Fanfic: Sueles Volver | Tema: DyC, DyU, vondy

Dulce suspirou enquanto dirigia pela rua estreita. Será que a visão daquele prédio branco nunca deixaria de lhe provocar borboletas no estômago?
Tudo bem, era verdade que, agora, a revoada de borboletas se parecia mais com leves cócegas, mas ainda assim era algo. Algo que talvez não devesse mais existir.
Naquele prédio, a meros dois quarteirões de distância de sua própria casa, morara um rapaz que, no passado, Dulce acreditara ser o amor de sua vida. Christopher Alexander Luís Casillas von Uckermann.
Era no mínimo curioso. Os dois moravam tão próximos um do outro. Estudaram no mesmo colégio no ensino médio - embora Christopher, um ano mais novo, estivesse um ano atrás de Dulce. Foram para a mesma faculdade, na qual entraram juntos, embora tivessem escolhido cursos radicalmente diferentes. E foi só aí que suas vidas finalmente se cruzaram.
Iniciadas as aulas, os dois passaram a integrar um grupo de amigos que morava nas proximidades e estudava na mesma faculdade. Faziam companhia uns aos outros nos trajetos de ida e volta, conversavam sobre a vida, seus cursos e o futuro, e com frequência estendiam as conversas do caminho ao longo do dia, por mensagens ou nas redes sociais. A diversão era onipresente e, embora se tratasse de um grupo, alguns, como Dulce e Christopher, tinham mais afinidade do que outros.
Por dois anos, nada existiu além de uma doce amizade.
Bendito fosse o dia, logo no começo do terceiro ano, em que seu professor de Direito Civil tivera um compromisso inadiável. Christopher também tinha aquele horário livre, um feliz acaso, e Dulce optou pela companhia do amigo sem pensar duas vezes.
Foi nesse dia que os traços de uma relação diferente começaram a se desenhar.
Eles falaram, como sempre, de diversos assuntos, mas Dulce jamais esqueceria de um em especial: as grandes estreias do cinema aguardadas para aquele ano. Sim, porque naquele dia foi feita uma lista. E assim que a primeira estreia aconteceu, Dulce recebeu de bom grado um convite inesperado para o cinema no sábado à noite - como amigos, é claro.
Semanas depois, outro convite. E outro. E outro. E outro. E assim passaram-se os meses, até que ninguém mais acreditava na amizade dos dois. A irmã mais velha de Dulce, Blanca Ireri, chegara ao extremo de lhe perguntar uma vez, ao ver a caçula chegar de um desses encontros: “e aí, já deu uns beijos nesse menino?”. A fúria de Dulce, além de divertir a irmã mais velha, pareceu servir de combustível para provocações do pai também.
Até que, em julho, dentro do carro estacionado em frente à casa de Dulce, Christopher venceu a timidez e jogou a bomba: “Não consigo parar de pensar em você. Sempre que me acontece algo, você é a primeira pessoa para quem eu quero contar... E isso está me enlouquecendo”.
A garota ficou atordoada, mas percebeu, com alegria, que o sentimento de Christopher era correspondido, e os dois finalmente engataram o namoro.
Como já era de se esperar, a novidade causou furor entre os amigos, que adoraram o novo casal.
Quase um ano depois, veio a primeira grande briga.
Foi na garagem do prédio onde Christopher morava. O prédio branco que agora estava à sua frente. Eles não eram tão jovens - por Deus, tinham 20 e poucos anos, não 15 -, mas, sendo o primeiro namoro de ambos, eram inexperientes e muito imaturos, e não sabiam lidar com as dificuldades da vida adulta; era o último ano de Christopher na faculdade e ele havia precisado mudar para o período noturno. A carência e a insegurança de Dulce falaram mais alto, e eles acabaram rompendo.
Uma semana depois, Christopher a procurou.
Mais alguns meses, outro término. Passada uma semana, a iniciativa coube a Dulce.
Por um bom tempo, eles ficaram nesse relacionamento ioiô, até que Dulce decidiu dar um basta. Terminou-se e pronto. Se estivesse em seu destino ficar com Christopher Uckermann, assim seria. Caso contrário, ela seguiria em frente. Ela precisava seguir em frente.
Dulce terminou os estudos e conseguiu uma colocação como advogada no escritório em que trabalhava. No amor, se definia como “solteira e bem resolvida”, mas o coração apertava um pouco se alguém ainda tinha coragem de trazer Christopher à conversa.
A responsável por isso geralmente era Maite. Sua melhor amiga, conselheira amorosa e guru espiritual trabalhava na administração do escritório, e as duas tinham jeitos tão parecidos que chegava a ser ridículo. No começo, Maite, como Blanca Ireri, provocava e se divertia com a reação de Dulce, até que fez a profecia que mudou para sempre a postura de Dulce com relação ao amado.
“Você ainda vai se casar com ele. E eu serei madrinha.”
Apesar de zombeteira, Maite não falava essas coisas à toa. Dulce acreditava que a amiga realmente possuía um dom, e costumava seguir seus conselhos à risca.
Eis que, no ano que sucedeu sua formatura, Dulce foi novamente procurada por Christopher. Conversa vai, conversa vem, até a revelação: “estou indo estudar na Rússia, mas não quero ir para o outro lado do oceano sem saber se existe algo entre nós... Ou se acabou para sempre”.
Dulce quis gritar, mandá-lo para o inferno com uma passagem só de ida e amaldiçoar todas as gerações da descendência do rapaz. Não pode. Seus sentimentos eram uma loucura que ela não era capaz de definir. Carinho e nostalgia pela história que viveram juntos? Amor verdadeiro? Carência? Dulce já não sabia.
O que ela vivera com Christopher havia bagunçado totalmente seu coração, e ninguém bom o suficiente havia aparecido para arrumá-lo.
Solteira, ela tentou conhecer outras pessoas. Suas amigas lhe apresentaram rapazes. Céus, até Blanca Ireri tinha um candidato. “Deus me livre”, Dulce pensava toda vez que tentava imaginar-se ao lado de Pablo Lyle.
A verdade é que, apesar de todos os defeitos e disfunções em seu relacionamento, Christopher havia deixado parâmetros muito altos, os quais Dulce usava para medir outros rapazes. Nenhum deles alcançava os tais parâmetros, e Dulce seguia aparentemente bem resolvida com sua solteirice.
Mas no fundo, em alguns momentos, a solidão a corroía.