Fanfic: My world was always you ( portinõn) finalizada | Tema: Rebelde
Alguns anos depois.
POV Dulce
Tempo: Duração linear de fatos que criam a ideia de passado, presente e futuro. É algo que não se pode controlar, não se pode tocar ou definir ao certo com palavras.
Há quem diga que o tempo é rotativo e que fatos se repetem quando os astros completam determinado ciclo, tal como o clima.
Há quem diga que o tempo é único, porém imutável, assim como a crença no destino determinado.
E aqueles que também acreditam que é único, entretanto, mutável; a fé no livre arbítrio.
No decorrer da história sobre o tempo podemos encontrar três características predominantes: A criação do relógio, o desejo de voltar ao passado e a ânsia de prever o futuro. Todas as três derivadas do mesmo princípio humano: Controlar o tempo.
Nós, seres humanos, já nascemos com o desejo de estar no controle impregnado em nossa pele. Controlamos bens materiais, controlamos vontades, sentimentos, e até mesmo pessoas, mas uma coisa que não nos apetece é o controle do tempo.
Você pode voltar os ponteiros do relógio para que a noite volte a ser dia? Pode pular um dia no calendário para que certa data chegue mais rápido? Pode paralisar a rotatividade da terra e tudo o que há nela?
A resposta é: Não.
A única coisa que podemos fazer é respeitar, seguir e aprender a conviver com essa tal duração linear de fatos que só anda para frente e nunca retrocede.
Entretanto, no meio desse grande ponto de interrogação que é a força do tempo, uma coisa é certa: O tempo é o melhor remédio para tudo.
É ele que cura a dor da perda, é ele que nos fortalece, é ele que amadurece ideias, é ele que nos faz crescer.
O tempo nos dá confiança. O tempo nos dá segurança. O tempo nos dá certezas.
Tempo.
Tudo é questão de tempo.
E, por vezes, paciência.
Eu não me recordava quanto tempo estava debruçada sobre o parapeito do prédio alto, observando o pequeno pássaro pular pelo beiral do edifício. Uma de suas asas parecia estar machucada, o impedindo de sobrevoar a cidade com a liberdade que estava acostumado a ter.
Tentei me aproximar mais de uma vez para poder ajudá-lo de alguma forma, mas quanto mais perto eu ficava, para mais longe ele ia.
- Dulce? - A voz familiar soou atrás de mim de maneira cautelosa. - A equipe de maquiagem já chegou e está esperando autorização para poder subir.
Suspirei, lançando um último olhar para o pequeno pássaro que aquele ponto já estava a uma sacada abaixo da minha. Precisava voltar para a vida real. A vida real em que eu era uma cantora e atriz que estava a um passo de abrir a caixa de pandora que libertaria todos os demônios que havia escondido.
Olhei para Cláudia que mastigava o lábio inferior apoiada no portal de acesso à suíte.
- Sabe que não precisa fazer isso se não quiser. - Ela disse, pela milésima vez naquele dia.
Respirei fundo, sentindo o primeiro bombardeio de memórias estremecer-me dos pés à cabeça, mas o canalizei em um lugar, estrategicamente, neutro.
- Pode autorizar a subida deles. - Falei desviando os olhos dos seus e me afastando do parapeito.
- Dulce..
Pisquei com força ao escutar a voz pingando piedade e esbocei meu melhor sorriso artístico para minha irmã.
- Está tudo bem. - Menti, sabendo que ela sabia que era mentira, mas agradecendo por não me confrontar. - Quanto mais rápido eu ficar pronta, mais rápido passo pelo tapete vermelho e mais rápido essa noite acaba. Agora, deixe-os subir.
Um acenar de cabeça e olhos compreensivos foi tudo o que recebi, antes da morena me dar as costas e sumir dentro da suíte.
********
POV Anahí
As cortinas fechadas não impediam os raios solares de iluminarem o ambiente. Meus dedos batiam marcados sobre as teclas do piano no canto da sala e minha espinha dorsal recebia pequenos choques elétricos com cada pequena nota invertida. Abri os olhos quando um bater de porta e saltos contra o assoalho se mesclou à melodia, fazendo com que encontrasse a imagem de minha irmã andando ofegante em minha direção.
- Você enlouqueceu? - Ela disparou, se colocando de pé ao meu lado. - Já viu que horas são? Já viu que dia é hoje?
Não respondi. Apenas apoiei o braço esquerdo na tampa do piano e deitei minha cabeça ali, enquanto dedilhava uma pequena escala com a mão direita. Eu sabia que Mari entenderia meu silêncio. Ela sempre entendia.
Senti minha irmã sentar ao meu lado da banqueta e segurar minha mão, me impedindo de continuar com o dedilhado. Meus olhos ainda estavam sobre as teclas pretas e brancas, vagando por caminhos torturantes que eu sempre procurava fugir, mas sempre parecia me encontrar.
- Ela já chegou? - Sussurrei na mesma posição.
Mari esfregou minha mão entre as dela e suspirou.
- Desde a madrugada. - Fechei os olhos e inspirei fundo com a informação. - Você precisa se arrumar.
- Eu não tenho mais forças. - Confessei baixo, sabendo que a mais velha ouviria. - E se.. - Pausei, sentindo meus olhos tremerem. - E se..
- Pare. - Mari me interrompeu, apertando minha mão com um pouco mais de força. - Não pense nisso. Não pense no se. Apenas pense no que você vai fazer, porque, Anahí. - Uma de suas mãos tocou meu queixo e o ergueu para que eu olhasse o sorriso pequeno em seus lábios finos. - Você vai conseguir. Eu acredito em você. - Apertei os olhos fechados e respirei fundo. - Agora, você precisa se arrumar. - Minha irmã sussurrou de maneira infantil, como fazia quando éramos crianças. - Precisa se arrumar e ir pegar aquilo que é seu.
Eu não sabia exatamente o que Mari julgava ser meu naquele momento, mas, mesmo assim, me levantei.
*************
POV Dulce
Sorria.
Flashes.
Acene.
Flashes.
Encare.
Flashes.
Pontos negros surgiam diante de meus olhos, mas os comandos que me acompanhavam desde criança ainda ecoavam forte em minha cabeça. Uma entrevistadora conhecida me desejando parabéns por algum trabalho recente, pessoas gritando atrás dos fotógrafos.
- Aqui, Dulce!
Outra pose.
- Dulce María!
Faltava pouco. Já podia avistar uma nova limousine estacionar na entrada do local.
Cinco.
Sorria.
Quatro.
Jogue o cabelo.
Três.
Erga a sobrancelha.
Dois.
Vire.
Um.
Acene.
- Uma das personalidades mais requisitadas do Premios juventude desse ano, como em todos os anteriores. - A entrevistadora disse para a câmera antes de olhar para mim. Deixei um sorriso aparecer em meus lábios pintados de vermelho e arrumei a calda de meu vestido branco de alças finas. - Como se sente, Dulce?
E o microfone foi direcionado até meu rosto. Olhei ao redor e ostentei o sorriso, enquanto respirava fundo. Mais uma etapa para finalmente entrar no ambiente fechado.
- Eu estou ótima! Verdadeiramente, ótima! - Disse animada. - É realmente uma honra estar presente em mais uma premiação maravilhosa como essa.
- Não se torna algo repetitivo depois de alguns anos? - A mulher perguntou com humor e eu sorri, coçando a testa com o polegar.
- Não. Não mesmo. - Neguei, começando a gesticular com a mão direita. - Todos os anos é uma emoção nova, artistas novos, música nova. Enfim, é realmente muito gratificante, para mim, poder presenciar e homenagear tantas pessoas talentosas.
- Dulce!
Sorri para uma pequena multidão alvoroçada contra a grade de segurança e lhes assoprei um beijo, refletindo que o tempo da entrevistadora já estava no fim.
- Todos os anos você apresenta uma categoria da premiação. - A mulher falou, atraindo minha atenção novamente. - Qual será a dessa noite, Dulce? - Sorri abertamente e neguei com a cabeça.
- Vocês terão que assistir ao show. - Falei com um tom de mistério.
- Okay, okay. - Ela aceitou e eu já estava erguendo a barra de meu vestido, quando fez uma última pergunta que congelou todo o meu corpo. - Muitos estão apostando que o maior prêmio da noite vai para Anahí. O que você acha disso, Dulce?
Foram dois segundos para me recuperar. E nesses dois segundos procurei respirar, enquanto fingia arrumar um vinco inexistente no tecido de meu vestido. Voltei com meus olhos brilhantes para a mulher e com o sorriso largo presente em meu rosto.
- Eu totalmente estou torcendo por Anahi. O trabalho dela tem sido maravilhoso e muito merecedor.
*************
Calor era tudo o que eu sentia atrás do palco. Minhas mãos suavam, o oxigênio parecia compactado e a quantidade de pessoas correndo de um lado para o outro só piorava tudo.
- Você quer uma água? - Ouvi Cláudia ao meu lado e parei de me abanar com a ficha do resultado que eu estava prestes a revelar. - Uma bombinha de asma? Parece que você vai cair dura a qualquer momento.
- Cala a boca. - Disse entre dentes, voltando a me abanar. - Eu estou bem.
- Oh, claro. - Minha irmã bufou em deboche. - Escuto isso faz vinte anos. - Rolei os olhos, tirando os olhos do palco e concentrando-me na morena abusada. - O quê? Eu não disse nenhuma mentira. A mentirosa aqui é você.
- Você pode, por favor, calar a boca por dois minutos? - Cláudia passou o polegar e indicador sobre os próprios lábios como se os tivesse lacrado. - Obrigada. - Respirei fundo e amaldiçoei a tremedeira que dominou minhas pernas.
A performance que estava sendo executada no palco parecia estar no fim e isso fazia meu estômago dar cambalhotas dentro da barriga. Um zunido se fez presente em meus ouvidos e eu não conseguia escutar nada além dos meus próprios pensamentos.
Eu não pensava que seria tão difícil. O plano era ser cordial, educada e mecânica, mas o conteúdo dentro do envelope varreu todas as utopias e concretizou a realidade do que estava prestes a acontecer.
- Você não precisa fazer isso. - A voz de Cláudia soou outra vez e eu tomei uma longa respiração assim que a performance que me separava do palco acabou. - Outra pessoa pode ir no seu lugar.
- Não vou deixar outra pessoa fazer isso. - Disse firme, erguendo uma sobrancelha. - Realizarei a tarefa e iremos embora como de costume, okay?
Cláudia me olhou com a expressão inquieta. Havia passado a semana inteira tentando me convencer do contrário, mesmo sabendo que eu não cederia. Não havia outra pessoa para aquele papel, ao menos na minha cabeça.
- Okay. - Ela sussurrou e meu nome foi chamado pelo sistema de som.
Meus passos eram marcados até o microfone. Um sorriso pequeno presenteava meus lábios enquanto a platéia me aplaudia. Meu coração parecia bombear o sangue de maneira rápida. Era como se eu nunca houvesse subido naquele palco para fazer o que estava prestes a fazer. Arrumei a calda do meu vestido, ouvindo os aplausos se dissipar e então suspirei.
- Hey. - Eu sorri e alguns assobios puderam ser ouvidos pelo espaço amplo. - A maior parte da nossa vida é uma série de imagens. Elas passam pela gente como cidades numa estrada, mas algumas vezes, um momento se congela, e algo acontece. E nós sabemos que esse instante é mais do que uma imagem. Sabemos que esse momento, hoje e agora, irá viver para sempre em nossas memórias. - Pausei e vislumbrei a mulher de vestido preto e olhar intenso sentada na primeira fileira. O ar me escapou dos pulmões e precisei engolir em seco para prosseguir no monólogo. - Vamos aos indicados de Melhor Álbum do Ano.
Obriguei meus olhos a encararem o telão que apresentava os cinco indicados na mais aguardada categoria da noite, mas sentia os olhos azulados na primeira fileira perfurarem minha pele. Eu sempre sentia seus olhos sobre mim, sua presença ao meu redor, mesmo que eu me negasse demonstrar perceber.
O terceiro indicado desapareceu da tela, dando lugar para ela: Anahí. O álbum cujo nome me fazia estremecer dos pés à cabeça pela simples cogitação de ter sido feito para mim: Inesperado.
Mais uma salva de palmas se fez presente quando a exibição dos concorrentes chegou ao fim, então abri o envelope em minhas mãos e encarei a platéia.
- E o prêmio de melhor álbum do ano vai para: – Um sorriso orgulhoso e sincero escapou de meus lábios e pisquei os olhos com força devido ao confronto entre alivio e nervoso que agitava meu peito. – Anahí.
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POV Anahí
Meus olhos ainda estavam cravados em Dulce em cima do palco. O vestido branco de alças finas lhe caindo majestosamente pelo corpo delgado, o cabelo castanho solto em cachos que cobriam suas costas e o sorriso pequeno enfeitando os lábios ao me encarar de volta. As palmas e assobios irritavam meus ouvidos e Mari precisou me auxiliar em direção ao palco.
Minhas mãos suavam, minha garganta estava seca e minhas pernas pareciam independentes do resto de meu corpo.
Subi as escadas com cuidado, erguendo a barra do vestido para não tropeçar. Engoli em seco e tentei colocar um pé na frente do outro para alcançar a latina que já segurava o objeto de ouro. A platéia ainda estava alvoroçada quando nossos dedos roçaram uns nos outros na entrega do prêmio e, então, um abraço suave.
- Eu preciso falar com você. – Sussurrei, com a mão firme na base de sua coluna para que ela não se afastasse tão rápido. – Não vá embora.
O cheiro de seu perfume fresco era exatamente como me recordava, a delicadeza do toque de sua pele na minha também. Os aplausos diminuíram e nos afastamos. Com a mão livre, apertei a dela em um pedido mudo enquanto os olhos castanhos me fitavam incertos. A observei se colocar na lateral do palco e então me dirigi até o microfone.
- Ual. – Soltei, estudando a estatueta em minhas mãos. – Quando eu estava no processo de criação desse álbum eu jamais imaginei que ele me traria até aqui, mas isso é muito gratificante. – Sorri sincera e olhei para a platéia. – Quero agradecer minha equipe por me apoiar e aguentar minhas exigências. Eu não irei citar nomes porque isso ficaria muito comprido, mas muito obrigada. Também quero agradecer aos meus familiares por me suportar nos momentos de crises e saber me vetar quando necessário. Preciso ressaltar o nome de minha irmã Marichelo. – Ergui o gramofone em direção à mulher de pele dourada, sorriso brilhante e lágrimas nos olhos na primeira fila. – Muito obrigada, minha irmã. Eu definitivamente não sei o que faria sem você. – Mais uma salva de palmas preencheu o espaço e olhei rapidamente para a lateral do palco, ela ainda estava lá. – E por último. – Tornei a falar no microfone. – Queria agradecer a pessoa responsável por cada palavra de cada música inclusa em inesperado. Uma vez você me perguntou o que você era para mim. Com esse álbum eu espero que você entenda a minha resposta. – Soltei nervosa. - Você é tudo. Obrigada.
A salva de palmas e os assobios novamente agitaram o ambiente e eu voltei a respirar.
O que é pior? Não conseguir tudo o que você sempre sonhou ou conseguir e descobrir que não era o bastante?
Eu havia sonhado com aquele momento inúmeras vezes, mas parecia incompleto agora, algo não estava certo.
Olhei novamente para a lateral do palco e Dulce não estava mais lá.
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POV Dulce
- Vamos embora. – Puxei o pino de retorno do ouvido e deixei na primeira mesa que vi pela frente.
- Você tem certeza? – Cláudia tentava seguir meus passos apressados, mas não conseguia me alcançar. – Dulce, a mulher se declarou para você.
- Eu sei. – Rosnei, empurrando a porta dupla que dava acesso a outro espaço da arena. – Por isso precisamos sair daqui.
Pelos meus cálculos, aquele caminho daria para os fundos da arena, onde normalmente os caminhões buscavam a aparelhagem de som usada no evento. Já havia feito aquela rota algumas vezes afim de ninguém saber de meu paradeiro, o problema seria meu motorista chegar até ali antes dos meus fãs.
Eu não conseguia mais escutar nenhum barulho vindo do palco principal. Nenhuma voz ou música, apenas os saltos, meus e de Cláudia, batendo contra o chão fosco.
Um sopro de alívio fez meu corpo relaxar ao visualizar o letreiro luminoso indicando a saída do local. Coloquei a mão na barra de metal da porta que me levaria para o lado de fora, mas uma voz familiar chamando por meu nome me fez paralisar.
- Dulce! - Mais perto. Agora eu já podia ouvir seus passos contar a diminuição da distância entre nós. - Você não pode fugir para sempre!
- Anahí, eu acho que agora não é uma boa hora. – Dessa vez foi a voz de Cláudia que me dava cobertura.
Fechei os olhos e respirei fundo. Meu coração já tinha corrido até minha garganta e meus joelhos tremiam equilibrados naquele salto alto. Aquilo não era bom, nunca era. Aqueles sintomas eram o claro sinal de que eu estava sujeita a me machucar novamente.
Eu poderia sim fugir para sempre daquilo.
Empurrei a porta pesada e o ar quente da noite contra minha pele me fez estremecer ainda mais.
- Dulce! - E então mais um sintoma: Arrepio. Suas mãos haviam me puxado pelos braços e me colado frente ao seu corpo, fazendo-me sentir o hálito doce soprar contra meu rosto. - Cinco minutos. Eu só preciso de cinco minutos e então você decide se mereço sua atenção ou não.
Eu queria olha ao redor para fiscalizar quem estava a nossa volta. Queria saber se Cláudia estava ali por perto, se ela tinha conseguido falar com o motorista para que nos buscasse, mas meus olhos estavam grudados nas orbitas azuis agitados de Anahí. As mãos leves ainda me seguravam os braços de maneira tão sutil que um simples gesto meu me deixaria livre.
Mas eu não queria ficar livre.
- Estou ouvindo. - Minha voz saiu tão rouca e baixa que precisei engolir em seco. - Acho que já se passou um minuto. Você tem apenas mais quatro.
Outro sintoma: Euforia. Pássaros, com o bater de asas frenético, invadiram meu peito quando Anahí sorriu fraco.
- Certo.. - Sua voz saiu baixa e suas mãos abandonaram meus braços para jogar o próprio cabelo para trás. - Imaginei tanto essa oportunidade de falar e agora não sei o que dizer. - Um riso nervoso lhe escapou dos lábios vermelhos e eu precisei cruzar os braços na tentativa de recuperar a compostura.
- Dois minutos, Giovanna. - Avisei nervosa, enquanto lutava internamente contra meu cérebro que mandava correr dali antes que fosse tarde demais.
- Okay. Eu queria te pedir desculpa. - Sua voz saiu urgente, assim como a gesticulação de suas mãos.
- Eu acho que você está um pouco atrasada para isso. – Cláudia respondeu atrás de mim e os olhos sérios de Anahí pousaram sobre minha irmã.
- Eu sei, mas preciso que ela me ouça, Cláudia. Por favor. - Ela pediu outra vez, voltando a olhar em meus olhos. Cada gesto dela demonstrava cautela como se estivesse andando sobre uma ponte de vidro. - Eu passei sete anos da minha vida sem você, Dulce. Eu preciso que você me escute.
Umedeci meus lábios e corri os olhos para longe dos da mulher. Podia sentir meu corpo aquecer com a brisa quente que abraçava minha pele, o que dificultava o meu entendimento sobre o arrepio que sentia ser por causa do clima ou por causa da proximidade de Anahí.
- Estou te ouvindo. - Sussurrei, alisando meus próprios braços desnudos.
O silêncio preencheu, por alguns segundos, a noite iluminada por um poste solitário. Eu não encarava Anahí, mas imaginava perfeitamente sua expressão facial: Os olhos brilhantes e sorriso esperançoso.
- Eu não quero só te pedir perdão,
Dulce. Eu preciso que você me perdoe, não só por mim, mas por você também. Eu cometi muitos erros com você e também comigo no passado e não me orgulho disso. Eu era insegura, perdida, quebrada e você supria tudo isso de uma forma que não era saudável para nenhuma de nós duas. Eu não estou dando razões para os meus erros, mas quero que entenda que eu aprendi com eles. Quero que entenda que eu mudei por mim, assim como você mudou por você. - Concordei com a cabeça, mantendo meus olhos longe da mulher. - Olhe para mim. - Ponderei sobre encará-la, mas após alguns segundos fiz o que me pediu, conectando meus olhos nos seus trêmulos. - Aquele álbum é todo sobre você. E existem mais centenas de letras nos meus diários, ainda sobre você. Eu sempre estive aqui, esperando por você. Esperando por um momento em que pudéssemos nos conhecer outra vez. Eu passei mais de uma década convivendo com minha melhor amiga e agora passei sete anos sem ela. Eu só preciso que você me perdoe, Dulce.
E lá estava o resultado dos sintomas que me asfixiavam; O motivo de eu sempre correr na direção contrária; O fator que não me permitia uma reaproximação durante todos aqueles anos.
Um sorriso triste escapou de meus lábios e vi o farol de um carro iluminar a rua sem saída. Anahí me encarava em expectativa, sua boca entreaberta e o peito mostrando a respiração ofegante.
- Eu já te perdoei faz muito tempo, Anahí. - Disse simples, erguendo os ombros. - Na verdade isso foi muito fácil de ser feito. – Declarei, limpando uma lágrima que havia rolado por meu rosto.
- Dulce? - Ouvi Cláudia atrás de mim, mas não me virei. - O carro já está pronto.
- Não vá. - Anahí sussurrou outra vez, fazendo meu coração acelerar ainda mais. - Por favor.
- Eu nã... - Resfoleguei, sentindo-me fraca demais. - Eu não posso..
- Eu poderia ficar aqui citando vários bons motivos para você ficar comigo essa noite, Dulce, mas enquanto isso o relógio estará correndo e a cada mover dos ponteiros é mais tempo que estamos perdendo. - Seu olhar vagou de mim para algo atrás de mim e então deu um passo à frente, segurando minhas mãos e grudando seus olhos nos meus outra vez. - Não acha que já perdemos tempo suficiente?
Tempo. Não se pode controlar o tempo, apenas viver ele. Viver cada segundo com a mesma intensidade que se viveria ao saber que seria seu último.
Perdida nos olhos de Anahí, recordei-me do pássaro que tentei ajudar mais cedo. Talvez ele não estivesse machucado, talvez ele estivesse apenas com medo de que eu o machucasse. Todos os seres vivos tem esse mecanismo de defesa quando uma suposta ameaça aparece, mas Anahí não me parecia uma ameaça naquele momento.
Me afastei das mãos quentes que me seguravam e dei um passo para trás.
- Cláudia. – Chamei por cima do fôlego, observando os olhos expectantes de Anahí se tornarem tristes e aquilo fez meu coração apertar dentro do peito. - Use o motorista para voltar para o hotel. - Instrui, observando o olhar de Anahí se tornar confuso. - Eu vou com a Anahí.
As piores batalhas que temos durante nossas vidas são contra nossos próprios sentimentos. Eles alternam entre suaves e extremos, nos fazendo ir do céu ao inferno em questão de segundos, dependendo do que e de quem se trata.
Há coisas que nos importamos demais e coisas que nos importamos de menos. Sentimentos são seletivos de acordo com nossos interesses. Por mais que tentemos controlá-los ou amenizá-los, eles são mais fortes e acabam nos destruindo no processo.
Reprimir o que sente nos causa frustração e tentar expor o que não sentimos trás insatisfação. Então, sinta. Viva. Contanto que isso lhe traga felicidade.
Era como ter voltado dez anos de minha vida. O som baixo da música calma ecoava do banco de trás e os olhos de Anahí eram fixos na estrada enquanto dirigia.
Eu não sabia para onde ela estava me levando, mas naquele momento eu não estava me importando muito. Estava mais preocupada com o reboliço de sentimentos que meu corpo tentava suportar.
Odiava que mesmo após todos aqueles anos, estar ao lado de Anahi me fazia sentir como se eu estivesse de volta aos meus 16 anos. Odiava que somente ela me fizesse sentir daquela forma. Odiava que seus olhos ainda me fizessem faltar o ar e o meu corpo arrepiar. Odiava que sua voz fizesse meu coração bater tão forte ao ponto de sentir pulsar contra meus tímpanos. Odiava com todas as minhas forças que fosse ela a causadora de tudo aquilo, mas era tão bom que eu não conseguia fugir.
- Chegamos.
A sentença me fez acordar para onde havia estacionado o carro. O breu silencioso da noite era cortado unicamente pela espuma branca das ondas que se quebravam na areia da praia.
- Onde... – Olhei para o relógio no painel do carro, reconhecendo a hora avançada da madrugada. – Malibu?
Reconhecia o lugar. A maioria das vezes em que estive naquele local foi em minhas lembranças transformadas em sonhos.
Anahí apenas esboçou um sorriso antes de sair do carro. Os refletores da orla iluminavam o suficiente para eu perceber que estávamos sozinhas e pela enésima vez me perguntei o que eu estava fazendo. Eu deveria correr contra o perigo, não na direção dele. Por mais que Anahí não me parecesse uma ameaça, eu sabia que mesmo com todas as boas intenções do mundo, o ser humano era capaz de machucar o outro.
- Pode vir. O vento não está forte. – Anahí avisou apoiada no capô, enquanto desafivelava a sandália que usava.
Eu podia ver através do vidro que o vento estava brando devido ao leve balança do vestido negro que ela usava, mas só consegui constatar ao abrir a porta e sentir a maresia quente contra minha pele.
- Por que estamos aqui? – Minha voz saiu mais grossa do que eu pretendia, mas não me importei em amenizar a situação.
- Hã.. – Anahí franziu o cenho e se colocou sobre os dois pés descalços. O par de sandálias enganchado em seus dedos da mão esquerda e o seu prêmio sobre o capô do carro. – É o único lugar silencioso e privado que conheço. – Eu podia ver a sinceridade em toda sua expressão e aquilo me fez cruzar os braços na defensiva, enquanto desviava a atenção para o mar que acariciava a areia. – Está tudo bem?
Se estava tudo bem? Quase sorri com a ironia da pergunta, porque nada estava bem. Eu não deveria ter me deixado levar até ali, eu não deveria nem estar ali.
- Na verdade não. – Respondi em meio aos tremores de meu corpo. – A última vez que estive numa praia foi com você e não sei se isso me trás lembranças boas ou ruins.
Meus olhos ainda estavam nas ondas que nasciam e se dissipavam na areia. Era um ciclo sem fim. Elas vinham com força e iam embora destruídas, assim como eu.
- Se você tiver um lugar melhor em mente ou quiser ir embora você pode falar, Dulce. – A voz de Anahí me puxou do mar para encarar seus olhos sérios. – Você não está aqui como uma prisioneira. Se você quiser ir você pode ir, se quiser ficar você pode ficar. O que eu não quero é que você faça algo contra sua vontade.
Ali estava a oportunidade. Era apenas concordar em ir embora que eu poderia ir.
A nossa vida é assim. Repleta de oportunidades e escolhas. Nossos atos determinam nosso futuro. Uma escolha tanto certa quanto errada trás consequências boas ou ruins. Tudo depende do que escolhemos. O destino é a gente quem faz.
- Não estou fazendo nada contra a minha vontade, Anahí.
E lá estava o sorriso satisfeito nos lábios da mulher quando eu ergui meu pé direito para me livrar do salto que usava.
De fato, eu não estava fazendo nada contra a minha vontade. Eu estava ali porque eu queria estar. O problema era saber que eu não deveria.
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POV Anahí
Remorso.
Esse sentimento me acompanhou durante longos anos. Inquietude, sofrimento, tormento, angústia. Um compilado de sensações autodestrutivas que estabelecia morada em minha mente sempre que eu colocava a cabeça no travesseiro.
Ver Dulce à distância e saber que a havia machucado de uma maneira irreversível, fazia meu estômago revirar e vomitar, constantemente, enojada comigo mesmo.
Durante a madrugada era a pior parte. Repassava as memórias em minha cabeça, enquanto evitava procurá-la. Os pesadelos agonizantes quando finalmente pegava no sono.
Era um inferno.
Mergulhei fundo na depressão, abraçando a infelicidade inúmeras vezes. A culpa pesava em meus ombros de tal maneira que me fazia desejar meu próprio fim.
Percebi que estava realmente definhando quando vi o olhar preocupado de minha mãe. Seu encorajamento de que eu deveria ser quem eu era, de que eu deveria ir atrás de Dulce se era aquilo que me faria feliz. Sabia que aquilo era obra de Mari e fiquei grata pela súbita compreensão, mas não era tão simples.
Eu não havia afastado Dulce por mim. Eu havia soltado as amarras para libertá-la e deixá-la em segurança. Havia me afastado para que ela alcançasse seus objetivos, seus sonhos, sua felicidade.
O meu erro foi não perguntar se era isso o que ela queria também.
Assisti de longe Dulce erguer um tijolo de cada vez. A observei juntar cada pedaço e colá-los até que sua imagem inabalável retornasse, assim como eu fazia com os meus. Por muitas das vezes, o desejo de me aproximar para tentar confortá-la ou ajudá-la de alguma forma, pulsava forte por toda a extensão de meu corpo, porém, o receio de quebrá-la outra vez era maior.
Entre as noites de insônia e as sessões de terapia, aprendi que eu não estava pronta. Durante toda a minha vida eu não estive pronta para ela, mas principalmente para mim mesmo. O ditado onde dizia que eu não poderia amar alguém antes de amar a mim mesmo foi se tornando mais real a cada dia que se passava. Aprendi que não poderia depositar minha sanidade e minha confiança em ninguém além de mim mesmo, porque quando confiamos em nós mesmo, os acontecimentos e pessoas externas podem até nos machucar, nos magoar, mas jamais nos destruir.
Com o tempo, ser suficiente para mim mesmo me deu confiança para ser o suficiente para outras pessoas, mas, principalmente, ser suficiente para Dulce. Entretanto, o problema já não era mais o medo de machucá-la, porque eu tinha a convicção de que jamais repetiria aquela estupidez. O problema era o medo da rejeição.
Foram meses arquitetando formas de me reaproximar sem movimentos bruscos. Meses que se transformaram em anos. Cada passo que eu dava para frente eram cinco passos que Dulce dava para trás. E eu não podia culpá-la, mas também não podia deixar nossa história terminar daquele jeito.
Estávamos sentadas em silêncio sobre a areia da praia deserta. O vestido branco de Dulce reluzia sob a luz do luar enquanto os olhos castanhos não desviavam do mar e em um determinado momento eu sorri com aquele silêncio. Não era um dos silêncios desconfortáveis. Era um dos silêncios que Dulce usava, anos atrás, para quando eu precisava falar alguma coisa.
- Do quê está rindo? – Dulce perguntou devagar, ainda olhando para além do mar, me fazendo estender o sorriso por meu rosto.
- Como você sabe que estou rindo? – Perguntei curiosa.
O rosto de Dulce virou em minha direção e os olhos castanhos pousaram sobre meus lábios brevemente, constatando o fato, antes de focar em meus olhos, devagar.
- Apenas sei.
Por um momento, eu não pude respirar. Meu corpo começou a sofrer pequenos espasmos e meu cérebro não conseguia formular uma palavra sequer, até que ela desviou a atenção de volta para o mar, me permitindo recuperar o controle de meu próprio corpo.
- E então.. – Dulce retomou. – Por que estava sorrindo?
- Eu só.. – Suspirei, olhando na mesma direção que ela. – Achei engraçado estarmos aqui agora. Nós duas sozinhas e em silêncio. Me fez lembrar de quando éramos mais novas. Eu cheguei a imaginar que nunca mais conseguiria ficar assim com você.
- Eu te entendo. – Ela concordou, acompanhada de uma respiração forte. – Na verdade, eu pensei que conseguiria fazer com que isso nunca mais acontecesse. – A declaração sincera foi cravada como uma estaca de gelo em meu peito, fazendo-me sorrir com um sabor amargo. – Desculpe. – Percebi o rosto de Anahí virar em minha direção, mas continuei com a atenção para as ondas. – Eu só não sei como agir.
- Você pode agir do jeito natural. – Dei de ombros. – Eu ainda sou a mesma pessoa que cresceu com você, Dulce. Não tem muito mistério nisso.
O silêncio pousou entre nós por um breve momento, dando voz para o mar barulhento.
- Meu problema não é a pessoa com quem eu cresci. – A voz de Dulce veio baixa e rouca. – Meu problema é a pessoa que me afastou daquele jeito.
Abaixei a cabeça e fechei os olhos, respirando fundo e sentindo o ar salgado invadir meu sistema respiratório. Dulce não precisava descrever minuciosamente a quê se referia. No inicio, tive pesadelos com aquele momento em todas as vezes em que conseguia dormir: As lágrimas de Dulce e a garrafa de uísque em minha mão.
- Você tem todo o direito de me odiar. – Soprei cautelosa.
- Eu não te odeio. – A negação veio de imediato, trazendo calmaria para meus medos. - Eu soube, no momento em que te encontrei naquele estado, que você não estava tentando me machucar. – Senti seus olhos sobre mim, mas minha atenção estava nos dedos de meus pés, que brincavam com a areia fina da praia. – Eu havia decorado cada olhar seu, cada expressão, cada tom de voz. Foram mais de dez anos convivendo com você para saber o que você estava tentando fazer. Você não queria se afastar, então você tentou me afastar da pior maneira possível e conseguiu.
- Você iria se eu tentasse de outra forma? – Perguntei curiosa e ergui a cabeça para encontrar os olhos castanhos reflexivos.
Outro momento de silêncio. A atenção de Dulce escapou por entre meus dedos sendo sugada pelo mar revolto outra vez.
- Naquela época? – Ela resfolegou, alisando os joelhos cobertos pelo tecido fino do vestido. – Eu acho que não.
A confissão retirou uma grande quantidade de peso que eu carregava em minhas costas, fazendo com que um sopro de alivio invadisse meu peito diante da confirmação de minhas suposições.
- Parece que não é só você que decorou meus trejeitos afinal. – Brinquei, ganhando um breve olhar de soslaio de Dulce.
E então, o ar denso que nos envolvia parecia ter se dissipado, deixando o clima mais sutil.
Geralmente, é assim que muitas das vezes os conflitos começam a ser solucionados. Quando há algo para ser esclarecido, não conseguimos agir com naturalidade. Nos tornamos calados, irônicos, sarcásticos, agressivos, até externar e colocar o problema sobre a mesa.
A sinceridade machuca, mas também educa, se exposta da maneira correta.
- A gente não pode fingir que nada aconteceu. – Ela disse séria, cruzando os braços sobre os joelhos encolhidos. – Não podemos fingir que ainda somos as mesmas pessoas, porque eu mesmo não sou mais aquela Dulce.
- E eu não sou mais aquela Anahí. – Respondi em mesmo tom, fitando o horizonte. – Será que podemos nos conhecer outra vez?
**************
POV Dulce
Certa vez li um poema onde o autor narrava nossa vida como uma viagem de trem repleta de embarque, desembarque e acidentes ao longo do caminho. Algumas pessoas entram em nosso vagão por um breve momento, outras permanecem conosco até o final. Uns precisam desembarcar antes do tempo, outros apenas mudam de vagão, mas o destino continua permanecendo o mesmo.
Anahí havia saído de meu vagão fazia muito tempo, mas eu sabia que ela ainda estava a bordo. Ao longo do percurso, embarque e desembarque ocorreram como de costume. E agora, cá estava ela de volta ao meu vagão, reivindicando seu assento novamente.
A cada frase que saia da boca de Anahí, era um tijolo a menos na barreira que eu havia erguido e eu não tinha mais como evitar aquilo. O motivo de eu sempre correr na direção oposta era justamente aquele; deixar-me comover por quem ela era.
Sua voz desenvolta não havia mudado em nada, os olhos brilhando de animação enquanto relatava os fatos que eu havia perdido de sua vida, o gesticular das mãos para reforçar o que a boca falava.
Ao mesmo tempo em que ainda parecia ser aquela criança de 6 anos de idade que conheci, também era uma mulher feita com os traços do rosto e corpo amadurecidos.
Eu sentia minha pele gelada, mas não era por nervosismo ou coisa do tipo. A brisa que corria pela noite tornava-se fria a cada avançar da madrugada, assim como o mar tornava-se mais revolto.
- Não. Você tinha que ver a cara do do papai quando a Aninha arrumou o primeiro namorado. – Anahí falou entre risadas, fazendo-me sorrir involuntariamente. – O rosto dele estava tão vermelho de raiva que eu, honestamente, pensei que a cabeça dele fosse explodir. Eu nem me lembro de como era o menino de tão rápido que ele foi embora. Deu nem tempo da Aninha falar o nome dele.
- Eu não sabia que o seu pai era ciumento assim. – Comentei por cima de um sorriso contido.
- A gente também não sabia. – Sua voz veio divertida. – Só deu tempo de eu segurar meu pai enquanto Mari corria com a Aninha pra fora de casa. – Um suspiro lhe recompôs, mas o ar risonho ainda não havia saído do canto dos lábios, enquanto fitava o mar a nossa frente. – Ela fugiu pra minha casa. Ficou duas semanas morando comigo, mas depois tudo ficou bem. Sabe como são adolescentes.
- Pior que eu sei. – Suspirei, refletindo sobre o futuro. – Quero nem pensar quando minha irmãzinha estiver nessa idade. Provavelmente a cabeça prestes a explodir será a minha. – Falei sincera, lhe arrancando um riso curto.
- E como ela está? – Anahí se voltou para mim. – A última vez que a vi foi no aniversário de minha mãe.
- Mais abusada do que o normal. – Franzi o cenho com a acusação e o sorriso largo da Anahí surgiu. – Ela me liga querendo saber onde estou, quando vou voltar e se eu demoro a atender, ela briga. Imagina aquele toquinho brigando comigo.
- Deve ser adorável. – Falou, mantendo o sorriso e eu concordei com a cabeça.
- Sim. É uma gracinha mesmo. – Confessei em meio ao riso baixo.
A leveza que nos rodeava se mesclava à brisa sutil que beijava nossa pele. Se eu me esforçasse um pouco mais, o passado ficaria inteiramente para trás, dando espaço para o futuro incerto. Eu poderia tentar fazer aquilo, fechar os olhos para o que já havia acontecido e estender as mãos para algo novo, mas isso não era algo que eu queria.
A vida é assim, repleta de escolhas, basta você escolher por qual caminho seguir.
- Você consegue ver um cavalo? – A voz de Anahí me despertou e então olhei para onde seu indicador apontava.
Minha mão subiu de maneira automática e agarrou a mão erguida em direção à constelação, a puxando para baixo.
- Não aponte. – Sibilei, ainda segurando a mão quente contra a areia da praia.
- Está bem. – Ela respondeu baixo, soando infantil. – Mas você consegue ver?
Olhei na direção onde havia apontado, sentindo um carinho sutil do polegar de Anahí no dorso de minha mão. A constelação de fato parecia um cavalo correndo.
- Consigo. – Deixei meus olhos caírem para nossas mãos unidas em nosso meio. – O que está fazendo, Anahí? – Indaguei em um suspiro cansado, fazendo com que a mão dela se afastasse da minha lentamente.
- Desculpa. – A voz rouca pediu calma. – Foi apenas força do hábito. – Acenei com a cabeça, recebendo a desculpa. Eu mesmo, em alguns momentos em meio nossa conversa, precisei segurar minhas próprias mãos para não tocá-la. – Está ficando frio. – Anahí recuperou minha atenção e esticou as pernas como se nada tivesse acontecido. – E sua mão está gelada. – Pontuou o fato. – Vamos entrar?
A pergunta me fez franzir o cenho levemente, enquanto observava a Anahí se colocar de pé e bater a mão livre no vestido negro com a finalidade de retirar o excesso de areia acumulada no tecido.
- No carro? – Perguntei e Anahí olhou para mim com um sorriso bonito nos lábios carnudos. Seus cabelos esvoaçavam levemente conforme as ondas do mar se quebravam na areia da praia e seus olhos brilhavam tanto que parecia refletir a lua.
Meu coração disparou.
- Só se você quiser. – Falou, estendendo sua mão direita para me auxiliar na tarefa de ficar de pé. – Mas eu estava falando de entrar em casa mesmo.
Segurei na mão quente que me era oferecida e fui puxada para cima, enquanto a mulher se divertia com minha expressão cada instante mais confusa.
- Casa..? – Instiguei e Anahí começou a andar para o lado oposto do mar.
- Sim, Dulce. – Ela disse, apontando o prêmio que segurava para uma casa de frente para o mar. Justamente onde estávamos, até agora, sentadas enfrente. – Minha casa. Vem.
Naquele momento percebi que eu deveria ter notado desde o princípio que a praia, onde estávamos, era particular.
Uma pequena escada na lateral do imóvel nos levou até um deck de madeira cercado por um muro de vidro. Por ali, uma mesa mediana com poltronas branca era protegida por um guarda sol.
- Desde quando você mora aqui? – Perguntei realmente surpresa com a novidade. – Pensei que estivesse morando nas colinas.
- Por um acaso você anda me stalkeado, Dulce María Savinõn? – Ela perguntou com humor na voz, abrindo o registro do chuveiro externo e eu rolei os olhos. - Can't keep my hands to myself. – Anahí cantarolou, lavando os pés e eu não pude segurar a gargalhada.
- Você é uma ridícula. – Acusei entre risos ao me juntar a ela na tarefa de nos livrar da areia impregnada em nossas mãos e pés. – Eu sei que você adoraria que fosse isso, mas eu só vi no noticiário mesmo. E talvez alguém tenha falado para minha mãe, que talvez tenha comentado comigo.
- Eu posso imaginar. - Uma toalha me foi oferecida e logo Anahí segurava a porta de entrada da casa para que eu passasse.
Havíamos acabado de entrar na cozinha. Uma ilha em formato de L ocupava o centro do cômodo e os eletrodomésticos em aço pareciam bem organizados contra as paredes brancas. Já o chão parecia ser revestido com a mesma madeira que formava o deck lá fora. A porta foi fechada e meu corpo estremeceu com o choque térmico. Não sabia que a temperatura do lado de fora estava tão baixa até sentir o calor no interior da casa.
– Eu vendi aquela casa faz um pouco mais de dois anos. Era muito grande e afastada de tudo. Me sentia muito sozinha e isolada. – Anahí apoiou as mãos na ilha da cozinha e encolheu os ombros. – Você quer beber alguma coisa? – Ela apontou a questão e antes que eu abrisse a boca, continuou a falar enquanto caminhava em direção à geladeira. – Mas não vou ter nada alcoólico. Só água e refrigerante mesmo. Tem suco pra fazer no armário e energético no frízer, se quiser. – A apresentação do cardápio foi tão acelerada que eu acabei contendo um sorriso no canto de meus lábios.
- Uma água está ótimo, Anahí.
- Tem certeza? Eu posso fazer um suco rapidinho. – Ela ofereceu mais uma vez e eu neguei com a cabeça.
- Só água está bom. – Afirmei e então um latido fino ecoou pela casa, me fazendo saltar no lugar. Anahí riu.
- É o Tarzan. – Disse risonha, pousando os dois copos e uma garrafa d'água na ilha. – Cadê meu garoto? – Ela perguntou alto, indo em direção a saída da cozinha. Eu podia ouvir o trotar das patinhas contra o assoalho e então uma bolinha de pelo preto começou a pular nas pernas de Anahí. Eu sorri. – Oi, meu amor.
Anahí se agachou para pegar o pequeno no colo que não tardou em tentar lamber todo o seu rosto. A euforia do cãozinho me fez sorrir ainda mais. Ela não precisou se aproximar, eu mesmo fui em direção aos dois, querendo agarrar aquela bolinha de pelo que me olhava com a língua pra fora da boca.
- Meu Deus que coisa fofa. – Choraminguei, fazendo carinho atrás da orelha do cãozinho. – Posso pegar?
- Pode, mas cuidado que ele é um pouco abusado. – Me instruiu enquanto passava o pequeno para o meu colo.
- Puxou a mãe. – Comentei rindo, começando a receber as lambidas do cachorro.
Anahí rolou os olhos e foi encher nossos copos com água, enquanto Tarzan me arrancava algumas frases com voz de bebê.
- Vem. – Ela me chamou risonha e me ofereceu um dos copos d'água. - Vou te mostrar o resto da casa. – Falou, pegando o prêmio que havia colocado sobre a ilha da cozinha. – Eu mandei reformar tudo antes de me mudar. Os tacos, os forros, a fiação. Tudo novo. A maresia já tinha corroído quase tudo quando comprei.
Passamos pela lavanderia e por um banheiro social para chegarmos à sala de estar, onde uma persiana cobria a parede de vidro com vista para o mar. Um jogo de estofado branco de frente para a televisão grande, uma mesa de jantar mais ao canto. E aos pés da escada que dava acesso ao segundo andar, um piano negro de caudas fazia morada. E foi sobre ele, ao lado de um porta retrato, que Anahí colocou seu prêmio da noite.
- Ual! – Exclamei, olhando ao redor. – Eu estou impressionada que não tenha nenhuma roupa sua jogada por aqui.
- Muita coisa mudou desde que nos afastamos, Dulce. – Ela apontou com um pequeno repuxar de lábios, se recostando em um dos estofados.
Um de seus braços estava cruzado na altura dos seios e o outro sustentava o copo de água pela metade. Os pés descalços brincavam um com o outro e mais dois tijolos caíram da barreira que eu havia erguido.
- Lá em cima tem duas suítes e três quartos. – Escutei sua voz, enquanto colocava Tarzan no chão. – A decoração não é muito diferente daqui de baixo. O único destaque é o meu quarto que fica aqui em cima. – Me coloquei de pé à tempo de vê-la apontar para o teto. – Ele tem uma sacada bem espaçosa com uma ofurô. – Completou orgulhosa, me impressionando de fato.
- Ual. – Meus pés descalços deram alguns passos em sua direção, mas não me aproximei muito, continuando a manter uma distância segura. – É uma belíssima casa. Meus parabéns. – Ela acenou com a cabeça em agradecimento e pegou o copo vazio de minhas mãos. – Anahí, a gente precisa conversar. – A frase pulou de minha garganta em desespero, porque era isso que eu sentia a cada tijolo pulando fora da fortaleza que me protegia: Desespero.
Anahí piscou devagar e deixou os copos pelo estofado mesmo, enquanto sustentava meu olhar no dela.
- Eu sei. – Sua voz veio rouca, sua expressão parecia tensa, mas os olhos estavam tão serenos que me permiti encará-los sem receios. – Está com medo?
- É tão óbvio assim? – Um sorriso nervoso escapou de minha boca e ela sorriu fraquinho.
- Um pouquinho. – Ela concordou e esticou uma mão para segurar na minha. – Eu não quero te forçar a nada. Só quero que fique bem.
E ali estava, mais uma oportunidade para desembarcar daquele trem e deixar Anahí seguir viagem. A vida é assim, repleta de oportunidades. Basta você fazer a escolha de qual caminho prosseguir.
Olhei para a mão estendida a minha frente, sentindo os olhos serenos ainda sobre mim. Ergui minha mão devagar, tocando na mão quente de Anahí. O entrelaçar de nossos dedos ainda se encaixava perfeitamente e a sensação de segurança acalentou meu peito.
- Tudo bem. – Ela sussurrou com a sombra de um sorriso nos lábios, olhando para nossas mãos unidas. – Eu só.. – Ela pausou, engolindo em seco e voltando os olhos para os meus. – Eu só preciso te perguntar uma coisa antes.
E então eu senti a ansiedade bater à minha porta, me saudando com um grande"olá". Fazia anos que não sentia aquilo. A boca seca, as pernas moles, o pulmão fechado, o arrepio na espinha, o frio em minha pele, o peso no ventre, os choques na base da coluna.
A caixa de pandora estava completamente aberta e meus demônios sobrevoavam sobre minha cabeça. Eu podia entender meu cérebro gritando com meu coração "Corra, seu idiota. Quer nos destruir outra vez? Quer ferrar com a gente de novo?"
- Estamos na mesma página? – Ela indagou a minha frente. Os olhos azuis pareciam ter adquirido um tom mais claro e a boca já estava ausente de batom. Alguns fios de sua franja estavam grudados em sua testa e sua mão suava contra a minha. – Eu sei que a responsabilidade de consertar as coisas é minha, mas não adianta só eu querer. Preciso saber se você está disposta a me ajudar também.
A nossa vida é assim. Repleta de oportunidades e escolhas. Nossos atos determinam nosso futuro. Uma escolha tanto certa quanto errada trás consequências boas ou ruins. Tudo depende do que escolhemos. O destino é a gente quem faz.
- Eu não sei.. – Respondi sincera e senti sua mão afrouxar o aperto na minha, o que me fez segurar sua mão com mais força. – Ei. – Chamei, sentindo minha consciência reclamar do gesto. – Calma, está bem? – "O que você está fazendo?" – Isso não é uma negação. Eu só.. – Suspirei, silenciando os protestos de minha cabeça e seguindo as instruções de meu coração. – Tenho medo de confiar e acabar caindo outra vez.
- Se depender de mim, isso não vai mais acontecer. Essa nunca foi a minha intenção.
- Eu sei que não, mas eu me machuquei. – Encolhi os ombros, sentindo um aperto no peito. – E por mais que eu tenha me curado, a cicatriz ainda está aqui.
- Se tivesse uma maneira de voltar no tempo para poder corrigir isso, eu faria. – A voz baixa veio rouca e os olhos sequer tremelicavam diante dos meus. – Mas eu não posso mudar o passado, Dulce. Eu só posso trabalhar no agora. E no agora eu sou uma pessoa que quer arrumar a bagunça que fiz.
- E se você acabar bagunçando ainda mais? – Estreitei os olhos e observei Anahí suspirar. – E se a primeira pedra que aparecer no caminho nos derrubar de novo? Você não tem medo?
- Eu não tenho mais medo de cair. – Ela respondeu simples. – Eu já te disse que se depender de mim nada semelhante ao passado voltará a acontecer. Eu não sou mais aquela Anahí confusa que precisava de seus cuidados o tempo inteiro. Sei muito bem o que quero e posso ter agora. Só preciso te mostrar que o que eu digo é verdade.
Existe um ensinamento onde diz para escrevermos os momentos bons que vivenciamos em uma rocha, para que assim, aqueles momentos de felicidade se perpetuem através dos tempos. Esse mesmo ensinamento nos orienta a escrever os momentos ruins na areia da praia, para que assim, a água do mar os apague, livrando-nos de toda mágoa e rancor que adoece nossa alma.
Eu sempre tive dificuldade de colocar esse ensinamento em prática e muitas das vezes o culpado disso era o meu orgulho. Entretanto, aquilo não se aplicava à Anahí. Não era algo que eu pudesse controlar. Nossas brigas sempre eram registradas na areia da praia e não havia sido diferente na última vez. O problema foi que a onda demorou para vir.
- Então.. – Soltei a mão de Anahí e cocei a cabeça, o que fez um sorriso largo surgir no rosto da mulher. – O seu plano é ficarmos aqui a noite inteira, ou..?
- Não. – Ela respondeu risonha, buscando os copos que havia largado no sofá. – Você está com fome?
A pergunta me fez atentar pela primeira vez para o meu estômago. Sim. Eu estava morrendo de fome.
- Sim.. Eu aceitaria alguma coisa para comer. – Concordei.
- Legal! – Ela comemorou, sumindo no corredor de acesso à cozinha. – Vou colocar uma pizza no micro-ondas e já volto.
Meu corpo deu um passo na direção que a mulher havia seguido, mas algo me parou. Eu precisava ficar um pouco sozinha para raciocinar sem a presença de Anahí nublando meus instintos, mas era inútil. O ambiente estava infectado por ela, pelo cheiro dela.
Rolei os olhos para o piano onde ela havia colocado o prêmio, me atentando ao porta retrato que o acompanhava. Meus pés seguiram sozinhos para perto do instrumento. Meus dedos tocando a madeira negra e meus olhos estudando as duas fotos em preto e branco que o quadro guardava. Eram duas fotos comigo. Uma havia sido tirada em um dos dias das bruxas quando ainda éramos crianças. Eu estava fantasiada de princesa e Anahí de príncipe. Na outra já estávamos crescidas, as árvores das ruas estavam enfeitadas para o Natal, um gorro cobria minha cabeça e o rosto de Anahí repousava em meu peito.
- Hey.
O chamado não me fez virar em direção a voz. Meus olhos ainda estavam sobre as duas fotos, lembrando de como nossa vida era mais simples naquela época. O que havia acontecido para tudo ter dado errado daquela forma?
- Está tudo bem? - A voz soou logo atrás de mim.
Estava tudo bem. Pelo menos, naquele momento, estava tudo bem. Só não sabia até quando aquilo iria durar.
Meus olhos rolaram das fotos para o prêmio outra vez e então eu sorri. Anahí havia chego ao topo, havia conquistado seus sonhos e eu podia sentir meu coração inflado de orgulho.
- Algumas semanas depois daquele dia que fui embora da sua casa. – Comecei, ainda olhando para o troféu sobre o piano. – Mari apareceu na minha casa para falar comigo. E a princípio eu não queria ouvi-la, mas você sabe como é a sua irmã. – Sorri e me virei para Anahí. Ela estava à um passo de mim. – Ela me fez ouvir. Tudo. E eu concordei com o motivo pelo qual você tinha me afastado.
- Eu não sabia que ela tinha te procurado. – A frase veio confusa, assim como a expressão de seu rosto.
- Eu sei que você não sabia. – Ergui os ombros, sentindo a queimação familiar nas maçãs do rosto e logo minha visão ficou embaçada devido às lágrimas. O passado esmurrando minhas memórias me causava dor física, mas eu sabia que não externar aquilo me causaria ainda mais dor. – Quando ela foi embora, eu precisei me policiar para não correr para você, para não tirar aquela história a limpo. Eu estava com tanta raiva de você, mas ao mesmo tempo eu queria poder passar um pano sobre aquilo tudo para podermos voltar ao normal. Só que eu não podia. – Um sorriso amargo acompanhado de algumas lágrimas atravessou meu rosto e Anahí se aproximou alisando meus braços arrepiados. – Eu não podia, entende? Você tinha tomado a maldita decisão. – As pontas de meus dedos bateram com força no peito de Anahí a empurrando levemente para trás, enquanto as lágrimas já rolavam livres por meu rosto. – Você não me deixou escolha. – Repeti o movimento, sentindo as mãos da mulher se fechar em meus braços. – Você desistiu!
Eu ia empurrá-la de novo, mas seus braços foram mais ágeis ao me abraçar. Demorou apenas um segundo para entender que eu estava nos braços de Anahí. Que meu nariz estava grudado em seu pescoço, que suas mãos me prendiam firme pela cintura e que sua voz embargada falava contra o meu ouvido.
- Eu sinto muito ter te machucado. – A ouvi sussurrar enquanto tentava controlar meus soluços baixos. – Eu prometo que não vou desistir outra vez.
Falar aquilo que nos aflige purifica nossa mente, nosso corpo e nossa alma. Meu coração batia de acordo com o dela e meus braços lhe abraçavam pela nuca em busca de mais controle para a desestabilidade que havia sofrido. Estar em seus braços era como voltar para casa depois de longos dias de viagem e seu cheiro parecia um sedativo para minhas preocupações.
- Eu não quero que você me prometa. – Falei rouca, quando me senti mais calma. – Eu quero que você me mostre.
Os dedos de Anahí deslizaram por minha cintura e senti o abraço ao redor de meu corpo se tornar mais forte. O que me fez abraçar seu pescoço no mesmo tom.
- Eu vou mostrar. – A frase sussurrada acompanhada de um beijo na curva de meu pescoço foi o sinal de alerta.
Engoli em seco, sentindo minha respiração ficar rasa e meu corpo tremelicar levemente. Outro beijo, dessa vez em meu ponto de pulso, fez um raio atingir minha espinha. O corpo de Anahí pressionado contra o meu nunca rendeu resultados muito sensatos, mas o calor era tão bom... Tão bom...
- Vem. – Ela chamou devagar, se afastando do abraço aos poucos. – A pizza já deve estar pronta. - Os olhos azuis me fitaram serenos, mas seu sorriso soava nervoso, denunciando que as sensações que eu sentia, ela sentia também. Eu sorri. – O que foi? – Sua pergunta veio acompanhada de um leve rubor nas maçãs do rosto, o que me fez sorrir ainda mais e meu coração disparar.
- Nada. Eu só... – Engoli em seco diante os olhos estreitos. As mãos suaves ainda repousavam em minha cintura e meus braços ainda estavam apoiados em seus ombros. O cheiro doce que emanava dos cabelos castanhos me atraia feito imã. – Eu só senti a sua falta. – Anahí segurou o lábio inferior entre os dentes, impedindo o sorriso largo de preencher seu rosto, o que fez meu coração bombear mais sangue por meu corpo.
Engoli em seco outra vez e inclinei o rosto em sua direção. O sorriso, antes presente na boca de Anahí, desapareceu e nossas respirações se misturaram no curto espaço entre nossos lábios. Eu sentia minha boca seca e minhas pernas moles. As pontas dos meus dedos percorreram o caminho do pescoço alvo até sua nuca, a fazendo fechar os olhos e soltar uma respiração mais pesada. Sorri, guiando meus dedos para seu rosto, traçando os contornos do maxilar até alcançar seu queixo. Inclinei um pouco mais o rosto, depositando um beijo delicado na bochecha corada e um suspiro de alívio saiu de meus pulmões.
- Melhor a gente ir ver a pizza. – Sussurrei, contra a bochecha de Anahí e senti seus dedos flexionarem na carne de minha cintura.
- É melhor. – Ela limpou a garganta e se afastou.
*************
POV Anahi
Era como em meus sonhos, só que melhor.
No início, precisei me certificar de que não estava sonhando. Dulce estava, de fato, sentada ao balcão de minha cozinha, seus olhos se fechando conforme esboçava um sorriso sincero, sua risada rouca ecoando em meus ouvidos. Não. Não era uma mera fantasia de meu inconsciente. Era real e eu não conseguia acreditar que havia conseguido chegar ao final daquela jornada.
Nossa lista de conquistas se tornou longa, agregando experiências que nos completaram por nós mesmos e eu era grata por tudo aquilo. Grata porque, olhando Dulce no balcão de minha cozinha, percebi que não estava apenas completa, mas sim, transbordando.
Por vezes, me peguei cogitando como seria recuperar o que tivéramos no passado. A cumplicidade, confiança, segurança. Eu quase conseguia tocar em minhas fantasias, mas a realidade me impedia de continuar. A escalada que eu teria que realizar para atravessar o muro que Dulce havia erguido era longa demais e eu tinha medo de cair no processo, mas com o passar do tempo percebi que eu podia ser mais forte do que aquele medo bobo. Porque o medo só serve para nos impedir de viver. Com as ferramentas apropriadas, a escalada poderia até ser aterrorizante, mas não impossível. Dulce havia se aproximado da borda e o medo de altura era evidente em seus olhos, mas eu estava certa de que seria seu paraquedas, caso necessário.
- Você tem algo para fazer hoje? – Perguntei, ainda sentada em um dos bancos que cercavam a ilha da cozinha, enquanto Dulce terminava de lavar a louça que teimosamente havia se encarregado de lavar.
- Dormir. – Dulce respondeu, secando as mãos em um pano de prato. – Por quê?
- Porque já passa das 4 da manhã e eu tenho 4 quartos de hóspedes. – Falei simples e Dulce virou em minha direção, apoiando as costas na pia. – Se quiser, pode passar a noite aqui. É mais seguro. – Franzi o cenho, tentando passar a seriedade daquela desculpa. Na verdade, eu apenas não queria que ela fosse embora e eu acabar percebendo que tudo aquilo não passara de um sonho bom.
- Seguro, né? – Ela perguntou, com um sorriso travesso no canto dos lábios que fez com que eu sentisse minhas bochechas queimarem. – Sei. – Ela estreitou os olhos e em seguida soltou uma risada curtinha. – Tudo bem.
Não é uma regra, mas, às vezes, somos semelhantes a uma fênix: Precisamos queimar para viver. Nós duas havíamos passado pelo nosso período de combustão, mas agora estávamos renascendo.
A instrui que me seguisse para fora da cozinha. Tarzan estava dormindo ao lado do piano, em uma de suas camas espalhadas pela casa. Meus gestos estavam sendo policiados, minhas falas estavam sendo policiadas. Tudo porque eu não queria ultrapassar qualquer linha segura e despencar ladeira a baixo.
Nossos passos na escada eram silenciosos devido nossos pés descalços. O corredor do segundo andar era tão simples quanto o primeiro. Alguns quadros preenchiam as paredes, mas nenhum móvel ou cerâmica decoravam o local por causa de minha incrível capacidade de esbarrar em tudo.
- Aqui ficam os 3 quartos de hóspedes e aquela porta é um dos banheiros se precisar. – Falei, abrindo a porta de um dos quartos que ficavam na parede à direita. – Eles são todos iguais. A vista é para a rua, mas também dá pra ver o nascer do sol na costa do mar. – Expliquei, enquanto Dulce olhava para o interior do cômodo, mas ainda parada ao meu lado no corredor. – E aqui ficam as suítes com vista para o mar. – Chamei a atenção para a parede do lado esquerdo, abrindo a porta mais próxima. – Essa é a minha. Mari tomou conta da outra, mas acho que ela não vai se importar de você dormir lá.
- Eu disse que estava impressionada com a organização lá de baixo, mas.. – Dulce falou rouca, recostando contra o portal de meu quarto. – Eu estou incrivelmente chocada que seu quarto esteja arrumado. – Concluiu e eu rolei os olhos. – Parece que esses anos fizeram mesmo bem para você.
- Sim.. – Sussurrei. Meus braços estavam cruzados na altura dos seios e meu corpo recostado no batente oposto ao dela. – Só não entra no closet.
A gargalhada rouca surgiu outra vez, fazendo as borboletas em minha barriga se agitarem. Dulce era linda, mas naquele momento, conseguia estar ainda mais. Todo seu corpo exalava leveza, o sorriso largo que fazia seus olhos se fecharem, a pele uniforme do corpo delgado em contraste com o vestido branco me dava a sensação de que estava olhando para um anjo. Se existisse um paraíso, com certeza seria algo como aquilo.
- Tem certeza de que posso ficar no quarto de Mari? – Ela perguntou, se desencostando do portal.
- Tenho. Pode ficar tranquila. – Falei com um sorriso contido no canto da boca. – Tem toalhas no armário e eu posso te emprestar um pijama, se quiser.
- Seda rosa? – Os olhos castanhos se estreitaram e eu engasguei em um riso.
- O que preferir. – Respondi de bom humor, descruzando os braços e entrando no quarto, seguindo em direção ao closet. Dulce me seguiu e um assobio ecoou no armário grande.
- Você estava falando sério sobre não entrar aqui.
Sorri fraco, empenhada em achar algo em minhas gavetas. O closet estava de pernas para o ar, mas nem tanto. Eu sabia exatamente em qual montanha de roupa estava cada peça.
- Aos olhos humanos pode parecer bagunçado, mas acredite, não está. – Justifiquei. – Aqui. Seda rosa. – Disse, entregando algumas peças de roupa colorida dobradas em suas mãos. - Tem toalhas no banheiro e cobertor extra no armário. Se precisar de qualquer coisa é só chamar.
Tentei ser o mais racional e prática possível, embora meu corpo inteiro tremesse diante do fato de que Dulce estava de pé no meio de meu quarto em plena madrugada. Era como se eu tivesse entrado em uma máquina do tempo. Nada parecia ter mudado, exceto aquela linha imaginária que me fazia dar um passo para trás para garantir que tudo aconteceria em seu devido tempo naquela vez.
- Okay. – Dulce suspirou, permanecendo no mesmo lugar. Seus olhos pregados nas roupas em suas mãos. – Obrigada, Anahí. - Acenei com a cabeça e a acompanhei até a porta.
- Você está bem? – Perguntei, alisando meus próprios braços para me livrar do arrepio que se apossava de minha pele.
- Estou sim. – Ela abriu um sorriso fraco e umedeceu os lábios antes de me olhar, já na soleira da porta. – Eu só estou assimilando o agora.
- Você quer ficar e conversar mais um pouco? – Ofereci, sofrendo um espasmo mais forte no corpo.
Dulce ponderou, olhando para dentro de meu quarto. Eu podia ver o brilho sutil de sono em seus olhos, mas também via agitação.
- Melhor não. – Ela respondeu com uma pequena careta. – Já fomos rápidas demais por hoje. – Acenei com a cabeça, aceitando a justificativa. – Boa noite, Anie.
Pela segunda vez na noite, Dulce se aproximou e foi como se o meu coração parasse. Os lábios macios tocaram na maçã de meu rosto, depositando um beijo suave e demorado por ali. Os lábios ainda continuavam em minha face e meus olhos permaneciam fechados, e então senti o nariz pequeno roçar em minha bochecha em um carinho que fez meu sistema respiratório parar. Na minha cabeça, eu queria respeitar os limites, mas estava sendo difícil realizar tal tarefa quando Dulce estava avançando os dela.
- Boa noite. – Sussurrei de volta, ainda sentindo o nariz brincar em meu rosto. Respirei fundo, elevando minhas mãos tremulas para o pescoço de Dulce. Ela estava quente, podia sentir o contraste do calor de sua pele em minhas mãos geladas. – Dulce? – A chamei, tentando dar um passo atrás da linha, mas meu rosto já estava virando em direção ao dela. – Dulce? – Chamei outra vez, mas as mãos dela já haviam largado as roupas e se fixado em meus quadris. A respiração quente de Dulce batia contra meu rosto e o mero roçar de nossos narizes me fez resfolegar.
- Abra os olhos. – Ouvi o pedido sussurrado dela, sentindo minhas costas grudadas no batente da porta, minhas mãos subiram para a nuca dela, correndo as unhas por ali.
- Dulce, vá para o seu quarto. – Engoli em seco, mantendo os olhos fechados e sentindo a respiração contra minha boca. – Pensei que não queria ir rápido demais.
- Abra os olhos. – O sussurro veio outra vez e eu o fiz, encontrando os olhos castanhos de Dulce brilhantes contra os meus. – Como que você pode ter tanta certeza de que não vamos cair de novo?
Precisei me esforçar mais que o normal para poder raciocinar sobre aquela pergunta. A proximidade de Dulce me entorpecia por completo e a única coisa que eu conseguia focar era em sua respiração em meu rosto e seu toque em minha cintura.
- Você repetiu duas vezes uma frase quando éramos mais novas. – Respondi rouca. O cenho da mulher franziu levemente e eu umedeci meus lábios já secos. – Você disse "Só o amor não é o suficiente." Eu não concordava com aquilo na época, mas depois entendi que era verdade. Só amor não basta. Tem que haver diálogo, cumplicidade, coragem, vontade, segurança, compromisso, fidelidade. – Falei, olhando nos castanhos que agora tremelicavam. – Me faltava muita coisa disso no passado, mas hoje eu tenho. Não sei se faz muito sentido porque você está muito perto e eu não estou conseguindo pensar direito, mas é mais ou menos isso ai. – Conclui fraca.
Os olhos de Dulce repuxaram, quase se fechando por completo por causa do sorriso que seus lábios exibiam.
Eu lembrava perfeitamente do nosso primeiro beijo. Estávamos no meio de uma estrada e meu desejo por Dulce era tão asfixiante que eu não conseguia sequer olhar para o rosto dela. E então teve o nosso segundo primeiro beijo, em que era ela que estava asfixiada sem olhar para a minha cara. A semelhança entre os dois era a ansiedade e desespero.
Ali, recostada no portal de meu quarto e com o nariz de Dulce roçando no meu, não havia desespero. A ansiedade estava presente, mas não se evidenciava em nossos gestos. Além do roçar de nossos narizes, agora nossos lábios se esbarravam. Os dedos de Dulce se fecharam com mais força na carne de minha cintura ainda coberta pelo tecido e minhas mão faziam um carinho leve em sua nuca, enquanto nossas respirações se tornavam uma só. E então, um estalar me fez provar dos lábios macios de Dulce. Minha respiração saiu pesada e meu corpo estremeceu com o contato. As lembranças de sua boca que me acompanharam por anos, sequer faziam jus à realidade.
Nossos lábios se sugavam em reconhecimento. Lento, leve, sutil. Até que nossas línguas se encontraram e um novo clique subiu a temperatura de nossos corpos. As mãos de Dulce se tornaram mais agitadas em meu corpo e minha respiração foi ficando ainda mais pesada. Foi breve, mas foi como tocar o céu depois de passar anos no inferno. Nossas bocas foram se acalmando aos poucos e nossas testas se encostaram. Minha respiração estava descontrolada, assim como meu coração e um misto de sentimentos me dava vontade de sorrir, mas também de chorar.
- Hey. – Ouvi Dulce chamar baixinho, seus dedos limpando a lágrima que havia escapado de meus olhos e riscado meu rosto. – O que foi?
E então eu sorri, abrindo os olhos e encontrando a expressão preocupada da mulher a minha frente.
- Não se preocupe com isso. – Falei, colocando minhas mãos sobre as dela que seguravam meu rosto. – É só felicidade. Eu pensei que nunca mais conseguiria ter você de volta. – Funguei e a linha fina presente na testa de Dulce se dissipou, fazendo uma breve expressão de choque percorrer seu rosto. Eu sorri.
- Tem certeza? – Ela perguntou com os polegares acariciando minhas bochechas. – Não é porque o beijo foi ruim? – A pergunta me fez rir. – Eu fiquei um tempo sem praticar. Posso ter desaprendido.
- Não, boba. – Neguei, aplicando um beijo rápido sobre os lábios inchados. – Seu beijo é o melhor do mundo. Não tenha duvidas quanto a isso.
E era verdade. Eu havia experimentado uma variedade de bocas ao longo daqueles anos, mas nenhuma sequer havia chegado aos pés da de Dulce. Talvez fosse o sentimento que eu nutria por ela que fazia tudo ser extremo.
- Eu posso dormir aqui com você? – Sua pergunta veio séria e, mais uma vez naquela noite, senti meu corpo tremer sob os castanhos escuros.
- Dormir? – Indaguei e um sorriso contido surgiu nos lábios de Dulce. – Sei.
Definitivamente, quando acordei, não imaginava que meu dia terminaria daquela forma.
*************
POV Dulce
O corpo de Anahí pressionado contra o meu nunca rendeu resultados muito sensatos, mas muitas das vezes a sensatez nos impede de alcançar a felicidade.
O quarto estava iluminado apenas pela lua cheia que já beijava o mar. Nossos vestidos deslizaram por nossos corpos e meus lábios mapearam o corpo de Anahí com precisão. Os suspiros eram mais frequentes do que os gemidos. Os dedos de Anahí corriam por minhas curvas e vez ou outra uma risada baixa nos era compartilhada entre os lençóis.
- Durante esse tempo eu fiquei escrevendo cartas para você. – Confessei baixinho. Estávamos deitadas uma de frente para a outra na cama grande e a luz fraca do sol da manhã já me permitia ver as sardas que decoravam o rosto de Anahí.
- Para mim? – Os olhos dela estavam pequenos. Eu podia ver que a qualquer momento ela iria apagar, mas seus dedos percorrendo minhas costas nua era o sinal que eu precisava para saber que ela ainda estava acordada.
- Sim, mas eu nunca enviei nada. – Meus olhos estudavam cada pedaço dela, constatando o óbvio: Anahí era linda.
- E o que tem nessas cartas? – Ela perguntou curiosa, se aconchegando um pouco mais em meu corpo e entrelaçando nossas pernas.
- Meus pensamentos, minhas perguntas, meus sentimentos. – Minha voz estava mais rouca do que o normal, o que me fez constatar que a qualquer momento quem iria se render ao sono seria eu. – Algumas são apenas registros dos nossos momentos juntas. Outras são um pouco raivosa. Foi durante o período que eu queria te matar. – A declaração fez Anahí rir baixinho e eu sorri fraco. – Mas no geral, são minhas fantasias com o futuro. Meus arrependimentos de não ter feito mais enquanto estávamos juntas.
- Do que, por exemplo? – A essa altura, seus olhos já estavam fechados, mas a caricia em minhas costas não cessou.
- Por exemplo.. – Suspirei, me aconchegando melhor sobre o travesseiro. – Dizer que teus olhos são os mais lindos que já vi e que teu sorriso ilumina todo o meu mundo, sem ao menos tentar. Que tua voz me dá paz e que seu toque me faz esquecer qualquer coisa. Dizer que mesmo depois de tudo eu ainda permanecia te amando de longe e que talvez eu nunca deixasse de te amar.
Eu sentia meu coração correr feito trem desgovernado. O sorriso largo de Anahí preencheu seu rosto e então os olhos brilhantes se abriram para mim. Era incrível o poder que ela ainda tinha sobre mim e eu amava aquilo.
- Quero ler essas cartas. – Ela disse e me puxou para mais perto quando eu neguei, tentando esconder o rosto. – Por que não?
- Porque é minha alma ali. Eu não posso te entregar o ouro dessa forma. – Expliquei, com o rosto escondido no pescoço quente.
- Dulce, eu fiz um álbum inteiro pra você. –Sua voz saiu quase ultrajada. – Aliás, em todos os meus álbuns existe pelo menos duas músicas pra você. O mínimo que você deve fazer é me mostrar essas cartas.
O pescoço de Anahí era mais confortável do que me lembrava. E cheiroso também. O sono pesou em meu corpo e um bocejo escapou de meus lábios antes que eu pudesse controlar.
- Vou pensar no seu caso. – Minha voz quase não saiu. Eu podia sentir o sono ir me apagando aos poucos, mas ainda sentia o traçar de dedos em minhas costas. – Anahí?
- Oi. – Ela respondeu com um sussurro, subindo os dedos para os meus cabelos.
- O que você disse no palco.. – Comecei, quase me rendendo ao cheiro doce do pescoço dela. – Sobre eu ser seu tudo. É verdade?
Eu estava de olhos fechados e com o rosto escondido no pescoço de Anahí, mas mesmo assim, sabia que ela estava sorrindo. Eu sempre sabia. Seus braços me abraçaram contra seu corpo com um pouco mais de força e um beijo cálido foi depositado em minha testa.
- Sim, meu amor. – Ela sussurrou, contra minha testa. Seus dedos me fazendo um leve cafuné. – Você é o meu tudo. – A confirmação fez cócegas em meu coração. – Sempre vai ser.
O medo de cair ainda martelava em algum lugar de minha cabeça, mas a vida é feita disso mesmo: erros e acertos; cair e levantar. O tempo havia nos amadurecido, nos ensinado e nos fortalecido. O futuro dependia de como escreveríamos nosso presente e eu sentia que aquilo não era um encerramento semelhante a um fechar de livro, mas sim um virar de página. Um sopro de esperança em nossas almas e corações maltratados.
Isso me fazia lembrar de uma citação por qual tenho apreço:
"E se você tivesse um amigo que nunca mais fosse ver, o que você diria? E se você pudesse fazer uma última coisa por quem você ama, o que você faria?
Diga.
Faça.
Não espere.
Nada dura para sempre.".....
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Fim
Autor(a): portisavirroni
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Comentários da Fanfic 5
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fernandaayd Postado em 06/03/2018 - 14:30:21
Já acabou?? Que pena, pois essa foi uma das melhores histórias que já li. E de alguma forma me ajudou muito. Obrigada pela dedicação e vc escreveu tudo com o coração, pq dar pra sentir isso em casa capítulo. Parabéns por tudo★
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fernandaayd Postado em 28/02/2018 - 17:41:23
Será que a Dul, vai falar para Anie sobre a depressão? ?
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candy1896 Postado em 25/02/2018 - 20:44:37
Continuaa, que não aconteça nada de ruim com Dul.
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fernandaayd Postado em 09/02/2018 - 14:16:33
Estou acompanhando e você escreve muito bem, parabéns! E que bom que você sempre posta.
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Lorahliz Postado em 31/01/2018 - 21:07:49
To acompanhando sua fic e to amando!!! Posta mais...o cap 7 tá dando erro!!