Fanfic: Mentira Perfeita- AyA | Tema: Ponny
Dulce riu, apoiando os cotovelos entre o encosto dos bancos.
— A Mazé é bem capaz disso mesmo. Uma vez ela tentou me amarrar na mesa da cozinha. Eu tinha uns nove anos e cismei que queria montar um foguete. Até tinha um pouco de pólvora na mochila. Aí eu...
Poderia não ser tão ruim, ponderei enquanto ela seguia falando. Eu podia conversar com um dos caras da faculdade. Muitos eram de fora da cidade e viviam em repúblicas. Talvez um deles topasse dividir o apartamento comigo.
— Você vai se divertir tendo companhia — adicionou meu irmão. — Morar sozinho às vezes é muito chato.
Foi a minha vez de bufar feito um touro bravo.
— Sabia que você se tornou o maior idiota do planeta desde que conheceu a Dulce?
Ele olhou para a noiva e o sorriso mais bobo do mundo lhe esticou a cara toda.
— É, eu sei.
Revirei os olhos. Aquela era uma das razões pelas quais eu precisava sair do apartamento do Christopher. Ele e Dulce estavam apaixonados, e eu me sentia como um elefante branco no meio da sala dançando street dance. Se eu tivesse uma garota como ela, não iria querer ninguém por perto para me atrapalhar. Não que eles alguma vez tenham dito qualquer coisa. Ao contrário, Dulce e Christopher pareciam mesmo contentes pelo fato de eu estar com eles. Mas sabe como é, volta e meia eu ouvia. Paredes muito finas. A vida sexual do meu irmão não era um dos assuntos que mais me atraíam.
A minha vida sexual, sim, me interessava, e muito. E morar com meu irmão andava dificultando as coisas. Não era tão simples encontrar um motel adaptado, e eu estava na pista. Tinha uma menina na faculdade com quem fiquei umas três vezes. O problema é que de repente ela decidiu que nós deveríamos namorar, e eu não estava nem um pouco a fim de compromisso. E também tinha a Vivian, da academia. Garota descomplicada que, assim como eu, estava a fim de curtição e nada mais.
— Vamos sair para comer hoje à noite — Christopher sugeriu quando paramos em frente à L&L. — Juntos nós podemos pensar em algo que te desagrade menos. — Já marquei de sair com o Nicolas.
— Ok. Amanhã?
— Vou ver.
— Deixa de ser chato. — Dulce me deu um peteleco na cabeça. — Pare de se comportar como um bebê chorão, ou ninguém vai acreditar que você é realmente capaz de se virar sozinho. — Ela se esticou para beijar meu rosto. — Obrigada pela carona.
Dulce tinha toda a razão. Eu estava sendo um grande babaca. Estava na hora de começar a agir com inteligência. Se para viver sozinho eu precisava da porra de um cuidador, então que fosse. Eu só teria que escolher bem.
— Tudo bem — cedi. — Vamos sair amanhã, então.
— Divirta-se com o Nick. Até mais tarde.
Uma buzina penetrou meus ouvidos, me trazendo de volta para o presente. Eu não tinha me dado conta de que estava indo para o centro da cidade até acabar na rua em que minha vida havia mudado. Estacionei o carro a poucos metros de onde tudo acontecera. Ironicamente, havia uma moto no exato local onde eu tinha me estropiado quase quatro anos atrás.
Eu me flagrei suspirando ao admirar a moto. O que eu não daria por uma volta em uma belezinha daquelas outra vez...
Christopher não conseguia entender. Pensara que depois do acidente eu as odiaria — ele passou a odiá-las —, mas não foi assim. Merdas acontecem, certo? É simples assim.
Na época, com dezenove anos, minha opinião era diferente. Eu tinha tudo o que queria, e isso incluía pernas que funcionavam.
Olhei para a calçada em busca de alguma marca. Deveria ter uma, já que eu carregava várias por todo o corpo, mas não havia nada além do concreto áspero.
Era engraçado, já que fora ali que meu pior pesadelo tivera início.
Era ali que jaziam todos os meus sonhos de um futuro brilhante.
O acidente acontecera quando tudo na minha vida parecia estar dando certo. Eu tinha terminado o sexto período do curso de design de games, havia mais garotas atrás de mim do que eu conseguia contar e o olheiro de um importante clube de regatas havia me visto nadando em uma competição não oficial. Ele me oferecera uma vaga. Até havia falado em olimpíadas.
E tudo agora estava acabado. Ou pelo menos em suspenso.
Era por isso que eu me dedicara tanto às sessões de fisioterapia no último ano. Porque as dores nas pernas e nos pés, muitas vezes insuportáveis, diziam que ainda havia uma chance. E era a isso que eu me agarrava. Eu voltaria a andar, e então poderia voltar a sonhar.
Autor(a): daanitzm
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