Fanfic: Mentira Perfeita- AyA | Tema: Ponny
— Milagre — completei. Ele concordou com a cabeça.
Ah, meu Deus. Eu havia recebido mais um. Diversas emoções perpassavam meu corpo, o tremor me sacudindo de leve.
— Ela ainda requer cuidados — o médico prosseguiu —, por isso vai ficar conosco mais alguns dias, mas em breve vai poder voltar para casa. As recomendações anteriores devem ser seguidas à risca. Alimentação, pegar leve com atividades motoras... Você está bem? — ele perguntou, preocupado.
— Sim, eu... posso usar o banheiro?
Deixei a mochila na cadeira e atravessei a sala correndo, sentindo o olhar curioso do médico me seguir durante todo o percurso. Assim que entrei e fechei a porta, meu corpo não aguentou mais. Tombei contra o painel de madeira e cobri a boca com a mão para que o dr. Victor não ouvisse meus soluços. Obrigada! Obrigada! Obrigada!
Assim que meu colapso terminou e eu voltei a ter controle sobre minhas emoções, retornei para a sala e pedi que ele me deixasse falar com tia Marieta. Eu precisava ver com meus próprios olhos que ela estava bem, que ele não estava inventando aquilo tudo.
— Claro que pode — o dr. Victor respondeu, amável. — Ela está chamando por você desde que recuperou a consciência. Só peço que seja cuidadosa e não a deixe nervosa. No mais, pode permanecer o tempo que quiser, mas seus amigos vão ter que esperar. Ela pode ficar agitada se receber muita gente no quarto, e nós não queremos arriscar até os novos exames ficarem prontos.
Fiquei de pé. Ele sorriu diante de minha impaciência, mas se levantou e liderou o caminho.
Bateu uma vez e abriu a porta da UTI, enfiando a cabeça entre ela e o batente.
— Pronta para sua primeira visita, Marieta?
— Estou pronta já faz horas! — a voz firme reverberou pelo quarto e me alcançou.
Era real. Ela estava bem. Ainda estava comigo.
— Ela é toda sua. — O médico se afastou para me dar passagem.
Aprumei os ombros, empurrei os óculos para cima e entrei. Encontrei minha tia sentada naquela cama de aparência pouco confortável, raspando um copinho de plástico com uma colher.
— Annie! — Ela passou a mão no rosto, limpando os restos de gelatina do queixo.
Corri para ela e a abracei com força, tomando cuidado para não esbarrar em nenhum fio ou mangueira.
— Ah, tia Mari...
— Eu sabia! Sabia que você ia ficar preocupada. Aquele médico malvado não me deixava ver você. — Ela me agarrou pelos ombros e examinou meu rosto. Uma expressão aflita tomou conta dela. — Falei para o dr. Victor que você ficaria assim, mas aquele homem insensível não acreditou quando eu garanti que não ia morrer. Isto é, depois que o meu coração baleado voltou a bater e tudo o mais.
— A senhora devia estar comendo? — Peguei o copinho de suas mãos e o coloquei sobre a mesa de apoio.
Ela fez uma careta.
— Tecnicamente não, mas eu estava morta de fome, e uma enfermeira muito boazinha contrabandeou um potinho de gelatina para cá. Não precisa fazer essa carinha. Estou bem, viu? Acredite em mim! Eu não vou embora tão cedo!
Minha visão embaçou e eu tive que piscar algumas vezes para evitar chorar de novo. O dr. Victor tinha pedido para pegar leve. Chorar a deixaria abalada, e ela precisava de descanso e tranquilidade naquele instante.
— O médico me disse que a sua melhora foi um milagre.
— Claro que foi! E foram as novidades que operaram esse milagre!
— Que novidades? — perguntei, com a incômoda sensação de que não queria saber a resposta.
Ela deu risada e um tapinha na minha mão.
— Não finja que não é importante! Você acha mesmo que eu iria perder o seu casamento? Não vai ser uma insuficiência cardíaca aguda de merda que vai me impedir de ver o meu sonho se tornar realidade. Você se casar com um vestido desenhado e confeccionado por mim! — E me encarou com aqueles enormes olhos castanhos. — Você me deu uma razão para lutar. E eu venci! Você é o motivo de eu ainda estar aqui, meu amor. Quando é que eu vou conhecer o seu futuro noivo? O quê?
Não, eu não tinha entendido direito. Não podia ser esse o motivo que a trouxera de volta das paradas cardíacas. Não podia ser. Se fosse, eu estaria ferrada.
— Tia, eu... Humm...
Ela arfou e um som de engasgo lhe escapou da garganta.
— Você não estava falando sério? Anahi, você mentiu para mim? — Tia Mari piscou como se algo a ferroasse e levou uma mão ao peito. Gemeu.
Ah, merda!
Ah, meu Deus!
— Não, não, não! Ninguém mentiu! Fica calma. — Eu me estiquei para apertar o botão que avisava a enfermaria, mas minha tia segurou meu pulso.
— Não mentiu? — arfou, ainda pressionando o peito, os olhos nos meus.
— Claro que não. Que ideia, tia. — Tentei sorrir. — Eu realmente tenho um namorado e estou apaixonada. Muito apaixonada. Tanto que... eu nem... humm... sei dizer.
— Ah! — Sua respiração começou a voltar ao ritmo normal. A mão em meu pulso afrouxou. — Que susto, menina! Então, quando vou conhecê-lo?
Assim que eu conhecer, eu quis dizer.
— Logo, tia. Ele tá... humm... viajando a trabalho, mas assim que voltar eu apresento para a senhora. — Isso! Assim eu ganhava um pouco mais de tempo para pensar no que fazer sobre aquele assunto. Onde diabos eu iria conseguir um namorado tão em cima da hora? E não qualquer um, mas o homem perfeito que eu descrevera para tia Mari!
Desde que a doença dela se agravara, eu praticamente só saía de casa para ir para o trabalho. Como eu poderia me envolver com alguém se a minha vida estava um caos?
Eu nunca me socializei com facilidade, nunca fui capaz de conversar com pessoas que não conheço, como vejo os outros fazerem. Passei pela escola sem deixar saudade em ninguém, tenho certeza. Exceto, talvez, nos professores. A questão é que as pessoas, uma hora ou outra, acabam te decepcionando. Era por isso que relacionamentos, de qualquer gênero, eram tão complicados para mim. Você conta com alguém, ama esse alguém de todo o coração, e ele vai embora sem aviso. Aprendi isso muito cedo, e evitava a todo custo me relacionar. Doía demais quando as pessoas iam embora.
Mas tudo bem. O que importava agora era manter a minha tia estável e calma. Todo o restante se ajeitaria depois. Uma mentirinha de nada não podia ter consequências tão graves assim.
Autor(a): daanitzm
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POV Alfonso Desejei, e não pela primeira vez, estar em qualquer lugar do mundo que não fosse ali, na sala de estar do apartamento do meu irmão mais velho. Na fila do correio com um office boy armado com duas gordas pastas bem na minha frente; aguardando uma consulta num hospital do SUS; acompanhando minha mãe em uma loja de departamentos. Qualque ...
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