─ Olha, papai! Dá pra ver a roda gigante daqui. Tá vendo, Mai? Como ela é grande! E bonita, eu quero logo ir nela, Mai. Você vai também, né?
No dia seguinte, Serena, Maite e Alfonso estavam novamente juntos no carro, indo em direção ao parque. Esse era o segundo desejo de Maite que obviamente partira de Serena. Nem era preciso dizer que absolutamente todos da família de Alfonso estavam surpresos com o fato dele sair dois dias mais cedo do trabalho, simplesmente para sair com a filha e com Maite. Todos estavam desconfiados, com exceção a Anahí que realmente tinha fé que o irmão iria mudar o seu jeito agora que estava convivendo com Maite.
─ Vamos os três, princesinha. E você vai ver quando ficar bem escuro de verdade, como a roda gigante vai ficar ainda mais linda!
─ Que legal, Mai! ─ os olhos azuis da menina brilhavam. Alfonso apenas ouvia a conversa das duas, observando-as de relance em determinados momentos da conversa, porém ainda assim concentrado em responder todos seus e-mails no celular. Um deles era do seu investigador, que ele tratou de ler rapidamente antes deles chegarem ao destino que era o grande parque aberto por tempo determinado em Manhattan.
De: Sebastian.
Para: Alfonso Herrera, CEO.
Assunto: Maite
Herrera, você sabe que eu sou o melhor no que faço e que não há nada que eu não consegui descobrir até hoje pra você e sua família, mas essa mulher... realmente está difícil. Você me disse que ela não era daqui e acredite quando eu digo que já procurei todos os sinais dela pelos Estados Unidos todo e eu não a encontrei. Nada! As fotos dela não são detectadas em nenhum lugar, é absurdamente estranho. Como se ela sumisse do seu lugar de origem e aparecesse misteriosamente ao lado da lanchonete no Harlem. Já estou levando a busca para fora das nossas fronteiras, mas nem preciso dizer que irá demorar mais do que já demorou para investigar por todo o país, certo? E pode parecer ridículo o que eu vou te dizer, mas é uma opinião que foi citada por absolutamente todos os investigadores de confiança que eu conheço e é algo que pra mim parece ser a única solução sensata para esse mistério chamado Maite... Temos uma teoria de que ela pagou um dos nossos, um dos grandes, para ocultar absolutamente tudo que a envolve antes de simplesmente aparecer aqui em Nova Iorque. Uma queima de arquivo completa, que de fato envolveria muito dinheiro e eu se que ela hoje é uma mendiga... mas será que sempre foi? Cuidado com essa mulher. Se ela tá sendo capaz de ocultar o seu passado para os melhores investigadores do país, ela é capaz de qualquer outra coisa.
Abraços, Sebastian.
Alfonso suspirou lendo o e-mail e bloqueando a tela do celular em seguida, olhando com fúria para Maite, tentando com todas suas forças ler algo sobre ela nas entrelinhas, mas não tinha nada... ela era uma incógnita. Parecia um anjo naquele momento, com Serena no colo, sorrindo e apontando para lugares de fora do carro, mostrando a menina algo que ele sequer ouvia o que era, de tão hipnotizado que estava... Não confiava naquela mulher, mas ele era sincero ao dizer que já fazia um certo tempo, que ele procurava de todos os jeitos, mas não achava nenhum perigo na mesma... aquilo o deixaria louco. E foi quando eles chegaram ao parque e rapidamente desceram do carro. Maite e Serena esperaram de mãos dadas Alfonso falar algo com o motorista e dar a volta no carro, indo em direção a ela e parando ao lado das mesmas. Naquele dia, diferente do dia anterior, os três estavam acompanhados de dois seguranças.
─ Adiantem vocês duas, talvez eu tenha que voltar para a empresa ainda hoje. ─ ele comunicou.
─ Onde você vai querer ir primeiro, princesa? ─ Maite indagou a Serena.
─ Eu quero ir em todos! Mas o primeiro de todos tem que ser o Carrossel, Mai. Eu amo cavalinhos e olha como aquele branquinho é lindo! E tem o unicórnio também, vamos lá. ─ Maite olhou para Alfonso, que chamou um dos seguranças e pediu que comprasse todas as fichas que Serena quisesse.
─ Serena, escolha de uma só vez todos os brinquedos que quer ir e diga a ele que o mesmo irá comprar as fichas pra você, certo? ─ Alfonso indagou e ela assentiu ansiosa, dando a mão ao segurança, que permaneceu sério, mas segurou a mão da menina.
─ Vamos, tio. Vamos, Mai! ─ ela chamou e Maite assentiu sorrindo, porém seu sorriso se fechou quando ela virou a cabeça para o lado e viu uma cena que estranhamente acelerou seu coração. A dor que ela sentiu foi tão grande, que ela chegou a paralisar, porém havia uma menina loirinha que a chamava muito animada bem na sua frente. Alfonso notou a mudança na expressão de Maite e seguiu o olhar dela, decidindo analisar quais seriam todas as suas próximas ações a partir dali. Tinha que observar mais Maite e só então descobrir cada vez mais sobre ela.
─ Vai na frente com o tio, que logo eu vou, meu amor. Tenho que... conversar algo com seu pai. ─ mentiu, engolindo a seco e a menina assentiu, saindo de mãos dadas com o segurança. Quando Maite olhou para Alfonso, ele tinha uma sobrancelha erguida na direção dela e então cruzou os braços, esperando. Sem dar a mínima para aquilo, ela voltou os olhos para a cena que a chamou atenção, sem sequer lembrar que Alfonso estava na sua frente.
Era um carrinho duplo de bebês, de costas para eles. De repente ela viu uma mulher bonita, loira e muito bem arrumada, virar o carrinho na direção deles e sorrir para alguém, que andava na direção dela... era um homem alto, também loiro se aproximar dela, com o mesmo sorriso. Eram aparentemente um casal perfeito, sorridente, e quando eles ficaram lado a lado, Alfonso viu Maite ficar tensa. Porém quando voltou a olhar para ela, viu que ela não olhava o casal e sim os bebês dentro do carrinho. Ele franziu o cenho e assim que o casal olhou para frente, e consequentemente com os olhares prestes a cruzarem com o de Maite, a mesma agarrou a mão de Alfonso e o puxou para a frente dela, abraçando-o e fingindo que ia beijá-lo. Ele, rapidamente fez menção de se afastar, mas ela apertou os braços em volta do seu pescoço e ele sentiu que a mesma estava gelada.
─ Por favor, só dessa vez... ─ implorou com os olhos cheios de lágrimas olhando bem no fundo dos olhos dele que engoliu a seco e colocou as duas mãos na cintura dela, segurando-a e atuando da mesma forma que ele.
─ Você vai me explicar direitinho o porquê dessa palhaçada...
─ Eu não posso prometer nada. ─ ela rebateu prontamente, respirando fundo e encostando a testa dela na dele, ainda na ponta dos pés, tentando estabilizar a respiração que chegara a ficar ofegante pelo susto e pelo nervoso que ela estava sentindo.
─ Eu só estou fazendo isso pelo Christian... ─ ele esbravejou baixo e ela assentiu fechando os olhos.
─ Eu sei, eu sei... obrigada... ─ respondeu sussurrando e o cenho dele ainda estava franzido. Ele já vira Maite de algumas formas, mas aquele desespero, aquela tristeza, aquele medo... sim, tinha medo. E era a primeira vez que ele via o medo nela.
Ela fraquejou nos braços dele quando ouviu a voz do mesmo homem que antes eles observavam, passando ao seu lado, e ele foi obrigado a segurá-la com mais força, ou com certeza ela cairia ali. Então ele virou a cabeça para o lado, por pura curiosidade, mirando os bebês no carrinho e em seguida o casal passar do lado deles, enquanto segurou a cabeça de Maite com uma das mãos, colocando a mesma sobre seu ombro, já que ela estava tão mole, que ele tinha que controlar todas as suas ações. Ele engoliu a seco quando viu os bebês passando ao lado dele quase que em câmera lenta e o mais estranho foi que um deles, o olhou. E o coração de Alfonso acelerou com a ação. Era tudo muito estranho, ninguém saberia explicar, mas havia uma intensidade tamanha no ar, que ele por um momento esqueceu que a odiava e ela esqueceu que estava apoiada sobre o peito de um dos seus maiores inimigos. Os segundos passaram, e em seguida os minutos... até que ele voltou a realidade e coçou a garganta.
─ Vamos continuar assim por quanto tempo mais? ─ indagou, e fisicamente melhor, ela se afastou dele e o olhou. Ela não sentiu, mas ele viu uma lágrima quase seca marcar seu rosto e engoliu a seco.
─ Sinto muito, sinto muito de verdade. E obrigada. Muito obrigada, Alfonso. Eu tô te devendo uma, esse dia de hoje pode ser o nosso último dia. É isso, eu pago pelo que fez agora, indo embora hoje. ─ ela rapidamente se explicava e ele sequer disse nada, ele não sabia o motivo, mas não tinha reação diante de Maite naquele momento.
─ Compramos, papai! Compramos, Mai, vamos! ─ a voz de Serena foi ouvida por eles e antes que Maite virasse o rosto na direção da menina que se aproximava deles correndo, Alfonso passou a mão no rosto dela, quase que delicadamente, a fim de limpar a lágrima que ali estava, para que Serena não visse e começasse um mar de perguntas. E aquela foi mais uma ação que ele não planejou, apenas aconteceu, antes dele virar para Serena e pegá-la no colo, já que ela havia se jogado na direção dele. ─ Finalmente a gente pode brincar! Primeiro a roda gigante, papai, não é, Mai?
E quando Serena olhou para Maite, viu que ela olhava intensamente para Alfonso... a menina não entendia o olhar, mas quando Alfonso olhou-a, notou que os olhos dela brilhava expressando surpresa e gratidão para ele, que virou o rosto, sério. Não sabia porque tudo estava tão estranho, mas não seria idiota de abaixar a guarda para Maite... ela ainda não era confiável. E jamais seria. Ponto final.
─ Sim, meu amor! Primeiro a roda-gigante. ─ respondeu rindo e tentando esquecer absolutamente tudo que ela havia passado em questão de minutos ali.
Mas enquanto ela tentava esquecer, Alfonso fazia questão de guardar cada segundo na melhor parte da sua memória. Era óbvio que Maite tinha alguma relação com aquelas pessoas, e ele descobriria qual era... finalmente iria descobrir algo sobre aquela mulher e consequentemente, arrancar a máscara que ela tinha. Porém pela primeira vez, desde que os olhares dos dois haviam se encontrado, que Alfonso se perguntava o que iria fazer se descobrisse que não houvesse máscara. Se ela fosse exatamente como demonstrava ser... mas aquilo era realmente impossível na concepção dele.
Apenas na concepção dele.