Fanfic: De repente babá - Vondy | Tema: Vondy; DyU

Senti o sol em meu rosto e apertei ainda mais os olhos para tentar afastar o incômodo. Me remexi na cama e o meu corpo reclamou por ter dormido no chão na noite anterior. Abri os olhos, receosa com o que encontraria, porque aquela coisa fofa com certeza não era o chão, e reconheci o quarto de Christopher.

Merda!

— Fica tranquila, Dulce. — A voz grave de Christopher me assustou, atraindo o meu olhar para o canto do quarto, onde ele estava sentado numa cadeira, vestido casualmente e me olhando perturbado.

— Por que estou aqui? — Perguntei cautelosa, olhando perdida para o lugar. Pelo menos eu estava vestida.

— Eu fui te procurar de madrugada para conversar e te encontrei dormindo no chão do seu quarto. Em posição fetal. — Seus olhos ficaram levemente vidrados, mas logo voltaram ao normal. Ele se levantou e sentou na borda da cama, olhando-me com cautela, como se quisesse me dizer alguma coisa. — Dulce, a gente precisa conversar.

— Ah, não, Christopher, já colocamos todas as cartas na mesa. Eu estou cansada, dolorida, precisando de um banho e checar as crianças. — Comecei a me levantar, mas sua mão segurou o meu pulso, parando-me. — Me solta. — Quase choraminguei. Eu não estava legal, eu ainda estava digerindo o que eu havia dito no dia anterior. — Antes de tudo, me desculpe por ter dito aquelas coisas ontem. Não foi a minha intenção falar aquilo, nem insultar a imagem de Sophie.

— Você pode parar e me escutar, por favor? — Pediu calmamente.

— Preciso ver as crianças. — Tentei me soltar novamente, mas ele não cedeu. Porra, o que ele queria de mim? Que eu me humilhasse de novo? — Christopher, me solta.

— Eu já cuidei das crianças, Dulce, eles vão passar o dia fora. Você pode me escutar, por favor? Ontem eu escutei, acho que precisamos de reciprocidade, não? — Abriu um sorriso triste e me olhou daquele jeito esquisito, fazendo com que eu me encolhesse. Meu estômago parecia dar cambalhotas toda vez que ele me olhava daquele jeito, e não era de um jeito bom, com certeza.

— Só me deixa tomar um banho, então. — Eu precisava mesmo disso. Escovar os dentes. Fumar um cigarro. Ou uma carteira inteira.

— Eu te espero aqui?

Confirmei com a cabeça e fui para o meu quarto, surpresa ao ver a cama já arrumada e o local completamente vazio. Era estranho entrar ali e não encontrar Valentina. Eu estava acostumada com a sua presença e a sua confiança voltando a ponto de fazê-la falar cada dia mais.

Enquanto eu me lavava, pensava no que Christopher queria me dizer. Por mais que eu tentasse manter as expectativas baixas, a ideia de ele falar que queria algo sério fez o meu coração falhar uma batida. Forcei qualquer expectativa para o fundo, e dependendo do rumo da conversa, eu precisaria falar com ele sobre o meu antigo trabalho. Ele entenderia que eu tinha uma vida difícil, não entenderia?

Puta merda, que indecisão.

Encontrei-o no quarto com os cabelos úmidos, sentado na borda da cama com o corpo inclinado, parecendo perdido. Quando me viu, respirou fundo e sorriu, levantando.

— Por que não vamos tomar café? — Sugeriu, e me dei conta que estava faminta.

(...)

— Onde as crianças estão? — Estávamos numa das mesas na beira da praia. Eram férias em família, então por que ele não estava com os filhos?

— Eles queriam praticar alguns esportes radicais de jovens, então aproveitei para termos um tempo a sós... — Se recostou na cadeira, olhando-me intensamente. — Eu quero me desculpar se dei a entender que você estava sendo sombra de alguém, Dulce. Para mim é difícil... Essa coisa de relacionamento. Sophie foi a primeira e única mulher com quem tive um relacionamento, então perdi completamente o jeito de como se aproximar de uma mulher que não fosse só para o sexo.

— Ok... — Disse lentamente, digerindo suas palavras, que mais me deixavam confusa do que explicavam a situação.  — Christopher, desculpa ter dito aquilo para você. Eu não tinha o direit...

— Eu estou apaixonado por você. — Estaquei ao ouvir aquelas palavras.

Apaixonado.

Rá, essa era boa.

Essas coisas só rolavam nos filmes. Eu não era Julia Roberts, em que o cara milagrosamente se apaixonava por ela em “Uma linda mulher”.

Dennis sempre dizia para as suas prostitutas que nós nunca seríamos capazes de atrair homens para algo que não fosse o sexo. E devia ser exatamente isso. Talvez Christopher até estivesse confuso por causa do carinho que eu dava aos seus filhos, mas apaixonado?

Impossível.

Ri nervosamente, acendendo um cigarro e o tragando, perfeitamente ciente do seu olhar em mim. Fiquei olhando para o mar, e apertei os olhos quando os senti arderem. Mas que merda, por que isso tinha de estar acontecendo? Isso só ia me deixar mais confusa.

— Você não vai me dizer nada? — Ele perguntou, quase decepcionado.

— Essa brincadeira não tem graça. — Minha voz saiu fraca e eu me forcei a engolir o bolo que se formava em minha garganta.

— Por que eu estaria brincando? — Balancei a cabeça. — Dulce, olha para mim. — Ignorei e ouvi-o soltar um palavrão baixinho. — Do que você tem medo?

Eis a questão. Do que eu tinha medo? Eram tantas coisas que eu não conseguia raciocinar direito: o medo das palavras de Dennis serem verdadeiras, ser algo passageiro para Christopher. Fora o fato de ele não me conhecer... Não de verdade.

Apaguei o cigarro furiosamente e virei o meu corpo para ele, sentindo pescoço e rosto esquentando.

— Você não me conhece, Christopher. Não é legal falar que está apaixonado por alguém que não conhece.

— É aí que você se engana. — Disse sem se alterar e eu franzi o cenho. — Eu te conheço, Dulce. Você tem mania de esfregar o braço ou a nuca quando mente ou fica nervosa, recorre ao cigarro quando acha que vai perder as estribeiras, gosta de cantar Abba durante o banho e tem uma voz escandalosamente bonita. O único que lhe deu carinho na vida foi Alfonso, e agora você está assustada por eu dizer que sinto algo romântico por você. Você tem pesadelos que a deixam assustada como o inferno, e sei que são lembranças que te deixaram machucada. A merda que aconteceu com você não é o que você é, Dulce, você precisa entender isso.

Olhei para ele, seu olhar suave, mas o corpo enrijecido mostrava que ele não estava para brincadeiras. Minha visão ficou turva pelas lágrimas, porque nem mesmo eu tinha reparado em merda nenhuma do que ele tinha falado que eu fazia. Respirei fundo e ele sustentou meu olhar, esperando pacientemente que eu falasse alguma coisa.

— Eu fui estuprada. Por isso vim para cá. — Minha voz saiu sufocada, sofrida.

Respondendo  o face: