Fanfic: Mentira Perfeita- AyA | Tema: Ponny
Para com isso! Ainda existe uma chance! Um coração vai aparecer a qualquer instante!, repeti sem parar, até obter o controle de minhas emoções de novo.
Endireitando os ombros, saí do banheiro e acompanhei o médico até a UTI. Miguel me amparou sempre que foi preciso. Uma coisa é fingir ter coragem. Outra, completamente diferente, é convencer suas pernas dessa coragem.
Depois de vestirmos as roupas que o dr. Victor nos indicou, entramos na sala gelada, que cheirava a pinho, éter e dor.
Na cama alta, plugada a muitos fios, tia Mari parecia pálida e minúscula, tão diferente da mulher forte e dona de si que sempre fora. Seu peito subia e descia mais rápido que o normal. Ela moveu a cabeça assim que ouviu a porta se abrir e sorriu por baixo da máscara de oxigênio.
— Miguel. Annie, meu amorzinho. — Ouvi sua voz cansada enquanto me aproximava.
— Tia Mari... — foi tudo o que eu consegui dizer, engolindo em seco e tentando calar os gritos desesperados em minha cabeça. Miguel não parava de piscar.
— Seja sincera, Anahi... — ela começou, e eu temi o fim daquela frase.
Eu devia ter previsto. Quando é que tia Marieta agiu como uma pessoa normal?
— ... minha raiz tá aparecendo muito?
Pisquei e deixei escapar uma risada histérica. Acariciei seu cabelo curto e encaracolado pela permanente, onde uma fina linha branca se fazia visível rente ao couro cabeludo, contrastando com os fios tingidos de acaju.
— A senhora está linda como sempre, tia.
— Uma deusa glamorosa! — Miguel ajudou.
Ela revirou os olhos.
— Não sejam mentirosos. É impossível estar glamorosa com esses malditos respiradores. Mas está tudo bem. Meus dias de beleza terminaram. Aliás, meus dias terminaram. Ponto.
Meu rosto deve ter revelado o horror que senti ao ouvir a última parte, porque ela me olhou com ar aborrecido.
— Não seja boba, Annie. Você sabe que não estou sendo literal. A minha vida acabou no momento em que aquele déspota ali na porta me proibiu de comer costelinha de porco. Como ele espera que eu sobreviva a isso?
— É, não dá mesmo, dona Mari. — Miguel riu, encarando o dr. Victor, que também achou graça.
A relação de tia Marieta com as costelinhas ainda era um mistério para mim. Quando o médico sugeriu que ela substituísse a carne de porco por brócolis e aspargos, tive que segurá-la. Por pouco ela não pulou no pescoço do seu cardiologista para lhe arrancar os olhos, ou algo assim.
— Bem — dr. Victor disse, abrindo a porta —, se você está pretendendo falar mal do médico, é melhor ele ser educado e se retirar. Volto em meia hora.
— Covarde! — resmungou minha tia depois que ele saiu. — Não aguenta um pouco da verdade. Aposto que come costelinha todo dia.
— O coração dele não está com problemas — eu me ouvi dizendo.
— Não importa. E deve ter sido isso que fez meu coração se comportar mal hoje. Ele não sabe viver sem costelinha. — Ela soltou um suspiro desconfortável e cravou seus olhos azuis, exatamente do mesmo tom dos meus, em mim. — Mas eu não posso reclamar de verdade, não é, Annie? Tive uma vida boa. Vivi cada aventura que pude. Você, meu amor, ainda nem começou.
— Tia, não é o melhor momento para a senhora me dar uma bronca.
— Não é uma bronca. Estou preocupada de verdade. Sabe, um dia eu vou ter que partir e você vai ficar sozinha. — Ela virou o rosto, olhando para o equipamento repleto de luzes acima de sua cabeça.
Autor(a): daanitzm
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— Então esta conversa é desnecessária, já que a senhora não vai a lugar nenhum tão cedo. — Por favor! — Quer que eu ligue a TV ou pegue alguma coisa? — Não, meu docinho. — Ela balançou a cabeça uma vez, a agitação se avolumando em seu semblante. — E não mu ...
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