Alfonso não é um homem que nasceu apenas para jogar limpo. E já devíamos ter aprendido isso... quando Maite entrou na empresa dele e o seguiu até a sua sala, soube que algo de ruim iria sair dali. Os dois estavam sozinhos ali, e ele, de trás da mesa, a olhava ameaçadoramente. Ela tinha os braços cruzados, olhando pra ele com uma sobrancelha erguida, mas por dentro estava tremendo na base. Foi quando viu ele pegar um envelope e jogar para o lado dela na mesa.
─ Pegue-o e leia-o. ─ ordenou e ela revirou os olhos, se inclinando para pegar o envelope.
Vendo que se tratava do testamento de Christian, ela se sentou na cadeira, sentindo-se fraca quando ao assunto era ele. Então Alfonso viu que ela desceu o olhar rapidamente para o que interessava e a medida que ela lia, seus olhos se arregalavam.
─ Ele deixou pra nós dois? Isso... isso tudo, pra nós dois? ─ indagou, sem ainda ter chegado nas condições para que aquilo acontecesse. Mas antes de chegar lá, ela jogou os papéis na mesa. ─ Eu não quero! ─ apressou-se em dizer. ─ Eu amo o Christian e sempre vou amá-lo e ser grata a ele, mas não quero o dinheiro dele, nem parte de empresa alguma, pelo amor de Deus... isso é um absurdo.
Alfonso analisava as palavras dela com cuidado e mesmo soando bem convincente, ele não acreditava em nenhuma palavra que saía de sua boca. O ódio realmente o cegava.
─ Não ache que eu vou acreditar nesse seu teatro. Com certeza você sabia que se algo acontecesse com ele, ele lhe deixaria isso tudo.
─ Como você pode ser tão imbecil? ─ ela o interrompeu, se levantando e ficando cara a cara com ele.
─ Cale a boca e leia essa porcaria de papel até o final.
─ Eu não vou calar a boca e não vou ler nada até o final, porque eu já me recuso a ter qualquer coisa que esse papel me oferecer.
─ Você vai se casar comigo. ─ informou, usando aquela frase, pois certamente seria a única que lhe casaria.
Então ele viu ela ficar prontamente séria, depois fazer uma expressão de surpresa e depois rir, claramente nervosa e debochada.
─ Casar com você. ─ ela riu mais. ─ Eu? Ah, Alfonso, você realmente é louco.
Ele permaneceu sério. ─ A primeira cláusula do testamento é... ou a gente casa e ficamos casados por três anos, ou tudo o que era pra ser nosso, vai para a pessoa mais imbecil da minha família.
─ Você, claro. ─ ela falou com tanta espontaneidade que só o deixava mais revoltado.
─ Ian Herrera. Que irá jogar no lixo tudo o que seu amado Christian construiu. ─ ele ironizou a parte do “amado” e Maite engoliu a seco.
─ Eu não vou me casar com você, Alfonso. ─ e pegou novamente os papéis sobre a mesa, lendo todas as cláusulas, nervosa. ─ E se essa loucura acontecer, só podemos nos divorciar depois de um ano?
─ Sem benefícios pra quem desistir, claro. E você sabe que eu não vou. ─ afirmou e ela negou.
─ Sinto muito, Alfonso, dê seu jeito de conseguir reerguer seu império, ou lute por ele com esse tal de Ian, mas não vamos nos casar. Eu não ganho e nem quero ganhar nada me casando com você. ─ disse certa de tudo que queria e ele riu. O mesmo riso maldoso que ele deu no carro.
Então pegou o celular no bolso e depois de desbloquear a tela com sua digital, ele mexeu em algumas pastas até chegar onde queria e virou o celular pra ela.
─ Parecem com você, Maite.
─ Oh meu Deus... ─ os olhos dela marejaram no mesmo momento e ele viu a morena ficar branca.
─ Oh, calma, tem mais.
─ Por que tenta se esconder desses dois, afinal? Eles que vão me fazer ter acesso ao seu passado?
─ O-o... o que você quer com essas fotos, Alfonso?
─ Chantagear você, querida. Simples. ─ foi direto com sempre era e ela suspirou, seu corpo tremia pela imagem dos bebês.
─ Allan Turner e Jaqueline Santiago. Ela não pode ter filhos e misteriosamente apareceu com esses dois bebês. Você, segundo Anahí, teve dois filhos. No encontro que tivemos com eles no parque, você fez de tudo pra eles não te verem e quase passou mal de tanto desespero ao ver os bebês... Eles são seus filhos, Maite.
─ Cala a boca! ─ ela interrompeu e ele viu quando uma lágrima caiu dos seus olhos.
─ Os filhos que muito provavelmente você simplesmente entregou pra eles de tão covarde que é!
─ Não... Cala a boca, Alfonso. Você não sabe de nada... você...
─ SEI QUE MULHERES COMO VOCÊ FAZEM DE TUDO PRA TER DINHEIRO! PRA SE LIVRAR DE TUDO QUE POSSA ATRAPALHAR SEU CAMINHO! SÃO SEUS FILHOS, SUA IMUNDA, E VOCÊ SEQUER TEVE A DECÊNCIA DE LUTAR POR ELES! ─ ele gritou, possesso. A verdade era que aquelas palavras que ele dizia, Alfonso sentia na pele.
─ EU NÃO TIVE OPÇÃO! ─ ela gritou de volta, vermelha, as lágrimas agora caiam com frequência e aquela era a primeira vez que ela chorava em muito tempo.
─ Não teve opção... não teve opção. Não me faça rir! Uma mãe que ama verdadeiramente o seu filho faz de um tudo por ele!
─ Eu não... Eu não...
─ Você não o que? ─ ele forçou o riso. ─ Nem tem o que dizer... você é pior do que eu pensei. ─ ele falou e viu que ela ia rebater, porém a mesma parou e no momento seu rosto expressou um total pânico, ao perceber que a foto dos seus filhos estavam nas mãos de Alfonso.
─ Por-Por... Por que você está me mostrando essas fotos?
─ Ah, querida, que bom que perguntou. ─ ele riu maldoso. ─ Porque ou você se casa comigo ou eu faço uma chacina dentro da casa deles. ─ os olhos de Maite se arregalaram e seu corpo fraquejou, fazendo com que ela se segurasse na cadeira da sala dele para não cair. Olhando nos olhos de Alfonso, ela não conseguia enxerga-lo, via apenas a imagem de um monstro. ─ E acredite, não seria a primeira vez. ─ concluiu cruelmente e aquela expressão dura, de um verdadeiro mostro, foi a última imagem que Maite viu antes de cair no chão, desmaiada.
Desde o início, entretanto, o aviso foi dado: Alfonso Herrera não é o mocinho da história.