Fanfics Brasil - Capítulo 1 Beyond The Worlds

Fanfic: Beyond The Worlds | Tema: Supernatural


Capítulo: Capítulo 1

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O vento era fresco e o frio lhe gelava as pontas dos pés. Um daqueles dias ia deixar-se ir e comprar umas botas, embora somente quando pudesse prescindir da comida. Enquanto percorria o último quilômetro até sua casa, Sam se permitiu sorrir sob o amparo da jaqueta. Certamente, ser um homem lobo lhe dava mais força e resistência, inclusive em forma humana, mas o turno de doze horas que acabava de terminar no Scorci´s era suficiente para que lhe doessem inclusive seus ossos. As pessoas não tinham coisas melhores que fazer no dia de Ação de Graças que ir comer em um restaurante italiano? Jim, o dono do restaurante, quem, apesar de ser irlandês e não italiano, fazia os melhores nhoques de toda Chicago, deixava-lhe fazer turnos extras, embora não lhe permitia superar as cinquenta horas semanais. O melhor salário extra era a comida grátis que tinha em cada turno. Mesmo assim, suspeitava que iria ter que buscar outro emprego para poder cobrir todos os gastos: tinha descoberto que a vida como homem lobo era tão cara financeira como pessoalmente. Usou as chaves para entrar no edifício. Não havia nada na rolha, assim agarrou o correio de Charlie e o jornal e subiu as escadas até o terceiro andar, onde estava o apartamento da ruiva. Quando abriu a porta, o gato siamês de Charlie, Ratolín, dirigiu-lhe um olhar, cuspiu indignado e desapareceu depois do sofá. Durante seis meses tinha dado de comer ao gato quando sua vizinha estava fora, o qual era frequente desde que Charlie começou a trabalhar para uma agência de viagens organizando tours. Ratolín ainda a odiava. De seu esconderijo o amaldiçoava como somente pode fazê-lo um siamês. Com um suspiro, Sam deixou o correio e o jornal sobre a mesinha da sala de jantar, abriu uma lata de comida para gatos e a deixou junto à tigela da água. Sentou-se e fechou os olhos. Já estava pronto para ir a seu apartamento, um andar acima, mas antes devia esperar a que o gato terminasse de comer. Se lhe deixava sozinho, ao retornar pela manhã encontraria a lata intacta. Pode ser que o odiasse, mas Ratolín não comia se não houvesse alguém com ele, inclusive se era um homem lobo em que não confiava.
Normalmente, ligava a televisão e ficava vendo algo, mas aquela noite estava muito cansado para fazer o esforço, assim abriu o jornal para comprovar o que tinha ocorrido da última vez que olhou um, um par de meses atrás. Repassou sem interesse as manchetes da capa. Sem deixar de protestar, Ratolín saiu de seu esconderijo e se dirigiu molesto à cozinha. Ao passar a página, Ratolín soube o que estava lendo de verdade. Sam deu um pulo ao ver a foto de um jovem. Era uma foto, obviamente da escola, e a seu lado havia outra parecida de uma garota de sua mesma idade. O título dizia: “O sangue encontrado na cena do crime pertence ao adolescente de Naperville desaparecido”. Meio inquieto, leu o resumo do crime para os que, como ele, perderam as reportagens prévias. Dois meses antes, Alan Mackenzie Frazier tinha desaparecido do baile da escola a mesma noite em que o cadáver de seu suposto encontro tinha sido encontrado nos jardins da escola. A causa da morte era difícil de determinar, já que o corpo da garota tinha sido destroçado por animais, nos últimos meses, um grupo de animais de rua tinham causado problemas na vizinhança. As autoridades não estavam seguras de que o menino desaparecido era suspeito ou não. Dado que seu sangue também estava na cena do crime, poderia ser que fosse outra vítima. Sam tocou a cara sorridente de Alan Frazier com dedos trementes. Ele sabia. Sabia. Levantou-se precipitadamente da cadeira, ignorando os infelizes miados de Ratolín, e molhou os pulsos com água fria para conter as náuseas. Pobre menino. Ratolín demorou uma hora em terminar sua comida. Então, Sam tinha memorizado o artigo e tomado uma decisão. Soube assim que leu a notícia, mas demorou uma hora em reunir a coragem para decidir-se: se tinha aprendido algo nos três anos que levava sendo um homem lobo era que o melhor é não fazer nada que possa atrair a atenção de um dos lobos dominantes. E telefonar ao Marrok, que governava a todos os lobos da América do Norte, era o modo mais rápido de atrair sua atenção. Não tinha telefone em seu apartamento, assim usou o de Meg. Decidiu esperar uns minutos para acalmar-se, mas como não o conseguiu, discou o número que tinha marcado em uma parte de papel enrugado. Três toques. Então compreendeu que a uma da madrugada em Chicago seria grandemente distinta em Montana, aonde o prefixo marcado indicava que estava chamando. Eram duas ou três horas de diferença? As horas eram de mais ou de menos? Pendurou o telefone precipitadamente. De todos os modos, o que ia dizer-lhe? Que tinha visto o menino, obviamente vítima do ataque de um homem lobo, semanas depois de seu desaparecimento, em uma jaula na casa de seu Alfa? Que pensava que seu Alfa tinha ordenado o ataque? Quão único devia fazer Leo para não receber sanções era lhe dizer ao Marrok que tinha encontrado ao menino mais tarde. Talvez fosse isso o que ocorreu. Talvez ele estivesse projetando tudo desde sua própria experiência.
Sam tampouco sabia se o Marrok se opunha ao ataque. Provavelmente aos homens lobo lhes permitia atacar a quem quisessem lhes tinham passado. Deu as costas ao telefone e viu a cara do menino olhando-o do jornal. Voltou a examinar a fotografia atentamente e marcou de novo o número de telefone; ao menos o Marrok não estaria muito satisfeito com toda a publicidade que tinha atraído o caso. Desta vez atenderam o telefone depois do primeiro tom.
— John. Não soou muito ameaçador.
— Meu nome é Sam —disse ela, desejando que não lhe tremesse a voz. Houve um tempo, pensou com amargura, em que não tinha medo nem de sua sombra, quem teria pensado que converter-se em um homem lobo a converteria em um covarde? Mas agora sabia que os monstros eram reais. Pode ser que estivesse zangado consigo mesmo, mas, naquele momento, não soube que mais dizer. Se Lúcifer se inteirava de que tinha chamado ao Marrok, poderia disparar a bala de prata que tinha comprado meses atrás ela mesma e lhe economizar o esforço.
—Chama de Chicago, Sam? Aquilo o surpreendeu, mas imediatamente compreendeu que devia ter identificador de chamada em seu telefone. Não parecia zangado, de modo que supôs que não teria interrompido nada importante; não se parecia com os outros dominantes que tinha conhecido. Talvez fora seu secretário ou algo assim. Aquilo fez que se sentisse melhor. O telefone pessoal do Marrok não seria algo que circulasse alegremente. A esperança de que não estivesse falando com o Marrok o ajudou a serenar-se; até Lúcifer tinha medo do Marrok. Não se incomodou em responder a sua pergunta, ele já conhecia a resposta.
—Eu gostaria de falar com o Marrok, mas possivelmente você possa me ajudar. Houve uma pausa, depois da qual, John disse:
—Eu sou o Marrok, garoto. O pânico retornou com toda sua força, mas antes que pudesse desculpar-se e desligar, ouviu-lhe dizer de repente:
—Não se preocupe, Sam. Não tem feito nada mal. Me diga por que chamou. Respirou profundamente, consciente de que era sua última oportunidade de ignorar o que tinha visto e proteger-se. Em troca, explicou-lhe o artigo do jornal e que tinha visto o menino desaparecido na casa de Lúcifer, em uma das jaulas que tinha para os novos lobos.
—De acordo —murmurou o lobo ao outro lado do telefone. —Não soube que algo ia mal até que o vi no jornal —disse ele. —Sabe Lúcifer que viu o menino?
—Sim. Havia dois Alfas na área de Chicago. Perguntou-se como saberia de quem estava falando.
—Como reagiu? Sam tragou saliva, tentando esquecer o que passou depois. Assim que o colega de Lúcifer interveio, o Alfa tinha terminado de fazê-lo circular aos outros lobos para satisfazer seu capricho, mas essa noite Lúcifer sentiu que Gadreel merecia uma recompensa. Não tinha que lhe explicar isso ao Marrok, não? Este lhe economizou a humilhação precisando a pergunta.
—Lúcifer se zangou porque viu o menino?
—Não. Ele estava... Contente com o homem que o havia trazido. Gadreel ainda tinha sangue na cara e emprestava à excitação da caçada. Lúcifer também se alegrou quando Gadreel trouxe Sam pela primeira vez. Tinha sido Gadreel o que se zangou; não soube que ia ser um lobo total. Os submissos são os que têm o grau mais baixo da Alcateia. Gadreel compreendeu rapidamente que tinha cometido um engano ao transformá-lo. Ele também o pensou.
— Entendo. Por alguma razão teve a sensação de que assim era. —Onde está agora, Sam?
—Em casa de uma amiga.
—Outra loba?
—Não. Então se deu conta de que possivelmente ele pensasse que lhe tinha contado a alguém o que realmente era, algo que estava estritamente proibido, assim que se apressou a explicar-se.
—Não tenho telefone em casa. Minha vizinha está fora e estou cuidando de seu gato. Usei seu telefone.
—Entendo —disse ele. — Quero que te mantenha afastada de Lúcifer e da Alcateia a partir deste momento. Pode ser que não esteja seguro se alguém averiguar que me chamou. Por dizê-lo brandamente.
—De acordo.
—Por certo —disse o Marrok, — ultimamente recebi notícias sobre certos problemas em Chicago. Ao compreender que tinha arriscado tudo desnecessariamente, não prestou muita atenção ao que disse a seguir. —Normalmente teria contatado com a Alcateia mais próxima. Entretanto, se Lúcifer está assassinando a gente, não vejo por que o outro Alfa de Chicago não teria que sabê-lo. Posto que Crowley não se contatou comigo, tenho que assumir que os dois Alfas estão envolvidos de uma maneira ou outra.
—Não é Lúcifer o que está criando novos lobos —lhe disse ele. — É Gadreel, seu segundo.
—O Alfa é responsável pelos atos de sua Alcateia —respondeu o Marrok com calma.
— Enviei a um... Investigador. De fato, aterrissará em Chicago esta mesma noite. Eu gostaria que se encontrasse com ele.




* * *


Assim foi como Sam acabou nua em plena noite entre dois carros estacionados no Aeroporto Internacional de O`Hare. Não tinha carro nem dinheiro para um táxi, mas, riscando uma linha reta, sua casa só estava a uns oito quilômetros do aeroporto. Passavam uns minutos da meia-noite, seu lobo tinha a pelagem branca e era de compleição bastante pequena em comparação com os outros lobos, de modo que as possibilidades de que alguém a visse e pensasse que era algo mais que um cão de rua eram escassas. Tinha refrescado, por isso tremia de frio enquanto colocava a camiseta que havia trazido. Não havia suficiente espaço em sua pequena mochila para o casaco após meter nela os sapatos, os jeans e um pulôver; tudo o qual era muito mais necessário. Em realidade, nunca tinha estado antes em O`Hare e demorou uns minutos em encontrar o terminal correto. Quando chegou, ele já a estava esperando. Depois de desligar o telefone, deu-se conta de que o Marrok não lhe tinha dado nenhuma descrição do investigador. Durante todo o caminho até ali tinha estado lhe dando voltas aquilo, embora realmente não fizesse falta. Não poderia haver-se confundido nunca. Inclusive no concorrido terminal, as pessoas se detinham para lhe olhar, e pouco depois apartavam a vista com dissimulação. Os nativos americanos, embora pouco habituais em Chicago, não estavam acostumados a chamar tanto a atenção como ele o estava fazendo. Provavelmente, nenhum dos humanos que passavam perto dele era capaz de explicar por que sentiam aquele impulso, mas Sam sabia. Era algo muito comum entre os lobos dominantes. Lúcifer também o exercia, mas não a esse nível. Era alto, inclusive mais alto que Lúcifer e de cabelos loiros. Seus jeans eram escuros e pareciam novos em contraste com seus coturnos gastos. Moveu ligeiramente a cabeça e as luzes fizeram reluzir uns pendentes de ouro. Seus traços, dominados pela juventude e a pele de cor clara, eram proeminentes e robustos e refletiam uma opressiva inexpressividade. Seus olhos verdes viajavam lentamente pela buliçosa multidão procurando algo. Posaram-se nele um instante e o impacto que lhe provocou o deixou sem respiração. Então seu olhar continuou percorrendo o terminal.




* * *


Dean odiava voar. Especialmente quando era outro que pilotava. Tinha pilotado o pequeno jato até Salt Lake City, já que, ter aterrissado em Chicago, teria alertado a sua presa, e preferia agarrar Lúcifer despreparado. Além disso, depois da clausura do Meigs Field, tinha deixado de voar até Chicago, e nos aeroportos de O`Hare e Midway havia muito tráfico. Odiava as grandes cidades. Havia muitos aromas que obstruíam seu olfato, muitos ruídos. Captava fragmentos de centenas de conversações diferentes sem pretendê-lo, o que podia lhe impedir de perceber o som de alguém se aproximando sigilosamente. Alguém se chocou com ele quando descia do avião e teve que conter-se para não lhe devolver o golpe. Embora voar a O’Hare de noite evitava as aglomerações, havia muita gente para seu gosto. Também odiava os telefones celulares. Quando ligou o seu depois de que o avião aterrissou, tinha uma mensagem de seu pai. Agora, em lugar de dirigir-se para o balcão de aluguel de carros e depois a seu hotel, devia encontrar a um homem e ficar com ele para evitar que Lúcifer ou os outros lobos o matassem. Tudo o que tinha era um nome. John não tinha acreditado ser necessário lhe dar uma descrição. Deteve-se depois da porta de segurança e deixou que seu olhar fora à deriva, esperando que seu instinto desse com o homem. Podia cheirar a presença de outro lobo, mas a ventilação do aeroporto bloqueava sua habilidade de localizar o rastro. Seu olhar se pousou primeiro em um jovem de cabelos liso castanhos e aspecto de alguém que é golpeado com regularidade. Parecia cansado, frio e muito magro. Não gostou do que viu. Muito zangado para estar seguro, obrigou-se a olhar a outro lado. Havia um rapaz embainhado em um traje que harmonizava perfeitamente com sua pele cor chocolate. Embora não tinha aspecto de chamar-se Sam, parecia ser o tipo de pessoa que desafiaria a seu Alfa e telefonaria ao Marrok. Era evidente que estava procurando a alguém. Fez gesto de dirigir-se para ele, mas seu rosto se transformou ao não reconhecer nele à pessoa a que tinha estado esperando. Iniciou uma segunda varrida do terminal quando, desde sua esquerda, uma voz delicada e insegura disse:
—Senhor, acaba de chegar de Montana? Era a garoto de cabelo castanho. Deve ter-se aproximado dele enquanto olhava para outro lado, algo que não teria podido fazer se não estivesse no meio do maldito aeroporto. Ao menos não tinha que procurar mais ao contato de seu pai. Com ele tão perto, nem as correntes de ventilação podiam ocultar que era um homem lobo. Mas não foi só seu olfato o que lhe disse que era algo mais que aquilo. Ao princípio pensou que era uma lobo total. Muitos homens lobo eram mais ou menos dominantes. A gente doce por natureza não estava suficientemente preparada para sobreviver a brutal mudança de humano a licantropo. Por isso existiam tão poucos homens lobos submissos. Então compreendeu que a repentina mudança de humor e seu desejo irracional de protegê-lo da multidão que lhes rodeava eram indícios de algo mais. Embora muitos se equivocavam com ele, não era um lobo total: era um Omega. Justo então soube que, além da missão que lhe tinha levado a Chicago, ia matar ao responsável por aqueles hematomas.

* * *

Desde perto era ainda mais impressionante. Podia sentir sua energia lhe percorrendo o corpo brandamente como uma serpente degustando sua presa. Sam manteve o olhar baixo enquanto esperava sua resposta.
—Sou Dean Winchester —disse ele. — O filho do Marrok. Você deve ser Sam. Ele assentiu. —Veio de carro ou pegou um táxi?
—Não tenho carro —disse ele. Ele grunhiu algo que ele não chegou a entender.
—Sabe dirigir? Sam assentiu.
—Bem.




* * *


Sam conduzia bem, embora era muito prudente. Embora não lhe importava, agarrou-se com força ao porta-luvas do carro alugado. Ele não disse nada quando lhe pediu que fossem a seu apartamento, mas tinha percebido sua consternação. Lhe poderia ter dito que seu pai lhe tinha dado instruções de mantê-lo vivo, se pudesse, e para fazer isso devia permanecer a seu lado. Não queria assustá-lo mais do que já estava. Também lhe poderia haver dito que não tinha intenção alguma de deitar-se com ele, mas não queria mentir. E, sobretudo, não queria mentir a si mesmo. Por isso se manteve em silêncio. Quando entraram na autoestrada na SUV alugada, seu Lobo passou a sentir uma fúria assassina, causada pelo bulício do voo, a deixar-se levar por uma satisfação e uma calma completamente novas para Dean. Os dois lobos Omega que tinha conhecido ao longo de sua vida tinham feito algo similar nele, mas não com semelhante intensidade. Isto deve ser o mais parecido a sentir-se totalmente humano. A fúria e cautela de caçador que seu lobo sempre demonstrava eram apenas uma lembrança, deixando somente a determinação de aproximar-se dele para emparelhar-se. Aquilo também era novo para ele. Embora fosse muito bonito, o que desejava realmente era alimentá-lo e suavizar a rigidez de seus ombros. O lobo queria levar-lhe à cama e reclamá-lo como dele. Mas, ao ser mais cauteloso que seu lobo, esperaria a conhecê-lo um pouco melhor antes de cortejá-lo.
—Meu apartamento não é grande coisa —disse ele com um esforço evidente por romper o silêncio. A aspereza de sua voz lhe indicou que sua garganta estava seca. Tinha medo dele. Embora nunca lhe tinha gostado, era o valentão de seu pai, por isso estava habituado a despertar aquele tipo de sentimento nas pessoas. Apoiou-se na porta do carro e contemplou as luzes da cidade. Queria lhe dar espaço para que se sentisse mais cômodo quando decidisse olhá-lo. Tinha guardado silêncio para que ele se acostumasse a sua presença, embora agora começasse a pensar que poderia ter sido um engano.
—Não se preocupe —disse ele. —Não sou maníaco. Não me importa como é seu apartamento porque sem dúvida será mais civilizado que o povoado indígena onde cresci.
—Um povoado indígena?
—Sou mais velho do que pareço —disse ele sorrindo ligeiramente. —Faz duzentos anos um povoado indígena era algo bastante extravagante em Montana. Como a muitos outros lobos velhos, não gostava de falar do passado, mas sabia que aquilo ajudaria a Sam a tranquilizar-se.
—Tinha esquecido que podia ser mais velho do que aparenta —disse ele desculpando-se. Tinha captado seu sorriso, pensou ele, porque o nível de seu medo se reduziu grandemente. —Na Alcateia de Chicago não há lobos tão velhos.
—Há alguns — discordou ele, dando-se conta de que ele havia dito “a Alcateia” e não “minha Alcateia”. Lúcifer tinha setenta ou oitenta anos e sua mulher muitos mais. Idade suficiente para apreciar o presente que significava possuir a um Omega. Pelo contrário, tinham permitido que o convertessem naquele garoto degradado que se encolhia quando a olhava muito tempo.
—Pode ser complicado saber a idade exata de um lobo. À maioria não gosta de falar do tema. Já é bastante duro adaptar-se sem ter que falar constantemente sobre tempos passados. Anna não disse nada, por isso pensou em outro tema de que pudessem falar. As conversas não eram seu forte; deixava-as para seu pai e seu irmão, ambos muito bons conversadores.
—De que tribo é? —perguntou ela antes que ele encontrasse um novo tema. —Não sei muito sobre as tribos de Montana. —Minha mãe era salish — disse ele. — Da tribo Cabeças-plana. Sam lhe dirigiu um rápido olhar a sua testa com total naturalidade. Ah, pensou ele aliviado, uma boa história que lhe contar.
—Sabe por que os Cabeças-planas se chamam assim? Ele negou com a cabeça. Sua expressão era tão solene que se sentiu tentado a zombar dele. Mas não se conheciam o suficiente, de modo que lhe contou a verdade.
—Muitas das tribos indígenas da Concha do Columbia, a maioria deles salish, estavam acostumados a aplanar as testas dos recém-nascidos; os Cabeças-planas eram uma das poucas que não o faziam.
—Então, por que são eles os que se chamam Cabeças-planas? —perguntou ele.
—Porque as outras tribos em realidade não pretendiam aplanar a testa a não ser criar um pico na parte superior da cabeça. Como os Cabeças-planas não o faziam, as outras tribos começaram a chamá-los desse modo. Não era um bom nome. O aroma de seu medo ia diminuindo enquanto ele falava.
—Nós fomos os feios, os primos bárbaros, sabe? —pôs-se a rir— Ironicamente, os escravistas brancos interpretaram mal o nome. Fomos difamados durante muito tempo por uma prática que não realizávamos. Assim que os homens brancos, como nossos primos, consideravam-nos uns bárbaros. —Disse que sua mãe era salish —disse ela. — O Marrok também é nativo americano? Ele negou com a cabeça.
—Meu pai é galês. Deve ter caçado peles na época dos trapaceiros e ficou porque se apaixonou pelo aroma dos pinheiros e da neve. Seu pai o havia dito com essas mesmas palavras. Charles descobriu que voltava a sorrir sem que lhe doesse a cara, desta vez um sorriso de verdade, e notou como ela se relaxava ainda mais. Teria que chamar a seu irmão, Adam, para lhe dizer que finalmente tinha aprendido a sorrir sem que o rosto lhe esquartejasse. Somente tinha necessitado a um lobo Ômega para consegui-lo. Sam virou em um beco e se introduziu em um pequeno estacionamento atrás de um dos onipresentes edifícios de tijolo de quatro novelo que alagavam os velhos subúrbios daquela parte da cidade.
—Em que bairro estamos? —perguntou ele.
—No Oak Park — disse ela. — O lar de Frank Lloyd Wright, Edgar Frise Burroughs e Scorci´S.
—Scorci´s? Ele assentiu e saiu do carro.
—O melhor restaurante italiano de Chicago e meu atual lugar de trabalho.
Ah, por isso cheira a alho.
—De modo que sua opinião é imparcial? Dean saiu do carro aliviado. Seu irmão zombava dele porque não gostava dos carros, apesar de saber que existiam poucas probabilidades de morrer se tinha um acidente grave. Dean não tinha medo de morrer, simplesmente lhe parecia que os carros corriam muito. Impedia-lhe de reconhecer o terreno pelo que circulava. E se gostava de dar uma olhada enquanto viajava, os carros não podiam fazer sozinhos o caminho. Por isso preferia os cavalos. Depois de que ele tirou sua bagagem do porta-malas, Sam fechou o carro com chave. O carro emitiu um assobio, e Dean se sobressaltou e não ocultou seu aspecto irritado. Quando deu a volta, Sam tinha a vista cravada no chão. A ira, que em sua presença tinha desaparecido, reapareceu assim que sentiu a força de seu medo. Alguém o tinha traumatizado.
—Sinto muito —sussurrou ele. Se naquele momento tivesse estado em forma de lobo, teria a cauda entre as pernas.
—Por quê? —perguntou ele, incapaz de ocultar seu aborrecimento — Porque me assustam os carros? Não é sua culpa. Viu-se obrigado a controlar a seu lobo, e então compreendeu que naquela ocasião teria que ser mais prudente. Normalmente, quando seu pai o enviava a resolver algum problema, não tinha muitas dificuldades. Entretanto, com um lobo Omega ferido tão perto, teria que fazer um maior esforço por controlar seu temperamento.
—Sam —disse ele assim que voltou a ter tudo sob controle, — sou o assassino de meu pai. É meu trabalho como seu segundo. Mas isso não significa que eu goste. Não te farei mal, dou-te minha palavra.
—Sim, senhor —disse ele sem acreditar nele. Dean recordou que para ele a palavra de um homem não tinha muito valor. Ajudou-lhe a controlar o fato de perceber nele a mesma quantidade de ira que de medo; ainda não estava anulado de todo. Decidiu não insistir ao compreender que acabaria provocando o efeito contrário, Sam deveria aceitar que ele era um homem de palavra. Enquanto isso, daria-lhe algo no que pensar. —Além disso —disse ele brandamente, — meu lobo está mais interessado em te cortejar que em impor seu domínio. Dean sorriu quando percebeu que tanto seu medo como seu aborrecimento tinham desaparecido, sendo substituídos pela surpresa... e por algo que poderia ser um princípio de interesse. Sam abriu a porta principal do edifício, entrou antes que ele e subiu as escadas sem lhe dirigir o olhar. Ao chegar ao segundo andar, seu aroma não desprendia nenhuma emoção, além do cansaço. Deu-se conta de que a Sam custou um grande esforço subir as escadas até o apartamento de cobertura. Sua mão tremia ao tentar colocar a chave no ferrolho de uma das duas portas do patamar. Devia alimentar-se melhor. Os homens lobo não deveriam estar tão magros; poderia ser perigoso para os que lhe rodeavam.




∗ ∗ ∗


Era um executor, disse-se Sam, enviado por seu pai para resolver os problemas que surgiam na comunidade de homens lobo. Para sobreviver naquele trabalho, devia ser inclusive mais perigoso que Lúcifer. Sam podia sentir quão dominante era, e sabia como eram os dominantes. Tinha que estar alerta, preparado para o mais mínimo movimento agressivo, disposto a suportar a dor e o pânico, porque fugir seria ainda pior. Então, por que se sentia mais seguro quanto mais tempo passava com ele? Dean o seguiu escada acima sem dizer uma palavra, e Sam decidiu não desculpar-se mais por seu apartamento. No fim das contas, tinha sido sua ideia passar ali a noite e acabar dormindo em um futón dobro em lugar de em uma agradável cama de hotel. Não sabia o que lhe oferecer para comer; esperava que tivesse comido algo durante o voo. No dia seguinte iria comprar algumas coisas, depois de descontar o cheque do Scorci`s que tinha deixado na porta da geladeira. Tempos atrás, o apartamento de cobertura estava dividido em dois pisos de duas habitações, mas,
nos anos setenta, alguém tinha feito uma reforma e os tinha convertido em um piso de três habitações e um escritório. Seu apartamento parecia usado e vazio, sem mais móveis que um futón, uma mesinha e um par de cadeiras dobradiças. O chão de parquet era quão único o fazia um pouco acolhedor. Sam olhou Dean atentamente quando entrou no apartamento atrás dele, mas compreendeu que sabia controlar muito bem suas emoções. Embora não pôde adivinhar o que pensava, não lhe custou muito imaginar-lhe ao ver como olhava fixamente o futón, que era perfeito para ele, mas muito pequeno para o loiro.
—O banheiro está ali —disse ela desnecessariamente porque a porta estava aberta e se podia ver com claridade. Ele assentiu enquanto a observava com os olhos opacos pela pobre iluminação.
—Tem que trabalhar amanhã? —perguntou ele.
—Não. Não trabalho até sábado.
—Bem. Então poderemos falar pela manhã. Den agarrou sua pequena mala e se foi ao banheiro. Enquanto Sam procurava no armário uma manta velha e voltava a considerar que um tapete seria muito melhor que o gentil parquet, bonito, mas muito frio e duro para dormir sobre ele, fez todo o possível para isolar-se dos estranhos sons que produzia outra pessoa dispondo-se a ir à cama. A porta se abriu enquanto seguia de joelhos no chão tentando estender a manta a modo de colchão o mais longe possível da cama.
—Pode dormir na cama — começou a dizer e, ao dar a volta, encontrou-se cara a cara com um enorme lobo de pelagem preta. Meneou-lhe a cauda e sorriu ante sua óbvia surpresa, antes de roçá-la ao passar para deitar-se na manta. Acomodou-se sobre ela, apoiou a cabeça em suas patas dianteiras e fechou os olhos; aparentemente, dormindo imediatamente. Apesar de que Sam sabia que não era assim, não se moveu, nem lhe olhou quando foi ao banheiro ou quando saiu vestida com um moletom mais grosso. Não poderia dormir com um estranho em seu apartamento, mas, de algum modo, o lobo lhe resultava menos ameaçador. Aquele lobo. Passou o fecho da porta, apagou a luz e se arrastou até a cama sentindo-se mais seguro do que o tinha estado desde o dia em que descobriu que o mundo estava cheio de monstros.




∗ ∗ ∗


 


Ao princípio, os passos que ouviu na escada na manhã seguinte não lhe preocuparam. A família que vivia no apartamento de frente passava o dia e a noite entrando e saindo. Cobriu a cabeça com o travesseiro para amortecer o ruído, mas então reconheceu a maneira de caminhar de Charlie e recordou que havia um homem lobo em seu apartamento. Ergueu-se repentinamente e olhou para Dean. O lobo era muito mais formoso à luz do dia que da noite; suas negras patas realçavam o vermelho de sua pelagem. Ergueu a cabeça quando Sam se ergueu e se levantaram o mesmo tempo. Quando Charlie bateu na porta, Sam lhe indicou que se mantivesse calado.
— Sam, está aí? Sabe que alguém estacionou outra vez em sua vaga de estacionamento? Quer que chame o reboque ou tem um homem aí dentro? Charlie estava esperando ao outro lado da porta.
—Estou aqui. Espera um minuto. Olhou a seu redor freneticamente procurando um lugar onde esconder ao homem lobo. Não cabia no armário e se fechasse a porta do banheiro, Kara quereria saber por que o tinha feito. Além disso, exigiria saber por que tinha um cão do tamanho de um pônei, embora menos amigável, em sua sala de estar. Jogou um rápido olhar para Charles e se dirigiu para a porta enquanto ele se encaminhava ao banheiro. Quando ouviu que a porta do banheiro se fechava, abriu o fecho da porta do apartamento.
—Voltei — disse Charlie ao entrar, deixando um par de bolsas sobre a mesa. Sua pele estava mais bronzeada do que o habitual pela semana que tinha passado sob o sol tropical. — No caminho para casa comprei algo para tomar o café da manhã juntos. Não come o suficiente. Seu olhar se dirigiu à porta fechada do banheiro. —Tem alguém aí. — Sorriu, mas seus olhos mostravam preocupação. Charlie nunca lhe tinha oculto que Gadreel não gostava. Sam lhe havia dito que era um antigo noivo.
— Mmm... Sam era consciente de que Charlie não partiria até saber quem havia no banheiro. Por alguma razão, tinha-o protegido desde o primeiro dia que se mudou para aquele apartamento, pouco depois de sua transformação. Justo naquele momento, Den abriu a porta do banheiro e perguntou:
—Sam, tem uma escova de cabelo?
Embora Sam soubesse que era impossível, estava totalmente vestido e em forma humana. Tinham passado menos de cinco minutos desde que entrou no banheiro, e um homem lobo necessita mais tempo para recuperar sua forma humana. Lançou um olhar desesperado a Charlie, mas sua vizinha estava muito ocupada observando ao homem de pé na porta do banheiro para perceber a surpresa no rosto do moreno. O fato de que Charlie estivesse embevecida lhe permitiu observar a Dean com mais atenção; devia admitir que, com seus cabelos loiros molhados,além de vestir uma camisa de flanela e jeans, convidava a que lhe observassem. Sorriu brevemente para Charlie antes de voltar a centrar sua atenção em Sam .
—Não sei onde coloquei a minha. Tem alguma? Sam assentiu desconcertado e entrou no banheiro. Como se tinha transformado tão rápido? Mas não podia perguntar-lhe enquanto Charlie estivesse no apartamento. Cheirava bem. Inclusive depois de três anos, resultava-lhe estranho perceber aquelas coisas da gente. Normalmente tentava ignorar o que seu olfato lhe dizia, embora neste caso tivesse que esforçar-se para não deter-se e desfrutar daquele aroma tão embriagador.


—E você quem é? —ouviu a ruiva perguntar com desconfiança. 
— Dean Winchester. Pelo tom de voz, Sam não podia saber se lhe tinha incomodado ou não o receio de Charlie.
—E você é...?
—É a Charlie, a vizinha de baixo —disse Sam lhe dando a escova de cabelo e partindo à sala de estar.
—Sinto muito, teria que lhes ter apresentado. Charlie, este é Dean Winchester. Veio me visitar de Montana. Dean, Charlie Bradbury, minha vizinha de baixo. Agora se deem as mãos. Tinha repreendido a Charlie, a qual podia ser muito seca com alguém que não gostava. Dean levantou uma sobrancelha surpreso e divertido ao mesmo tempo, antes de dar a volta e oferecer a Charlie sua enorme mão.
— De Montana? —perguntou a ruiva ao estreitar-lhe firmemente. Dean assentiu —Meu pai me enviou porque se inteirou de que alguém estava incomodando Sam. Com aquilo, Sam soube que ganhou Charlie.
— Gadreel? Você vai dar um jeito nesse rato? A ruiva olhou para Dean com aprovação. —Parece estar em boa forma, não me interprete mal, mas Gadreel é todo um personagem. Vivi no Cabrini Green até que minha mãe casou com um bom homem. Pessoas como Gadreel crescem como um predador, é o tipo de pessoa que adora a violência. A primeira vez que lhe vi, recordei o que me tinha ocorrido vinte anos atrás. Já tinha feito mal a outra pessoa e desfrutava com isso. Não o vai assustar somente com um aviso. Dean pôs cara de satisfação, o que transformou completamente sua aparência.
—Obrigado pelo conselho —lhe disse. Charlie assentiu majestosamente.
—Como conheço o Sam, sei que não há nada de comida em seu apartamento. Tem que alimentá-lo. Há pãezinhos e queijo cremoso nas sacolas que deixei sobre a mesa. E não, não pretendo ficar. Tenho uma semana de trabalho pela frente, mas não me posso partir sem saber que Sam comeu algo.
— Farei de que o faça —disse Dean com o sorriso ainda no rosto. Ch67arlie alargou o braço para lhe dar um tapinha de agradecimento na bochecha. —Obrigada. Charlie deu um rápido abraço em Sam e tirou dinheiro de seu bolso que deixou sobre a mesa, junto às sacolas.
—Isto é por cuidar do gato. Assim não tenho que deixá-lo na residência de animais, com todos esses cães aos que odeia, e pagando quatro vezes mais. Se não o aceitar, a próxima vez o levarei a residência só para que se sinta culpado. Depois daquilo, partiu. Sam esperou até ouvir os passos no andar de abaixo e então disse:
—Como se transformou tão rápido?
—Quer pãozinho de alho ou de amoras? —perguntou Dean abrindo uma sacola. Quando viu que não ia responder, apoiou as mãos sobre a mesa e suspirou.
—Quer dizer que não ouviu a história do Marrok e sua dama indígena? Sam não pôde entender o tom de sua voz nem decifrar a expressão de seu rosto.
—Não —respondeu ele. Dean soltou uma breve gargalhada embora Sam não encontrou a graça por nenhum lado.
—A beleza de minha mãe lhe salvou a vida. Estava recolhendo ervas quando surpreendeu a um alce. Este a atacou violentamente. Meu pai, atraído pelo ruído, foi até ali e lhe salvou a vida convertendo-a em uma mulher lobo.Dean agarrou os pãezinhos e os pôs na mesa usando os guardanapos como pratos. Sentou-se e lhe indicou que fizesse o mesmo.
—Comece a comer e te contarei o resto da história. Ofereceu-lhe um pãozinho de amoras. Sam se sentou frente a ele e comeu um bocado. Dean assentiu com satisfação e continuou. —Aparentemente era um desses amores à primeira vista por ambas as partes. Nenhum dos dois falava o idioma do outro, por isso o amor que sentiam se apoiava em sua beleza. Tudo foi bem até que ficou grávida. O pai de minha mãe era um xamã e lhe ajudou a conservar sua humanidade até que eu nasci. Então, cada mês, quando meu pai e meu irmão caçavam sob a lua, minha mãe permanecia em sua forma humana. E com cada lua se fazia mais e mais débil. Meu pai discutiu com ela e com seu pai, preocupado porque se estava matando.
—Por que o fazia? —perguntou Sam. Dean franziu o cenho. —Quanto tempo faz que você é um homem lobo?
— Fez três anos em agosto passado.
—As mulheres lobo não podem ter filhos, mas os homens sim —disse ele. —A mudança é muito dura para o feto. Morrem ao terceiro ou quarto mês. Mas, como o corpo masculino é mais forte, o feto aguenta até o fim da gestação. Sam lhe olhou fixamente. Ninguém lhe tinha contado aquilo.
— Está bem? Não sabia o que lhe responder. Não é que estivesse planejando ter filhos, especialmente o estranho que tinha sido sua vida nos últimos três anos. Mas tampouco tinha planejado não os ter.
— Deveriam haver lhe explicado isso antes de decidir que queria te transformar —disse ele. Agora foi Sam que soltou uma gargalhada.
—Aqui ninguém explica nada. Por favor, continua com a história.
Dean o contemplou um bom momento e logo assentiu com solenidade.
—Apesar dos protestos de meu pai, ela esperou até meu nascimento. Debilitada pela magia durante a luta contra a chamada da lua, não conseguiu sobreviver. Nasci sendo um homem lobo, não me transformaram como ao resto, o que me dotou de certas habilidades, como me transformar rapidamente.
—Isso estaria bem —disse ele com convencimento.
—Segue sendo doloroso —acrescentou ele. Sam jogava com uma parte do pãozinho.
—Procurará o menino desaparecido? Seu rosto se endureceu. —Não. Sabemos onde está Alan Frazier. Algo em sua voz o disse.
—Está morto? Dean assentiu.
—Há gente muito boa investigando sua morte. Encontrarão aos responsáveis. Foi transformado sem seu consentimento e a garota que ia com ele foi assassinada. Depois o venderam como um coelhinho da índia. A pessoa responsável pagará por seus crimes. Sam ia perguntar- lhe algo mais quando a porta do apartamento se abriu violentamente e golpeou contra a parede. Gadreel apareceu na soleira da porta. Tinha estado escutando Dean tão atentamente que não tinha ouvido Gadreel subir as escadas. Tinha esquecido de fechar a porta com a ch67ave depois de que Charlie saiu. Tampouco tivesse servido de muito, já que Gadreel tinha a chave. Sam não pôde evitar sobressaltar-se quando Gadreel entrou no apartamento como se fosse o proprietário.
—Dia de pagamento —disse ele. —Me deve um cheque. Olhou para Dean.
—Sai, o rapaz e eu temos negócios que tratar. Sam não podia acreditar que Gadreel tivesse empregado aquele tom com Dean. Observou-o para ver sua reação e compreendeu que Gadreel tinha metido a pata.
Dean estava entretido com seu prato, com a vista fixa na mesa. Ocultava a força de sua assombrosa personalidade. —Não vou sair —murmurou sem levantar o olhar. —Talvez ele precise de minha ajuda. Gadreel fez uma careta.
—Onde o encontrou? Você verá quando disser a Lúcifer que encontrou um cão de rua e não lhe disse. Aproximou-se de Sam e o agarrou pelo cabelo. Levantou-o da cadeira e o embutiu contra a parede, abandonando-o com um desagradável gesto sexual e violento enquanto aproximava sua cara a dele.
— Pode ser que diga para voltar a te castigar. Eu adoraria. Sam recordou a última vez que lhe castigaram e não pôde ocultar seu medo. Sam percebeu como Gadreel desfrutava com seu pânico.
—Parece-me que desta vez não vai ser ele quem recebe o castigo —disse Dean em voz baixa. Sam se tranquilizou, porque sabia que Dean não permitiria que Gadreel lhe fizesse mal. Não podia explicar como sabia. Tinha descoberto que, embora um lobo não lhe fizesse mal, não significava que fosse protegê-lo.
—Não te dei permissão para falar —grunhiu Gadreel, voltando a cabeça para o outro homem. —Me ocuparei de você assim que acabe com ele. Dean se levantou com calma. Sam pôde ouvir como limpava as mãos com o guardanapo. —Acredito que já terminou aqui —disse Dean com uma voz completamente diferente.
— Solte-o. Sam notou nos ossos o poder de suas palavras, esquentando seu estômago que se gelou de medo. Gadreel desfrutava mais lhe machucando do que forçando-o. Sam tinha lutado até que compreendeu que aquilo lhe satisfazia inclusive mais. Não tinha demorado muito em aprender que não tinha nenhuma possibilidade de ganhar. Gadreel era mais forte e mais rápido, e a única vez que conseguiu soltar-se, o resto da Alcateia o segurou para ele. Depois das palavras de Dean, Gadreel o soltou tão rápido que Sam cambaleou, embora aquilo não impedisse que se afastasse tudo o que pôde até chegar à cozinha. Agarrou o pau de macarrão de mármore, que tinha sido de sua avó, e o agarrou com receio. Gadreel estava de costas, mas Dean viu sua arma e lhe dedicou um breve sorriso antes de centrar sua atenção em no loiro mais baixo.
—Quem diabos você é? —cuspiu Gadreel. Sam percebeu o medo que se ocultava atrás de sua ira.
—Poderia te fazer a mesma pergunta —disse Dean.
— Tenho uma lista com todos os homens lobo das Alcateias de Chicago e seu nome não está nela. Mas isso é somente uma parte dos assuntos que me trouxeram aqui. Volta para casa e diga a Lúcifer que Dean Winchester quer falar com ele. Me encontrarei com ele esta tarde, em sua casa, às sete. Pode trazer os seus seis primeiros e a sua companheira, mas não ao resto da Alcateia. Para surpresa de Sam, Gadreel emitiu um grunhido e partiu sem mais protestos.



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Autor(a): BiaSW

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O lobo que tanto tinha intimidado a Sam não desejava partir, mas não era suficientemente dominante para fazer algo com Dean no apartamento. Por isso, Dean esperou alguns segundos e depois o seguiu silenciosamente pelas escadas. No andar inferior encontrou Gadreel a ponto de chamar uma porta. Dean estava bastante seguro de que era a de Charlie. Não lhe su ...



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