Uma semana havia se passado desde o incidente entre Maite e Alfonso na sala dele. Desde então, eles não tinham tido nenhum encontro direto, apesar dela estar hospedada na casa dele. A verdade é que ela não saía do quarto, e mais precisamente, mal saía da cama. Sua vida estava acabada. Alfonso, o homem que ela mais odiava no mundo naquele momento, estava lhe ameaçando com as coisinhas mais preciosas da sua vida, que por sinal ela já mantinha longe dela por segurança dos mesmos, e ela teria que ceder. Ou se casava com ele, ou morreria. E desistir da vida era uma coisa que ela sempre pensou em fazer, porém nunca realmente conseguiu. Maite não era a única que estava beirando uma depressão ali... Serena, nos últimos dias, estava minimamente estranha. A menina que costumava ser agitada, estava deprimida, não queria comer, quando comia, vomitava e não queria fazer nada além de dormir. Ela ficava apenas em seu quarto, já havia faltado a escola por três dias seguidos e durante aqueles dias, Alfonso não estava em Nova Iorque. Ele havia saído do país para resolver uns problemas no exterior e chegaria em casa naquela noite. Logo, já havia avisado a Maria que mandasse Maite estar esperando por ele na sala, pois eles teriam alguns assuntos para tratar. Sentindo-se impotente contra Alfonso naquela luta, assim que Maria pediu para que ela se arrumasse e em seguida descesse para encontrar seu patrão, Maite apenas levantou da cama, tomou um banho, vestiu um vestido simples, prendeu os cabelos em um coque e desceu. Havia algumas mudanças a serem reparadas na mesma ali... mesmo estando parada no quarto em todos aqueles dias, Maite se alimentava muito bem. Ela sabia que tinha que ser forte para aguentar aquela luta contra Alfonso em defesa dos seus filhos... e se fosse pra lutar, teria que lutar com todas as forças. Logo, era possível notar que a morena não se encontrava mais no estado de magreza de anteriormente e podia-se dizer que seu corpo estava bem mais definido. Ali, ela estava descansada, aparentemente forte e de cabeça erguida pra tudo que viesse pela frente, mas por dentro... estava só os pedacinhos.
─ Olá, querida. ─ a voz de Alfonso foi ouvida, e ela, que estava sentada no sofá, virou a cabeça na direção dele, séria. E estranhamente, viu que Alfonso estava com uma expressão realmente destruída. De cansaço, de dor e ela arriscaria dizer que bem era a última coisa que ele estava naquele momento. Mas nem assim ele perdia o tom irônico na fala. Quando Maite não respondeu, ele riu, e foi até o sofá, sentando ao lado dela – que prontamente se afastou – fazendo ele rir ainda mais e tirar um envelope da pasta, jogando na mesa de centro. ─ Assine. ─ disse em um tom autoritário, depois de jogar a caneta por cima do envelope, que rolou e caiu no chão. Maite, engolindo a seco, teve que se prestar ao papel de sair do sofá, pegar a caneta do chão e sentar ali mesmo, enquanto abria o envelope e via vários papeis com várias clausulas escritas.
─ O que é isso?
─ Nosso contrato de casamento. ─ ele disse e ela estremeceu só em ouvir aquilo. Então ela começou a ler por alto, e nem precisava dizer que a maioria que tinha ali era um absurdo... ele viu a cara dela se contorcer com cada linha e esperou ansiosamente ela rebater algo, mas para a surpresa do mesmo, ela não disse nada e sequer passou para as outras páginas para ler o que tinha escrito, apenas saiu assinando tudo, apenas com o primeiro nome. ─ Isso é um documento. Assine com seu nome completo.
─ Não. ─ respondeu séria.
─ Escute aqui, sua imunda... ─ ele puxou-a pelo braço, ainda sentado no sofá e com ela no chão. Quando ela virou a cabeça para olhá-lo, os rostos dos dois ficaram extremamente perto e Alfonso se calou. Era estranho... mesmo com tanto ódio ali, eles se sentiam atraídos. Era revoltante.
─ Pa-papai... ─ a voz fraca de Serena foi ouvida na sala e a maneira que a menina falou foi tão assustadora para Maite e Alfonso, que eles rapidamente levantaram de onde estavam e miraram a menina. Que estava encostada na parede da sala, com o corpo curvada e um braço ao redor do estômago, gemendo de dor. Seu corpo estava suado, ela estava pálida e claramente estava sentindo muita dor. Então seu corpo se curvou pra frente e a mesma vomitou... e em meio ao vômito, havia sangue, o que fez os dois mais velhos ali arregalarem os olhos. Alfonso e Maite correram até a menina rapidamente, desesperados.
─ MARIA! ─ Alfonso gritou rapidamente, pegando a filha no colo e em seguida ele mesmo se deu conta de que Maria não estava ali, assim que ele chegou, disse que ela estava liberada para ir pra casa, afinal, a mulher estava meio doente naqueles últimos dias. ─ Merda, ela não está aqui. ─ falou indo em direção ao elevador sendo seguido por Maite. ─ Pegue as chaves do carro e venha comigo. ─ ele disse enquanto chamava o elevador e antes dela ter tempo de perguntar onde as chaves estavam, avistou as mesmas em um dos cômodos decorativos dali e as pegou, entrando no elevador com eles em seguida.
─ Ei, meu amor, me diz o que você tá sentindo. ─ disse em frente a Alfonso, segurando a mãozinha gelada de Serena.
─ Dói a barriga, Mai. Dói muito... ─ murmurou com lágrimas caindo dos seus olhos.
─ Vai passar, tá bom? Eu prometo que vai passar, logo chegamos no hospital. ─ a menina assentiu e Maite mirou Alfonso, com uma expressão preocupada no rosto e ele não estava muito diferente que ela. A partir daquele momento, eles esqueceram totalmente que se odiavam e passaram a trabalhar juntos pelo bem de Serena. Assim que chegaram na garagem, Maite pegou a menina no colo, entrando no carro com ela e conversando com a mesma por todo o caminho até o hospital.
Chegando lá, eles tiveram que se separar de Serena e foi aí que o desespero se iniciou. Alfonso estava nervoso, nunca tivera chegado ao ponto de precisar levar Serena naquelas condições ao hospital. Ele andava de um lado para o outro e Maite fazia o mesmo, ambos andando lado a lado, sempre em direções opostas. Eles não haviam avisado a ninguém da família ainda, Alfonso sequer lembrara disso com tanta preocupação. Então eles pararam na mesma hora, sincronizados como sempre e se encararam.
─ Não vai adiantar ficarmos andando de um lado para o outro feito barata tonta. ─ ela falou e ele assentiu, desnorteado. Maite suspirou. ─ Sente aí, vou pegar um café, temos que guardar nossas energias pra noite que vem por aí. ─ ela disse a ele, que respirou fundo e se sentou, vendo-a sair da sala de espera apenas para a família Herrera, indo em busca do café.
As mãos de Alfonso estavam suadas, mesmo ele estando no gelo do hospital. Se tinha um lugar que Alfonso odiava, certamente era aquele. Lhe trazia tantas memórias ruins... seu coração doía, ele apertava os pulsos querendo extravasar tanta dor suprimida no peito e só conseguia pensar no pior... se Serena não voltasse, sua vida estaria acabada... e aquilo lhe levava a uns anos atrás...
~ flashback on ~
Os gritos de Belinda eram ouvidos por quem quer que estivesse ali no hospital. A cena era triste de se ver, desesperadora. A mulher grávida de oito meses era levada em uma maca, por entre os corredores do hospital, ensopada de sangue. Seu corpo estava repleto de ferimentos, haviam alguns pedaços de vidro cravados em sua pele. Ela sentia a dor do acidente que acabara de acontecer e além disso, a dor do parto, já que sua bolsa havia partido cerca de uma hora atrás.
─ Alfonso, Alfonso, por favor...
Ela falava em um choro forte e o mesmo se aproximou dela, as lágrimas molhando seu rosto sem dó, claramente o estado de Belinda era grave e ela e o bebê sobreviverem aquilo era quase impossível. O Alfonso a sua frente, também estava ferido, mas se recusava a ceder aos tratamentos médicos enquanto Belinda não estivesse bem, se tratando como deveria.
─ Escolha a nossa Serena... eu quero que ela viva no meu lugar.
─ Não. Belinda, não. Eu não vou perder você! Não vou perder nenhuma das duas. Seja forte, meu amor, por favor, resista.
─ Alfonso, eu não vou aguentar... Eu não... ─ ela tossiu e ele viu sangue sair da sua boca, o que aumentou ainda o choro de ambas.
─ Fique viva, por favor, por favor, fique viva... eu preciso de você, Belinda.
─ Senhor, me desculpe, mas só pode vir até aqui. Temos que leva-la imediatamente a sala de cirurgia.
─ Eu te amo, cuide de Serena... ─ ela falou e Alfonso sentiu no exato momento que eram as últimas palavras dela para ele.
─ Me perdoa... ─ ele falou e a viu entrar pela porta, que ele não poderia mais atravessar. ─BELINDA, ME PERDOA! ME PERDOA! POR FAVOR, ME PERDOA... ─ e caiu de joelhos no chão, rendendo-se a dor que sentia... o sangue escorria pelo seu corpo, haviam vidros nele também... mas nada se comparava a dor que ele sentia internamente. Sentia que havia perdido Belinda... e realmente perdera.
~ flashback off ~
─ Ei, Alfonso, aqui... ─ ele ouviu a voz de Maite e pulou com um susto, fechando a cara para ela que franziu o cenho. ─ Calma. Aqui seu café. ─ disse, entregando a ele e viu que o mesmo estava atordoado. Ele não disse nada, apenas bebeu o café em um silêncio que chegava a ser desesperador.
O tempo passou, as notícias vieram e não eram boas... a menina teve que ser submetida a uma cirurgia, pois estava em um caso raro de úlcera péptica bem na infância e foi ao saber disso que Maite se desesperou.
─ Cirurgia? ─ Alfonso virou para olhá-la, depois que os médicos encarregados pelo caso de Serena saíram da sala de espera que apenas eles dois estavam e viu que a mesma estava com uma expressão de puro pavor. ─ A-Alfonso, cirurgia... ela... ela tem mesmo que fazer uma cirurgia? ─ ele franziu o cenho vendo que ela tremia da cabeça aos pés.
─ Mas que raios você tem agora? Sim, ela tem que fazer uma cirurgia, não ouviu? ─ indagou grosseiro e viu Maite desviar o olhar do dele, negando com a cabeça e abraçando o próprio corpo em seguida, como se estivesse com medo de algo. Depois viu ela dar passos pra trás, procurando algum lugar para sentar já que realmente parecia estar tonta e então viu quando o corpo dela cedeu pra frente e praguejando, foi até ela rapidamente segurando-a. ─ Escuta, qual o seu problema? ─ indagou com raiva, ainda mantendo-a sobre seu enlaço, com o braço em volta da cintura da mesma, que ainda sentia a cabeça rodar, mas quando se recuperou aos poucos, ergueu a cabeça para olhá-lo e os dois ficaram cara a cara.
Era inevitável eles ficarem naquela posição mais uma vez e os olhos não descerem aos lábios... mais uma vez.