Fanfic: Mentira Perfeita- AyA | Tema: Ponny
Minha família entendia isso?
— Desculpe, meu amor. — Minha mãe piscou algumas vezes, então se levantou e desabou no sofá, enterrando o rosto afogueado entre as mãos. Seus ombros sacudiram de leve. — Eu me preocupo com você. Quero cuidar de você.
— Eu sei disso, mãe. — Soltei um longo suspiro. — Mas não estou fazendo nada perigoso. Só vou viver por conta própria. Todo mundo faz isso.
— E se você escorregar da cadeira na hora do banho, Alfonso? — Ela ergueu a cabeça, o horror estampado no rosto. — Quem vai te acudir?
— Eu mesmo, suponho. — Como qualquer outra pessoa que mora sozinha, pensei. Mas aparentemente fui o único.
— Isso não vai dar certo. Ele vai tentar de novo, Marcos. — Ela voltou a chorar. — E vai fazer parecer um acidente, como da outra vez. Eu não vou suportar. Não vou suportar perder o meu menino.
— Ele não vai fazer nada estúpido, mãe. — Christopher me olhou duro. — Não seria tão burro.
— Como podemos saber, Christopher? — ela quis saber. — Como podemos ter certeza?
— Eu nunca tentei me matar, caramba! — Soquei a roda da cadeira.
Christopher se aproximou e virou meu pulso para cima, exibindo a cicatriz irregular sem dizer uma única palavra.
Grunhi baixinho, fitando a marca em meu pulso direito. Aquilo me perseguiria pelo resto da vida. Eles não acreditaram quando expliquei que havia sido um acidente. Desde então ninguém me permitia chegar perto demais de comprimidos, facas, cadarços, parafusadeiras...
Ok, pareceu que eu havia tentado dar um fim a tudo, e as estatísticas também não colaboravam. O índice de suicídio entre a população cadeirante é altíssimo. Mas eu não tentei me matar. Não mesmo. O que aconteceu foi a porra de um acidente.
Meu pai estava em sua oficina — ele sempre adorou trabalhar com marcenaria — e eu estava sem nada para fazer. Fiquei ali com ele, ajudando a pregar o fundo do que seria uma jardineira. Então, bati o cotovelo sem querer na caixa de ferramentas sobre a mesa. Tentei pegá-la antes que tudo se espalhasse pelo chão, mas estava pesada, e o impacto empurrou meu braço para baixo. Meu pulso encontrou a cabeça de um prego meio solto e foi rasgado de um lado ao outro. Um ato desastrado que me rendeu dezoito pontos e um ano de terapia.
Não que eu não tivesse pensado em algo do tipo, confesso. Mas, depois de ver o estado em que meus pais ficaram, para não mencionar Christopher, que ainda se sentia responsável pelo acidente, já que a moto havia sido um presente dele, percebi que seria egoísta demais pensar apenas em mim.
Eles tentavam o melhor que podiam para fazer da minha vida o mais "fácil" possível. Aqueles últimos três anos haviam sido um inferno, mas teriam sido muito piores sem a minha família por perto.
— Foi um acidente — falei pela milionésima vez. — Você acha que eu sou burro a ponto de tentar me matar cortando os pulsos e ficar ali agonizando por sabe-se lá quantas horas? Existem meios muito mais rápidos e indolores — expliquei, esperando que com isso colocássemos uma pedra sobre esse assunto.
No entanto, meu pequeno discurso surtiu o efeito contrário.
— Ele vai fazer de novo, Marcos! — Minha mãe chorou enquanto Christopher me olhava feio e murmurava um "idiota".
Meu pai chegou mais perto, plantando as botas na minha frente, braços cruzados sobre o peito, o rosto fechado numa carranca que poderia muito bem pertencer a um coronel do exército.
— Me diga a verdadeira razão de querer sair da casa do seu irmão. E não minta, ou juro por Deus que vou te dar uma surra daquelas.
Sorri de leve. Era por coisas assim que eu amava tanto o meu velho.
Autor(a): daanitzm
Este autor(a) escreve mais 2 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?
+ Fanfics do autor(a)Prévia do próximo capítulo
— O Christopher e a Dulce vão se casar em poucas semanas. Eles precisam de privacidade. A porta da sala se abriu. A noiva em questão apareceu meio descabelada, e logo percebeu o clima pesado. — Saco. — Soltou um longo suspiro ao deixar a bolsa sobre a mesa, que ainda nem havia sido posta. Deus do céu, o jantar seria servido só ...
Capítulo Anterior | Próximo Capítulo