Fanfic: Beyond The Worlds | Tema: Supernatural
Tinha passado muito tempo desde a última vez que lhe tinham disparado, mas a horrível queimadura de uma bala de prata ainda lhe resultava familiar. Não tinha sido suficientemente rápido e a multidão de gente lhe impediu de perseguir o carro, o qual fugiu imediatamente depois do disparo. Nem sequer pôde distinguir ao responsável, somente um reflexo.
— Dean? —perguntou Sam debaixo dele. Tinha as pupilas dilatadas pela comoção e lhe dava tapinhas nos ombros — Alguém atirou em nós? Está bem?
—Sim — respondeu ele, embora não pôde avaliar os danos até que se moveu, algo que não queria fazer.
—Não se mova até que possa dar uma olhada — disse uma voz firme. — Sou médico. A autoridade com a que o médico deu a ordem não impediu que Dean se movesse. Não aceitava ordens de ninguém mais que de seu pai. Levantou-se e estendeu uma mão para Sam ajudá-lo a levantar do chão. —Maldito seja! Está sangrando. Não seja estúpido— disse bruscamente o estranho. Sentou-se. O disparo tinha enfurecido a seu lobo e girou para grunhir ao médico, um homem de meia idade loiro, de aspecto competente, com um bigode ruivo. Então, Sam lhe apertou a mão do homem e lhe disse:
— Obrigado. —E depois se dirigiu ao Dean.
— Deixe ele dar uma olhada. Dean conteve a vontade de lhe grunhir ferozmente. Soltou um grunhido contido quando o estranho inspecionou a ferida; nunca mostre debilidade ante um possível inimigo. Sentia-se muito observado; muita gente se deteve para bisbilhotar.
—Ignore-o —disse Sam ao médico, — ele fica resmungão quando está ferido. George, o homem lobo dono do restaurante, trouxe uma cadeira para que pudesse sentar-se. Alguém tinha chamado à polícia, que chegava nesse momento com as luzes e as sirenes acesas, seguida por uma ambulância. A Dean doíam os ouvidos pelo ruído. Alguém lhe disse que a bala tinha alcançado a parte superficial do músculo do ombro sem causar muitos danos. Tinha inimigos? Sam lhes explicou que acabava de chegar de Montana e que devia ser alguém que disparava de um carro, apesar de não ser o típico bairro para aquele tipo de crimes. Se o agente tivesse tido o olfato de um homem lobo, não teria aceitado a mentira. Embora fosse um policial veterano, a resposta de Sam lhe incomodou um pouco. Mas quando Dean lhe mostrou sua carteira de motorista de Montana, relaxou. Como Sam estava a seu lado, Dean permitiu que lhe limpassem e enfaixassem a ferida e lhe fizessem algumas perguntas, mas por nada no mundo teria permitido que lhe metessem na ambulância e o levassem ao hospital, embora as feridas com balas de prata dificultassem o processo de recuperação. Podia sentir a ardência da prata filtrando-se através de seus músculos. Enquanto deixava que os estranhos lhe manuseassem para lhe curar, e enquanto se controlava para não perder o controle, não podia tirar da cabeça a imagem do tipo que lhe tinha disparado. Tinha olhado pela janela e tinha visto o reflexo da arma, e, continuando, o rosto da pessoa que a sustentava, envolto em um cachecol e com óculos de sol escuro. Não podia identificá-la, mas teria jurado que o homem não olhava para ele quando apertou o gatilho. Olhava para Sam.
Não tinha nenhum sentido. Por que alguém quereria matar Sam?
Não foram ao zoológico. Enquanto usava o lavabo do restaurante para limpar-se, George lhe deu uma jaqueta para cobrir as bandagens. Dean não gostava de mostrar suas debilidades. Desta vez Sam não reclamou quando lhe pediu que chamasse um táxi. Seu telefone soou enquanto se dirigiam ao apartamento, mas o silenciou sem olhá-lo. Possivelmente era seu pai, John, que tinha uma extraordinária habilidade para saber quando estava em um apuro. Entretanto, não tinha nenhuma vontade de falar com o Marrok enquanto o taxista pudesse escutar a conversa. Embora certamente seria Crowley. George devia ter chamado a seu Alfa quando dispararam. Em qualquer caso, fosse quem fosse, teria que esperar até que estivesse em um lugar mais privado. Fez com que Sam esperasse no táxi frente ao edifício de apartamentos até ter comprovado que não havia nada suspeito. Ninguém lhes tinha seguido do Loop, mas os agressores provavelmente pertenciam a Alcateia de Lúcifer e estes sabiam onde Sam morava. Não tinha reconhecido ao autor dos disparos, mas tampouco conhecia todos os homens lobo de Chicago. Sam se mostrou paciente. Não discutiu com ele quando lhe fez esperar no táxi, mas o motorista lhe olhou como se estivesse louco. A paciência de Sam ajudava Dean a controlar-se, tarefa difícil durante as últimas horas. Perguntou-se como se comportaria se seu Sam não fosse um Omega, cujo efeito calmante era tão bom que quase anulava a ira protetora causada pelo atentado que tinha sofrido. A dolorosa queimação no ombro, a qual cada vez era mais intensa, como todas as feridas produzidas pela prata, não lhe ajudava a melhorar as coisas, como tampouco o fazia saber que sua habilidade para a luta estava seriamente condicionada. Alguém estava tentando matar Sam. Aquilo não tinha sentido, mas durante o caminho de volta ao Oak Park, aceitou a ideia. Satisfeito ao não encontrar uma ameaça imediata nos arredores do edifício, estendeu sua mão a Sam para ajudá-lo a sair do táxi e pagou ao taxista, tudo isso sem deixar de vigiar. Mas não havia nada. Justo no vestíbulo do edifício, um homem que estava recolhendo sua correspondência sorriu e comprimentou Sam. Trocaram uma ou duas frases, mas ao ver a expressão de Dean, Sam começou a subir as escadas. Tinha sido incapaz de entender uma palavra do que Sam havia dito, o qual era muito mal sinal. Sério, seguiu-o escada acima, percebendo a vibração de seu pulso no ombro. Enquanto Sam abria a porta do apartamento, Dean estendeu e contraiu os dedos de ambas as mãos. Doíam-lhe as articulações pela necessidade de transformar-se, mas, embora lhe custasse muito, conteve-se. Se estava tão mal em forma humana, o lobo poderia controlá-lo; sempre e quando se transformasse.
Sentou-se no futón e observou como Sam abria a geladeira e depois o congelador. Finalmente, viu como agarrava uma lata grande do fundo do armário da cozinha. Abriu-a e esvaziou o conteúdo em uma caçarola que depois deixou sobre o fogão. Então, ajoelhou-se diante de Dean.
—Se transforme — lhe disse enquanto lhe acariciava o rosto. Também lhe disse outras coisas que não conseguiu entender, mas que lhe pareceram mariposas lhe acariciando as orelhas. Fechou os olhos. Havia uma razão importante pela que não devia transformar-se, mas a tinha esquecido enquanto o observava.
—Tem cinco horas antes da reunião — disse ele com calma. Sua voz adquiria maior sentido agora que tinha os olhos fechados.
— Pode se transformar em lobo e logo recuperar a forma humana, lhe ajudará a recuperar-se.
—Não tenho controle — lhe disse. Era isso. Essa era a razão. —A ferida não é tão grave, o problema é a prata. Minha mudança será muito perigosa para você. Não posso — acrescentou. Produziu-se uma pausa e, pouco depois, Sam disse:
—Se for seu companheiro, seu lobo não me fará mal, embora não tenha nenhum controle, verdade? Soava mais esperançoso que convencido e Dean não podia pensar com suficiente clareza para saber se tinha razão. Os dominantes eram pouco dados a aceitar sugestões de lobos menores, de modo que Sam deixou que Dean tomasse a decisão por si mesmo enquanto controlava que o guisado de vitela não se queimasse. Tinha-o comprado nas ofertas, por volta de seis meses, e não tinha tido a fome suficiente para comer-lhe, mas tinha proteínas, que é o que Dean precisava. Além disso, era a única carne que havia no apartamento. Embora a ferida parecesse dolorida, estava controlada, e nenhum dos médicos se mostrou excessivamente preocupado. Tirou a bala do bolso dos jeans e sentiu como lhe queimava a pele. Enquanto o médico estava atendendo o ombro de Dean, este captou sua atenção e lhe assinalou a pequena e sangrenta bala sobre o pavimento.
Respondendo a sua silenciosa instrução, a tinha guardado no bolso. Agora a deixou no balcão. A prata não lhes sentava muito bem aos homens lobo, o que significava que não tinha sido um disparo ao azar. Sam não tinha visto quem tinha disparado e só podia assumir que tinha sido um de seus companheiros de Alcateia, provavelmente Gadreel. As feridas com prata demoram muito mais em cicatrizar, portanto, Dean teria que ir ferido a casa de Lúcifer. Ouviu o ruído de unhas no parquet. Dean, em forma de lobo, deslocou-se até a cozinha e se desabou com a cabeça nos pés de Sam. Sua roupa parecia farrapos, pulverizada por toda parte. Sam deu uma olhada no futón e viu que não tinha tido tempo de tirar-lhe as bandagens e tampouco tinham sobrevivido à mudança. O corte do ombro era profundo e sangrava. Parecia mais cansado que enfurecido, e faminto, assim supôs que seus temores sobre não perder o controle não se cumpriram. Um homem lobo fora de controle, segundo sua experiência, não deixaria de grunhir e mover-se, e nunca ficaria deitado tranquilamente a seus pés. Verteu o guisado em uma terrina e o colocou diante dele. Comeu um pouco e se deteve depois de tragar.
— Já sei — disse ele desculpando-se, — não é alta cozinha. Posso ir até a casa de Charlie e ver se tem algum bife ou algo que possa pegar emprestado. Embora continuasse comendo, Sam sabia, por própria experiência, que se encontraria melhor depois de comer algo mais de carne. Charlie não estaria em casa, mas tinha a chave e sabia que não lhe importaria se pegasse emprestado alguma coisa de sua dispensa se logo a repunha. Dean parecia absorto na comida, de modo que se dirigiu para a porta. Antes de alcançá-la, Dean tinha esquecido a comida para ir atrás dele. Embora parecesse lhe doer, Sam não estava muito seguro de como sabia por que não tinha mostrado nenhum sinal disso. —Precisa ficar aqui — disse. — Voltarei em um minuto. Mas quando tentou abrir a porta, Dean se interpôs entre esta e Sam.
— Dean — disse ele. Então viu seus olhos e tragou saliva. Não reconheceu Dean no olhar do lobo. Deixar o apartamento não era uma opção. Voltou para a cozinha e se deteve junto à terrina que tinha deixado para ele. Dean ficou um momento na porta antes de segui-lo. Quando terminou de comer, Sam se sentou no futón. Dean saltou para colocar-se a seu lado, apoiou a cabeça em seu colo e fechou os olhos com um sonoro suspiro. Abriu um olho e o voltou a fechar. Sam lhe acariciou a pelagem, com o cuidado de não tocar a ferida. Eram um casal? Não o parecia. Uma coisa tão séria não teria uma cerimônia mais formal? Não lhe havia dito que o aceitava, e ele tampouco o tinha perguntado. Ainda... Fechou os olhos e deixou que seu aroma lhe empregnasse enquanto lhe agarrava possessivamente uma mecha de sua pelagem. Quando Sam voltou a abrir os olhos, descobriu que o lobo o olhava fixamente. O telefone de Dean soou em algum lugar sob seu corpo. Recolheu do resto do que ficava de suas calças e tirou o telefone para comprovar quem lhe chamava. Deu-lhe a volta para lhe mostrar ao lobo a tela.
—É o seu pai —lhe disse. Mas evidentemente o lobo ainda exercia o controle porque nem sequer se incomodou em olhar o telefone. —Suponho que pode lhe devolver a chamada quando voltar a ser você. Confiava em que fosse logo. Imaginava que se encontraria melhor em um par de horas, embora ainda lhe afetasse o veneno da prata. O telefone deixou de tocar para voltar a fazê-lo imediatamente depois. Tocou três vezes. Deteve-se. Três vezes mais. Deteve-se. Quando voltou a tocar, respondeu a seu pesar.
—Sim?
—Está bem? Recordou ao homem lobo que havia trazido à cadeira para que Dean se sentasse enquanto era atendido. Tinha chamado ao Marrok.
—Acredito que sim. A ferida não é muito grave, somente tem um corte profundo no ombro, mas a bala era de prata e parece ser que não lhe tem feito muito boa reação. Houve uma breve pausa.
—Posso falar com ele?
—Está em forma de lobo —disse ele, —mas está te escutando agora mesmo. Uma de suas orelhas estava orientada para o telefone.
—Precisa de ajuda com o Dean? Sua reação à prata pode ser um pouco extrema.
—Não. Não está causando problemas.
—A prata faz que o lobo de Dean perca o controle — explicou o Marrok brandamente. —Por que não te está dando problemas? Embora não conhecia o Marrok em pessoa, não era tolo. A maneira em que o perguntou era perigosa. Acaso pensava que tinha algo que ver com o fato de que disparassem a Dean e que agora o tinha prisioneiro em alguma parte? Tentou responder a sua pergunta apesar da vergonha.
—Um... Dean acredita que seu lobo me escolheu como companheiro.
—Em menos de um dia? A pergunta do Marrok convertia em absurda sua afirmação anterior.
—Sim. Não podia esconder a insegurança em sua voz e aquilo incomodou a Dean, que rodou até seus pés grunhindo Brandamente. — Dean também me disse que era um Omega — disse ao Marrok.
— Talvez isso também tenha algo que ver. O silêncio se alargou e pensou que possivelmente se cortou a comunicação. Então o Marrok começou a rir. —Oh, seu irmão vai zombar dele sem piedade. Por que não me diz tudo o que passou? Comece desde que recolheu Dean no aeroporto, por favor.
∗ ∗ ∗
Sam segurava com força o volante, mas Dean não estava de humor para apaziguar seus medos. Tinha tentado deixá-lo em casa. Não queria que estivesse em meio da luta que provavelmente teria lugar aquela noite. Não queria que lhe fizessem mal e tampouco que o visse no rol que tinham escolhido para ele muitos anos atrás.
—Sei onde vive Lúcifer — havia dito ele. — Se não me levasse contigo, teria pegado um táxi e te seguiria. Não irá ali sozinho. Suas feridas ainda estão frescas e podem as detectar e tomar como um sinal de debilidade. A verdade atrás de suas palavras quase lhe fez ser cruel. Esteve a ponto de lhe perguntar o que pensava que ele poderia fazer, um lobo Ômega, para lhe ajudar na briga, mas o seu Lobo lhe obrigou a morder a língua. Já lhe tinham feito suficiente dano e o lobo não permitiria que lhe fizessem mais. Era a primeira vez em sua vida que o lobo detinha sua parte humana, quando normalmente ocorria o contrário. Naquela ocasião também se teria equivocado. Recordou quando Sam empunhou o pau de macarrão de mármore. Pode ser que não fosse agressivo, mas sua paciência tinha um limite. Finalmente, concordou a que lhe acompanhasse. Entretanto, quanto mais se aproximavam da residência que Lúcifer tinha no Naperville, mais se arrependia por sua incapacidade de alegrar-se por sua presença.
—A casa de Lúcifer tem seis hectares — disse ele. — É suficientemente grande para que a Alcateia cace livremente, mas, mesmo assim, temos que ser muito silenciosos. Sua voz estava tensa. Tratava de lhe dar conversa para controlar sua ansiedade. Embora lhe custasse colaborar porque estava zangado, fez um esforço.
—É complicado caçar nas grandes cidades — acrescentou ele. Então, para comprovar sua reação e porque não tinha tido a oportunidade de terminar a discussão sobre o que sentia realmente por ele, disse-lhe: —Lhe levarei para Montana para uma caçada de verdade. Nunca quererá voltar a viver em uma grande cidade. Normalmente caçamos cervos e alces, mas como há muitíssimos alces americanos, também os caçamos de vez em quando. São toda uma provocação.
—Acredito que prefiro ficar com os coelhos, se não te importa — disse ele. — Nas caçadas me limito a rastrear — acrescentou com um leve sorriso. —Acredito que vi Bambi muitas vezes. Dean soltou uma gargalhada. Sim, gostava. Tinha-lhe aceito sem discutir. Tinha-lhe desafiado, mas não o tinha discutido. Dean recordou quando lhe disse que não estava interessado no sexo.
—Caçar é parte do que somos. Não como os gatos, os quais prolongam a matança. Além disso, como animais caçamos, pois é necessário para manter as Alcateias fortes e sãs. Mas se te incomoda, pode também rastrear a caça em Montana. Desfrutará igualmente. Sam conduziu até um poste com um teclado numérico diante de uma grade de cedro cinza e introduziu um código de quatro dígitos. Depois de uma breve pausa, a grade se abriu automaticamente. Já tinha estado um par de vezes ali. A primeira foi a mais de um século e a casa era pouco mais que uma cabana. Naquele tempo, o terreno se estendia ao longo de vinte hectares e o Alfa era um irlandês católico chamado Willie O'Shaughnessy, o qual, surpreendentemente, tinha combinado com seus vizinhos, a maioria alemães e luteranos. A segunda vez foi a princípios do século XX, para o funeral de Willie, um lobo realmente velho, quase tanto como o Marrok. Os que vivem tantos anos revistam enlouquecer. Quando se manifestaram os primeiros sinais em Willie, decidiu deixar de comer, uma amostra mais da força de vontade que lhe levou a converter-se em Alfa. Charles recordou a profunda dor que provocou em seu pai a morte de Willie. Dean e seu irmão Adam pensaram durante os meses seguintes que seu pai decidiria seguir o mesmo caminho que Willie.
Tanto a casa de Willie como suas terras tinham passado ao seguinte Alfa, um homem lobo alemão que se casou com a filha de O'Shaughnessy. Dean não podia recordar seu nome, nem o que ocorreu finalmente com ele. Houve vários Alfas depois daquele, antes que Lúcifer se fizesse com o mando. Willie e um grupo de pedreiros alemães tinham construído a casa com um artesanato que agora seria proibitiva. Recordou o tempo em que aquelas janelas tinham sido novas. Dean odiava que lhe recordassem quão velho era. Sam desligou o motor e fez gesto de abrir a porta, mas Dean o deteve. —Espere um momento. Graças ao legado de sua prodigiosa mãe, tinha aprendido a manter-se alerta. Uma suspeita de inquietação fez com que seus sentidos se estremecessem. Olhou Sam e franziu o cenho. Era muito vulnerável. Se lhe ocorria algo, não se recuperaria.
— preciso que se transforme — lhe disse. Algo em seu interior se relaxou: era isso. —Se me acontecer algo, quero que corra e procure um lugar seguro. Então chama a meu pai e lhe diga que te tire daqui. sam vacilou. Não era próprio dele dar explicações. Como lobo dominante na Alcateia de seu pai, raramente tinha que fazê-lo. Mas fez um esforço por Sam.
—É importante que entre ali em forma de lobo — disse enquanto se encolhia de ombros. — Aprendi a seguir meus instintos.
—De acordo. Sam tomou seu tempo, e Dean o aproveitou para tirar a caderneta e revisar a lista. Havia dito para Gadreel que Lúcifer podia trazer Ruby e a seus cinco primeiros. Segundo a lista de Sam, além de Ruby, somente Balthazar figurava também na lista que seu pai havia lhe dado. Se Gadreel era o segundo de Lúcifer, não havia nenhum outro lobo que supusesse uma ameaça para ele. A dor da ferida lhe fez retornar à realidade. Nenhum deles tinha a menor oportunidade com ele. Sam terminou de transformar-se. Observou-o sentado no assento do condutor, ofegante, e pensou que era precioso. Branco como a neve. Era pequeno por ser um Omega, mas muito maior que um pastor alemão. Seus olhos eram de um azul pálido, o qual era estranho porque como humana eram azuis esverdeados. —Está preparado? —perguntou Dean.
Uivou ao incorporar-se, fazendo pequenos buracos com suas unhas no assento de pele. Sacudiu-se como se estivesse molhado e inclinou a cabeça uma só vez. Dean não viu ninguém lhes observando das janelas, mas havia uma pequena câmera de segurança engenhosamente situada no alpendre. Saiu da SUV , assegurando-se de não mostrar a dor que sentia ao caminhar. No banheiro de Sam tinha comprovado que a ferida se estava curando com normalidade assim que tinha passado o efeito da prata. Tinha considerado a possibilidade de fingir estar em pior estado, e o teria feito de ter estado totalmente seguro de que aquilo era obra de Lúcifer. Atuar daquela forma teria feito que Lúcifer lhe atacasse, mas Dean não tinha nenhuma intenção de matá-lo até saber exatamente o que estava ocorrendo. Manteve a porta da SUV aberta até que sam saiu e, juntos, dirigiram-se para a casa. Não se incomodou em bater na porta. Não era uma visita de cortesia. O interior da casa tinha mudado muito, as paredes escuras tinham side Branqueadas e a luz elétrica tinha substituído os abajures de gás. Embora Sam fosse ao seu lado, não necessitava que lhe guiasse para o salão porque aquela era a única habitação com gente. Apesar das reformas na decoração, o orgulho e a alegria do Willie eram insubstituíveis. A enorme chaminé de granito feita à mão ainda dominava o salão. Ruby, que sempre queria ser o centro da atenção, estava sentada no suporte da mesma. Lúcifer estava frente a ela, com Gadreel a sua esquerda e Balthazar a sua direita. Os outros três lobos estavam sentados em refinadas cadeiras vitorianas. Todos, exceto Lúcifer, estavam vestidos com escuros trajes de risca escura. Lúcifer só usava calça, para exibir sua pele clara e demonstrar que estava em boa forma. O aspecto ameaçador que pretendiam transmitir ficava mitigado tanto pela cor entre rosado e púrpura da decoração e as paredes como pela roupa da mesma cor de Ruby. Dean avançou um par de passos pelo salão e se deteve. Sam se apertou contra suas pernas, não o suficiente para lhe fazer perder o equilíbrio, mas sim para lhe recordar que estava ali. Ninguém falou porque tocava a ele romper o gelo. Dean tomou ar e o conteve enquanto esperava a ver o que lhe diziam seus sentidos. Tinha herdado de sua mãe muito mais que o tom de pele, as feições e a habilidade de trocar mais rápido que os outros homens lobo. Também tinha seu poder para ver. Não com os olhos, a não ser com o espírito. E havia algo corrupto na Alcateia de Lúcifer; podia senti-lo. Olhou no interior dos olhos azuis de Lúcifer e não viu nada que não tivesse visto antes. Nenhum indício de loucura. Não nele, mas sim em alguém de sua Alcateia. Observou aos três lobos que não conhecia e compreendeu o que Sam tinha comentado sobre seu aspecto. Em seu estilo de viking dinamarquês, Lúcifer era um homem bastante atraente, mas era um guerreiro e aquele era o aspecto que transmitia. Balthazar tinha um nariz afilado e o corte militar de seu cabelo fazia com que suas orelhas parecessem mais bicudas do que eram na realidade. Todos os lobos que não conhecia pareciam modelos de passarela. Magros e fibrosos, e encaixavam perfeitamente em seus trajes. Apesar de pequenas diferenças na cor de sua pele, existia alguma semelhança entre eles. Ruby recolheu as pernas e lançou um profundo suspiro. Dean fez caso omisso de sua impaciência porque naquele momento ela não era o mais importante. O mais importante era Lúcifer. Centrou seu olhar no Alfa e disse:
—O Marrok me enviou para te perguntar por que vendeu o menino como escravo. Deu-se conta de que não era a pergunta que Lúcifer esperava. Ruby pensava que fossem falar sobre Sam. De fato, deviam fazê-lo, mas Dean pensou que começar com a pergunta de seu pai era melhor porque não lhes surpreenderia.
—Não tenho filhos — disse o loiro. Dean negou com a cabeça. —Todos os lobos são seus meninos, Lúcifer, e você sabe disso. São teus para que os ame, alimente-os, proteja-os, guie-os e os eduque. Vendeu a um jovem chamado Alan Mackenzie Frazier. A quem e por quê?
—Não era da Alcateia — disse Lúcifer enquanto estendia os braços. —É caro manter a tantos lobos felizes na cidade. Necessitava do dinheiro. Não tenho nenhum problema em te dar o nome do comprador, embora acredite que somente era o intermediário. Verdade. Tudo era verdade. Mas Lúcifer tinha sido muito cuidadoso com as palavras que tinha empregado.
—Meu pai quer o nome e a maneira em que se contatou com ele. Lúcifer fez um gesto com a cabeça a um dos homens arrumados, a quem passou junto a Dean com o olhar baixo, embora dedicou um instante para olhar Sam, que baixou as orelhas e grunhiu. Dean concluiu que aquele tinha exercido pouca influência sobre ele.
—Posso te ajudar em algo mais? — perguntou Lúcifer educadamente. Todos os lobos de Lúcifer usavam o truque de Ruby com o perfume, mas Dean possuía um agudo olfato e percebeu que Lúcifer estava... triste.
—Não atualizou os membros de sua Alcateia nos últimos cinco ou seis anos — disse Dean, perguntando-se ainda sobre a reação de Lúcifer. Topou com rebeldia, ira, medo, mas nunca com tristeza.
—Sabia que te daria conta. Revisou a lista com Sam? Sim, sofri uma pequena rebelião e a sufoquei com severidade. De novo a verdade, embora não toda. Lúcifer tinha a habilidade de um advogado para utilizar a verdade precavidamente e para mentir deixando uma pista falsa.
—Por isso matou a todas as fêmeas e Omegas de sua Alcateia? Rebelaram-se todos?
—Não havia muitas mulheres. E Omegas… Nunca há suficientes. Outra vez. Havia algo que lhe escapava. Lúcifer não era o lobo que tinha atacado ao jovem Frazier. Gadreel tinha o feito. O lobo de Lúcifer retornou. Deu a Dean uma nota com um nome e um número de telefone escritos em tinta púrpura. Dean guardou a nota em seu bolso e assentiu.
—Tem razão. Não há fêmeas e Omegas suficientes. Por isso temos que os proteger, não os matar. Matou-os você?
—Às mulheres? Não.
—A quantas? Lúcifer não respondeu e Dean sentiu que seu lobo se fortalecia pela proximidade da caça.
—Não matou a nenhuma das mulheres — disse Dean. Olhou aos homens esculturais e logo para Gadreel, quem tinha um atrativo menos evidente. Lúcifer estava protegendo a alguém. Dean elevou o olhar até Ruby, uma mulher com uma predileção especial pelos homens bonitos. Tinha mais anos que Willie O'Shaughnessy quando este começou a começar a enlouquecer. Dean se perguntou quanto tempo fazia que Lúcifer sabia que se tornou louca. Voltou a olhar ao Alfa. —Deveria ter pedido ajuda ao Marrok. Lúcifer negou com a cabeça.
—Sabe o que teria ocorrido. A teria tido que matar. Dean teria adorado ver a reação de Ruby mas não podia tirar os olhos de Lúcifer, um lobo encurralado é algo muito perigoso.
—E quantos morreram em seu lugar? A quantos de sua Alcateia perdeu? E as mulheres e Omegas que ela matou por ciúmes e os que você teve que matar para protegê-la? E os lobos que se rebelaram contra o que vocês dois estavam fazendo? Quantos no total? Lúcifer levantou o queixo. —Nenhum nos últimos três anos. A ira despertou em seu interior.
—Correto —assentiu Dean brandamente. —Não desde que tem a um valentão abusando de um Omega indefeso que o transformou sem seu consentimento. Um Omega a que tratou brutalmente sem descanso.
—Se o tivesse protegido, Ruby teria acabado odiando-o —explicou Lúcifer.
—Em troca, obriguei a Ruby a protegê-lo. Funcionou, Dean. Ruby está estável há três anos. Até que tinha ido a casa de Sam aquela manhã e tinha descoberto que Dean estava interessado nele.Ruby nunca tinha gostado que prestassem atenção em outras fêmeas ou outros Ômegas enquanto ela estava perto. Arriscou-se a dar uma olhada em Ruby e viu que, embora não se moveu do suporte, mantinha-se em posição de alerta se por acaso decidia atacar. Seus olhos tinham trocado e refletiam um entusiasmo pela violência que sabia que estava a ponto de desatar-se. Lambeu os lábios e começou a balançar-se com impaciência. Dean sentiu asco pelo desperdício que se produziu na Alcateia. Voltou a centrar sua atenção no Alfa.
—Não se produziram mais mortes porque têm a um Omega para manter a calma, e porque não há outras mulheres que possam lhe fazer concorrência, e Sam não está interessado em nenhum de seus lobos, não depois de que o estuprassem repetidamente cumprindo suas ordens.
—Isso manteve Sam com vida — insistiu Lúcifer.
— Os dois. Lúcifer abaixou a cabeça pedindo amparo. —Diga a seu pai que está estável. Diga que eu me encarregarei de que não faça mal a ninguém mais.
—Hoje ela tentou matar Sam — disse Dean com calma. — E embora não o tivesse feito... É uma demente, Lúcifer. Viu como a última luz de esperança abandonava o rosto do loiro. O Alfa sabia que Dean não deixaria Ruby com vida; era muito perigosa, muito imprevisível. Lúcifer sabia que também estava morto. Tinha trabalhado muito duro para salvar a sua companheira. Lúcifer lançou seu ataque sem avisar, mas Dean estava preparado. Lúcifer não era o tipo de lobo fácil
de matar. Aquela era uma briga sem concessões. Mas os dois sabiam quem ia sair vencedor.
∗ ∗ ∗
Sam tinha ficado petrificado ante as revelações de Lúcifer, mas aquilo não lhe impediu de reagir quando este iniciou o ataque. Não pôde conter seu instinto de proteger Dean e se equilibrou para onde estavam. De repente, e apesar da sua feroz resistência, um par de fortes mãos a agarraram pelo pescoço e o arrastaram para trás.
—Quieto aqui — a voz de Balthazar soou como um estrondo. — Tranquilo. Esta não é sua luta. Aquela voz, a que estava acostumado a obedecer, acalmou-o e lhe deu a possibilidade de pensar. Também ajudou o fato de que Dean evitasse o primeiro ataque de Lúcifer com um mínimo movimento de seus ombros. Os outros lobos se puseram de pé e podia distinguir como Gadreel repetia insistentemente:
—Mata-o, mata-o. Não soube decidir a que lobo se referia. Gadreel odiava Lúcifer pelo controle que exercia sobre ele e por ser o companheiro de Ruby. Talvez não lhe importasse qual dos dois morresse. Lúcifer lançou três murros seguidos, mas todos falharam. O terceiro, no que pôs todo seu empenho, quase lhe fez perder o equilíbrio e deu um torpe passo para diante. Dean aproveitou a ocasião para cortar a distância entre ambos e, com um movimento que Sam foi incapaz de perceber, golpeou ao Alfa no ombro, deixando-o grunhindo de ira e dor. Tudo o que passou depois foi tão rápido que Sam não foi capaz de precisar a ordem em que se produziu. Houve dois disparos seguidos. Balthazar deixou de segurar Sam enquanto amaldiçoava e Ruby soltou uma frenética e excitada gargalhada. Com um só olhar, Sam soube o que tinha ocorrido. Ruby sustentava uma pistola enquanto observava a luta, esperando uma oportunidade para disparar em Dean. Sam se desfez de Balthazar e cruzou o salão a toda velocidade. Da chaminé, Ruby olhou para Sam diretamente nos olhos e disse bruscamente:
—Detenha,Sam. Estava tão convencida de que Sam obedeceria que nem sequer se assegurou de que esta a tivesse ouvido, voltando a dirigir toda sua atenção à luta entre Lúcifer e Dean. Embora Sam sentisse a força da ordem que lhe tinha recebido de Ruby, ignorou-a. Impulsionou-se com as patas traseiras e se equilibrou sobre ela. Mordeu ferozmente o braço de Ruby sentindo o estalo do osso, satisfazendo assim a ira de seu lobo. A força de seu salto precipitou a Ruby do suporte de quase dois metros de altura e ambas golpearam o chão. Sam continuava mordendo o braço que sustentava a arma. Sam se agachou esperando que Ruby fizesse algo, mas esta não se moveu. Alguém se aproximou por detrás e Sam grunhiu ameaçadoramente. —Calma — disse Balthazar com uma voz serena que ao menos conseguiu que Sam lhe escutasse. Pôs as mãos sobre suas costas Sam grunhiu ainda mais forte. Mas Balthazar não prestava atenção; estava olhando para Ruby.
—Está morta — disse. — O merecia, por esquecer que não é um lobo total que deve obedecer suas ordens. Deixa-a, Sam. Deve ter quebrado a cabeça contra a chaminé. Já está morta. Quando Sam a soltou a contra gosto, Balthazar se assegurou de que Ruby não voltasse a levantar-se lhe partindo o pescoço. Continuando, recolheu a arma do chão. Olhando fixamente o corpo destroçado da morena, Sam começou a tremer. Levantou uma pata duvidando de se devia aproximar-se ou afastar-se. Uma lembrança a golpeou de repente e aquilo lhe fez recordar que ainda havia uma luta pendente e que Ruby tinha disparado em Dean duas vezes. Se Dean estava ferido, não o demonstrava. Estava tão fresco como no princípio. Em troca, Lúcifer cambaleava com um braço imprestável. Dean se colocou atrás dele, golpeou-lhe no pescoço com o bordo da mão e Lúcifer desabou como uma pipa quando o vento deixa de soprar. Todos os lobos presentes, exceto Sam, soltaram um suave uivo, chorando a morte de seu Alfa. Ignorando-os, Dean se ajoelhou junto a Lúcifer e, tal e como Balthazar fazia com Ruby, assegurou-se de que o pescoço estava realmente quebrado. Dean permaneceu imóvel, com se fosse um homem propondo matrimônio. Inclinou a cabeça e fechou os olhos ao defunto. Gadreel se moveu tão rápido que Sam não teve oportunidade de avisar Dean. De fato, nem sequer se tinha dado conta de que Gadreel havia se transformado. Golpeou Dean como um aríete e este caiu ao chão debaixo de Gadreel. Mas, embora Sam ficasse imóvel, Balthazar não. Disparou em Gadreel no olho assim que este golpeou Dean. Tudo tinha terminado. Balthazar apartou o corpo inerte de Gadreel de cima de Dean. Sam não recordava haver-se movido, mas se encontrou sobre Dean enquanto não deixava de grunhir para Balthazar. Este retrocedeu lentamente, com as mãos estendidas e a pistola no cinto. Quando Balthazar deixou de ser uma ameaça, Sam centrou sua atenção em Dean, que estava estendido no chão, de barriga para baixo, coberto de sangue. O nariz de Sam lhe dizia que parte do sangue era de Gadreel. Pelo menos, um dos disparos de Ruby lhe tinha alcançado. Podia ver o buraco sangrento em suas costas. Em sua forma de lobo não podia ajudá-lo e necessitava de muito tempo para transformar-se. Olhou por cima do ombro para Balthazar, quem se encolheu de ombros e disse:
—Não posso lhe ajudar se não me deixa me aproximar. Olhou-o fixamente, lhe desafiando com o olhar como nunca tinha feito antes. A Boyd não pareceu lhe importar. Esperou a que se decidisse. Seu lobo não confiava em ninguém quando se tratava de seu companheiro, mas não tinha outra opção. Separou-se de Dean deixando espaço a Balthazar, mas não pôde evitar lhe grunhir quando o pôs de barriga para cima para examinar as feridas. Balthazar encontrou o segundo furo na panturrilha esquerda. Tirou a jaqueta do traje e rasgou sua camisa de seda, pulverizando os botões por todo o chão. Fez farrapos a camisa e, enquanto enfaixava Dean com mão perita, começou a dar ordens.
—Holden, chama o resto da Alcateia, começando pelo Rashid. Diga-lhe que traga todo o necessário para curar feridas de prata e que há orifício de saída. Quando acabar, chama o Marrok e lhe explique o que aconteceu. Encontrará seu número na agenda de Ruby, na gaveta que há na cozinha, debaixo do telefone. Sam uivou. Tinham-lhe alcançado os dois disparos de Ruby.
—Não morrerá — disse Balthazar atando as últimas bandagens. Deu uma olhada ao salão e amaldiçoou. —Este lugar parece a cena final de Hamlet. Gardner, você e Simon comecem a limpar esse desastre. Vamos levar Dean a um lugar mais tranquilo. Não estará muito contente quando despertar e todo este sangue não ajudarão muito. Balthazar pegou Dean nos braços e o levou a outra sala. Sam lhe seguiu.
∗ ∗ ∗
De novo em forma humana, Sam repousava na cama junto a Dean. Tinha vindo Rashid, que era médico além de homem lobo, e tinha substituído as bandagens provisórias por outras esterilizadas; depois tinha partido. Comunicou a Sam que Dean estava inconsciente pela perda de sangue. Balthazar entrou no quarto pouco depois e lhe aconselhou que deixasse Dean sozinho antes de que despertasse. O quarto estava reforçado para resistir investidas de um lobo raivoso, Sam não. Não discutiram quando Sam se negou. Quando saiu do quarto, Balthazar o fechou com chave. Assim que Sam estava seguro de que partiu, se trocou. A maior parte da roupa que havia no velho armário era de tamanho único. Encontrou uma camiseta e jeans que não ficavam muito mal. Dean não se deu conta quando retornou à cama. Sam colocou a cabeça junto à dele e escutou sua respiração.
∗ ∗ ∗
Dean não despertou tranquilo. Estava descansando mansamente e, de repente, levantou-se sobressaltado. Sam não o tinha visto nunca transformar-se e, embora sabia que o fazia incrivelmente rápido, ignorava que fosse tão formoso. Começou pelos pés e, como uma manta de pelagem negra, a transformação percorreu todo seu corpo, deixando a um abominável e irado homem lobo que sangrava através das bandagens. Os brilhantes olhos amarelados observaram o quarto: primeiro a porta fechada, depois as barras na janela e finalmente a Sam. Ele estava estirado, muito quieto, lhe permitindo que absorvesse o ambiente e compreendesse que não havia nenhuma ameaça. Quando o olhou pela segunda vez, Sam se incorporou e lhe examinou as bandagens. Dean grunhiu e, então, acariciou-lhe o focinho.
—Perdeu muito sangue. As bandagens não lhe farão parecer mais fraco que se estivesse sangrando por toda parte. Ao menos assim não arruinará o tapete. Quando terminou, acariciou-lhe o pescoço e aproximou sua cabeça a dele. —Pensei que tinha te perdido. Permaneceu um instante junto a ele e depois se dirigiu para a porta.
—Está fechada com chave — disse Sam descendo da cama e dirigindo-se à ele. Dirigiu-lhe um olhar paciente. Ouviu-se um ruído surdo e um homem magro de aspecto comum que parecia ter pouco mais de cinquenta anos abriu a porta. Ajoelhou-se e observou Dean atentamente antes de fixar-se nele. A força que transmitiam seus olhos o deixou sem ar, de modo que não se surpreendeu quando reconheceu sua voz. —Dispararam-lhe três vezes em um dia — murmurou o Marrok. — Acredito que Chicago foi mais duro que o normal, filho. Será melhor que te leve para casa, não acha? Sam não sabia o que dizer, de modo que não disse nada. Apoiou uma mão nas costas de Dean e tragou saliva. Dean olhou para seu pai.
—O perguntou? — disse o Marrok dirigindo-se a Dean. Este emitiu um suave grunhido. O Marrok riu e ficou em pé. —Não passa nada, já o farei eu. É Sam? Aquilo não era exatamente uma pergunta. Sua garganta estava muito seca para responder. Decidiu assentir. —Meu filho gostaria que viesse conosco para Montana. Asseguro-te que se houver alguma coisa que te incomode, encarregarei-me pessoalmente de que possa te instalar em qualquer outro lugar onde se sinta melhor. Dean grunhiu e John levantou uma sobrancelha enquanto olhava a seu filho.
—Sou o Marrok, Dean. Se o rapaz quer ir para outro lugar, tenho que deixá-lo. Sam se apoiou no quadril de Dean e disse:
—Acredito que eu gostaria de conhecer Montana.
Autor(a): BiaSW
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