Fanfics Brasil - Penúltimo capítulo My world was always you ( portinõn) finalizada

Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde


Capítulo: Penúltimo capítulo

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"Pois você é tudo o que quero, você é tudo o que preciso. Você é tudo..."


***********


Uma vez li uma frase de Jay Asher que dizia o seguinte: "Tudo o que a gente realmente possui... é o agora."


Instante.


Momento.


Agora.


Uma característica engraçada do agora é que ele possui três estágios distintos; Ele começa com uma expectativa de futuro que sem você perceber já se torna presente e se você piscar os olhos já virou passado. O agora é rotativo, mutável, instável. E se você não souber aproveitá-lo e senti-lo, ao contrário de viver, você irá apenas existir naquele momento.


"Se o tempo chegou ao fim hoje e deixamos muitas coisas por dizer, se pudéssemos voltar atrás, o que iríamos querer mudar?"


Uma lição que consegui tirar entre as filosofias de papai sobre viver intensamente e a literatura de Jay Asher, que de início me foi imposta como trabalho, mas que acabou sendo minha âncora nos meus momentos obscuros, foi que todo agora é precioso. Ele pode ser leve como uma brisa e parecer não fazer muita diferença enquanto estiver passando, mas também pode ser violento como um tornado; invadindo; destruindo; cravando marcas permanentes em sua vida que nem mesmo o tempo pode ser capaz de te fazer esquecer.


Porém, independente de ser um sopro ou ventania, todo agora é decisivo. Só que é o nível de importância das decisões que tornam o agora tão especial, tão.. crucial.


"Agora é a hora de se arriscar. Vamos lá, nós temos que nos defender, o que temos a perder? As escolhas estão em nossas mãos."


Procurei pelo frasco laranja em minha bolsa tomando nota do horário; Angelique estava atrasada. Uma pessoa que não se importa com um agora crucial provavelmente não ligaria para o atraso de três minutos e contando, ao contrário de mim, que já sentia as dores da ansiedade se apoderar de meu corpo.


Dois comprimidos desciam por minha garganta quando a loira entrou no meu quarto. A boca vermelha entreaberta denunciava a respiração ofegante que deduzi ser da rapidez que poderia ter corrido as escadas para não me deixar esperando por muito tempo.


- Me desculpe. Eu juro que tentei chegar mais cedo, mas a cidade está um caos. – Sorri me deixando ser embalada pelo abraço carinhoso da minha amigas. – O que houve? Parecia nervosa no telefone.


"E nós podemos encontrar uma maneira de fazer qualquer coisa, se tentarmos."


Pousei minhas mãos no colchão observando a loira se livrar da alça de sua bolsa e jogá-la sobre a cama. Os olhos azuis fixos em mim exalavam um nível de preocupação evidente que eu não queria que ela sentisse.


- Dulce?


A voz de Angel me retirou da vagueza que minha mente começava a exercer e meu coração disparou. Disparou de medo, disparou de nervosismo, disparou de amor. Pisquei e os olhos azulados de Anahí entraram em meu foco de visão, podia sentir um sorriso tímido brincar em meus próprios lábios.


- Anie me fez uma proposta. – Minha voz saiu falhada e eu precisei limpar a garganta. – Angel... – Olhei os olhos azuis que me aguardavam sem ao menos piscar. – Ela me pediu em namoro.


"Viva como se não houvesse amanhã, porque tudo o que temos está aqui e agora."


Ao final da frase não me segurei e sorri. Não um sorriso tímido ou fraco, sorri largo iniciando uma risada descrente que chacoalhou meus ombros. A expressão de surpresa surgiu no rosto de Angelique tão rápido quanto foi substituído por um gritinho animado.



- Ai meu Deus! Não acredito! – A loira pulou no colchão batendo palmas duas vezes. – Como foi isso? O que você respondeu?


Entrelacei meus dedos os apertando nervosamente ao me lembrar do motivo pelo qual minha barriga parecia em queda livre.


-Namoro?


Minha voz saiu descrente diante ao olhar fixo de Anahí. Ela parecia tão segura de si, tão certa do que estava propondo.


- Sim. – Sua voz saiu forte, mas os azuis de seus olhos vacilaram. - Não consigo mais viver nesse impasse, Dulce. Se você não quiser tudo bem, mas nesse caso eu..


- Eu aceito. – A cortei de imediato observando seus olhos voltar a brilhar outra vez.


- Você.. – Anahí pausou deixando um sorriso invadir seus lábios. – Você aceita?


Balancei a cabeça em concordância e mordi o lábio inferior na tentativa de impedir o sorriso em meu próprio rosto. Já podia ver as lágrimas chegando aos olhos de Anahí quando ela me abraçou. Podia sentir o coração da mulher bater forte contra meu peito e o rosto afundado em meu pescoço diante ao nosso abraço forte.


O ato aqueceu meu corpo e algo foi encaixado no meu coração parcialmente machucado. Juntas não eramos apenas duas pessoas diferentes, juntas eramos uma dentro de nossa própria bolha que sempre nos acompanhou. Pertencíamos uma a outra, já estava implícito desde o início e naquele momento apenas estávamos deixando explícito.


- Anie.. – Sussurrei nos cabelos castanhos recebendo um resmungo como resposta. – Como vamos fazer isso?


Anahí se afastou dos meus braços colocando meu cabelo delicadamente para trás parecendo memorizar cada centímetro do meu rosto.


- Preciso que você tenha certeza disso. – Ela fungou e eu franzi a testa confusa. – Quero marcar uma reunião com meu pessoal, com meu empresário principalmente.


- Você quer.. – A pergunta morreu em minha boca.


- Quero assumir a gente. – Seus dedos acariciavam meu cabelo suavemente. – Por isso preciso que você tenha certeza.


Meu estômago revirou. Não que eu já não houvesse cogitado aquela hipótese, mas ter aquela possibilidade tão próxima me causou calafrios. Os olhos de Anahí pareciam vidrados, embora firmes, se notava indícios de receio. E eu não conseguia descobrir se era receio pela minha decisão ou receio pelo que nos aguardava no mundo lá fora.


- A minha resposta continua a mesma, Anie. – Disse calma. – Só preciso conversar com algumas pessoas primeiro.


- Eu entendo. – Anahí suspirou ansiosa. – Farei a mesma coisa. – Os olhos molhados me encararam brilhantes e um sorriso nervoso surgiu por ali. – Eu te amo, Candy. Eu faço qualquer coisa por você.


***********


Angelique despejou o líquido da chaleira na xícara entre minhas mãos fazendo minha pele aquecer com a porcelana. Estávamos sozinhas em minha cozinha e meu estado variava entre estonteante e apavorado.


- Já conversou sobre isso com a sua mãe?


Soltei a xícara sobre o balcão para massagear minhas têmporas doloridas.


-Ainda não. – Olhei para os olhos azuis que me fitavam receptivos. – Na verdade eu estou com medo da resposta dela.


- Você não tem muito tempo, Dulce. – A testa de Angel franziu minimamente em preocupação. – Pelo que você me disse, Anahí saiu daqui decidida a resolver isso o quanto antes. – Bufei jogando a cabeça para trás. – Bebe esse chá.


 


- Não estou com vontade.


- Não perguntei se está com vontade, mandei você beber.


A melhor coisa do mundo é ter Angelique Boyer como se fosse minha irmã, a pior coisa do mundo é exatamente ter Angelique Boyer como se fosse minha irmã. Soltei um grunhido irritado antes de beber do líquido quente e sentir a agitação que preenchia meu corpo ir se dissipando.


Eu estava encarando a porta da geladeira pensando em tudo e absolutamente em nada ao mesmo tempo quando a voz da loira me chamou a atenção.


- E então. – A olhei. – O que você vai fazer?


Ergui os ombros tentando achar uma forma de começar seja lá o que eu deveria começar.


- Acho que falar com minha mãe é o primeiro e mais importante dos passos.


-Concordo. – Angel acenou com a cabeça relutante. – Mas quero deixar aqui a minha opinião. – Eu nada disse, dando espaço para que a mais velha concluísse o pensamento. – Não vejo o porquê se assumirem diante ao mundo agora. Vocês cresceram diante das câmeras e podem arrumar um jeito de conviverem sem se colocarem em risco. Porque, Dulce, o que ela sugeriu tem tudo e mais um pouco para dar errado. Vocês ainda são muito novas e você sabe como a indústria é má.


Suspirei. Enterrei o rosto em minhas mãos esfregando os olhos em sinal de inquietação.


- Eu sei. – Soltei a respiração de maneira pesada. – Eu sei disso, mas talvez esse seja o único jeito de acabar com todos os problemas que nos atrapalham.


- E também trazer ainda mais problemas que as atrapalhem em dobro. – A loira comentou sábia. – Você não parece estar pensando como a garota que não achava necessário dizer ao mundo que estava com alguém.


- As coisas mudam, Angel. Você viu de perto o que passamos por causa de manipulações e suposições. – Gesticulei no ar. – Eu não estou dizendo que concordei cem por cento com isso, mas é algo que eu realmente estou considerando.


- Olá, meninas. – A voz de minha mãe rompeu pela cozinha ganhando nossa atenção. – O que está considerando, Dulce?


"Se nunca houvesse uma noite por dia e as lembranças pudessem sumir, então não haveria nada além dos sonhos que criamos."


Encarei Angel momentaneamente enquanto ficávamos em silêncio.


- Acho melhor eu ir embora. – Angelique se levantou da cadeira graciosamente indo depositar um beijo no rosto de minha mãe e em seguida no meu, sussurrando um "me liga".


Observei a loira sair do nosso campo de visão antes de voltar a olhar minha mãe que se mantinha de pé me fitando desconfiada. Por mais que o medo rondasse próximo a mim, sabia que seria acolhida nos braços maternos que sempre me ampararam. Nenhum detalhe foi deixado de lado, e assim minha mãe tomava ciência de tudo que me assolava.


A mulher abriu o iogurte ao mesmo tempo em que me ouvia relatar minha conversa com Anahí; meus medos pessoais; minha visão de dentro e de fora do que estava acontecendo. Minha mãe bebeu o líquido rosado e colocou a embalagem sobre o tampo da mesa antes de entrelaçar os dedos e me olhar seriamente.


- Pelo que entendi você sabe todos os riscos que isso implica. – Concordei devagar com a cabeça. – E tem uma visão de como poderia dar certo, que no caso, não é a mesma visão que Anahí. – Concluiu e eu suspirei.


- Se eu conversar com ela, talvez entremos em um acordo. – Apontei calmamente. – Ela foi muito radical nessa parte.


- Dulce.. – Minha mãe me chamou sorrindo terna. – Anahí sempre foi radical em tudo. Você a conhece desde sempre, a conhece mais do que ninguém. - Apoiei a testa nas mãos concordando com a cabeça outra vez. – Olhe para mim, Dulce. – Ergui os olhos encontrando os castanhos calmos. – Só você pode viver por você. Independente do caminho que você optar, da escolha que você fizer, lá fora irão te julgar do mesmo jeito, farão as suposições que quiserem. Você só vai precisar arcar com as consequências de suas escolhas. – Pausou suspirando, levanto uma das mãos para segurar as minhas. - Mas saiba que seja lá qual for a sua decisão, eu irei te apoiar.


 


"Dê um pulo na fé e torça para voar, sentir como é estar vivo. Dê tudo de si e fale de uma só vez tudo o que precisa falar."


***********


Eu sentia o vento arrepiar minha pele e tocar meus lábios com o gosto salgado da maresia. Meus olhos se mantinham fechados apreciando o cheiro da areia molhada pelas águas revoltas daquele inicio de noite. O oxigênio entrava perfeitamente em meus pulmões e saia devagar como em um mantra. Estava em paz. Verdadeiramente em paz e despreocupada com o mundo lá fora.


A liberdade pessoal curiosamente se inicia pelo coração que pulsa esse desejo insano pelos vasos sanguíneos, fazendo com que as correntes que, primeiramente você as colocou em si próprio, se soltem, deixando que o ciclo que percorre seu corpo, sua pele, seu íntimo, chegue até seu cérebro. E é lá dentro do cérebro que o cadeado se abre te libertando daquilo que te oprimia.


Talvez aquela fosse a sensação de se estar livre, momentaneamente, mas, mesmo assim, livre. Sentia como se o cadeado fosse se fechar a qualquer momento e sentia medo por isso, mas os instantes são únicos e o agora precioso. Enquanto a chave que me mantinha liberta estivesse ao meu lado, eu não precisava temer.


"Fique aqui ao meu lado, nós vamos fazer isso juntos, só você e eu. Nada é impossível."


Lábios cobriram os meus e o gosto de chocolate quente se misturou ao salgado gelado em minha língua. Sorri no beijo curto pousando uma mão na face macia antes de olhar nos olhos azulados astutos quando nossas bocas se separaram. Vi o sorriso largo surgir nos lábios carnudos antes de se deitar ao meu lado na espreguiçadeira espaçosa.


- Eu poderia morar aqui. – Se aconchegou em meu peito acompanhando meu olhar para as ondas se quebrando na areia da praia.


"Olho pra você, e tudo que quero fazer, é desaparecer. Eu quero você, amor, podemos sair daqui."


Sorri, agora tendo minha atenção para o ser abusado que entrelaçava a perna direita entre as minhas. Levei minha mão até o rosto bem desenhado e afastei uma mecha teimosa do cabelo acobreado para trás da orelha pequena, conseguindo assim ter uma visão melhor dos traços perfeitos.


"Você é uma máquina sexy, é um sonho de Hollywood. E você me fez sentir como a rainha do baile."


- Boa sorte em convencer Shirley de te vender essa casa. - Comentei despreocupada passando as pontas de meus dedos pelo braço nu da garota.


- Poderíamos dividir o espaço. – Sugeriu brincando com a barra de minha camiseta. – Ela é sua amiga, aposto que gostaria de ter você por perto.


- Obviamente sim, se minha namorada não viesse na bagagem e ela não precisasse presenciar cenas inapropriadas para menores de dezoito anos.


Senti Anahí sacudir o corpo em uma fraca risada.


- Pelo menos ela é maior de dezoito. – Retrucou se erguendo um pouco de meu colo e depositando os olhos azuis sobre mim. – Você poderia dizer aquela palavra outra vez?


Franzi a testa confusa ainda encarando Anahí que me olhava com os olhos brilhantes em expectativas.


- Qual?


- Aquela que começa com namo e termina com rada. – Joguei a cabeça para trás soltando a gargalhada alta sentindo uma mão de Anahí fazer cócegas em um ponto especifico de minha costela.


"Vamos sair da multidão e ir pra onde ninguém é permitido. Eu quero você só para mim e para mais ninguém."


Era final de semana e havíamos retirado um tempo para nós enquanto nossa agenda ainda não ficava abarrotada de programações indispensáveis. Mari quem nos sugeriu uma semana a sós antes do rebuliço que seria nossas vidas após nossa noticia aos produtores e agentes que cuidava de nossas carreiras e obtinham nossos contratos. Inicialmente, nosso ponto de destino seria o apartamento que já estávamos acostumadas a ficar, mas Mari estava de mudança para lá e a "pequena lua de mel", como a própria irmã mais velha de Anahí nomeou, não seria satisfatória, de acordo com a própria.


 


"Você não precisa de outra amante, podemos manter isso em segredo."


Ficamos alguns dias em minha própria casa, receosas de procurar algum lugar para ficar e alguém noticiar nossa localização. Nós só queríamos um local para esquecer o mundo real, para anda entre as nuvens sem interrupção e chances de sermos puxadas de volta a terra.


Shirley era dona de uma propriedade em Cancún e isso piscou em minha mente em verde fluorescente. Minha amiga não negaria ceder a casa de verão para Anahí e eu por, pelo menos, um final de semana, era o que eu esperava e aconteceu. Shirley me fez prometer que seriamos discretas e logo após prometermos, saímos na madrugada de sexta para a casa de frente para o mar.


- Namorada. – Repeti a palavra vendo meu sorriso refletir nos lábios dela. – Isso é um tanto quanto estranho.


- Lucky i'm in love with my best friend.. – Anahí cantarolou me olhando divertida. -Lucky to have been where i have been. Lucky to be coming home again.


"Nos apaixonamos um pelo outro na hora errada, apenas por um momento, mas eu não me importo."


Não me recordo ao certo quando aconteceu ou como aconteceu. Só lembro de um dia singular, onde me encontrava em uma fila de crianças para fazer uma audição para um programa de infantil, ter encontrado uma menina com o sorriso mais lindo que eu já havia visto na vida. Ainda lembro do desenho da jaqueta jeans que ela usava e a tiara vermelha que prendia os cabelos castanhos claros e lisos. Em um primeiro instante a achei semelhante uma boneca de porcelana, os olhos azuis bem abertos e brilhantes me olhavam em expectativa quando iniciamos uma conversa trivial, mas que fez com que todas as outras crianças daquela fila sumissem de meu foco. E assim se seguiu por um, dois, três, dez anos de amizade. Nós éramos únicas, não havia nada como nós. Anahí estava ao meu lado em cada momento de minha vida, até mesmos os obscuros, e eu estava lá para ela na mesma proporção ou até mais.


Foi quando a ideia de viver um pequeno conto de fadas surgiu em minha cabeça, mas ao contrário de um príncipe me levando em um cavalo branco em direção ao pôr do sol, as minhas alucinações eram sobre uma princesa com rosto de boneca que obtinha o timbre de voz que me arrepiava dos pés à cabeça e dormia ao meu lado na cama.


A negação veio antes da rendição, mas a tentação era tão forte, tão imensa que nem meus próprios pensamentos contrários conseguiram deter os festejos que meu coração dava quando havia um simples toque de minha pele na dela. Anahí era meu ponto de equilíbrio e minha ruína, meu anjo e demônio que destruiu qualquer barreira e fincou uma bandeira marcando seu território em minha mente e coração.


Virei o corpo de Anahí sobre a esteira a beijando devagar. Os lábios dela sempre foram uma espécie de vício irresistível onde eu dormia e acordava pensando neles. Eram cheios, macios e doces, eram cativantes e suculentos. Eu poderia beijá-la sem parar pela eternidade e nunca cansaria ou enjoaria. Nosso beijo era o tipo de contato que fazia minha mente ficar turva e meu corpo se embriagar, eu era dela e ela era minha, e não havia uma outra afirmação que coubesse entre nós.


"Acho que eu não sei onde traçar a linha. Nós estamos jogando o mesmo jogo toda noite."


- Eu vou comprar uma casa na praia. – Anahí disse e eu apoiei o cotovelo no móvel que estávamos deitadas, sustentando a minha cabeça em minha mão enquanto a olhava. – Acho que todos iriam gostar de passar um tempo conosco. Precisa ser uma casa bem grande porque tem o pessoal que chamamos com amigos e ainda tem..


- Nós? – A cortei rindo.


- Sim. Óbvio. Nós não vamos ter condições de morar longe uma da outra por muito tempo. E quando casarmos.. Por que você está fazendo essa cara? – Perguntou franzindo a testa ao encontrar meus olhos levemente arregalados.


 


- Casar?


- Sim..? – Respondeu em tom de pergunta me fitando. – Esse é um propósito de um relacionamento com quem se ama, não?


"Nas nuvens, sim, você sabe que vai me fazer te querer."


Eu sorri a bicando levemente nos lábios.


- Sim. É sim. Só não sabia que você já estava pensando nessas coisas.


- Penso durante todas as horas do dia sobre essas coisas. – Gargalhei a fazendo rir. – Pare de rir. Estou falando sério.


- Me desculpe. Eu só estou surpresa e feliz. Só isso. – Expliquei sentindo as borboletas se debaterem em meu estômago.


- Eu penso em casar e ter filhos com você. Acho que seria divertido, além do fato de você ser uma gracinha com crianças.


- Eu não sou.. – Neguei aos sussurros me lembrando de um fato importante. – Em falar nisso, eu tenho uma notícia exclusiva para a senhorita. – Olhei nos olhos azulados brilhantes que agora me olhavam sérios devido ao meu tom formal. – meus pais encomendaram outro irmãozinho pra mim e minhas irmã. – Os lábios de Anahí tremeram em um sorriso contido. – Minha mãe está grávida outra vez.


Senti os braços da garota se enlaçar em meu pescoço e me abraçar com força, soltando palavras de felicidade.


- Nossa casa então precisa ser grande mesmo porque a família está crescendo. – Disse séria me olhando nos olhos outra vez. – Está tudo bem uma casa aqui em Cancún?


- Qualquer lugar, meu amor. – Sorri sonolenta. – Contanto que você esteja comigo, o lugar não importa.


- Galante, hn? – Soltou me fazendo rir no meio de um bocejo. – Melhor entrarmos para você descansar um pouco. Acho que suguei demais suas energias.


Minha gargalhada saiu rouca me recordando de que sequer havíamos dormido naquela casa ainda. A cama muito bem aconchegante tinha sido utilizada para tudo, menos para exatamente dormir.


- Pensei que você não reconheceria. Ouch! – Me esquivei com o leve beliscão que ganhei na barriga.


- Venha. – Se levantou me puxando para junto dela. – Vou te colocar para dormir e depois pedimos uma pizza, tá legal? – Sugeriu colocando meus cabelos para trás de minhas orelhas.


- Tá legal.


"Quando descermos, eu sei, sim, eu sei que isso acaba."


***********


Flashes.


Estava acostumada com aquele tipo de situação onde perguntas confusas eram gritadas em minha direção e flashes eram disparados a cada meio passo que andava. A primeira vez que um paparazzi havia me cercado eu entrei em pânico e a minha sorte foi Brandon estar por perto. Meu primo correu em minha direção me arrancando das garras do profissional inoportuno, tentando me fazer parar de chorar logo em seguida.


Com o passar do tempo aprendi que aquele era apenas um ônus entre todas as coisas boas que recebia na vida e procurei expulsar de meus ouvidos as perguntas gritadas e olhar para qualquer ponto que não fossem os malditos indivíduos segurando as malditas câmeras que disparavam os malditos flashes sem parar. E era exatamente aquilo que eu estava fazendo quando entreguei a chave de meu carro para o manobrista e me deixei ser guiada pelo segurança do local até a entrada do restaurante reservado.


"Quando eu estava, quando eu estava no palco estava pensando.."


Sorri para o homem perfeitamente arrumado que me recepcionou com alegria e educação impecável. Amo aquele local até hoje, amo a hospitalidade e a descrição. Descrição essa que estava nula ao lado de fora, e o aglomerado de pessoas que eu tinha deixado para trás só me avisaram de uma única coisa: A minha companhia do jantar já havia chegado.


 


O sorriso na boca vermelha se estendendo aos olhos com pouca maquiagem foi meu cumprimento quando cheguei em nossa mesa reservada. Já podia ver a taça de Anahí preenchida por água e as unhas bem feitas tamborilando no cardápio fechado sobre a mesa. Me curvei a abraçando e soltando um suspiro saudoso ao senti-la perto de mim outra vez.


- Oi. – Ela sussurrou em meu ouvido me fazendo sorrir.


- Olá. – Respondi no mesmo tom antes de me afastar.


Já fazia alguns dias desde nosso pequeno escape para a casa de praia. Os compromissos foram ganhando as páginas de minha agenda na mesma proporção que Anahí perdia as noites de sono devido aos shows. Estávamos de volta à vida real. Porém, por mais que fosse difícil conseguirmos um momento a sós, naquele dia foi possível. Anahí me telefonou no fim de tarde fazendo o convite para o jantar e eu só conseguia pensar que precisava estar perto dela, ainda mais depois da semana que eu havia passado.


- Você está bem? Parecia agitada no telefone. – Perguntei ajustando a alça de minha bolsa no encosto da cadeira que eu ocupava.


Anahí abriu a boca para me responder, mas o garçom parou ao nosso lado trazendo aperitivos como cortesia e anotando nossos pedidos. Sorri negando o vinho oferecido e deixei que o homem me servisse do suco fresco de pêssego.


- Só estou estressada. – A garota disse quando o garçom saiu do lado de nossa mesa. Os olhos fixos na comida que a própria mexia com o garfo. – Faz mais de sete dias que eu não descanso e não me lembro de ter relaxado nas últimas 48 horas. – Deu de ombros. – E eu precisava muito te ver.


Levantou o rosto me olhando e sorrindo cansada em minha direção.


- Bom, eu estou aqui. – Estiquei os braços me mostrando e a fiz sorrir mais verdadeiramente. – E você vai descansar hoje. Pode ligar para o presidente e avisar que você está sendo sequestrada.


- Estou? – Perguntou segundos antes de levar o garfo até a boca.


- Está. – Beberiquei do meu suco rapidamente. – Não vou permitir que você não durma.


- Mas não dormir com você parece tão mais legal. – A olhei com uma sobrancelha arqueada que a fez rir levemente. – Brincadeira.


Passamos um tempo aproveitando a companhia uma da outra e analisando o ambiente a nossa volta. Eu estava preocupada com a agenda aparentemente corrida de Anahí e estava inquieta para entrar no assunto. Deixei que o garçom servisse nossos pedidos na mesa e agradeci o dispensando rapidamente.


- O que aconteceu com todo aquele lance de ir devagar? – Apoiei os cotovelos na mesa e descansei o queixo em meus dedos entrelaçados ciente da falta de educação que aquele gesto significava. – Estão te sobrecarregando, Anie. Você não deveria estar tão comprometida assim.


- É só uma temporada. – Suspirou forçando um sorriso pequeno logo depois. – Eu estou bem. Na verdade eu só precisava passar um tempo com você. – Fiz um som nasal não engolindo muito bem aquelas palavras. – Eu estou bem. – Repetiu antes de se voltar para o próprio prato.


"Eu sinto que o conheço e eu conheço o seu coração, e sei de tudo o que ele jamais faria para me machucar."


A sensação de que algo estava errado sondava a minha cabeça como abelhas atraídas pelo mel. Havia tempo que eu tinha colocado o pessimismo dentro do bolso e aberto meu peito para que a positividade agisse em minha vida, mas lá estava o pessimismo tentando se esgueirar para fora do bolso que eu deveria ter costurado. Os ombros baixos de Anahí se contradiziam com o sorriso doce que me lançava e os olhos vacilavam entre opacos e brilhantes em questão de segundos, me deixando aflita com o que se passava.


 


E assim passou o jantar: Minha boca tentando proferir palavras que faria os lábios de Anahí se estender em um sorriso mais lindo que o outro a cada momento. Eu tinha empurrado o pessimismo de volta ao fundo do bolso e colocado a positividade encima de nossa mesa até que os ombros de Anahí estivessem erguidos e a garota se mostrasse bem mais relaxada.


- Mari está na Europa com algumas amigas. – Anahí informou enquanto brincava com o pequeno guarda chuva em seu copo. – A gente podia ir para o apartamento.


- Parece perfeito para mim. – Acenei com a cabeça a observando dar aquele sorriso largo maravilhoso que ainda faz um arrepio gostoso cortar minha coluna. – Você veio de carro?


- Sim. Eu vim.


- Nos encontramos lá então.


Acertamos a conta rapidamente e respiramos fundo antes sair em direção aos lobos com as malditas ferramentas que nos esperavam do lado de fora. Os chamados, gritos e flashes foram ainda maior quando saímos juntas. Tomei a frente de Anahí evitando ao máximo dar ouvidos para qualquer coisa que diziam, mas o nome de Ucher sendo pronunciado a cada décimos de segundo conseguiu penetrar a minha barreira. Corri em direção ao meu carro que o manobrista já me oferecia, mas o estalo me fez voltar em direção a Anahí que parecia perdida naquele mar de fotógrafos e a abracei encenando uma breve despedida entre amigas.


O maior problema do agora é que ele acaba.


A noite que passamos no apartamento foi perfeita. Havíamos chegado ao prédio juntas e entrado no elevador uma ao lado da outra. Os lábios suaves percorriam minha pele amenizando o estrago que as unhas tinham causado em minha carne. Se tivesse que enumerar as noites de amor que tive com Anahí em ordem crescente, aquela seria a de segunda posição, pois a primeira ainda estaria por vir.


"Mas eu não percebia que me sentia tão confiante e tão bem sobre mim mesma."


No dia seguinte eu acordei na cama sozinha. Um pequeno bilhete repousava sobre minhas roupas dobradas, avisando que Anahí tinha saído para resolver algumas coisas com o empresário denominado Guilhermo. O desanimo e medo fez cócegas em meu estômago, mas os expulsei, trazendo a tona um assunto que deveria ter resolvido já fazia alguns dias.


A vantagem em ter minha mãe como amiga de meu empresário era muita sorte. Eu confiava cegamente no que ele me dizia e o deixava o frente de tudo sem me preocupar com muita coisa. Embora eu já presumisse a resposta que receberia para o pedido que havia feito a ele, liguei para minha pedindo que me aguardasse em casa para que pudéssemos conversar sobre aquilo.


- Meu pai ainda tentou contornar a situação, mas isso mancharia completamente a marca da empresa. – Minha mãe me explicou sentada ao meu lado no sofá da sala. – Eles disseram que se você conseguir um contrato e decidir não renovar com a televisa, ou até mesmo romper o vínculo pagando a multa, a escolha é sua, mas enquanto estiver debaixo das mãos deles, a resposta é não.


Suspirei trancando o maxilar. Dizem que quando você pensa muito em algo, esse algo acaba acontecendo. É a leia da atração. Quando mais você pensa, mais provável daquilo acontecer. No meu caso, eu tinha a convicção de que o meu pedido para ter mais liberdade com Anahí fosse negado. A televisa não iria em hipótese alguma permitir que duas de suas estrelas mais visadas caíssem em desgraça na mídia. Aquela empresa vende sonhos, sonhos falsos que na verdade escondem pesadelos.


- E mais uma coisa. - A mulher anunciou do meu lado e eu substitui a atenção que dava ao carpete pelos olhos azuis similares aos meus. – Anahí ainda está queimada com eles e a ordem é que você não se mostre tão próxima.


- Foda-se as ordens deles. – Sibilei levando meu olhar de volta para o carpete. – Falta quanto para esse contrato acabar? Temos alguma outra gravadora interessada?


 


- Ainda não. – Senti minha mãe se remexer no estofado. – Você tem um álbum pendente com eles. Precisa finalizá-lo.


Eu nada disse. Apenas fiquei remoendo as informações que eram lançadas como se meus pés e minhas mãos estivessem amarrados. Eu precisava ser cautelosa e aguardar o momento certo para poder reger minha própria vida com mais liberdade, essa era a única coisa que se passava por minha cabeça. Precisávamos de tempo.


"Ter isso completamente destruído por uma coisa. Algo tão estúpido."


Já era madrugada quando meu celular começou a gritar a música conhecida e minha testa franziu em confusão. O carro branco estacionou em minha garagem e precisei abraçar meu próprio corpo tentando me aquecer da friagem noturna.


Anahí saltou do carro em seu pijama quadriculado e mal me deu tempo de saudá-la. Os braços magros me abraçaram com força e senti seu corpo tremer, sacolejar. Meu coração parecia se espremer demais dentro do meu peito completamente perdida no que estava acontecendo.


- Hey, o que houve? – A apertei contra meu corpo enquanto as mãos se agarravam na gola de minha camisa em desespero.


- Me deixa ficar aqui com você. Por favor. – A voz de choro da garota arrancou o ar de meus pulmões. Não poderia estar acontecendo de novo.


Guiei Anahí até meu quarto e a puxei para deitar em meu colo na cama até que os soluços e tremores cessassem. Minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento e as dores em minhas articulações só ficavam piores devido ao nervosismo pela cena que se desdobrava diante de meus olhos.


Fazia tempo que não encontrava Anahí daquele jeito, no auge de seus fantasmas, encolhida e frágil em meus braços. Aquela parecia uma realidade distante que batia a minha porta como um presságio ruim. Presságio esse que eu empurrava juntamente com o pessimismo que ainda estava quieto dentro do bolso.


Corri as pontas de meus dedos pela fonte de anahi a sentindo mais calma. A respiração parecia mais estável e o corpo já não tremia contra o meu. Dei um beijo calmo na testa da mulher me demorando com aquele gesto e suspirei. A sensação de ter um mundo em meus braços, quando na verdade era ela quem estava neles, nunca mudaria.


- O que aconteceu, meu amor? – Perguntei em um sussurro e Anahí negou com a cabeça sem me responder. – Você não quer conversar?


Os olhos azuis fitaram os meus com pesar e esse pesar estava segurando uma faca afiada que rasgou não só meu coração, como todos os meus órgãos de cima a baixo. Os olhos correram por toda a extensão de meu rosto e senti as pontas dos dedos gelados ir de encontro ao meu queixo, percorrendo meus lábios, nariz, olhos, toda a minha face sem pressa alguma. O pesar nos olhos dela se inundaram de amor e um sorriso fraco surgiu no canto dos lábios carnudos.


- Eu queria te pedir uma coisa. – Suas palavras fluíram em meus ouvidos de maneira leve. Minha mente já estava nebulosa e os sentidos confusos demais para prestar atenção até que o sussurro veio arrepiando meu corpo inteiro. – Faça amor comigo.


Aquela noite é a que ocupa o primeiro lugar na minha lista de noites de amor com você. Eu me recordo dos detalhes tão vividamente que parece que o tempo não passou, parece que estamos naquele meu quarto na casa de meus pais até hoje. Sua respiração irregular, seu corpo quente, suas mãos me tomando com autoridade, seus lábios me amando carinhosamente. Eu sabia o que você estava fazendo. Você estava cravando um tornado naquele nosso agora, deixando as suas marcas perpetuamente em nossas histórias, em nossas almas.


*************


- Você já falou com alguém sobre nós?


A pergunta veio de Anahí enquanto eu escolhia algo apresentável para uma reunião que precisava comparecer. Havíamos passado a noite uma nos braços da outra até que os primeiros raios de sol surgiram contra a janela. Eu tinha compromisso pela manhã, ela tinha compromisso pela manhã e nenhuma de nós duas havíamos conseguido dormir durante a noite.


 


- Pedi que minha mãe falasse por mim. – Esfreguei os olhos devagar antes de abandonar a pilha de roupas e me voltar para Anahí sentada na beirada de minha cama. - Mas eu vou precisar marcar uma reunião para conversar pessoalmente porque o que eu ouvi não foi muito legal.


Anahí acenou com a cabeça relutantemente mantendo os olhos conflituosos fixos em mim. Meus pés me guiaram para a cama e me sentei ao lado da garota a fitando, a analisando. Algo dentro de minha cabeça gritava coisas que meu coração não me permitia escutar. Talvez os impasses e os altos e baixos deixasse aquela sensação de que sempre tudo daria errado, mas não estávamos mais em um impasse, estávamos caminhando juntas em uma direção. Anahí e eu tínhamos as coisas esclarecidas e tudo daria certo, isso era o que meu coração gritava para meu cérebro que alertava que algo estava errado.


- Por que você está assim? – Perguntei baixo tomando a mão pálida entre as minhas, sentindo a textura quente da pele macia.


Anahí desviou os olhos para nossas mãos mantendo os olhos baixos. Levei meu indicador até o queixo desenhado o erguendo para que olhasse nos azuis cansados.


- Anahí, eu sei que há algo de errado. - Minha voz saiu levemente trêmula. - Você está me deixando com medo.


- Só estou exausta.


- Não. - Me ajeitei sobre o colchão ficando de frente para a garota. - Essa noite você não estava exausta, você estava em crise. - Os olhos azuis abandonaram os meus e tornei a chamar sua atenção. - Olhe para mim. - E assim ela fez. - Eu senti o gosto de álcool na tua boca, Anahí.


O silêncio pairou entre as quatro paredes por segundos ou até mesmo minutos, nos deixando desconfortável na presença uma da outra. Senti Anahí tensionar o corpo e a vi jogar os cabelos para trás com uma das mãos. Eu iria começar meu interrogatório, mas ela foi mais rápida.


- Você acha que nossas carreiras acabariam se levássemos isso para fora?


A pergunta me pegou desprevenida. Era algo no qual eu não havia chego a uma conclusão ainda. Por um lado sim, conseguiríamos, por outro não.


- Eu ainda não tenho uma resposta para isso. - Fui sincera e Anahí concordou com a cabeça.


- Entendo. - Anahí sorriu de lado me olhando carinhosamente. Tomei fôlego para voltar ao assunto que ela havia fugido, mas Anahí colocou os dedos sobre minha boca ainda sorrindo terna. - Shhhh.. – Me calou olhando para minha boca. - Lembra quando sonhávamos em ser grandes cantoras e atrizes? - O sorriso de lado da garota se estendeu em um mais largo. - Nós pegávamos as escovas de cabelo da minha mãe e ficávamos performando encima da cama da minha irmã. - Ela riu divertida e eu sorri com a lembrança clara.


Os olhos de Anahí brilharam brevemente olhando meu rosto como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. O sorriso terno ainda estava presente nos lábios carnudos e o clima pesado havia sido substituído por um mais leve. Os olhos dela se estreitaram fitando os meus como se pensasse em algo.


- Você acha que eles estão certos? - A pergunta veio de repente e diferente, fazendo as engrenagens de meu cérebro travar momentaneamente. - Sobre nós?


Ponderei repassando a pergunta na cabeça. Outra vez eu não tinha uma resposta concreta, mas tentei elaborar.


- Eu acho que eles podem ter razão. - respondi calma a avistando concordar com a cabeça parecendo não dar a mínima para o que eu estava falando. – Não precisamos necessariamente assumir algo que pode ser vivido sem os palpites da indústria. E nós duas ainda estamos cruas, podemos sair prejudicadas demais se não seguirmos o que eles ditam.


Soltei meu pensamento e Anahí riu. Foi um riso confuso que me trouxe uma sensação ruim, mas antes que eu pudesse refletir melhor sobre aquilo, Anahí deu um pequeno beijo sobre meus lábios.


 


- Sabe o que eu acho? - Ela perguntou retórica e meu coração parou. - Que você merece todos os méritos do mundo. - Franzi o cenho com a divagação de Anahí. - Você vai conseguir conciliar a música com o cinema e vai ser uma artista completa em todos os sentidos.


- O-kay. - Contorci o rosto em uma careta completamente confusa e Anahí riu com os olhos marejados. - O que foi?


- Nada. - Balançou a cabeça e limpou uma lágrima que riscou sua fase com as pontas dos dedos. - Eu só te amo, só isso.


- Bom, eu também te amo e nem por isso estou chorando. - Falei urgente e Anahí se levantou pegando a chave do carro na minha mesa de cabeceira. - Você já vai?


- Preciso. - A garota se voltou para mim e ficou de pé entre minhas pernas. - Ainda tenho que passar em casa para me arrumar.


- Você sabe que pode pegar uma roupa minha e se arrumar aqui. - A observei ponderar jogando a boca de um lado para o outro.


- Melhor não. - Soprou antes de colocar os lábios sobre os meus em um beijo manso. Anahí suspirou ainda colada em minha boca e se afastou andando até a porta de meu quarto. - Eu amo você, Dulce. Não esquece.


E ela se foi.


Uma das inúmeras lições que aprendi foi que se você sente que algo está errado, é porque está errado.


Anahí não apareceu o resto daquela semana, muito menos na semana seguinte. Minhas ligações caiam diretamente na caixa postal e as mensagens nunca eram respondidas. Mari não me atendia e não havia sinal de Anahí na mídia. Esse foi o motivo de eu ter saído em direção à casa dos Portilla naquele fim de tarde.


Eu tinha esperanças de que encontraria Anahí bem, mas ao mesmo tempo tinha medo de encontrá-la de qualquer forma. Todas as vezes que a garota sumia sem dar noticias era o mesmo roteiro e eu estava orando dentro do carro para que daquela vez, só daquela vez, o roteiro tivesse mudado.


Estacionei o carro na vaga da garagem tomando respirações contadas e tentando deixar meu estômago menos vulnerável do que estava. Contei os passos até a porta grande e a abri sem cerimônia. A casa parecia vazia, deserta. Não conseguia ouvir um som sequer enquanto subia pela escada caracol. Todas as portas do corredor se mantinham trancadas e me vi tentada a bater em uma ou outra, buscando alguém por ali, mas eu tinha prioridades e meus pés me guiaram inconscientemente até a última porta.


Girei a maçaneta sem aviso e franzi o cenho ao notar a porta trancada. Tentei outra vez como se pudesse destrancá-la com um girar mais forte, mas nada. Bati na porta procurando ouvir algo dentro do quarto, mas não houve nada, nem passos, nem respostas. Nada.


- Anahí!? – Soquei a madeira buscando ser ouvida. – Abra a porta!


Barulho. O barulho de algo se quebrando. Barulho de vidro se quebrando. Barulho de vidro se quebrando dentro do cômodo trancado que eu não tinha acesso. Soquei a porta outra vez, já cogitando a possibilidade de arrobá-la.


- Anahí! – Gritei exaltada. – Abra essa maldita porta! Eu não vou sair daqui, você sabe disso!


Naquele momento percebi que tinha ninguém mesmo dentro daquela casa grande a não ser nós duas. Os meus gritos e golpes contra a porta já teriam atraído seja quem fosse até aquele ponto da casa, mas lá continuava eu sozinha esmurrando a madeira enquanto saltava pedidos gritados. O som de passos se aproximando e da chave na porta invadiu meus ouvidos como se fosse água límpida em meio ao deserto. Girei a maçaneta outra vez esperançosa e suspirei aliviada quando a porta se abriu.


O quarto escuro não me deixava enxergar nada além dos contornos da garota sentada contra a cabeceira da cama. As cortinas grossas tampavam as janelas fechadas impedindo que qualquer luminosidade atingisse as quatro paredes. Podia sentir a mistura de cheiros predominarem o quarto, formando um cheiro peculiar que eu não conseguia nomear de imediato.


 


Meu corpo estava trêmulo e minhas pernas mal conseguiam ficar firmes contra o chão. Minha mão foi de encontro ao interruptor e a luz se acendeu, fazendo os olhos vermelhos de Anahí se estreitarem e o choque bater em mim como um raio.


Eu pensava que já tinha encontrado você no seu pior, mas aquele dia.. Aquele dia foi como se eu tivesse morrido e entrado no próprio inferno onde eu receberia minha punição por todos os meus pecados.


Peças de roupas se aglomeravam no chão. Peças de roupas propositalmente rasgadas espalhadas pelo chão. Os pedaços de pano cortados se misturavam com os cacos dos espelhos sobre o carpete, o violão agora quebrado mantinha duas únicas cordas não arrebentadas. Meus olhos arregalados captavam cada detalhe da destruição sem saber o que falar ou como agir. Anahí levou uma garrafa robusta de uísque até a boca bebendo do líquido como se fosse água. Os olhos vagos fitando a parede oposta da cama.


- Por que você sempre vem? – A voz grossa saiu arrastada enquanto balançava a garrafa no ar. – Não importa a merda que eu faça, não importa a merda que eu sou, você sempre.. vem!


"Ruas sem saída e avenidas. Você jogou a toalha, eu quebrei seu coração"


Anahí levou a garrafa até a boca outra vez sem me olhar. Adentrei o quarto com cuidado correndo os olhos pelo caos estabelecido. Eu queria poder descrever o que estava sentindo diante a tudo aquilo, mas tudo o que eu sentia era absolutamente nada. Minha alma parecia estar fora do corpo e minha mente parecia não querer funcionar, minha respiração estava estável e minha boca formava uma linha fina diante ao maxilar trancado.


Empurrei a porta do banheiro devagar e lá estavam os cacos do espelho espalhado pela pia, as gotas vermelhas me meio ao branco do mármore e do piso fizeram meu estômago parar na garganta.


Eu já disse ser normal sonharmos que estamos correndo e não conseguir sair do lugar. Você acelera os passos, mas parece que debaixo dos teus pés há um ímã que te gruda no lugar. Ou quando você simplesmente sonha que está caindo e sente aquele solavanco no corpo quando acorda. O ponto positivo do sonho é que ele não é real. Você está seguro quando acorda. Mas eu não estava sonhando. Eu estava acordada dando murro em ponta de faca. Eu estava acordada correndo em círculos. Eu estava acordada caindo em um precipício sem fim.


Fechei a porta do banheiro com força ouvindo o estrondo da batida e fazendo as cortinas esvoaçarem levemente.


- Por que eu sempre venho, Anahí? – Minha voz saiu controlada e eu já podia sentir a tremedeira se apoderando de meu corpo outra vez. – A pergunta seria: Por que você sempre tem que estragar tudo, Anahí, porquê?


"Mas há uma primeira vez para tudo. Quem teria imaginado que você se sentiria tão frio."


A garota arriscou me olhar e eu me perguntei onde estava a minha Anahí. Onde estava a garota do sorriso largo que semanas atrás estava fazendo planos de um futuro provável ao meu lado.


- É um dom. – Ela ergueu os ombros forçando um sorriso amargo. – Todos desistem. Ninguém realmente liga. Mas você.. – Apontou o indicador para mim ainda segurando a garrafa pela metade. – Você sempre vem. Por que, Dulce? – Anahí estreitou os olhos se levantando e deixando a garrafa jogada no colchão. – Eu estou aqui nessa por/ra de quarto há dias me perguntando o porquê de você sempre vir!


"E todas estas memórias pareceriam tão velhas. Para pensar que você era meu tudo."


- Você sabe o porquê. – Apertei as mãos em punho a observando cambalear metade do caminho em minha direção. – Fique onde está. – Pausei uma mão no ar a fazendo parar.


Anahí se apoiou no colchão e vi o sangue coagulado manchando a barra do short que ela vestia. A friagem atingiu meu corpo com violência e a náusea me nocauteou junto ao coração dilacerado dentro do peito. Anahí tinha os cabelos desgrenhados e os olhos fundos sem vida, a pele pálida recebia manchas vermelhas de cortes e hematomas que a própria se causava. Era demais para mim. Era demais para qualquer um.


 


- Você não pode me amar. – As palavras de Anahí não foram mais que um sussurro, mas eu ouvi.


Existe uma linha tênue entre o amor e ódio. Quando o amor é retirado, ou guardado, a única coisa que resta é o ódio, nem que seja por um momento de explosão.


"Mas o tempo não foi fácil para nós, como o amor pode morrer?"


- Não posso te amar? – A perguntei enojada. – Eu estou do seu lado, te protegendo, cuidando de você a mais de uma vida e eu não posso te amar? – Perguntei outra vez e a vi dar mais um passo em minha direção. – Eu já disse para ficar onde está!


"Eu tenho tanta merda para dizer, mas eu não posso deixar de sentir, como se eu estivesse camuflada."


- Eles têm razão, hn? – Ela disse e eu franzi o cenho. – Nós nunca daríamos certo e só acabaríamos com a vida uma da outra.


- Do que você está falando?


Anahí se manteve em silêncio me olhando fixamente com as íris afetadas. Eu não conseguia assimilar ou acreditar no que estava acontecendo diante de meus olhos. A leve dor em meus pulsos me avisou da força que eu mantinha minhas mãos fechadas e eu procurei relaxar um pouco, com isso meu corpo tremeu e a respiração sôfrega escapou de minha boca.


- Estou falando que eu sou um defeito, Dulce. Eu não posso acabar com a sua vida assim.


- Esse discurso de novo não. – Sorri incrédula umedecendo os lábios nervosamente. – O que aconteceu, Anie? O que você quer, Anahí?!


- Qualquer coisa além de sim é não. – Franzi o cenho outra vez a assistindo citar a frase que já me era conhecida. – Eu nunca conseguiria fazer isso com você.


- Isso o quê? – Meus olhos vagaram atormentados pelo quarto.


- Me afastar. Terminar.


"Você era meu ontem, agora eu não tenho nem ideia de quem você é. É como se você estivesse camuflado."


Naquele instante o nada de sentimentos foi substituído pelo tudo. Meu pulmão buscava por oxigênio que minhas narinas negavam em mandar, meu corpo todo parecia ter levado uma surra só restando dor por todos os lados. Meu peito doía tanto que eu poderia jurar que estava sangrando por dentro. Levei uma mão até o meio de meus seios tentando amenizar a dor, mas era impossível. Tudo me atacava de uma vez só, em uma velocidade só.


- Você.. – Eu tentei perguntar, mas não conseguia.


- Eu estou dizendo que você precisa ir. – Anahí deu mais uns passos em minha direção e eu dei um para trás me mantendo distante. – Você não precisa lidar com a bagunça que eu sou. Você precisa de alguém que..


- Cala a boca. – Cortei ríspida a encarando. – Guarde os seus conselhos para você e vá para o inferno.


Anahí se calou me observando. Meu corpo estava quente demais, minha cabeça estava acelerada demais. Ela estava terminando tudo por nada? Insegurança outra vez? Eu não percebi que estava chorando até que o soluço me escapou da garganta. Anahí deu um passo fechando a distancia entre nós duas, mas a empurrei com força para longe de mim.


- NÃO ME TOCA! – Gritei com tanta raiva que senti minha garganta arranhar. – Eu estou farta dessa sua bipolaridade! Estou cansada de sempre estar aqui enquanto você faz o que bem entende na hora que bem quiser! Por/ra, Giovanna! O QUE EU SOU PARA VOCÊ? – Gritei a pergunta sentindo minha cabeça alta e as palavras emboladas em minha língua. – Você disse que me amava. – Contorci o rosto a encarando com o cenho franzido.


- Eu te amo. – Ela respondeu e o flash de uma frase que eu tinha ouvido fazia muito tempo relampejou em minha mente.


"Essa pode ter sido a última vez que eu te vi novamente, mas eu nunca lhe diria como eu estava me sentindo."


- Só amor não é o suficiente. – Repeti a frase sentindo o gosto amargo daquela citação. – Só amor não adianta, Giovanna. Eu preciso que você lute por mim, eu preciso que você me queira ao seu lado, não que me afaste como você sempre faz!


O silêncio nos atingiu e os olhos azuis de Anahí fugiram dos meus. Minha cabeça estava confusa e meu peito doía com a falta de respiração branda. Ofeguei algumas vezes me sentindo descartável, me sentindo uma completa estúpida por ainda estar ali.


- Você quer mesmo que eu vá? – Perguntei fraca e Anahí fechou os olhos balançando a cabeça em concordância apenas uma vez. – Eu juro que não conheço a mulher que está na minha frente. – Apontei conformada e ciente do fim que me aguardava e além de tudo cansada por sempre me encontrar naquela mesma circunstancia. – Você quer que eu viva a minha vida e a deixe em paz? Okay! Eu sinceramente não me importo mais, sabe o por que? – Mantive meus olhos nos de Anahí. – Porque você não se importa! Eu tentei amar por nós duas durante todo esse tempo e olha no que deu! – Abri os braços mostrando onde nos encontrávamos. – Passar bem, Giovanna! E faça o favor de dessa vez não voltar para a minha vida!


"Você poderia apenas não se importar, e isso simplesmente não poderia ajudar. E se os sentimentos simplesmente não fizessem nenhum sentido para você?"


Sai apressada do quarto batendo com força a porta atrás de mim. Me curvei apoiando as mãos em meus joelhos ordenando que o ar que entrava por minha boca chegasse até meus pulmões, mas eles não chegavam e minha cabeça parecia pesar uma tonelada. Meus olhos estavam completamente embaçados e os soluços não cessavam por um segundo. Desci as escadas correndo, precisava sair dali, precisava ir para longe enquanto orava mentalmente para acordar daquele inferno de pesadelo. Entrei no carro e não me importei com os pneus que cantaram com a velocidade inicial do veículo.


Eu não me lembro como fui parar em casa direito porque o lapso de memória ainda é falho. Lembro de abrir a porta do carro buzinando insistentemente até que meu pai apareceu na entrada da casa com uma expressão preocupada, só a visão dele fez com que meu corpo relaxasse e eu apagasse completamente ali na garagem.


Naquele mesmo dia, após acordar do desmaio, eu fui diagnosticada com uma doença autoimune, o que fez com que meu tempo em exílio no quarto se estendesse ainda mais. Eu não queria sair, eu não queria ver ninguém, eu queria sumir, desaparecer e ser inalcançável, mas ninguém me deixava definhar em paz. Inclusive você.


Você aparecia em meus sonhos todas as noites e cada vez que eu pensava que estava te bloqueando, algo me fazia lembrar de você. Eu acho que eu não soube aproveitar do tempo que tivemos para te dizer o que realmente deveria ter sido dito. Como por exemplo que teus olhos são os mais lindos que já vi ou que teu sorriso ilumina todo o meu mundo sem ao menos tentar. Que tua voz me dá paz e que seu toque me faz esquecer qualquer coisa.


"Mas é bom vê-lo aqui novamente, eu não quero dizer adeus.."


Meu coração ainda acelera quando te vejo no mesmo ambiente que o meu, ou quando seu nome é citado em algum trabalho que estou realizando. Talvez isso ainda signifique que eu permaneço te amando, certo? A verdade é que acho que nunca vou conseguir deixar de te amar.


Todos os nossos momentos foram tão intensos que se eu fechar os olhos ainda posso ouvir sua voz, sentir o seu toque e desfrutar do seu cheiro. O "agora" era algo tão precioso que abandonei todas as minhas convicções, todas as minhas crenças para transformá-lo em "futuro".


Eu não vou mentir para você e dizer que te esqueci porque é impossível apagar o que nós vivemos, o que nós tivemos. Eu ainda acordo no meio da noite chorando de saudade de você, te desejando por perto apenas por alguns minutos. Eu ainda me pego vendo nossas fotografias antigas e me pergunto se eu poderia ter feito algo diferente, de uma maneira diferente, para que o nosso presente não estivesse sendo dessa forma, mas é inútil. O nosso agora passou e eu sou grata por cada momento bom que tive ao seu lado.


Você permaneceu no meu coração durante tanto tempo. Você foi a minha segurança e o meu medo. Você era a tempestade enquanto eu representava a calmaria. Você era a minha combinação de anjo e demônio que carregava a minha paz em seu peito. Você era a vida que me foi tomada com tanta violência que me deixou completamente perdida.


Anahí, você foi o meu mundo, meu tudo. Mas a minha pergunta ainda permanece: Em algum momento eu fui o seu?


 



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Autor(a): portisavirroni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 5



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  • fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21

    Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★

  • fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23

    Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?

  • candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37

    Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.

  • fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33

    Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.

  • Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49

    To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!


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