O fim de tarde fora melhor do que Serena esperava. Ela foi em diversos brinquedos e amara simplesmente todos! Fez questão de registrar várias fotos dos momentos em que ela, Maite e Alfonso passaram ali, no próprio celular do pai, que deixou depois de muita insistência da menina. O que ela mais amou foi a roda-gigante, e tinha uma gargalhada todas as vezes que eles paravam lá no alto e Maite ficava tensa. Gostou de ver que até Maite conseguia arrancar risadas até do seu pai, que ela raramente via rindo, com seu medo engraçado de alguns brinquedos dali. Eles comeram algodão doce, Alfonso ganhou um urso de pelúcia para Serena na brincadeira de tiro ao alvo que ele acertou todos e o prêmio que a menina escolhera fora um grande urso, com a intenção de dar a Maite, que agradeceu imensamente, finalmente se distraindo com eles ali. Foi um momento bom, que como qualquer outro, uma hora chega ao fim. E o deles chegou... foi tenso toda a volta pra casa, mas eles repetiram o trajeto até o quarto da menina, mas diferente da noite anterior, quando eles saíram do quarto, Alfonso e Maite se olharam, ele sério e ela sem jeito.
─ Vai preferir dizer a verdade sobre quem você é ou ir embora agora? ─ ele indagou indo direto ao ponto e ela suspirou, desviando o olhar e dando um sorriso fraco na direção dele em seguida.
─ Sua dívida ao Christian você pagou hoje. ─ disse a ele. ─ Eu vou embora, mas não se sinta culpado, ou fique amargurada porque acha que não honrou os desejos do seu irmão. O que fez por mim hoje, foi tudo que ele pediu pra você fazer na carta... E Alfonso, eu não posso dizer a verdade. Eu realmente... realmente não posso. ─ afirmou e ele estava irritado em notar a verdade nas palavras dela naquele momento. ─ Então eu vou embora agora e... você pode inventar qualquer coisa pra Serena, mas tente não fazer com que ela fique triste... espero que não fique, tivemos pouco contato no fim das contas, mas é isso. Obrigada por tudo, mesmo com as coisas ruins de sempre que envolve nós dois. ─ ela forçou o riso mais uma vez. ─ Cumpriu suas promessas, agora irei cumprir as minhas. ─ terminou de dizer e mirou as escadas. ─ Ah, o urso... ─ lembrou. ─ Ela me deu o urso, eu devo leva-lo ou... ─ ela olhou pra ele que permanecia impassível e engoliu a seco, respirando fundo e indo em direção a escada.
─ O urso foi um presente dela. ─ ele disse seco e ela, ainda de costas, sorriu. Indo em direção ao seu antigo quarto e pegando o urso que deixara em cima da cama. Quando saiu do quarto, ele não estava mais lá, então ela desceu as escadas com o urso nas mãos e o viu na sala. Foi em direção ao elevador e de costas para ele, ouviu a voz do mesmo. ─ Um dos meus motoristas te levará até aquela lanchonetizinha lá. Última coisa que faço pelo Christian, claro. ─ disse e ela assentiu, ainda sem olhá-lo e entrou no elevador.
Ela não ia olhar mais para ele, porém foi maior que ela. Maite virou com o urso de pelúcia na mão e quando encontrou os olhos de Alfonso viu que ele a olhava também. Nada precisou ser dito. Eles se odiavam e aquele era o fim da guerra. Ela não mais cruzaria o caminho dele e ele a deixaria em paz, afinal, nenhum tinha mais nenhuma pendência com o outro... e a vida seguia. Então as portas se fecharam.
E nenhum dos dois entendeu porque um imenso vazio veio logo em seguida. No fim das contas, Maite tinha achado uma companhia ali, mais de uma, na verdade. Maria, Serena, algumas empregadas dali que gostavam dela... e até Alfonso. Ele fazia com que sua vida fosse ainda mais impossível e ela riu de leve ao lembrar disso, mas Maite não conseguia vê-lo como um monstro total depois dos dias que passara ali... ele era apenas um homem perdido que precisava se encontrar no mundo para finalmente entender o que era realmente a felicidade. Já Alfonso, entrou em estado de fúria quando ela foi embora. E toda fúria era devido a ausência que veio depois disso. De repente ele se viu na sala, sozinho, e viu que não tinha mais com o que se preocupar, porque não havia mais nenhum “perigo” em baixo do seu teto, e então percebeu o quanto sua vida parecia extremamente... monótona, sem alguém para ele vigiar ali. Era estranho, mas desde que Maite entrara na sua vida, ela ficara mais interessante. Quando ele não estava ali dentro, vendo ela fugir dele a todo custo, ou discutindo com a mesma, ele estava na empresa ou até mesmo no escritório da sua casa acompanhando todos os passos que ela dava pelas câmeras que era um total segredo para todos ali no apartamento. Agora não tinha mais passos para acompanhar, nem ninguém para discutir e aquilo era ótimo! Ou ao menos devia ser. Mas ignorando totalmente aquele turbo de sentimentos que ele sentia naquele momento, ele tratou de ir para o seu quarto, pensando no que diria a Serena no dia seguinte. Pra completar, a miserável lhe dera mais um problema antes de ir embora, depois de conquistar o coração da menina.
Quando Maite chegou no beco que ela conhecia bem, percebeu que nada mais seria como antes... e assim que se viu sozinha ali, parada, de frente para o beco escuro, sentiu um vazio tão imenso que seu coração apertou. Na sua mente vinham imagens de Serena sorrindo, lhe chamando para brincar, para apresentar a casa pra ela, Maria dando umas escapadinhas e conversando com ela quando não podia... Anahí lhe dando todo o apoio que ela precisou... As meninas que ela conhecera naquela noite. O pequeno Nathaniel... A doce Blair, que ela sequer teve muito contato. E por um milésimo de segundo ela se imaginou realmente tendo aquela vida para sempre. E estranhou desejar aquilo naquele momento... e foi aí que flashes na sua cabeça vieram dela e de Alfonso. Ambos brigando, ambos abraçados em uma atuação completa no parque, o beijo... eles rindo no parque, ele a olhando indignado no dia do patins... fora muita coisa em tão pouco tempo. Para se livrar daqueles pensamentos que não tinham sentido nenhum, ela negou com a cabeça e suspirou, indo em direção ao beco e sentando no lugar que ela sempre ficava, mas daquela vez, abraçada com o urso que Serena lhe dera. Havia acabado.
Do seu quarto, Alfonso já estava deitado na cama virado para enorme parede de vidro do seu quarto que lhe mostrava uma Nova Iorque ainda acesa, porém com a maioria da população adormecida, onde a chuva começava a cair e automaticamente, seus pensamentos vagavam em Maite.
─ Por que diabos está pensando nessa imunda agora? Enlouqueceu? ─ se perguntou irritado, virando de costas para a parede e pegando seu remédio e sua água sobre o criado mudo do seu quarto e o tomando-o rapidamente, antes de deitar e lutar contra seus próprios pensamentos até pegar no sono.
─ Só pode ser brincadeira que chove bem no dia que eu volto pra rua... ─ Maite comentou enquanto ia para a parte pequena do beco que era coberta por uma telha pequena, já que o mesmo ficava entre uma lanchonete e uma casa que tinha uma cobertura na saída lateral, para sua sorte. Ela não conseguiu dormir de fato naquela noite, já que só podia ficar sentada abraçada ao urso pra não se molhar, entretanto conseguiu cochilar, isto é, até ser acordada por um homem que a olhava de forma assustadora, que a fez pular quando ela abriu os olhos.
O dia já estava esclarecendo, a chuva havia cessado. Eram quatro da manhã e ainda não havia um movimento ativo no Harlem. Maite pulou quando sentiu a mão do homem tocar seu ombro, e ficou rapidamente em frente a ele, com o urso na sua frente, em forma de proteção.
─ O que quer comigo? ─ indagou vendo que o homem a sua frente era mais velho e também mendigo, mas claramente em uma situação bem pior que a dela. E o pior de tudo era que ele fedia a puro álcool e claramente estava drogado.
─ Ora, você tá no meu lugar, queridinha. ─ ele respondeu com a fala embolada. ─ Cheguei aqui e não tinha ninguém, a área agora é minha! E já que você tá aqui... você é minha agora também. ─ Maite engoliu a seco.
─ Se a área agora é sua, tudo bem, vou sair daqui agora. ─ disse tentando se esquivar do mesmo, mas quando ia passar por ele, o mesmo pegou seu braço com força.
─ Você fica aqui. ─ ele a empurrou na parede e o urso da mesma caiu no chão. ─ O que um pitelzinho desse veio fazer no meu beco... bonita, gostosinha, e sozinha... ─ ele riu, tentando passar a mão na intimidade de Maite, que segurava o braço dele com força, lutando para tentar empurrá-lo.
─ Me solta, seu doente! Eu não quero nada com você. ─ ela falou e levantou o joelho, acertando a intimidade dele e finalmente conseguindo se desvencilhar do mesmo que caiu, bêbado, gemendo de dor. Ela voltou para pegar o urso do chão, porém quando abaixou a mão em direção o urso, ele agarrou a mesma e ela foi obrigada a soltar com força e correr, assustada, deixando o urso pra trás.
Sua surpresa foi quando ela olhou pra trás e o viu correr na sua direção, em uma luta incansável atrás dela. O pânico percorreu suas veias, e ela só conseguiu correr, sentindo seu coração acelerar a cada passo. Porém um barulho estrondoso depois dela atravessar a rua, fez com que a mesma parasse subitamente e olhasse pra trás. Vendo o mendigo que lhe perseguia estirado no chão e o carro que havia batido nele sair dali sem sequer pensar em parar e lhe dar assistência. Seu dia já começara ótimo, por sinal.