─ EU NÃO ACREDITO NISSO! ─ o grito que Alfonso deu na sala, fez Paul e Christopher quase pularem das cadeiras que estavam, em frente ao irmão.
No carro, na tarde anterior, enquanto ele lia e respondia alguns e-mails a caminho do parque, Alfonso havia pedido para o tabelião lhe enviar as clausulas do testamento do seu irmão para lá, já que ele tinha que resolver logo esse problema e não teria tempo tão cedo para resolver aquilo pessoalmente. Entretanto, quando ele leu todas as clausulas do tal “testamento especial” para ele e Maite, seu corpo ferveu em fúria.
─ O que foi, Alfonso? O que tem de tão grave nesse testamento? Por Deus! ─ Paul indagou.
─ Casamento, Wesley. ─ respondeu usando o segundo nome do seu irmão que arregalou os olhos. ─ Ou eu me caso com aquela imunda, ou as ações do Christian e as que compartilhávamos juntos, que verdade seja dita, são praticamente todas, vai para ninguém mais, ninguém menos que Ian.
─ Ian? Ian Herrera? O nosso primo? Ele não fez isso... ─ Christopher falou boquiaberto. ─ Espere, ele pode fazer isso?
─ Pode. Infelizmente ele pode! Alfonso tem poder sobre seus 50% e com ele pode fazer o que quiser, porém se ele não cumprir o que Christian quer, Ian terá que estar a par de tudo que Alfonso fizer até com essa empresa aqui. Um dependerá do outro pra tudo e claro que isso terminará em morte. ─ Paul concluiu.
─ Christian estava louco, não é possível. ─ Alfonso falava, possesso, passando a mão entre os cabelos, e com a outra batendo os dedos na mesa, nervoso. ─ Se eu não fizer o que ele quer, meus negócios irão declinar facilmente com Ian no comando. Ele é um incompetente!
─ Mas você sabe que fazer o que ele quer é loucura, né? Qual é, casamento? E por contrato? Isso só existe nos filmes.
─ A questão é que ele terá que se casar. ─ Paul rebateu na hora. ─ Alfonso, você a odeia, ok. Ela te odeia, ok. Mas entregar nossos bens nas mãos de Ian é pedir para falirmos com força! Ele não liga pra nada, além dele mesmo.
─ Mas de qualquer forma, se ele se casar com Maite, ela irá se tornar dona das ações assim como ele! E de qualquer forma os dois terão que dividir tudo, ela terá que concordar com todas as ações dele e vice-versa.
─ Mas entre uma pessoa que entende sobre negócios e quer ferrar nossos negócios porque é um imbecil e outra que provavelmente não entende nada de negócios e ao meu ver, não vai querer se envolver em uma briga com Alfonso por dinheiro ou ações e tudo mais, qual você escolheria, Christopher? Pelo bem da empresa, da família, da paz mundial, a Maite é nossa melhor escolha! ─ ele falou dramaticamente e Christopher riu.
─ Você tá ferrado, Alfonso! Tá ferrado demais, cara. ─ constatou.
─ Você irá se casar com Maite. ─ Paul afirmou e Alfonso praguejou no mesmo momento, revoltado.
─ E veja pelo lado bom, querido irmão, acabo de receber imagens românticas de vocês dois, que não tomaram cuidado nas saídas de amor e acabaram sendo fotografados pelos nossos queridos paparazzi. ─ Christopher comentou com o celular em mãos, recebendo arquivos das fotos de Maite e Alfonso abraçados no parque que estavam divulgados em jornais e revistas da cidade.
─ Mas que raios... ─ ele tomou o celular de Christopher e ao ver a notícia, os irmãos viram ele ficar vermelho de raiva. ─ Mandem eles tirarem essa porcaria da mídia agora! ─ ordenou e Paul, se levantou, tomando o celular da mão dele e lendo o conteúdo.
─ Não. ─ rebateu e viu Alfonso o mirar ameaçadoramente. ─ Ela já tá na mídia e ao seu lado, ótimo. Ponto pra gente! Agora vocês só têm que manter a atuação e fazer o que Christian quis que fizessem...
─ Por três anos. ─ ele interrompeu a fala do irmão com raiva. ─ Uma das cláusulas é que temos que ficar casados por três anos, Paul. E só mexeremos nas ações e receberemos o dinheiro quando o casamento for oficializado.
─ Se houver um divórcio antes...
─ Só pode haver divórcio depois de um ano e quem desistir primeiro perde tudo. Se eu desistir, tudo passa pra Ian e ela. Se ela desistir, tudo fica comigo, apenas.
─ Uma vantagem pra você. ─ Christopher ponderou.
─ Não entendo a lógica do Christian... nada dos últimos acontecimentos parecem ter uma conexão lógica pra ser sincero, mas eu tenho a minha própria. ─ ele pareceu pensar por alguns segundos e em seguida mirou os irmãos, rindo de uma forma que era realmente assustadora. ─ Me casarei com ela e farei a mesma desistir na primeira semana de casamento, podem apostar. É uma pena que terei de aturá-la por um ano, mas não irei facilitar para a mesma. ─ disse ameaçadoramente e Paul negou, indignado, enquanto Christopher ria de lado, porém no fundo sentia dó de Maite.
─ Alfonso, tenha limites.
─ Pobre menina... não tem nem ideia de onde está metida. Mas a propósito... ela tá no nosso apartamento, não é?
Foi então que Alfonso lembrou. Não, ela não estava no apartamento, mas seu rosto estavam em todas as bancas de jornais e revistas de Nova Iorque naquele momento e se alguém lhe encontrasse e lhe fotografasse nas ruas, como uma mendiga... o plano iria por água abaixo.
─ Oh merda! Merda, merda, merda! ─ ele falou dando a volta na mesa e andando diretamente até a saída da sala, enquanto pegava o celular e ligava para alguém. ─ Encontre Maite agora e me diga onde ela está, te dou cinco minutos pra isso, é urgente.
─ Alfonso, onde diabos você vai? ─ Paul perguntou alto o suficiente para o mesmo ouvir e responder antes de sair disparado dali até a garagem.
─ Buscar minha querida noiva, Paul! ─ lógico que foi dito em um tom de ironia, que fez com que os dois irmãos Herrera que ficaram na sala se encarassem e negassem com a cabeça... aquilo certamente não terminaria bem.
Assim que saiu da empresa, indo em direção ao Harlem, Alfonso ficou ainda mais estressado, pois segundo ele todos os seus funcionários resolveram ficar incompetentes e não conseguiam realizar mais nenhum mandato do mesmo de maneira eficiente. Ninguém havia ainda conseguido localizar Maite, logo, ele teve que ir ao lugar óbvio... o beco ao lado da lanchonete que ela sempre ficava. Porém quando chegou lá, encontrou apenas o urso que Serena havia dado a mesma jogada no chão e franziu o cenho, sentindo seu coração acelerar, sem nenhuma razão lógica para aquilo. Quando ele pegou o urso do chão, analisando toda a cena, seu celular tocou e ele prontamente atendeu.
─ Em um hospital público pertinho daí, em cinco minutos de carro você chega lá. Hospital Santa Maria.
Então ele desligou e foi rapidamente em direção ao carro. Jogou o urso no banco de trás e partiu em direção ao hospital com rapidez. Alfonso não percebia, e tinha certeza que toda aquela pressa e até certa preocupação era pela memória de Christian, já que ele fizera uma promessa, mas na realidade... havia uma sementinha, ainda muito pequena, sendo plantada ali em seu coração que aparentava ser de gelo. E aquela semente simbolizava que algum sentimento, por mais estranho que fosse, estava começando a surgir por Maite... gratidão, talvez, pois de qualquer forma ela salvara Christian segundo o mesmo. Mas também não era só isso...
Quando Alfonso chegou no hospital, praguejou aos infernos quando percebeu que ia ter que entrar naquele lugar cheio de pessoas pobres que ainda por cima estavam doentes, mas a medida que ele andava na direção da entrada do mesmo, que estava lotado, ele viu uma morena de costas para ele. Os cabelos longos e ondulados presos em um rabo de cavalo, e ela estava vestida com uma calça jeans e uma blusa rosa de manga curta. Era Maite. Com certeza era, e estava intacta. Então ele foi até ela e segurou seu braço, virando-a para si bruscamente e fazendo a mesma se assustar.
─ Meu Deus! Você é louco? Meu Deus, nunca mais faça isso! ─ ela falou com a mão no coração, se afastando dele, que a olhava da cabeça os pés tendo a certeza de que ela realmente não estava nem um pouco ferida, entretanto estava pálida.
─ O que aconteceu com você pra estar aqui? ─ indagou. ─ E é esse o valor que você dá ao presente que Serena lhe deu? Deixando-o naquela rua imunda? Quanto mais o tempo passa, mas eu fico com nojo de...
Ela o calou, pegando na mão dele e o arrastando para fora dali, indo em direção ao carro que ela sabia que era dele. Então começou a falar, irritada. ─ Escute, o nosso trato ontem foi bem simples, eu não me meteria mais no seu caminho e eu não fiz isso... muito pelo contrário, você veio atrás de mim. ─ ela apontou um dedo na direção dele. ─ O urso estava no chão, porque eu tive que fugir de um homem nojento que tentou me agarrar hoje pela madrugada! Acredite, eu tentei voltar para pegá-lo, mas realmente não deu. E não que eu te deva explicações, mas eu estou aqui porque esse mesmo homem que tentou me agarrar, me perseguiu pelas ruas do Harlem e foi atropelado! Olha só a minha vida como é ótima! ─ ironizou, exausta, e não conseguia mais esconder sua expressão triste e cansada dele. ─ E diferente de certos seres humanos que a gente tem que chamar assim pra não perder a educação, eu dou assistência as pessoas que vejo que precisam dela, principalmente em caso de atropelamentos, viu? ─ ela falou debochada e ele parecia tentar absorver tudo que ela lhe dissera.
─ Você é burra e idiota ou se faz? ─ a pergunta foi feita de maneira tão grossa, que ela arqueou as sobrancelhas, pela surpresa. ─ O cara ia te atacar e você voltou pra ajudar ele? Pra trazê-lo ao hospital? Qual o seu problema? E qual era o plano depois que ele saísse dali? Ser estuprada e morta por ele? ─ ele riu debochado cruzando os braços e viu quando ela corou, abaixando a cabeça. Tinha que confessar que a cena foi fofa, mas lógico que jamais o faria.
─ Eu... eu não... eu só... eu não ia deixar ele me ver, tá legal? Só queria checar se estava tudo bem, porque sei lá... ele se machucou indo atrás de mim e...
─ Indo atrás de você pra fazer coisas ruins, não entende? Você é pior que minha filha que só tem cinco anos! ─ ele falava como se ela realmente fosse uma criança, e envergonhada, ela desviou o olhar, coçando a nuca com uma mão, que era o que ela geralmente fazia quando estava nervosa e ele quase riu. Porém aderiu a postura impassível de sempre e liberou as portas do carro que eles estavam em frente, abrindo a porta pra ela em seguida. ─ Entre. Temos uns assuntos a tratar.
─ Ah, mas eu não entro aí nem que você me pague, Herrera, da última vez que eu... ─ revirando os olhos, ele a puxou pelo braço e a segurando pela cintura, a empurrou para dentro do mesmo, colocando até o cinto na mesma e batendo a porta, enquanto ela batia na janela, indignada com o mesmo.
─ Já disse que você fala demais? ─ ele indagou colocando a primeira marcha no carro e dando partida, ignorando todo o falatório de Maite que o xingava dos piores nomes. Isso até olhar pra trás e ver o urso no banco, com uma parte suja já que ele ficara no chão que estava molhado da chuva pela manhã.
─ Você pegou ele de volta? ─ indagou já rindo e Alfonso negou com a cabeça.
─ Depois me chamam de bipolar. Como você consegue mudar de uma imunda burra a uma criança deslumbrada com a vida assim tão fácil, hein? ─ indagou e ela apertou os olhos na direção dele, cruzando os braços e virando a cara. Ele riu, mas certamente não deixou ela ver.
─ Imunda burra... Ah, Alfonso, se você soubesse meu sonho de te dar um murro... ─ falava baixinho, mas ele ouvia tudo.
─ E então esse seria o seu fim, querida. ─ alfinetou, parando em um sinal vermelho e pegando o celular, recebendo informações valiosas que havia pedido para um dos seus investigadores lhe mandar e ela viu quando um sorriso um tanto cruel escapou dos lábios do mesmo, sentindo seu corpo arrepiar no exato momento em que vira aquilo. Algo de ruim iria sair dali... ela sentia aquilo.