Fanfic: Sueles Volver | Tema: DyC, DyU, vondy

 - Eu preciso sair da vida dela, Nina.

 - Mas você nem começou! - a jovem russa respondeu da tela do celular.

 - Você fala isso porque não viu o estado em que ela ficou. Eu não tenho esse direito - Christopher suspirou.

 - Calma. Você não tinha dito que ela perguntou por que você foi embora?

 - Sim, mas ela também disse que eu baguncei a vida dela, destruí seu coração e agora que voltei virei o mundo de cabeça pra baixo de novo.

 - Mas de certa forma isso é bom, não é? Se ela ficou tão balançada, é sinal que ainda gosta e muito de você. E não era isso que você queria descobrir?

 - Não seja cruel, Nina. A amiga dela disse que a Dulce é só uma diversão pra mim.

 - E ela é? - Irina arregalou os olhos, subitamente brava.

 - Claro que não! Você sabe que não! - Irina relaxou visivelmente na tela do celular. - Mas a Anahí tem razão. Eu não tenho condições de fazer a Dulce feliz. Ela merece mais.

 - Mais do que alguém que se dispôs a atravessar a porcaria do Oceano Atlântico pra provar que era digno dela?

Christopher não respondeu.

Embora ela parecesse não perceber - e não acreditava quando alguém lhe dizia -, Dulce era dona de um cérebro extraordinário e uma inteligência acima da média. Christopher estava convencido de que, se fosse seu desejo, ela seria uma das advogadas mais renomadas do México, talvez até de toda a América Latina. Não que ele almejasse superá-la - e mesmo que quisesse, não achava que poderia -, mas se queria ficar ao lado de Dulce pra valer, precisava ser mais. Ela merecia alguém que, mesmo que nunca se igualasse ao seu intelecto ou ao seu coração bondoso, pelo menos se esforçasse para acompanhá-la. Alguém para quem as pessoas olhassem e não sentissem pena por ela, “uma moça tão incrível ao lado desse Zé Ninguém”.

Christopher nunca havia confidenciado sua insegurança a ninguém; não queria correr o risco de ter que enfrentar Dulce caso ela descobrisse a verdade. Quando alguém questionava, ele simplesmente respondia “é uma grande oportunidade para mim”.

Irina, contudo, sendo a romântica incorrigível que era - pelo que Christopher constantemente amaldiçoava todos os autores russos de que conseguia se lembrar -, logo percebeu que o rapaz estava, em suas palavras, “em uma missão”, e tomou para si a responsabilidade de acompanhar sua trajetória e aconselhá-lo.

 - De nada adianta todo esse sacrifício se ela estiver sofrendo, Nina. Um título acadêmico não é o que vai fazer a Dulce feliz, mesmo um internacional; ela não é o tipo de pessoa que se apega nisso.

 - Então me explica. Me explica o sentido de tudo isso. Me explica o porquê da sua vinda para cá. Se não era por ela nem por você, era por quem?

 - É claro que era por ela, Nina, sempre foi! Desde que eu botei os olhos na Dulce pela primeira vez, absolutamente tudo o que faço na vida é por ela, você sabe disso!

 - Mas se ela não…

 - Ela é especial, Nina - o rapaz interrompeu. - Eu não queria que ninguém tentasse tirar ela de mim quando chegasse a hora. E eu pensei que se eu fosse bom o suficiente… Ninguém teria motivo pra tentar.

 - …”Quando chegasse a hora”...?

 - A hora de a gente ficar junto pra sempre. Não queria que ninguém comparasse a gente, e você sabe que as pessoas comparam, e achasse que ela estava sendo boba, que estava se acomodando com um cara qualquer sendo que poderia encontrar alguém que estivesse no mesmo patamar dela.

O rosto de Irina se clareou de compreensão.

 - Você queria proteger ela do julgamento.

Christopher assentiu.

 - A Dulce já foi muito julgada por ser diferente, Ninushka, e sofreu demais por isso. Sofre até hoje, aliás - complementou, lembrando-se das histórias que Dulce lhe contara enquanto namoravam e da solidão que ela sentia por não se encaixar. - Eu não tinha o direito de trazer mais dor, mas no fim das contas foi exatamente o que eu fiz - os olhos de Christopher se encheram de lágrimas.

 - Chris…

 - Eu achei que ela ia ficar bem. Achei que ela fosse seguir em frente, ela me disse que ia! E mesmo que eu nunca mais amasse ninguém, saber que ela estava feliz seria o suficiente pra mim.

 - Mas ela não está.

 - Não.

 - E como exatamente você acha que sair da vida dela vai resolver isso?

 - Eu não sei ainda. Mas a Dulce que eu via da Rússia era bem diferente da Dulce que eu encontrei ao vivo e em cores.

Eles ficaram alguns momentos em silêncio.

 - E como você sabe que, se afastando da Dulce, você não está afastando ela da felicidade também? E se o destino dela for você?

 - E quem te contou isso? A vela no espelho? - Christopher zombou.

 - Funcionou pra Natalya Rostova - Irina deu de ombros, entrando na brincadeira do amigo. Ela percebera que ele não sabia o que responder.

 - Claro, porque abandonar o noivo e fugir na calada da noite com alguém que você conhece há apenas alguns dias é uma decisão muito sábia.

 - Não começa, você sabe muito bem que no final deu tudo certo.

 - Deu tudo certo? Você acha que ela ficar com um terceiro cara que não era o noivo nem o fugitivo é “dar tudo certo”?

 - Nem pense em deixar sua cabeça ir por esse caminho, Christopher. Isso aqui é a vida real, não é “Guerra e Paz”.

 - Mais um motivo pra aparecer alguém que estraga tudo - Christopher resmungou, pensando em Belinda e no motorista misterioso, mas Irina prosseguiu sem lhe dar atenção.

 - Meu ponto era o seguinte: no livro, toda essa confusão levou a Natalya na direção que ela precisava, na direção da pessoa que era a melhor pra ela. Sei que a sua situação com a Dulce é difícil, mas vocês precisam passar por isso. Se vão ficar juntos no final ou não, o tempo é quem vai dizer, mas fugir dessa jornada é impossível.

 - Queria que não precisasse ser desse jeito.

 - Eu sei, querido. Mas tem uma coisa que você não pode esquecer: a Dulce que você via da Rússia era a Dulce que ela queria que você visse. Talvez não tenha sido tão fácil assim para ela ficar longe de você.

 - E eu devo ficar feliz com a ideia de ela sofrer em silêncio por todo esse tempo?

 - Claro que não! Mas se o que ela sente por você sobreviveu ao tempo e à distância, é porque a história de vocês não terminou. Não desista de lutar por ela, porque o coração dela não desistiu de você.