Muito feliz que vocês tão curtindo a história, comentando, se envolvendo com ela e tudo mais!
Obrigada a todas!!
Um dia no apartamento de Alfonso, foi o suficiente para Maite querer desistir de tudo. Ela era uma mulher forte, determinada e não era qualquer coisinha que a derrubava, porém dois imensos andares cheios de enfeites e cômodos chiquérrimos que além de precisarem ser limpos, ela teria que ter o maior cuidado para não quebrar nada, era demais para a mesma. Era uma hora da tarde quando ela, por um milagre, terminou de limpar o segundo andar da casa e desceu para o primeiro, já com o estômago roncando. Ao lembrar que tinha que fazer comida e que aquele era o único talento que ela não tinha como dona de casa, Maite praguejou aos infernos por Alfonso tê-la lhe deixado em um beco sem saída onde ou ela cozinhava ou morria de fome. Porém se formos analisar a situação do lado que há dias atrás comer era um privilégio para si, ela chegou a conclusão de que não iria mais reclamar.
─ Maria, hum... eu... eu sei que não pode conversar comigo, mas só quero saber o que eu posso fazer pra comer aqui. Acho que o Alfonso não me deixaria pegar tudo. ─ disse e a mais velha suspirou.
─ Ele permitiu que pegasse apenas ovos, macarrão instantâneo, arroz, pão, manteiga, carne ou frango uma vez por semana e tirando os temperos, o sal e o açúcar, só isso.
─ Café, não? ─ ela fez uma careta.
─ Não, senhorita. Sinto muito.
─ Não sinta. ─ ela deu de ombros e foi em direção a geladeira, onde pegou dois ovos e colocou em cima do balcão. ─ Certo, Maite, você sabe fazer um ovo... isso é uma das poucas coisas que sabe fazer por sinal. Só pegar a margarina... pode margarina? ─ ela olhou Maria que tinha um olhar engraçado na direção da mesma.
─ Pode.
─ Certo. Pegar a margarina e colocar na panela... ─ ela mais uma vez mirou Maria que apontou para o lugar onde as panelas estavam e ela lhe sorriu, pegando uma frigideira pequena. ─ Então você liga o forno... coloca a margarina na panela e em seguida quebra os ovos, isso! Muito bem. ─ ela falou quebrando o primeiro ovo e viu quando ele caiu perfeitamente na frigideira. ─ Agora o segundo, perfei-... ah não, casca não, Maite! Jesus, não se come a casca do ovo! ─ ela correu para jogar a casca no lixo, esquecendo de abaixar o fogo e pegou uma colher, para tirar a casca que havia caído na panela, porém como o fogo estava alto, salpicou um pouco na sua mão e ao sentir a ardência, ela largou a colher no fogão e deu alguns pulinhos. ─ É só um ovo, Maite, por Deus! ─ falava sozinha, enquanto Maria atrás dela prendia a risada.
─ Abaixe o fogo, menina. ─ ela falou baixinho e Maite rapidamente o fez, mas quando virou pra trás para agradecê-la, ela não estava mais lá. Então Maite voltou para a saga do ovo e com certo esforço, conseguiu terminar de cozinha-lo. O macarrão instantâneo foi mais simples, afinal tinha as instruções na embalagem, mas ainda assim, ela conseguiu errar na quantidade de água e o deixou aguado demais. Ela não sabia se aquele macarrão com ovo dava certo, mas na altura do campeonato não ligava mais, e acabou comendo tudo por tamanha fome... o ovo sem sal, o macarrão não tão bom quanto poderia estar, mas ainda assim eram comidas e ela tinha que dar valor. Enquanto lavava todos os utensílios de cozinha que usara, ela ouviu quando Serena chegou em casa e desligou a torneira, olhando para trás para ver se a via, mas a menina estava na sala e ela na cozinha, entre elas havia a sala de estar e Maite sabia que Maria não ia deixar Serena ir até ela.
─ Mas onde está ela, Ma?
─ Ela está na cozinha, querida, mas você sabe que não pode ir vê-la.
─ Nem uma olhadinha? Por favor, Ma, o papai nem vai saber.
─ O seu pai dá um jeito de saber de tudo, você sabe disso... e ele ficaria bem bravo se soubesse que o desobedeceu. ─ Maite ouvia a conversa enquanto caminhava devagar até a sala de jantar, ficando escondida atrás da parede da sala, apenas com a cabeça do lado de fora aproveitando que Maria estava abaixada de costas para ela e de frente para Serena, enquanto tirava seu sapato. Quando os olhos de Serena encontraram os de Maite as duas sorriram e Maite fez um sinal de “shhh” pra ela, colocando o dedo na boca e a mesma assentiu. ─ Eu acredito que uma hora ele vai deixar aquela moça interagir com a gente, mas até lá, vamos respeitar as suas vontades, certo?
─ Certo, Ma. ─ respondeu marota.
─ Agora vamos pra lá pra cima. ─ Maite se escondeu quando Maria se levantou e quando ouviu os passos da mais velha andar em direção a escada, colocou novamente a cabeça para fora da sala, vendo Serena lhe dar um tchauzinho que ela correspondeu, antes da menina subir as escadas atrás de sua babá Maria. Depois que ela o fez, Maite se encostou na parede da sala de estar, sorrindo de leve e negando com a cabeça. Aquela menina certamente era a luz daquele lugar e logo com ela, Maite não podia ter contato. Alfonso era um tremendo babaca mesmo! Mas foi ao lembrar dele, que ela voltou a fazer os serviços domésticos de casa, e verdade seja dita, ela não fazia porque ele mandara, e sim porque era uma espécie de dívida que estava pagando, na cabeça da mesma, por estar morando ali. E o resto do dia se foi assim... ela nem acreditou quando terminou de fazer tudo, morrendo de cansaço, às sete da noite. Tratou de ir rapidamente para o quarto em que estava e tomou um banho relaxante, agradecendo aos céus por aquela banheira. Em seguida vestiu um short jeans simples com uma blusinha solta de cor branca. Como ela não lavou os cabelos, apenas os penteou e os prendeu em um rabo de cavalo. Depois de terminar de se arrumar e descansar um pouco, pensativa sobre sua cama, ela saiu do quarto crente que Alfonso não estaria lá e desceu as escadas, passando pela sala, depois pela sala de estar e estranhando estar tudo vazio. Já eram nove da noite e lá de cima, ela não havia se dado conta de que havia demorado tanto para descer de novo. Quando chegou na cozinha e viu um homem parado ali, ela se assustou, pulando e colocando a mão no coração.
─ Misericórdia, que susto, homem! ─ disse com tanta espontaneidade que ele, surpreso, virou para olhá-la. Então ela fechou a cara quando seu olhar se cruzou com o dele e revirou os olhos, decidindo que não iria ficar fugindo dele, já que de um jeito ou de outro eles iriam se encontrar sempre ali.
─ O que pensa que está fazendo? ─ indagou ao ver que ela se aproximou do balcão e sentou no mesmo, apoiando os cotovelos ali e o seu rosto nas mãos, olhando-o debochada.
─ Tô esperando você acabar aí, pra eu fazer um ovo. ─ resumiu simples e ele ergueu uma sobrancelha na direção dela. Vendo que a mesma não iria sair dali e cansado do dia cheio que teve, ele sequer lutou contra, apenas se virou novamente ficando de costas para ela, enquanto preparava suas próprias panquecas no fogão.
Olhando Alfonso atentamente de costas, já que ela não tinha mais nada para fazer ali, ela teve que assumir para si mesma que o miserável era um homem muito bonito. Se qualquer outra mulher estivesse ali no lugar dela, certamente estaria babando nele, principalmente pela forma que ele se encontrava... sem camisa, com um avental que cobria apenas a parte da frente do corpo e o deixava ainda mais sexy do que ele já era. Suas costas eram largas, fortes, bem definidas assim como todo o seu corpo. Ele não tinha músculos exagerados, mas tinha tudo na medida certa. Ainda estava vestido na calça social do trabalho, mas ela não deixou de reparar que a bunda dele também era muito... atrativa, por assim dizer. E foi no exato momento que seus olhos estavam nela, que ele se virou, pegando-a no flagra e a olhando com uma cara debochada que ela conhecia o suficiente para odiar.
─ Tudo certo aqui de trás? ─ indagou e ela revirou os olhos, pulando do banco alto que estava e dando a volta no balcão, indo em direção a geladeira.
─ Vai te catar, Herrera. ─ falou pegando um ovo na geladeira e se virou para ele, os dois frente a frente.
─ Você não tem mesmo noção do perigo, não é? ─ ele riu maldoso, se aproximando alguns passos dela, que recuou um passo, olhando-o com atrevimento. ─ É realmente uma pena nem bonita você ser... ─ seguiu falando, enquanto se aproximava ainda mais. ─ Porque se ao menos fosse bonita, eu poderia me aproveitar de algumas coisas, sabe... ─ ela engoliu a seco e fez menção de bater com o ovo no peitoral dele, que como da primeira vez que eles se viram, segurou a mão dela no ar, puxando-a brutamente na sua direção em seguida. ─ Não brinque com fogo, Maite... eu sou muito pior do que você tá vendo. ─ e soltou a mão dela, dando as costas e pegando a panela com sua panqueca de queijo e presunto. Então ele a colocou no prato e deixou a panela na pia, dando as costas e indo em direção a mesa da sala de jantar.
─ Muito pior do que eu tô vendo... cão que muito ladra, pouco morde. ─ ela falou irritadiça depois que o viu sair da cozinha, pegando novamente a frigideira que havia usado e a levando até o fogão. Fazendo novamente todo o processo que fez mais cedo, Maite se atrapalhou com a casca do ovo, e depois de abaixar o fogo, correu em direção ao lixo, jogando a casca e voltando para a frigideira, enquanto tentava tirar a casca com a colher, mas só parecia piorar mais sua situação, então irritada, ela enfiou o dedo na casca e a puxou até a beirada da panela, pegando-a e sentindo seu dedo arder quando em um deslize, ela acabou tocando na panela já quente. ─ Ai, merda! Oh merda, merda, merda! ─ disse, sacudindo o dedo, e tendo que se recompor rapidamente para mexer o ovo, já que ela só gostava dele mexido. Logo o mesmo estava pronto e ela desligou o fogão, virando-se para trás e dando de cara com Alfonso, de braços cruzados – já sem o avental – segurando uma xícara em uma das mãos e a olhando com deboche. Ele até tentou, mas não conseguiu prender o riso. E mais uma vez, ela parou pra analisar o quão bonito ele era... ainda mais quando sorria. Entretanto, ele não percebeu, mas pela primeira vez ela notou de longe, que ele tinha várias cicatrizes de um lado do seu peitoral. As cicatrizes eram quase que da cor da pele, por isso quase que passava imperceptível, mas ele tinha... e não eram poucas.
─ Não era você que sabia cozinhar? ─ indagou e ela apertou os olhos, fazendo uma cara de brava e decidindo o ignorar. ─ Um ovo, honestamente! Nenhuma qualidade você tem, inacreditável.
─ Ah, porque o sabichão acha que eu vou aprender a cozinhar na rua, hum? Acha que lá eu vou ter um fogão pra fazer tudo do jeito que eu quero, né? Nem todo tem as facilidades que você tem não... e antes de morar na rua, eu sequer... ─ ela falava irritada enquanto andava de um lado para o outro da cozinha, pegando o pão e a manteiga, até que parou quando ela mesma citou o seu passado e se virou para ele rapidamente. Quase ela falaria de algo que nunca falou com ninguém, por pura raiva. Ele, estranhando, ergueu uma sobrancelha pra ela, desconfiando.
─ Não é uma mendiga desde que nasceu, então? ─ indagou analisando a reação dela que era muito suspeita. Alfonso se interessou em descobrir o passado dela naquele momento. Grande problema, Maite! ─ A propósito, qual o seu nome completo? ─ ele indagou, cismado. ─ De onde veio, afinal? Como conheceu Christian e o que realmente queria dele? ─ o rosto dele começou a ficar duro, demonstrando toda a sua raiva. O olhar de nojo na direção dela voltara com tudo, e por um momento ele se perguntou porque havia sumido, se nada havia mudado e ela ainda era uma imunda... ─ Era isso, não é? A cobertura de um arranha-céu, vivendo às custas do dinheiro dos outros... certamente era isso. Mas me deixe te dizer uma coisa, Maite. ─ ela engoliu a seco, sentindo medo pelo jeito que ele a olhava e falava as palavras lenta e odiosamente. ─ Eu vou fazer questão de investigar cada detalhe da sua mísera vida no passado e então derrubar essa máscara de boa moça que você tem e quando eu o fizer... Ah! Então vai ser game over pra você. ─ concluiu e estava tão irritado que seus punhos estavam cerrados sobre o balcão. Maite notou que ele estava prestes a partir para a agressão de tão irritado que estava, mas se controlando sabe-se lá Deus o porquê, ele deu as costas e saiu dali, antes que voasse em Maite e a colocasse no seu devido lugar. Seu rumo foi seu escritório e lá, depois de bater a porta – o que fez a morena se estremecer da cozinha – ele ligou para seu investigador particular.
─ Sebastian? Eu preciso que você consiga informações sobre uma mulher chamada Maite... Apenas Maite, o resto eu preciso descobrir... Tem 23 anos e se chama Maite... Não quero saber se são poucas ou muitas informações, quero que descubra absolutamente tudo sobre a mesma, nem que para isso tenha que investigar cidade por cidade, país por país, todas as “Maite” que existe no mundo... Foto? Vou conseguir uma e te envio... Passar bem.
E desligou. Era incrível a capacidade que aquela mulher tinha de lhe deixar possesso de raiva. E aquele rosto... o lembrava outra mulher. Uma mulher que ele odiou mais que tudo nessa vida, uma mulher que só de lembrar, ele sentia ânsia de vômito... e enquanto Alfonso mergulhava em seu mar de ódio por quase tudo ao seu redor, da cozinha do mesmo, Maite rezava para que ele não descobrisse absolutamente nada do seu passado... pois se o mesmo caísse sobre o conhecimento de Alfonso Herrera, sua vida certamente estaria acabada.
E, de fato, seria game over.