emprestar esse livro. - Pausou apoiando um dedo no queixo pensativa. - Acho que vou emprestar o outro.


- Se a senhora acha melhor. - Ergui os ombros meio sem saber o que dizer.


- Sim. Acho. - Se levantou outra vez indo até um mini bar ao canto da sala. - O que gosta de beber, Dulce?


- Eu? - Arregalei os olhos a observando encher um copo com vinho. - A senhora está falando sério?


- Sim. - Ela sorriu outra vez voltando a minha frente e me estendendo o copo. - Todo mundo gosta de vinho.


- Eu.. - Franzi a testa olhando o copo estendido na minha frente. - Obrigada. - Agradeci antes de aceitar o que a mulher me oferecia.


- Viu? Todo mundo gosta de vinho. - Doutora Sullivan riu baixo. - Menos eu. Eu não gosto.


- Não? - Curvei um pouco a cabeça para o lado estranhando.


- Não. Prefiro uma cerveja, mas só depois do expediente. - Piscou e eu bebi do liquido escuro. Doce. - Bom?


A ouvi perguntar quando fechei os olhos apreciando o sabor.


- Divino. Qual o nome? - A encarei curiosa.


- Segredo. - Riu outra vez. - Sabe qual a diferença entre álcool e antidepressivos? - Neguei devagar a observando. – O álcool desestabiliza o seu ego, te deixa corajosa. É uma fuga para um nível de inconsciência consciente. – Pausou. - Já o antidepressivo te estabiliza. Te regula consertando os danos que devem ser reparados. - Umedeci os lábios sentindo o gosto doce do vinho buscando entender o que a mulher falava. - Estava pensando em tentar isso com você.


A última frase me pegou desprevenida e eu acabei derrubando um pouco do liquido do copo em minhas próprias pernas. O repousei na mesa ao lado da poltrona tentando ignorar os batimentos cardíacos contra meus ouvidos. Alisei minhas coxas outras vez procurando acalmar minha respiração que já estava ofegante quando a mulher se agachou a minha frente segurando minhas mãos.


- Dulce? - A voz da doutora parecia distante e eu já podia entender que eu estava começando a hiperventilar. - Dulce, está tudo bem. Se quiser não precisa. Você só tem que manter a calma. Está tudo bem.


- Não preciso? - Sussurrei puxando o ar escasso com afinco pelas narinas. - Doutora, a senhora realmente quis dizer que eu estou com depressão?


A mulher não precisou responder com palavras porque o sorriso fraco de lábios fechados já dizia tudo. Abaixei a cabeça mantendo os olhos fechados com força. Eu não queria me mover e voltar para a conversa, muito menos para minha vida. Como aquilo havia acontecido? Minha cabeça instantaneamente foi de encontro a Anahí que havia passado por aquilo. Eu não podia estar assim agora, podia?


- Eu não posso. - Ofeguei olhando a mulher que se mantinha agachada a minha frente. - Por que?


- As pessoas variam de personalidade e reações. Algumas tendem a guardar, outras extravasar. Você retêm tudo e esse é o pior estágio. Chega uma hora que seu consciente não aguenta mais e acontece de atacar seu sistema nervoso, assim como o imunológico. As dores, enjôos que você sente são reais, mas isso surge a partir de um problema emocional. São psicossomáticos.


Enquanto a mulher ia falando minhas pernas se contraiam mais. Meus braços pareciam pesar cinco quilos e meu estomago revirava mais do que tudo. Eu queria que aquilo acabasse de uma vez e que eu pudesse finalmente voltar para minha vida agitada normalmente.


 


- Se eu aceitar o remédio, isso vai passar? - Massageei meu ombro olhando a mulher sorrir satisfeita.


- Precisamos testar. É uma questão de tempo. - Respondeu calma e eu concordei com a cabeça. - Não fique nervosa. Mas não tem só isso.


- Não? - Podia sentir meu coração se descontrolando outra vez.


- Não. É só uma ajuda para você dormir sem que os pensamentos atormentem teu sono. - Balancei a cabeça tentando entender a mulher. - Pode ser?


Concordei com a cabeça outra vez antes da doutora recitar alguns conhecimentos técnicos que eu me esforçava para entender. Até que a consulta chegou ao fim e daquela vez, não havia sido nada simples ou superficial.


**********


As estrelas se espalhavam pelo céu noturno enfeitando o azul escuro. A luz da lua cheia vigiava a cidade parcialmente acordada de Acapulco. Fechei os olhos deixando um sorriso pequeno brincar no canto de meus lábios sentindo a brisa morna contornar meu corpo, fazendo minha franja esvoaçar levemente.


As palavras da psicóloga ainda ecoavam em alguma parte da minha cabeça, mas de alguma forma, os pensamentos não me atingiam como antes. O raciocínio lento me ajudava a aproveitar do clima ameno da cidade e expulsar qualquer coisa negativa que me derrubasse de volta ao poço.


Passos na velha escada de ferro foram ouvidos quando voltei o olhar para as constelações tentando achar desenhos mais nítidos nas figuras abstratas. A respiração forte substituiu os passos pesados e inclinei a cabeça para trás esperando encontrar Priscilla ou meu avô, mas a visão de ponta cabeça de Anahí ofegante me confundiu.


- A bipolaridade do teu cabelo ainda vai me enlouquecer. – Comentei espontânea me referindo aos cabelos agora castanhos escuros da mulher. – O que está fazendo aqui? – Me sentei no terraço a olhando.


- Boa noite, para você também. - O cumprimento da garota saiu junto com uma risada divertida. - Estava na cidade e resolvi te ver. Tudo bem? - Perguntou se sentando no chão ao meu lado apoiando os braços cansados nos joelhos.


- Tudo.


Minha resposta curta e calma fez as sobrancelhas grossas franzirem. Ignorei a careta de Anahí, voltando a me deitar no chão e mirando as estrelas com um pouco mais de interesse.


- Tudo? - Anahí perguntou com a voz esganiçada.


- Sim.


Pisquei encontrando um peixe irregular nas formas abstratas, mas logo o perdi quando senti Anahí se deitar ao meu lado. Os braços cobertos por um cardigã preto encostando no meu despido pela regata branca.


Observei a mão pálida de Anahi se erguer e apontar para um conjunto de estrelas e neguei com a cabeça me recordando de que sempre brigávamos por aquele gesto.


- Vejo uma bota.


bufei deixando minhas mãos entrelaçadas sob meu próprio estômago.


- Não mesmo. - Discordei olhando o conjunto apontado. - É um peixe.


- Você está sem os seus óculos. - A voz de Anahí me fez revirar os olhos.


- Você não muda seus argumentos? - Perguntei retórica. - Abaixa essa mão. Não faz bem apontar para o céu estrelado. - Puxei o braço de Anahí para baixo escutando um resmungo manhoso.


- Sempre chata.


O sussurro me fez olhá-la indignada e logo os lábios fartos se abriram em um largo sorriso mostrando a carreira perfeita de dentes. Os olhos azuis brilhantes me fizeram questionar o porque de eu estar fingindo indignação. Ah sim, o "chata".


- Eu não sou chata. - Respondi baixo e altiva. - Você que é descabeçada.


- Agora me ofendeu. - A garota encenou uma careta triste e eu neguei com a cabeça tentando segurar o sorriso. - Você não reclamava quando eu te chamava para jogar balões de água daqui de cima.


Sorri com a lembrança. Nossas férias, só eram férias quando nos reuníamos no terraço de minha avó e jogávamos os balões que enchíamos de água na rua de baixo. Havíamos levado alguns cascudos e até ficado de castigo muitas das vezes quando alguma pessoa era atingida, mas a travessura valia a pena.


- Eu não reclamava porque eu não sou chata. - Bati palmas duas vezes comemorando. - Ponto para Dulce! E não revira os olhos.- Avisei com antecedência ganhando uma risada seca ao meu lado.


- Posso nem mais revirar os olhos? – Respondi negativamente com um barulho nasal. – Tudo bem. – A mão quente segurou a minha delicadamente brincando com meus dedos. – Agora me diga; como você está?


Olhei para nossos dedos entrelaçados prestando atenção na forma como o toque era quente e macio, agradável e completo. Suspirei calmamente sentindo a paz pairando a minha volta. Estava tudo bem.


- Por incrível que pareça. – Minha voz saiu mais rouca que o normal. – Está tudo se encaixando.


Desviei o olhar de nossas mãos unidas para encontrar os olhos de Anahí que brilhava e me encaravam com certo sentimento que eu não conseguia descrever. Eu poderia dizer que era felicidade por causa dos lábios levemente repuxados ou satisfação ao julgar pelo brilho intenso nas íris. Mesmo na luz precária da noite, eu podia encontrar os pontinhos negros na imensidão azul a minha frente e aquilo fazia acalmar qualquer tempestade que estivesse no nosso caminho.


- Eu fico feliz com isso. – A voz de Anahí saiu baixa e quando voltou a falar, o tom não passava de um sussurro em sinal de segredo. – Eu tenho sentido muito a sua falta.


Meus lábios me traíram se estendendo até que o sorriso largo estivesse pregado em minha boca. Mordi o inferior quando a garota puxou nossas mãos em direção ao seu rosto depositando um beijo demorado em meu pulso.


- Mesmo? – Perguntei absorta ganhando um acenar de cabeça de Anahí.


- Eu inventei de vir aqui porque não conseguia mais ficar longe de você. – Anahí explicou no sussurro enquanto as borboletas se agitavam em meu estômago. – Eu não tenho nada para fazer aqui, além de ver você.


Deixei meu polegar brincar no queixo desenhado da morena me aproveitando do silêncio agradável na presença perfeita. Subi a caricia para os lábios rosados que se mostravam macios ao meu toque. Os olhos se esconderam atrás das pálpebras quando deslizei meus dedos pelo rosto de porcelana, afagando a pele lisa com carinho.


Às vezes confundimos uma paixão enlouquecedora com amor. Atração. Aquela coisa que te dá agonia e desespero em relação à um outro alguém, é possível sentir isso sem haver amor. Na verdade, muito provável. Ao contrário do amor, que te proporciona o céu e o inferno. A paz e a turbulência. O amor te enlouquece, mas também te coloca no eixo. No seu eixo perfeito.


- Eu quero muito te beijar. – Confessei fazendo o sorriso de Anahí aparecer junto dos olhos astutos.


- Não sei porque está demorando tanto para fazer isso.


Encarei o sorriso a minha frente com o coração aos pulos. Era o meu sorriso preferido, o rolar de olhos que me ganhava todas as inúmeras vezes que fazia. Ergui o tronco do chão me esticando o suficiente para colar nossos lábios. O contato macio e simples fazendo minha pele se arrepiar na noite quente. Encostei a testa na de Anahí sentindo os dedos da musicista afagar uma de minhas bochechas quase que imperceptivelmente.


- Dorme aqui comigo?


A pergunta saiu de meus lábios antes mesmo de meu cérebro raciocinar. Meus olhos fitavam os azuis com seriedade e a demora de resposta de Anahí já estava fazendo meu coração bater mais lento.


Eu queria que ela ficasse. Ficasse e nunca mais saísse do meu lado porque tudo o que eu parecia precisar, a minha paz, estava nela. Pensei em fazer o pedido mais uma vez, porém sua resposta veio antes:


- Com certeza.


 



************



CANDY 1896 :Continuei, bem creio que Dulce estava guardado muito de seus sentimentos pra sim, não é. Porém acho que Anahí sempre será o porto seguro de Dulce


 



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Autor(a): portisavirroni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21

    Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★

  • fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23

    Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?

  • candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37

    Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.

  • fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33

    Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.

  • Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49

    To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!


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