Fanfics Brasil - Capítulo 2 Beyond The Worlds

Fanfic: Beyond The Worlds | Tema: Supernatural


Capítulo: Capítulo 2

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O lobo que tanto tinha intimidado a Sam não desejava partir, mas não era suficientemente dominante para fazer algo com Dean no apartamento. Por isso, Dean esperou alguns segundos e depois o seguiu silenciosamente pelas escadas. No andar inferior encontrou Gadreel a ponto de chamar uma porta. Dean estava bastante seguro de que era a de Charlie. Não lhe surpreendeu que Gadreel procurasse outra maneira de castigar a Sam por sua forçada retirada. Dean golpeou o chão com sua bota e viu como o outro lobo ficava completamente rígido e baixava o braço.
— Charlie não está em casa —disse Dean, — e não seria aconselhável lhe machucar. Dean se perguntou se devia matá-lo ali mesmo... mas tinha uma reputação que seu pai não podia permitir-se que perdesse. Somente podia matar àqueles que infringiam as regras do Marrok, e só depois de que ficasse demonstrada sua culpabilidade. Sam havia dito a seu pai que Gadreel era o lobo que tinha transformado a Alan MacKenzie Frazier contra sua vontade, mas, como naquela Alcateia se produziam tantas irregularidades, poderiam considerar-se circunstâncias atenuantes. Sam era um homem lobo fazia três anos e ninguém lhe havia dito que poderia ter filhos. Se Sam sabia tão pouco, era provável que aquele lobo tampouco conhecesse as regras. Ignorasse ou não seus crimes, Dean desejava matá-lo. Quando Gadreel deu a volta, Dean o fulminou com o olhar e viu como o outro lobo empalidecia de repente e começava a descer as escadas.
—Vá dar a mensagem a Lúcifer —disse Dean. Fez-lhe ter sabor ao Gadreel que o estava seguindo, para que soubesse o que se sentia ao ser a presa de um predador mais violento que ele.
Gadreel era um tipo duro. Enquanto descia a escada, ia girando para enfrentar Dean, embora somente com o olhar, vendo-se forçado a continuar adiante. A perseguição despertou o lobo de Dean, que, ainda molesto pelo modo em que Gadreel tinha tratado Sam, permitiu que saísse à superfície um pouco mais do estritamente necessário. A luta se deteve na porta principal, onde deixou que o loiro mais baixo partisse livremente. A caçada tinha sido muito curta. Ao lobo de Dean tampouco tinha gostado de ver Sam assustado. Reclamava sangue, e Dean teve que pôr em prática todo seu autocontrole para não matar Gadreel no apartamento. Somente a firme suspeita de que Sam poderia voltar a lhe ter medo lhe ajudou a permanecer sentado até estar seguro de que podia controlar-se. Subir os quatro andares deveria lhe dar tempo para tranquilizar a seu lobo. Poderia havê-lo feito, mas Sam lhe esperava no terceiro andar com o pau de macarrão na mão. Deteve-se a meio caminho e Sam deu a volta e começou a subir sem dizer uma palavra. Seguiu-o até a cozinha de seu apartamento, onde deixou o pau de macarrão junto ao pote das facas.
—Por que o pau de macarrão e não uma faca? —perguntou ele com a voz áspera pela necessidade de ação. Dirigiu-lhe o primeiro olhar depois do encontro nas escadas.
—Uma faca não o deteria, mas os ossos necessitam tempo para curar-se. Daquilo gostou. Quem tivesse pensado que lhe excitaria um cara com um pau de macarrão?
—Muito bem — disse ele. — Muito bem. Deu a volta subitamente e deixou Sam na cozinha, porque se permanecesse ali teria que agarrá-lo e seduzi-lo, o apartamento não era suficientemente grande para andar de um lado a outro ou para pôr distância entre eles. Seu aroma, uma mescla de medo e excitação, era perigoso. Necessitava uma distração. Sentou-se em uma cadeira e se reclinou sobre as pernas traseiras da mesma. Cruzou suas mãos atrás da nuca adotando uma postura relaxada, semicerrou os olhos e disse:
—Quero que me fale de sua transformação. Não lhe passou despercebido que a pergunta fez Sam estremecer. Algo mal tinha ocorrido durante sua transformação. Concentrou-se nisso.
—Por que? —perguntou ele desafiante. Imaginou que ainda estava alterado pela visita de Gadreel. Sam deu a volta e se encolheu pensando que a ira lhe faria explodir. Dean fechou os olhos. Não podia mais. Estava a ponto de deixar a um lado todo o cavalheirismo que seu pai lhe tinha ensinado e tomá-lo ali mesmo, estivesse disposto ou não. Pensou que isso ensinaria a não lhe ter medo.
—Preciso saber como funciona a Alcateia de Lúcifer —disse ele pacientemente, embora naquele momento lhe importava pouco. —Prefiro que me dê primeiro a sua opinião e logo já farei perguntas. Me dará uma ideia mais clara do que está fazendo e por que. Sam o olhou cauteloso, mas Dean nem se alterou. Ainda podia cheirar a raiva no ambiente, embora pudesse ser uma reminiscência da presença de Gadreel. Dean também estava excitado; Sam se encontrou respondendo a sua pergunta embora sabia que era o habitual resultado da vitoriosa confrontação entre machos. Como Dean o estava ignorando, ele também podia fazê-lo. Respirou profundamente e o aroma de Dean encheu seus pulmões. Depois de pigarrear, esforçou-se por encontrar o princípio de sua história.
—Trabalhava em uma loja de música no Loop quando conheci o Gadreel. Disse-me que era violonista, como eu, e começou a vir várias vezes por semana a comprar cordas, CD'S... Pequenas coisas. Flertava comigo e fazia brincadeiras. Deu conta do insensato que tinha sido. —Pensava que era bom menino, de modo que, quando me convidou para jantar, aceitei. Sam olhou para Dean; parecia estar a ponto de dormir. Os músculos de seus ombros estavam relaxados e sua respiração era lenta e calma.
—Tivemos um par de encontros. Levou-me a um pequeno restaurante perto de um parque, uma das reservas florestais. Quando terminamos, fomos dar uma volta pelo bosque “para contemplar a lua”, conforme me disse. Inclusive agora, depois de tanto tempo, era consciente da tensão em sua voz. —Pediu-me que esperasse um momento, que voltaria em seguida. Recordou que Gadreel se excitou, que estava quase frenético com as emoções contidas. Apalpou os bolsos e lhe havia dito que tinha esquecido algo no carro. Sam temia que fora a procurar um anel de compromisso. Enquanto esperava, ensaiou diversas formas amáveis de rechaçar sua proposta. Tinham muito pouco em comum, e quase nenhuma química. Embora parecesse agradável, havia algo nele que não lhe agradava, e seu instinto lhe dizia que tinha que romper com ele. —Como demorava muito, decidi ir para o carro quando, de repente, ouvi algo entre os arbustos. Sentiu uma comichão na cara, igual a aquela noite.
—Não sabia que era um homem lobo?
A voz de Charles lhe recordou que se encontrava a salvo, em seu apartamento.
—Não, pensava que era somente uma lenda.
—Me conte o que ocorreu depois do ataque. Não tinha que lhe explicar como Gadreel o tinha espreitado durante uma hora, cercando-o de um lado a outro e evitando que se aproximasse da saída do bosque. Somente queria saber coisas sobre a Alcateia de Lúcifer. Sam dissimulou o alívio que lhe produziu aquilo.
—Despertei na casa de Lúcifer. A princípio estava muito excitado; sua Alcateia só tem uma mulher. Então descobriram o que eu era.
—E o que é, Sam? Pensou que sua voz era como a fumaça, suave e ligeira.
—Total —disse ele, —a categoria mais baixa. —E então, com os olhos fechados, acrescentou: — Inútil.
—Isso é o que lhe disseram? —perguntou ele pensativo.
—É a verdade. Deveria estar mais desgostoso por isso; os lobos que não a odiavam a tratavam com lástima. Mas não queria ser dominante e ter que lutar e fazer mal às pessoas. Como Dean não disse nada, continuou com sua história, esforçando-se por recordar todos os detalhes. Ele fez algumas pergunta:
—Quem te ajudou a controlar seu lobo? (Ninguém, fez-o por sua conta. Disseram-lhe que era outra prova que demonstrava que não era dominante).
—Quem te deu o telefone do Marrok? (O terceiro de Leo, Balthazar Hunter).
—Quando e por que? (Justo antes de que a companheira de Lúcifer intercedesse por ele e evitasse que o fizesse circular entre os machos que mereciam uma recompensa. Tentou evitar aos lobos de mais categoria. Não tinha nem ideia de por que lhe tinha dado esse número nem queria perguntar). —Quantos membros novos se uniram à Alcateia desde que o fez você? (Três, todos machos, mas dois deles não podiam controlar-se e foram eliminados).
—Quantos membros há na Alcateia? (Vinte e seis). Quando terminou, surpreendeu-se de estar sentado no chão, no outro lado do apartamento, com as costas pregadas na parede. Dean apoiou a cadeira sobre as quatro pernas e levou uma mão à testa. Suspirou profundamente e o olhou pela primeira vez desde que começou o interrogatório. Sam se sobressaltou ao descobrir o brilho dourado de seus olhos. Dean estava a ponto de transformar-se, forçado por uma intensa emoção e, embora o via em seus olhos, não o podia ler nem em seu corpo nem em seu aroma; conseguia ocultá-lo de algum modo.
—Há regras. A primeira é que nenhuma pessoa pode ser transformada contra sua vontade. A segunda é que nenhuma pessoa pode ser transformada até que foi aconselhada e aconteceu uma singela prova que demonstre que compreende as consequências da transformação. Sam não sabia o que dizer, mas finalmente recordou que devia apartar seus olhos de seu intenso olhar. —Pelo que me disse, Lúcifer está criando novos lobos e perdendo a outros, e não informou isto ao Marrok. O ano passado veio a nosso encontro anual com sua companheira e seu quarto, esse tal Balthazar Hunter. Disse-nos que seu segundo e terceiro estavam ocupados. Sam franziu o cenho.
—Balthazar foi seu terceiro desde que estou na Alcateia, e Gadreel é seu segundo.
—Disse que somente há somente uma fêmea na Alcateia. —Sim.
—Deveriam haver quatro.
—Ninguém mencionou a outras —disse ele. Dean olhou o cheque que estava sujeito na porta da geladeira.
—Ficam com seu salário. Quanto lhe devolvem? O esforço por controlar a seu lobo fazia que sua voz soasse muito profunda. —Sessenta por cento.
—Ah. Fechou seus olhos de novo e respirou profundamente. Agora, Anna podia cheirar sua ira, embora seus ombros continuassem relaxados. Quando terminou de falar, Sam disse em voz baixa:
—Posso fazer algo para te ajudar? Quer que eu vá embora? Ou que te conte algo ou ponha música?
Não tinha televisão, mas sim um velho aparelho de som. Embora Dean continuasse com os olhos fechados, permitiu-se um leve sorriso.
—Normalmente, meu controle é melhor. Sam esperou, mas as coisas pareciam piorar cada vez mais. Os olhos de Dean se abriram de repente, e seu olhar frio e amarelo a imobilizou contra a parede em que estava apoiado, enquanto se desentorpecia e rondava pelo apartamento. O pulso de Sam se acelerou e baixou a cabeça para encolher-se. Notou que Dean se ajoelhava frente a ele. Quando lhe acariciou o rosto com suas cálidas mãos, sobressaltou-se, e lamentou vê lo feito assim que lhe ouviu grunhir. Dean, ainda de joelhos, enterrou o rosto em seu pescoço e descansou seu corpo tenso sobre o dele, prendendo-o contra a parede. Apoiou as mãos nesta, rodeando-o, e Sam deixou de mover-se. Sentia sua cálida respiração no pescoço. Sam se sentou com um movimento precavido, aterrorizado por fazer algo que pudesse dificultar seu controle. Mas havia algo nele que lhe impedia de estar completamente aterrorizado, algo que insistia em que não lhe faria mal. Que nunca lhe faria mal. O que era estúpido. Todos os dominantes fazem mal aos que estavam abaixo deles. Tinha-o aprendido da pior forma possível. Embora as feridas se curassem rapidamente, não era menos desagradáveis. Embora fosse inútil às vezes que se repetisse a si mesmo que devia estar assustado com ele, um dominante entre dominantes, um estranho que não tinha nunca visto até o dia anterior, ou para ser mais preciso, desde aquela manhã. Não podia ter medo. Cheirava a ira, mas também a chuva da primavera, a lobo e a homem. Fechou os olhos e deixou de lutar contra si mesmo, permitindo que seu agradável aroma se levasse todo o medo e a raiva que sentia após lhe explicar o pior que lhe tinha passado na vida. Assim que ele relaxou, Dean também o fez. Seus rígidos músculos se afrouxaram e seus braços se deslizaram pela parede para descansar brandamente sobre seus ombros. Pouco depois, Dean se tornou para atrás, mas, como ainda estava agachado, suas cabeças ficaram quase à mesma altura. Colocou delicadamente sua mão no queixo de Sam e lhe levantou brandamente a cabeça até que seu olhar se pousou em seus olhos claros. Sam teve a súbita sensação de que se olhasse aqueles olhos durante o resto de sua vida, poderia chegar a ser feliz. Aquela revelação o assustou mais que o pânico anterior.
—Está fazendo algo para que me sinta assim? —perguntou ele sem pensar. Dean não lhe perguntou o que sentia. Em lugar disso, inclinou sua cabeça em um gesto lupino, mas mantendo o contato visual. Sam teve a impressão de que estava tão desconcertado quanto ele próprio.
—Não acredito. Não intencionadamente. Dean lhe segurava o rosto com ambas as mãos. Eram mãos grandes e robustas, e tremiam ligeiramente. Agachou-se até que seu queixo descansou sobre sua cabeça.
—Eu tampouco havia me sentido assim.



* * *



Dean poderia ter ficado assim para sempre, apesar do desconforto de estar de joelhos sobre o duro parquet. Nunca havia sentido nada igual, e muito menos com um homem que somente conhecia fazia menos de vinte e quatro horas. Não sabia como enfrentar aquilo; de fato, embora pouco habitual nele, não queria fazê-lo. Estava disposto a postergá-lo indefinidamente enquanto pudesse estar junto a ele. Evidentemente, preferia fazer outra coisa, mas, se seus sentidos não lhe enganavam, alguém estava subindo pelas escadas. Quatro andares não eram suficientes para manter afastados aos intrusos. Fechou os olhos e deixou que seu lobo analisasse o rastro e identificasse ao novo visitante. Alguém bateu na porta. Sam se sobressaltou. Uma parte dele estava satisfeita por como tinha conseguido distraí-lo. Não tinha captado nada até então. À outra parte preocupava sua vulnerabilidade. A contra gosto, levantou-se e se separou ligeiramente de Sam.
— Entre, Ruby. A porta se abriu e a companheira de Lúcifer apareceu à cabeça. Jogou um olhar a Sam e sorriu com maldade.
—Interrompo algo interessante? Dean sempre tinha gostado de Ruby, embora tentou não demonstrá-lo. Sendo executor de seu pai, fazia tempo que tinha aprendido a não afeiçoar-se de ninguém que talvez tivesse que matar algum dia. Portanto, seu círculo de amizades era muito reduzido e se limitava a seu pai e a seu irmão. Sam se levantou e lhe devolveu um tímido sorriso, embora Dean percebesse que ainda estava assustado. Para sua surpresa, disse:
—Sim, estava a ponto de passar algo interessante, mas não importa, prossiga. Ruby entrou de repente, fechou a porta e estendeu a mão para Dean.
— Dean, me alegro em te ver. Dean tomou sua mão e a beijou brandamente. Cheirava a canela e a prego. Tinha esquecido que usava perfume para entorpecer os afiados sentidos dos homens lobo. Suficientemente intenso para se ocultar e proteger do agudo olfato destes. A não ser que estivesse muito inquieta, ninguém podia perceber o que sentia.
—Está muito bonita —disse ele consciente de que aquilo é o que esperava. Era verdade. —Deveria parecer que tenho os nervos destroçados —disse ela, mexendo no cabelo, o qual, combinado com seus belos traços, a fazia parecer uma princesa de conto. Era baixa e miúda, mas Dean nunca cometeria o engano de considerá-la frágil.
— Gadreel chegou em casa enfurecido dizendo algo sobre um encontro esta noite. Era de tudo menos coerente e eu disse a Lúcifer que passaria por aqui ver o que estava fazendo. Por certo, o que fez para enfurecê-lo dessa forma? Aquela era uma das razões pelas que não tinha amigos.
— Lúcifer recebeu minha mensagem? —perguntou Dean. Ruby assentiu.
—E parecia bastante assustado, algo que não lhe assenta muito bem. Inclinou-se para Dean e pousou uma mão sobre seu braço com muita familiaridade.
—O que te traz por nosso território, Dean? Dean deu um passo atrás. Embora parecesse havê-lo esquecido enquanto estava com Sam, não gostava de tocar nem que lhe tocassem. Seu Sam.
Esforçou-se por retomar a atenção nos negócios.
— Vim para me encontrar com Lúcifer esta noite. O habitual semblante alegre de Ruby se endureceu e Dean esperou que explodisse. Ruby era tão famosa por seu caráter como por seu carisma. Era uma das poucas pessoas que tinha estalado frente ao Marrok e tinha saído ilesa; o pai de Dean também se dava muito bem com Ruby. Entretanto, a mesma não respondeu. Em lugar disso, girou a cabeça para olhar Sam, e Dean se deu conta de que o tinha estado ignorando até então. Quando voltou a olhar para Dean, começou a falar de novo, mas não se dirigia a ele.
— Que histórias foi contando por aí, querida Sam? Esteve queixando-se do lugar que ocupa na Alcateia? Escolha um companheiro se você não gosta. Já lhe disse isso outras vezes. Estou segura de que Gadreel te aceitaria. Não havia veneno em sua voz. Provavelmente se Dean não tivesse conhecido Gadreel, não se teria fixado na reação de Sam. Talvez nem sequer tivesse captado a ameaça. Sam não disse nada. Ruby continuou observando Dean, mas evitando lhe olhar diretamente aos olhos. Soube que estava estudando suas reações, mas sabia que estas não transmitiam nada. Naquela ocasião estava preparado para a reação de seu lobo, o qual podia estalar em qualquer momento para defender a Sam.
—Está deitando com ele? —perguntou Ruby. — É um bom amante, verdade? Embora Ruby tivesse um companheiro, gostava de paquerar com outros, e Lúcifer lhe deixava fazer o que quisesse. Um pouco quase inaudito entre os homens lobo. Isto não queria dizer que ela não fosse ciumenta; Lúcifer não podia nem olhar a outra mulher. Dean sempre pensou que era uma relação estranha, mas lhes funcionava fazia muito tempo. Quando, fizeram dez anos, Ruby o tentou, deixou-se seduzir sabendo que não era nada mais que uma aventura. Não se surpreendeu quando lhe pediu que falasse com seu pai para que Lúcifer pudesse ampliar seu território. Embora Dean rechaçasse a petição, tomou com bom humor. O sexo não tinha significado nada para nenhum dos dois, embora, ao inteirar-se, Sam sim parecia lhe haver afetado. Teria que haver sido humano para não reconhecer a dor e a desconfiança em seus olhos ante as palavras de Ruby.
— Seja amável, Ruby —disse ele bruscamente. Sua voz soou mais seca quando acrescentou:
—Vá para casa e diga ao Leo que falarei com ele esta noite. Os olhos da morena se acenderam de ira e ficou em pé.
—Não sou como meu pai —disse ele brandamente. —Não tente esse tipo de bruxaria comigo. O medo acalmou seu temperamento, e de passagem, Dean também se acalmou. Pode ser que seu perfume encobrisse seu aroma, mas não podia ocultar o olhar fixo em seus punhos apertados. Não desfrutava assustando as pessoas; quase nunca.
—Vá para casa, Ruby. Terá que guardar a curiosidade até então. Deab fechou a porta brandamente atrás dela e ficou um instante de pé junto a esta, resistente a enfrentar Sam. Embora não tinha nem ideia de porque se sentia culpado por algo que tinha passado muito antes de conhecê-lo.
—Vai matá-la? Olhou-o, mas não soube o que pensava realmente.
—Não sei. Sam mordeu o lábio.
—Foi amável comigo. Amável? Por saber tudo o que Sam tinha passado desde sua transformação, tinha pouco que ver com a amabilidade. Mas a preocupação que lia em seu rosto lhe obrigou a guardar o comentário.
—Passa algo estranho na Alcateia de Lúcifer —se limitou a lhe dizer.
—O descobrirei esta noite.
—Como?
— Perguntarei a ele —disse ele.
—Sabem muito bem que não podem mentir pra mim. E se eles se negarem a responder as minhas perguntas ou a me receber significará que são culpados. Sam parecia desconcertado.
—Por que não podem mentir pra você ? Dean lhe tocou o nariz.
—Cheirar uma mentira é bastante fácil, a não ser que esteja tratando com alguém que não saiba a diferença entre a verdade e a mentira, embora haja outras maneiras de as detectar. O estômago de Sam rugiu.
— Já é suficiente —disse ele. Tinha chegado o momento de comer algo. Um pãozinho não era suficiente.
—Pegue o casaco. Dean não quis pegar o carro para ir ao Loop, onde seria difícil encontrar estacionamento, porque seu temperamento era muito imprevisível quando estava com Sam. Não podia lhe dizer que pegassem um táxi, o qual era uma experiência nova para ele; não havia muita gente disposta a ignorar suas ordens. Mas Sam era um Ômega e não estava obrigado, por uma necessidade instintiva, a obedecer aos lobos dominantes. Com um suspiro, seguiu-o até a estação mais próxima. Nunca tinha viajado no metrô elevado de Chicago e, se não fosse por certo rapaz teimoso, seguiria sem havê-lo feito. Teve que admitir, embora somente para si mesmo, que desfrutou quando um escandaloso grupo de baderneiros disfarçados de adolescentes decidiram lhe incomodar.
— Né, você, Índio Joe —disse um menino com roupa folgada. —Não é daqui, verdade? A cara está muito bom. Se gostar da carne escura, há muita por aqui.
Deu um golpezinho no peito. Em Chicago abundavam as bandas de verdade, nascidas no centro da cidade sob o lema “comer ou ser comido”. Mas aqueles meninos eram imitadores, provavelmente meninos aborrecidos durante as férias escolares. De modo que tinham decidido entreter-se assustando a adultos não sabiam diferenciar entre os autênticos e os imitadores. Embora um grupo de meninos pudesse ser perigoso nas circunstâncias equivocadas... Uma senhora mais velha sentada a seu lado se encolheu e o aroma de seu medo lhe fez perder a paciência. Dean se levantou, sorriu e viu como a suficiência do menino se evaporava pela confiança que desprendia.
—Sei que está bom —disse ele, — mas é meu.
—Né, tio —disse o menino que estava atrás do que tinha falado antes, — de boa, tio. Seu sorriso se ampliou ao comprovar como retrocediam.
—Faz um bom dia. Acredito que deveriam lhes sentar naqueles lugares vazios dali. A vista é muito mais interessante. Apressaram-se para a parte dianteira do vagão e, depois de que todos se sentaram, Dean retornou junto à Sam.



∗ ∗ ∗


Havia tanta satisfação no rosto de Dean quando se sentou que Sam teve que controlar um sorriso por medo de que algum dos meninos lhes olhasse e pensasse que estava rindo deles.
—Um excelente exemplo de envenenamento por testosterona — observou secamente. — Depois irá pelo grupo de exploradores? Os olhos de Dean brilharam divertidos.
— Agora já sabem que devem escolher a sua presa com mais cuidado. Sam ia poucas vezes ao Loop, já que tudo o que necessitava, podia encontrar perto de casa. Embora não vivia ali, Dean o conhecia melhor que ele. Escolheu a estação em que tinham que descer e se dirigiu diretamente a um pequeno restaurante grego, em uma escura ruela abaixo das vias do trem, onde o receberam por seu nome e os conduziram a uma mesa situada em uma salinha privada.
Dean deixou que Sam pedisse o que quisesse, então dobrou o pedido e acrescentou alguns pratos mais. Enquanto esperavam a comida, extraiu do bolso de sua jaqueta uma pequena caderneta gasta de três argolas que se fechava com um cordãozinho de pele. Abriu-a, tirou umas folhas de papel e as estendeu a Anna com uma caneta.
— Eu gostaria que escrevesse os nomes dos membros de sua Alcateia. Se puder ser em ordem decrescente, do mais dominante até o menos. Sam o tentou. Não sabia os sobrenomes de todos e, como estavam por cima dele, não tinha prestado muita atenção à ordem. Devolveu-lhe o papel e a caneta com o cenho franzido.
—Deixei muita gente e, salvo os primeiros quatro ou cinco lobos, é provável que me tenha equivocado na categoria dos outros. Dean pôs a folha sobre a mesa, tirou outra com algo escrito nela e começou a comparar as duas listas. Sam arrastou sua cadeira até ficar ao seu lado para ver o que estava fazendo. Dean colocou sua lista frente à Sam.
—Esta lista são dos que deveriam estar em sua Alcateia. Marquei os nomes dos que não aparecem em sua lista. Repassou as duas listas e retificou algumas de suas marcas. —Este ainda está. Tinha-me esquecido dele. E este também. Dean agarrou de novo a lista.
—Todas as mulheres se foram. A maioria dos desaparecidos são lobos velhos. Não exatamente velhos, mas não fica nenhum lobo mais velho que Lúcifer. Também faltam alguns lobos jovens. Dean assinalou um par de nomes com o dedo. — Estes eram jovens. Este, Christian Baker, devia fazer somente quatro anos que era homem lobo. George, não muito mais.
—Conhece todos os homens lobo? Dean sorriu.
—Conheço os Alfas. Celebramos reuniões anuais com todos eles. Também à maioria dos segundos e terceiros. Uma coisa que fazemos nas reuniões é atualizar os membros das Alcateias. Supõe-se que os Alfas têm que informar ao Marrok das baixas e dos novos membros. Se meu pai tivesse sabido
que se foram tantos lobos, o teria investigado. Lúcifer perdeu a uma terceira parte de sua Alcateia, embora tenha feito um bom trabalho repondo-os. Devolveu-lhe sua lista com os nomes marcados, incluído o dele.
—Todos estes são novos. Pelo que me disse, suponho que transformaram a todos pela força. O índice de sobreviventes de vítimas atacadas ao azar é muito baixo. Lúcifer matou a muita gente nos últimos anos para manter o número de sua Alcateia. Suficientes para ter atraído a atenção das autoridades. Quantos deles foram transformados depois de você?
—Nenhum. O único lobo novo que vi era aquele pobre menino. Sam dava golpezinhos com a caneta sobre o papel. —Se não deixarem corpos e ampliam a caçada, podem ter oculto facilmente o desaparecimento de uma centena de pessoas na área da grande Chicago durante alguns anos. Dean inclinou-se para trás, fechou os olhos e sacudiu a cabeça.
— Já recordo mais dados. Não conheci a muitos dos lobos desaparecidos e não recordo a última vez que vi o antigo segundo de Lúcifer, somente que foi nos últimos dez anos. Assim, acontecesse o que acontecesse, ocorreu depois disso. —O que ocorreu?
—Algo ocorreu a Lúcifer, suponho. Algo lhe aconteceu que lhe fez matar a todas as mulheres de sua Alcateia, excetuando a Ruby, e à maioria dos lobos mais velhos. Estes devem ter se oposto quando começou a matar gente inocente e quando deixou de ensinar aos novos lobos as regras e seus direitos. Posso entender por que tinha que matar a eles, mas, por que às mulheres? E, por que o outro Alfa de Chicago não disse nada a meu pai?
—Possivelmente não sabia. Lúcifer e Crowley mantêm distância, e nossa Alcateia tem a entrada proibida em seu território. O Loop é território neutro, mas não podemos ir para o norte a não ser que tenhamos uma permissão especial. —Oh, interessante. Sabe por que não se dão bem? Sam encolheu os ombros. Tinha ouvido falar muito sobre aquilo. — Alguém me disse que Crowley não quis se deitar com Ruby. Outro disse que tinham tido uma aventura, que ele a deixou e ela se ofendeu. Ou que não rompeu e Lúcifer teve que intervir. Outra história conta que Lúcifer e Crowley nunca se deram bem. É o que sei. Sam olhou os nomes da lista que estavam marcados como novos lobos da Alcateia e estalou em uma gargalhada.
—O que ocorre?
—É uma tolice —disse Sam sacudindo a cabeça.
—Me conte. Suas bochechas se ruborizaram pela vergonha. —Tá, você busca algo que todos os novos lobos têm em comum, certo? Pois bem, estava pensando que se alguém quisesse fazer uma lista dos lobos mais bonitos da Alcateia, seriam todos estes. Ambos se surpreenderam pelo ataque de ciúmes que Dean não se incomodou em ocultar. Provavelmente era um bom momento para que o garçom trouxesse o primeiro prato. Sam começou a mover sua cadeira para o lugar onde se sentou ao princípio, mas o garçom, ao vê-lo, deixou a bandeja com a comida, aproximou-se e a ajudou a sentar-se educadamente.
—Como vai você, senhor? —disse o garçom — Ainda vivendo longe da civilização?
—A civilização está superestimada —respondeu Dean enquanto punha as folhas de papel dentro da caderneta e a fechava. — Podendo vir uma ou duas vezes ao ano e comer aqui, dou-me por satisfeito. O garçom sacudiu a cabeça fingindo tristeza.
—As montanhas são belas, mas não tanto como nosso horizonte. Um dia destes lhe levarei uma noite à cidade e não quererá ir-se jamais. —Phillip! Uma mulher magra como um pássaro entrou na sala. —Enquanto está aqui conversando com o Sr. Novak, os outros clientes estão famintos. O garçom sorriu e piscou para Sam. Beijou a mulher na bochecha e saiu da sala. A mulher forçou um sorriso e sacudiu a cabeça. —Este Jimy, sempre falando. Necessita uma boa esposa que o tenha a raia. Eu sou muito velha —disse pondo os olhos em branco e seguindo ao garçom. Durante um longo momento, uma série de garçons, que pareciam da mesma família, foram trazendo comida sem parar. Nenhum deles mencionou quão estranho resultava que só duas pessoas pudessem comer tanto. Dean encheu seu prato, olhou o de Sam e disse: —Poderia ter me dito que você não gosta de cordeiro.
Sam observou seu prato.
—Sim eu gosto. Dean franziu o cenho, agarrou a colher de servir e pôs mais comida no prato de Sam.
—Deveria comer mais, muito mais. A transformação requer muita energia. Ao ser um homem lobo, tem que comer muito mais para manter seu peso. Depois disso, os dois, por mútuo acordo, limitaram sua conversa a trivialidades. Falaram de Chicago e da vida na cidade. Sam pegou um pouco de arroz e Dean o olhou até que se servisse de uma segunda colherada. Dean lhe falou de Montana. Surpreendeu-se ao descobrir que era um bom observador, e compreendeu que a única maneira de pôr fim àquela conversa era lhe perguntar algo pessoal. Não é que não queria falar de si mesmo, mas pensou que não era o suficientemente interessante. A porta se abriu uma vez mais e uma garota de uns quatorze anos entrou com a sobremesa.
—Não deveria estar na escola? —perguntou Dean. A jovem suspirou.
—Férias. Todo mundo tem tempo livre, mas eu... Tenho que trabalhar no restaurante. Uma chateação.
— Entendo —disse ele. —Possivelmente deveria chamar uma assistente social e lhe dizer que lhe exploram. A garota sorriu. —Isso zangaria a papai. Sinto a tentação de fazê-lo somente para ver a cara que ele faz. Se lhe dissesse que me sugeriu você, acha que se zangaria contigo em vez de comigo...? Provavelmente não —acrescentou enrugando o nariz.
—Diga a sua mãe que a comida estava perfeita. Segurou a bandeja contra seu quadril e caminhou de costas para a porta.
— Direi, mas me disse que te diga que não o estava. O cordeiro estava fibroso, mas é quão único pôde conseguir. —Deduzo que vem muito por aqui —disse Sam pegando um pedaço de baklava sem muita vontade. Não é que tivesse nada contra baklava, mas tinha comido por uma semana. —Muito frequentemente — disse ele.
Sam se deu conta de que ele não tinha problemas em seguir comendo.
—Temos negócios que tratar aqui, assim tenho que vir três ou quatro vezes ao ano. O dono do restaurante é um lobo, um dos de Crowley. De vez em quando eu gosto de tratar certos assuntos aqui.
—Acreditava que fosse o capanga de seu pai — disse ele com interesse.
—Tem que caçar gente em Chicago três ou quatro vezes ao ano? Dean riu escandalosamente. Soava oxidado, como se não o fizesse muito frequentemente, embora devesse fazê-lo porque lhe fazia muito bem. Tão bem que, sem dar-se conta, Sam meteu na boca a parte de baklava com que tinha estado jogando. Agora tinha que encontrar a maneira de tragar-lhe quando já não lhe cabia nada mais no estômago.
—Não, também tenho outras tarefas. Encarrego-me dos interesses da Alcateia de meu pai. Sou muito bom nos dois trabalhos — disse ele sem incomodar-se em ocultar a falsa modéstia.
—Com certeza que sim — disse ele. Era o tipo de pessoa ao que lhe dava bem tudo o que se propor.
—Deixaria você investir minhas economias. Acredito que tenho vinte e dois dólares e noventa e sete centavos agora mesmo — acrescentou Sam. Dean franziu o cenho e toda a diversão desapareceu.
—Era uma brincadeira — esclareceu ele. Mas Dean o ignorou. —A maioria dos Alfas ficam com dez por cento dos lucros de seus lobos pelo bem da Alcateia, sobretudo quando é nova. O dinheiro se investe em comprar uma casa segura, por exemplo. Uma vez que a Alcateia já esteja instalada, não se necessita tanto dinheiro. A Alcateia de meu pai se estabeleceu faz tempo e não temos necessidade de cobrar a contribuição, já que a terra onde vivemos é nossa e temos suficientes investimentos para o futuro. Lúcifer mora aqui trinta anos, tempo suficiente para estar bem instalado. Nunca tinha ouvido falar de uma Alcateia que exigisse quarenta por cento a seus membros, o que me leva a acreditar que a Alcateia de Lúcifer tem problemas financeiros. Vendeu ao menino que saiu no jornal, entre outros, a alguém que os utiliza como coelhinho da índia para desenvolver uma droga que funcione para os lobos igual para os humanos. Deve ter matado a muitos humanos para conseguir a um único homem lobo que sobrevivesse. Sam pensou nas implicações de tudo aquilo. —Quem queria as drogas?
—Saberei assim que Lúcifer dizer a quem vendeu o menino —respondeu Charles.
—Então, por que não me vendeu?
Ele não tinha muito valor para a Alcateia. Dean se recostou sobre a cadeira.
—Se um Alfa vendesse a um homem lobo de sua Alcateia, se produziria uma rebelião. Além disso, Lúcifer teve muitos problemas para te conseguir. Desde que te fez membro da Alcateia, não houve mais assassinatos nem desaparecimentos. Não era uma pergunta, mas a respondeu igualmente.
—Não.
—Acredito que pode ser a chave do mistério de Lúcifer. Sam não pôde reprimir um gesto de confusão.
—Eu? Lúcifer necessitava de um novo tapete? Dean ficou em pé tão bruscamente que a cadeira caiu ao chão, e, ao mesmo tempo, levantou Sam de sua cadeira. Tinha acreditado que estava acostumado à rapidez e força dos lobos, mas aquilo o deixou sem palavras. Enquanto seguia paralisado pela surpresa, dean rondou a seu redor, até que se deteve frente a ele e lhe deu um beijo comprido, escuro e intenso que o deixou de novo sem ar.
— Lúcifer te encontrou e decidiu que precisava de você — disse Dean.
—Enviou Gadreel porque os outros lobos se dariam conta do que é. Teriam sabido inclusive antes da sua transformação. Assim enviou a um lobo meio louco, porque nenhum outro teria sido capaz de te atacar. Sam se apartou ofendido. Embora a fez sentir-se especial, Sam sabia que estava mentindo. Parecia que estivesse dizendo a verdade, mas não era tolo. Não o era absolutamente. Durante três anos tinha sido menos que nada. Hoje a tinha feito sentir alguém especial, mas ele sabia a verdade. Quando suas mãos se pousaram em seus ombros, notou que eram firmes e que não admitiam resistência.
—Me deixe te dizer algo sobre os lobos Omega, Sam. Olhe pra mim. Sam reprimiu as lágrimas e, incapaz de desobedecer a sua ordem, olhou-lhe.
—É virtualmente impossível — disse ele e o sacudiu brandamente. — Trabalho com números e porcentagens constantemente, Sam. Talvez não possa calcular a cifra exata, mas te direi que as possibilidades de que Gadreel te escolhesse para te transformar por mera casualidade são quase nulas. Nenhum homem lobo atacaria a um Omega somente por instinto. E Gadreel me parece um lobo que somente atua por instinto.
—Por que não? Por que não me teria atacado? O que é um Omega?
Evidentemente era a pergunta correta, porque Dean se acalmou.
—Você é um Omega, Sam. Aposto que quando entra em um lugar, as pessoas se aproximam de você. Aposto também que desconhecidos lhe confessam coisas que nunca diriam nem a suas próprias mães. Sam lhe olhou incrédulo.
—Você mesmo viu o Gadreel esta manhã. Te pareceu que estava acalmado?
—Vi o Gadreel —acrescentou Dean com calma, — e acredito que em qualquer outra Alcateia teria sido eliminado pouco depois de sua transformação. Seu controle não é suficientemente bom. Não sei por que não o têm feito, mas acredito que você lhe ajuda a controlar a seu lobo, e que por isso te odeia. Depois de um instante, acrescentou:
—Não deveria estar na ordem mais baixa da Alcateia. Suas mãos deslizaram desde seus ombros até suas mãos. Por alguma razão, aquele gesto foi mais íntimo que o beijo.
—Um lobo Ômega é como um xamã para os indígenas, está fora das hierarquias normais da Alcateia. Tiveram que te ensinar a baixar o olhar, não? Estas coisas são instintivas para os lobos submissos. Você o aprendeu à força. Dean continuou com seus olhos cravados nos dele: —Traz paz a todos os que lhe rodeiam, Sam. Um homem lobo, especialmente um dominante, está sempre a beira da violência. Depois de me haver passado várias horas no avião com toda aquela gente, cheguei ao aeroporto desejando um massacre como um drogado deseja sua próxima dose. Mas quando se aproximou de mim, a ira e o desejo desapareceram. Dean apertou suas mãos.
—É um presente, Sam. Um lobo Ômega na Alcateia significa que mais lobos sobrevivem à transformação porque podem controlar a seu lobo mais facilmente com você a seu lado. Isso significa que perdemos menos machos pelas estúpidas lutas de dominantes, porque um Omega traz a calma a todos os que lhe rodeiam. Mas algo falhava em seu argumento.
—E, então, o que te aconteceu antes? Quando estava tão zangado que quase se transformou? Algo cruzou o rosto de Dean, uma emoção que não soube reconhecer, mas que sabia que era intensa. Falou com um grande esforço, como se tivesse a garganta dura.
—A maioria dos homens lobo encontram alguém a quem amam, casam-se e passam muito tempo com o outro antes de que seu lobo a aceite como sua companheiro. Dean deixou de olhá-lo, cruzou a habitação e lhe deu as costas. Sem o calor de seu corpo, sentiu-se frio e sozinho. Assustado.
—Algumas vezes não ocorre dessa forma — disse Dean olhando a parede. — Por agora deixemos assim, Sam. Já teve bastante por hoje.
—Estou farto de ser um ignorante — soltou Sam muito incomodado.
— Tem quebrado todos meus esquemas, assim quero que me conte agora mesmo todas as afortunadas regras. A ira desapareceu com a mesma facilidade com que havia aparecido, deixando-o a beira das lágrimas. Dean deu meia volta e seus olhos se tornaram dourados, brilhantes face à tênue luz da habitação.
—Bem. Teria que havê-lo deixado, mas quer a verdade. —Embora não subiu o tom de voz, esta rugiu como um trovão.
— Meu lobo te escolheu como companheiro. Se não significasse nada para mim, não me teria afetado o abuso que sofreu desde sua transformação. Mas é meu, e a mera ideia de que lhe firam e não poder fazer nada faz surgir em mim uma ira que nenhum Omega pode acalmar.
Vá, pensou assombrada.
Sabia que estava interessado nele, mas tinha pensado que era por acaso. Lúcifer era o único lobo que conhecia com companheira. Não sabia nada das regras. O que queria dizer com que seu lobo tinha decidido que era seu companheiro? Tinha escolha naquele assunto? Era ele o responsável por excitá-lo sem pretendê-lo e de fazê-lo sentir daquele modo, como se eles se conhecessem por toda a vida?
—Se me tivesse deixado —disse ele, — te teria cortejado docemente até conquistar seu coração. Dean fechou os olhos. —Não queria te assustar — acrescentou. Teria que ter estado completamente aterrorizado. Em troca, apesar de encontrar-se no olho de um furacão de emoções, sentiu-se muito relaxado.
—Eu não gosto de sexo — disse ele, considerando que era algo que tinha que saber dadas as circunstâncias. Dean se engasgou e abriu os olhos, os quais adquiriram, de novo, um aspecto humano.
—Não é que me atraía muito antes da transformação — disse ele claramente. —E depois de que me usavam como a uma puta durante um ano, até que Ruby interveio, eu gosto ainda menos.
Dean apertou os lábios, mas não disse nada, de modo que Sam prosseguiu:
—E nunca mais voltarão a abusar de mim. Subiu as mangas da camisa e lhe mostrou as largas cicatrizes na parte interior do braço, do pulso até o cotovelo. As tinha feito com uma faca de prata e, se Ruby não o tivesse encontrado, teria morrido. —Graças a isto, Ruby convenceu a Lúcifer para que deixasse de me usar como recompensa para seus machos. Encontrou-me e me salvou a viva. Pouco depois, comprei uma arma e balas de prata. Dean grunhiu brandamente, mas não a ele; sabia perfeitamente.
—Não estou ameaçando com suicidar-me, mas tem que sabê-lo porque, se quer ser meu companheiro, não serei como Lúcifer. Não deixarei que te deite com outras. Mas tampouco permitirei que abusem de mim. Já tive suficiente. Se isso me converter no cão do hortelão, que assim seja. Mas, se for seu, então você também será meu.
—O cão do hortelão? —disse Dean suspirando com um meio sorriso. Voltou a fechar os olhos e disse em um tom razoável: — Me surpreenderia se Lúcifer conseguir chegar vivo até amanhã. Também me surpreenderia se conseguir sobreviver a você — E olhando-a fixamente, acrescentou:
—Tem que saber que há muito poucas coisas que me surpreendam. Recolheu a cadeira do chão e a pôs em seu lugar. Continuando, deteve-se frente à Sam, acariciou-lhe o queixo brandamente e ficou a rir. Ainda sorrindo, colocou-lhe uma mecha de cabelo atrás da orelha e lhe murmurou: —Prometo-te que comigo desfrutará do sexo. Sam se esforçou para não cair no chão. Não estava preparado para cair a seus pés. Ainda não.
— Ruby disse que era um bom amante. Dean voltou a rir. —Não há razões para que esteja com ciúmes. O sexo com Ruby não significou nada para mim e acredito que menos ainda para ela. Não tem nenhum sentido tentá-lo de novo. Ouviram-se sussurros ao outro lado do reservado e Dean agarrou sua mão.
—É o momento de ir. Ao lhe entregar o cartão de crédito, Dean lhe deu de presente alguns elogios a um homem de aspecto jovem que falava e que cheirava a homem lobo. Sam supôs que era o dono do restaurante.
—Aonde quer ir agora? —perguntou Sam enquanto saíam do restaurante à concorrida rua. Estava acabando de pôr a jaqueta quando se separou de uma mulher com saltos que levava uma mala de pele.
— A algum lugar com menos gente.
—Podemos ir ao zoológico — sugeriu ela.
— Por estes dias há muito pouca gente, embora as crianças estejam de férias devido ao feriado de Ação de Graças. Dean começou a falar quando algo em uma cristaleira captou sua atenção. Agarrou Sam e o atirou ao chão, cobrindo-a com seu corpo. Ouviu-se uma forte detonação, como o estalo de um escapamento, e Dean se sacudiu uma só vez. Depois ficou imóvel.



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Autor(a): BiaSW

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