“Minha doce e angelical Maite. Ah, Maite... Só em escrever seu nome, meu peito já se enche de paz e de um amor que é tão genuíno que eu não saberia explicar em palavras. E eu não poderia começar isso com alguma palavra diferente de obrigada e um sentimento diferente de gratidão. Se você estiver lendo essa carta, com certeza está achando no mínimo estranho tudo que vem pela frente, mas a você eu posso contar, porque sei que irá acreditar. Não, eu não sabia que iria morrer, porém minha intuição sempre falou mais alto que tudo ao meu redor e eu sentia... sentia que algo iria acontecer e que nossos caminhos, por um motivo maior, iriam se separar. Você, sendo uma das pessoas mais preciosas da minha vida, não poderia passar o resto da vida sozinha caso algo acontecesse comigo e foi então que eu pensei em Alfonso. Você muito provavelmente estará o odiando agora, porém preste bem atenção em tudo que eu vou te dizer, pense com carinho e faça isso por mim... Alfonso é um homem ferido. Ferido por dentro e por fora, mas suas cicatrizes internas são maiores do que qualquer um ao seu redor pode imaginar. Ele não é um homem ruim, Maite. Ele pode agir como tal, mas a sua essência é tão boa e pura quanto a sua, acredite em mim. Ele tem uma filha que se chama Serena (se escreve assim, mas fala "Siwina", nunca a chama de Serena de fato, que ela irá ficar bem bravinha), a menina é fruto de um amor grande que ele teve, porém a mãe da menina faleceu em seu parto e Serena nunca soube de verdade o que é ter o amor de mãe. Não estou pedindo pra você ser a mãe dela ou a luz que tirará a vida de Alfonso das trevas, nem nada disso... eu estou pedindo pra você dar uma chance para a minha família. E em especial para eles dois, que são os que mais precisam de alguém e não têm ninguém... Você precisa de um lar e de proteção, eles precisam de alguém que os ensine o que é amar e cuidar da maneira mais genuína que se pode fazer. Eles precisam de alguém tão bom e puro quanto você, Maite. E você precisa deles também. Ser sozinha até o fim dos seus dias não é um bom plano... e eu posso te garantir, que de uma forma ou de outra, se você está lendo essa carta agora é por uma razão... talvez seja o seu destino. Assim como eu tive que cumprir o meu, certo? Hoje, eu tenho certeza que o meu propósito na Terra era te conhecer e te guiar para o caminho que você deve realmente seguir, e eu estou tentando.... colabore comigo, mesmo tudo isso parecendo uma extrema loucura, e em algum momento verá que absolutamente tudo acontece por uma razão e que o nosso coração uma hora ou outra nos levará ao caminho certo que devemos seguir... eu estou seguindo o meu. Mas lembre-se: você só precisará cumprir tudo que eu estou te pedindo, se Alfonso quiser cumprir a promessa dele. Caso ele não queira, está livre para ir e viver a sua vida.
Eterna gratidão a você por tudo, principalmente pela vida.
Eu amo você, Maite.
- Christian.
PS: Leia a segunda carta quando quiser desistir de tudo e quando você começar a achar que me odeia. Acredite, se tudo ocorrer como o esperado, esse momento em breve chegará.
─ Anahí. ─ Maite chamou assim que terminou de ler a carta e apesar de ter um rosto que expressava a tamanha tristeza que ela sentia, a mesma não se deu o direito de chorar. A mesma a olhou, ansiosa.
─ O Alfonso... qual a senha pra chegar no andar dele? ─ ela indagou e Anahí ergueu as sobrancelhas, surpresa.
─ O-o... eu... vo-você tem certeza? ─ a morena assentiu.
─ Preciso conversar com ele. Só a ideia me faz sentir raiva, não vou mentir, mas eu preciso. Pelo Christian.
Anahí assentiu prontamente. ─ A minha senha é 14051983. É a registrada para o andar dele, pode ir.
─ Obrigada! Muito obrigada por tudo, de verdade. Você é... incrível. ─ ela falou depois de se levantar do sofá, enquanto as duas andavam em direção ao elevador.
─ Você é ainda mais. Qualquer coisa acerta ele nos ovos e corre pra cá. 14 de Maio de 1983. Essa é minha senha pra o andar dele. Vê se não esquece! ─ ela piscou e Maite sorriu.
─ Não vou esquecer. ─ então as portas se fecharam e depois de digitar a senha, ela se virou para olhar a bela Manhattan de lá de cima e tentar se acalmar por estar dentro daquele elevador sozinha.
─ Bem-vinda, Anahí. Logo chegaremos ao andar do senhor Alfonso. ─ ela sorriu de leve negando com a cabeça quando ouviu a voz do elevador... voz do elevador! Pois é.
As mãos de Maite estavam geladas e suadas. Sua garganta tinha um nó, que ela estava trabalhando em tirar enquanto o elevador subia, e subia, e subia... que raios de andar era o de Alfonso? Mas aquilo, apesar dela sentir medo, serviu para acalmá-la em relação a ele e foi então que o elevador parou e ela continuou de costas para a saída. Não sabia o que ia ver, não sabia quem ia ver, não sabia o que ia dizer, e então se virou com a cara e a coragem.
Alfonso estava na sala, ainda com a calça social e a camisa de manda cumprida do trabalho. Aquele homem passava as vinte e quatro horas do dia pensando no trabalho, aquilo ninguém podia negar, pois até em seus sonhos as pessoas arriscavam dizer que ele criava estratégias para continuar dominando os cantos do mundo com sua multinacional.
─ Qual a dificuldade de conseguir a porcaria de um jatinho particular quando eu preciso de um? ─ ele esbravejava, furioso. Rodava de um lado para o outro na sala, com o celular em uma das mãos, enquanto conversava com um de seus assistentes. ─ Eu não quero saber sobre a porcaria do tempo, eu quero que você dê um jeito de conseguir trazer aquele casal pra cá! Se ele fechar o negócio comigo, estaremos feitos! É coisa grande, Théo, muito grande! Dê seus pulos, se você conseguir, eu aumento alguns zeros no seu salário! ─ ele partiu para a onda do dinheiro, sabendo que todos conseguiam tudo assim. ─ Até meia noite é o seu pra-... ─ antes dele terminar de falar, ouviu o barulho do seu elevador e virou-se rapidamente para ver quem era. Apenas sua família tinha a senha do elevador, mas era difícil alguém aparecer lá de surpresa naquela hora.
Então ele viu uma morena de costas. Maite estava vestida em um vestido preto, simples, colado ao corpo. Seus cabelos estavam soltos, brilhantes e batiam quase que na altura da sua bunda. No salão, eles haviam cacheado ainda mais suas pontas que já ondulavam por si só, e ali, os cachos já haviam descido para as pontas, deixando-os minimamente muito bonitos. Alfonso ergueu as sobrancelhas. Quem quer que fosse, certamente tinha um corpo muito bonito, apesar de bem magro também. Então ele viu quando esse alguém respirou fundo e se virou na direção dele com tudo, porém quando os olhos se encontraram, ela deu um passo pra trás, arregalando os olhos da mesma maneira que ele o fez.
Não podia ser possível... mas aquele rosto, ele reconheceria aquele odiável rosto em qualquer lugar. Até mesmo coberto por uma maquiagem realmente muito bem-feita, já que conseguira o milagre de deixar aquela imunda bonita. Na verdade, bonita não, agora que ele sabia que era ela... estava ajeitada, no máximo.
─ Theodoro consiga o que eu te pedi ou estará demitido ás meia noite em ponto. E não me ligue mais. ─ disse duro e desligou o celular na cara de um dos seus assistentes. ─ Como você conseguiu chegar aqui? ─ perguntou olhando-a com desprezo. Era inexplicável a forma que só em olhá-la já sentia raiva... mesmo com os pedidos de Christian, ele a via como uma pessoa suja, tão externa quanto internamente, mesmo estando toda arrumada daquele jeito; a via como uma interesseira que usara o irmão e agora estava usando cada um deles para subir na vida. A forma como ela tinha mudado radicalmente de um dia para o outro só comprovava aquilo.
─ 14 de maio de 1983. ─ ela repetiu a senha que Anahí lhe falara.
─ Aquela maldita... ─ ele esbravejou e viu a mesma sair do elevador, parando a frente dele, mas em uma distância segura. Ele pode sentir a tensão que veio dela quando as portas se fecharam, e o elevador apitou mais uma vez, agora descendo. ─ Você acha que tem que direito de entrar aqui assim, sem nem avisar, e ainda com uma senha que te dá total acesso a minha vida? Apesar de estar vestida às minhas custas e de ter tirado as manchas pretas do seu corpo, segue sendo a mesma imunda para mim! E sempre será assim.
─ Alfonso, precisamos conversar. É sobre o Christian, eu acabei de ler a carta que ele me deixou e nós realmente precisamos esclarecer algumas coisas. ─ ela falou séria, ignorando totalmente as tentativas dele de humilhá-la.
─ Pois fale de uma vez. Você não espera que eu a convide para sentar e tomar um chá, né?
Ela respirou fundo pra ter paciência. ─ Alfonso, eu não quero seu dinheiro. ─ só foi ela dizer isso, que ele já deu risada, irônico, cruzando os braços e se escorando, quase que sentado, no sofá que estava irado no sentido contrário do mesmo. ─ Eu não quero nada seu, nem quero ter que morar aqui, nem entrar nessa vida totalmente diferente da minha que vocês têm. ─ ela falou e ele ergueu uma sobrancelha, ainda com um sorriso de canto falso no rosto. ─ Pelo jeito você não quer cumprir a tal promessa que fez a ele e isso é ótimo, porque assim eu não terei que cumprir nada também. ─ ela falou e pela primeira vez, ele achou o discurso realmente estranho, pois parecia sincero. ─ Então eu só vim ter a certeza de que você também acha tudo isso um absurdo e que a partir de hoje, não vamos mais ter que cruzar os nossos caminhos. O que inclui também que eu vou me afastar de toda sua família e procurar outro lugar para viver. Isso nunca foi problema pra mim. ─ ela explicou e ele ouvia tudo com atenção... estranho, no mínimo. ─ Além do mais eu não suportaria viver no mesmo lar que uma pessoa tão arrogante, mesquinha, e metido, e prepotente e imbecil, e com uma expressão tão infeliz sempre, e... ─ ele continuava com a sobrancelha erguida, até que ela se deu conta que já estava partindo para o lado da raiva, apertando os pulsos e os olhos ao falar dele, e respirou fundo mais uma vez. ─ Era isso, agora eu preciso ir pra... ─ ela falou, tensa por estar só com ele ali e doida para ir embora. Depois da última que ele aprontara com a mesma, ela percebeu que ele era capaz de tudo e agora, ele poderia estar no mínimo irritado com tudo que ela dissera sobre si. Mas assim que virou para o elevador, o mesmo apitou e se abriu.
─ Só pode ser brincadeira! ─ Alfonso disse e Maite arregalou os olhos, pois era Anahí com o seu pequeno neném no colo.
─ Oi gente! Vim visitar vocês... na verdade checar se você tava viva e te pedir um favor. ─ ela falou se referindo a Maite, já entrando com tudo no apartamento de Alfonso e se sentando no sofá. ─ Boa noite pra você. ─ disse de cara feia para o irmão, que a olhou indignado com tamanha folga. ─ A mama de leite dele tá lá em casa esses dias, mas tá dormindo e eu pensei... como a Maite passou quatro dias, três deles graças ao meu irmão idiota, claro, sem amamentar... ela pode fazer isso por mim e pelo pequeno Nate que é um esfomeadinho, né meu amor? ─ olhou para o filho e acariciou seu rosto. ─ Seus peitos estão imensos! Deve estar doendo muito, né? Vem cá. ─ olhou para Maite novamente e Alfonso franziu o cenho, olhando para Maite. Então a imunda tinha filho?
─ Annie, é melhor a gente descer e eu...
─ Ora, fique! Fique e faça o que ela pediu, hoje eu quero ver o quão minha irmã ingênua é patética em deixar uma imunda como você alimentar seu próprio filho e quero ver o seu show de atuação, querendo conquistar o carinho da ingênua Anahí, para que ela te defenda pra sempre do vilão da história aqui!
─ Alfonso, eu não... ─ antes que Anahí pudesse continuar a fala, minimamente brava, Maite a interrompeu, dando um passo corajoso na direção de Alfonso e erguendo o nariz para ele, não abaixaria a cabeça para aquele homem jamais.
─ Deixe, Annie. Ele disse que quer ver o show, deixe-o ver. ─ e passou ao lado dele, desaforadamente, se sentando na poltrona ao lado da que Anahí sentou e sorrindo docemente para Anahí quando ela lhe passou Nathaniel. Ao pegá-lo no colo, Maite sentiu o aperto no coração que sempre sentia ao pegar bebês... era uma dor desmedida, lhe dilacerava, mas ela tinha que ser forte... ainda mais na frente de Alfonso, o maior idiota prepotente do planeta. ─ Oi, príncipe. ─ ela passou o dedo polegar na bochecha dele, que deu um sorrisinho de canto, mexendo as mãozinhas e as duas olharam encantadas. ─ Anahí, você tem certeza? ─ ela indagou e a resposta da mesma foi assentir, sorrindo. Então Alfonso revirou os olhos quando viu Maite virar meio que de costas para ele, para descer uma parte do vestido, depois do sutiã, e dar de mamar ao seu sobrinho. ─ Ai. ─ ela gemeu rapidamente quando Nathaniel abocanhou seu seio com tudo, dando uma leve mordidinha no processo. ─ Jesus, Annie!
─ Um esfomeadinho, eu disse. ─ comentou rindo e deixou ela amamentando o menino, enquanto se levantava e ia até Alfonso, ficar frente a frente com o mesmo. ─ Qual o seu problema? Não já basta ter feito o que fez com a Maite da última vez? ─ indagou com raiva.
─ Essa dívida já foi paga com ela, ou você esqueceu de quem foi o cartão que usou hoje pra transformá-la nisso aí? ─ Anahí negou com a cabeça.
─ Olha, Alfonso, sinceramente, você me enoja às vezes. Fala como se ela fosse um animal, mas...
─ Anahí, eu não aguento mais te ouvir. ─ ele a cortou. ─ Agora me diga... a imunda tem filho? Colocar duas pessoas aqui já é demais, ainda mais sendo criada por essa mulher dessa laia aí.
Ela apertou os olhos na direção do irmão, com vontade de lhe esmurrar. ─ Dois. Dois filhos ela teve!
─ Sem chance desses pirralhos entrarem aqui. ─ rebateu na hora.
─ Como pode ser tão insensível? É óbvio que ela não cria esses filhos! Se não teríamos visto com ela, você não acha, retardado? Mas eu não sei o que aconteceu com eles... não sei se ela deixou em um orfanato, ou se eles morreram, eu realmente não sei... ─ ela falou com o olhar triste, sentia por Maite, então a olhou e sorriu de lado ao ver que ela amamentava Nate totalmente entretida no que fazia, e olhava o menino com doçura, acariciando o rosto do mesmo.
─ Eu não devia me surpreender. ─ a voz de Alfonso ficou rouca de tanta raiva que ele sentiu naquele momento. Anahí, um tanto assustada, e depois entendendo o motivo dele estar assim suspirou e colocou a mão no rosto dele.
─ Irmão, nem todas as pessoas do mundo são cruéis. ─ disse, terna. ─ Eu sei que pela sua história, você detesta todos que vem desse patamar de vida, mas... não sei, eu posso estar me decepcionando, posso quebrar a cara, mas ela me passa muita verdade. Dê uma chance. Apenas uma.
Alfonso suspirou, virando o rosto e parecendo realmente pensar. Mas no fim das contas, ele já havia tomado a sua própria decisão mesmo.