Como se não bastasse cuidar de todos seus ferimentos, Maite o ajudou a ir até o elevador e os dois subiram para o segundo andar da casa, de escada certamente Alfonso não aguentaria... então ela o guiou até seu quarto e quando ele foi em direção a cama, ela o parou, obrigando-o a ir até o banheiro. A mesma fez Alfonso lavar as mãos de sangue e ela própria esfregou o sangue nas mãos deles, cuidando para que ele saísse perfeitamente. Ele estava tão fraco que nem tirar o sangue direito estava conseguindo. Mas Maite deixou as mãos dele limpas e ele não conseguia tirar os olhos dos dela, que dava toda a atenção a ele. Quando terminou o serviço, Maite enxugou as mãos dele, vendo que havia sim um corte ali, mas depois ela trataria disso, então levou as mãos grandes dele até o rosto e as cheirou. Ele arqueou as sobrancelhas, como pode.
─ Não cheiram mais a sangue. ─ Afirmou, sorrindo de leve, satisfeita. Inacreditável. Maite era simplesmente inacreditável. ─ Banho vai ser demais para você hoje, ─ ela fez uma caretinha e ele assentiu prontamente. Maite viu Serena naquela ação de Alfonso e sorriu. Tal pai... ─ Mas é bom tirar pelo menos a calça. ─ Ela disse.
─ Já quer se aproveitar de mim, Maite? ─ Ele indagou enquanto levava as mãos até a calça, tirando-a e ela corou, negando com a cabeça e revirando os olhos para ele, que riu de leve sem que ela visse.
Depois daquilo, ela o ajudou a ir para a cama e quando ele deitou foi um verdadeiro alívio para o mesmo. Maite se encarregou de ligar o ar para ele e passou mais um olhar no mesmo antes de sair dali. Ele pensou que ela já tinha ido para ficar... e só conseguiu ficar mirando o teto pensando a respeito dela, tudo estava muito estranho, mas a resistência dele em acreditar na bondade dela era imensa. Não seria tão simples assim convencê-lo.
Alfonso já estava dormindo quando Maite voltou ao quarto. Ela tinha uma bandeja nas mãos e nela continua um copo d’água, outro com um suco de abacaxi e uma cartela de dorflex. Além disso, ela colocou no cantinho da mesma alguns objetos a mais para ajudar nos machucados de Alfonso. No processo de ir lá em baixo e de pegar o kit de primeiros socorros novamente ela achou uma pomadinha cicatrizante que levara para o andar de cima, com alguns cotonetes, passando suavemente na mão, testa e bochecha dele.
Tinha ciência que Alfonso tinha que acordar para tomar o remédio e tomar aquele suco que funcionava também como um bom cicatrizante, mas se ele não havia acordado nem com ela passando a pomada nos ferimentos, era porque estava realmente exausto. Então ela saiu dali mais uma vez e foi até o quarto de Serena, pegando um dos seus bloquinhos de post it e uma caneta. Atenciosamente ela escreveu alguns deles e deixou ali especialmente para que Alfonso lesse no dia que viria a seguir. Só então ela conseguiu ir para o quarto, tomar um banho e dormir, cansada.
Quando Alfonso acordou no dia seguinte seu corpo todo doía, assim como sua cabeça. Ele virou a cabeça para ver o horário e quando viu “10:00AM” se levantou rapidamente da cama, xingando ao sentir todo o seu corpo latejar de dor... era impossível ir para o trabalho naquele dia e tinha que avisar isso aos seus irmãos, mas sequer sabia onde seu celular estava. E foi quando virou a cabeça para procura-lo que viu a bandeja que Maite havia deixado ali na noite anterior. Ele franziu o cenho e sentou com as pernas para fora da cama, de frente para a bandeja. Viu que havia alguns post it presos ali e foi pegando um por um. Primeiro pegou copo de água, lendo “Tome com o remédio”. Ele estava em choque, em choque e com dor... então cumpriu bem aquela primeira ordem. Depois pegou o copo de suco, “é de abacaxi, um bom cicatrizante, beba-o”, ele bebeu. Então ele pegou alguns que estavam grudados juntos e começou a ler.
“Não se atreva a sair dessa cama quando acordar.”
“Primeiro porque eu vou aí te xingar ainda amanhã, depois porque você vai querer trabalhar, mas será impossível.”
“Já vim aqui hoje pela manhã e você ainda está dormindo, bom garoto.”
“Bom dia, papai. Por que tá todo ferido? Mai não queria me deixar vir, acho que era pra eu não te ver assim, mas eu não ligo. Senti saudade, obrigada por lembrar de mim todos esses dias. Beijo.”
“Ah, eu sei que não devia, mas li os post it da Mai. Por que ela vai te xingar? O que é xingar mesmo?”
“Certo... A Serena veio aqui... estou descobrindo isso agora. Quando você a ver confirme a história que me ligou e perguntou por ela todos os dias que esteve fora, por Deus!”
“Quando acordar ligue para o número com o dígito que leve a biblioteca.”
Alfonso realmente quase riu daqueles recados para ele. Ele estava sem reação, então só fez se inclinar – sentindo dor no processo – para pegar o telefone e discar para o que estava ligado a biblioteca da casa. Ninguém atendeu, porém em três minutos Maite estava ali, com o celular dele na mão. Ele apertou os olhos para ela, sentindo o olho esquerdo doer com o processo.
─ Você está horrível. ─ Ela disse e ele a fuzilou com o olho bom.
─ Bom dia para você também, que palhaçada toda foi essa? ─ Indagou encostando as costas na cama e apontando para a bandeja e os post its ali.
─ Palhaçada que te ajudou, filho da puta ingrato.
─ Estou pensando seriamente em te dar uma bela surra quando melhorar... você está se aproveitando muito da situação, ficando rebelde... ─ Disse debochado e viu quando ela estremeceu com “uma bela surra”, negando com a cabeça como se quisesse esquecer aquilo.
─ Vim aqui te dizer algumas coisas... a primeira: peguei seu celular, desbloqueei ele com sua digital, atendi algumas pessoas, mandei mensagens para outras e é... acho que é só. ─ Ele ia falar algo, certamente quase a engolindo com a fala, mas ela foi mais rápida. ─ A segunda: você tem uma filha de seis anos que só tem você e logo precisa exclusivamente de você, Alfonso. Sabe o quão grandiosa é a falta de consideração por ela no ato de sumir por quatro malditos dias sem sequer mandar uma satisfação? A menina estava tão triste que eu nem sabia mais o que fazer... ─ Ela disse respirando fundo, cansada, e além de tudo naquele momento estava com uma cólica que estava começando, mas já deixando-a ainda mais nervosa. ─ Terceiro: eu preciso, realmente, trabalhar. Ou vou enlouquecer aqui dentro, presa nesse tríplex olhando para as paredes. ─ Concluiu e então deu dois passos na direção dele, jogando o celular em cima da cama, de perto o suficiente para que ele não corresse o risco de cair no chão e deu as costas a ele, virando para sair dali, agoniada.
─ Com que direito você acha que pode mexer no meu celular? ─ Ele indagou e ela virou-se para ele indignada.
─ De tudo que eu falo você só presta atenção nisso? Inacreditável. ─ Forçou o riso.
─ A segunda coisa eu respondo te dizendo que você não tem nada a ver com a nossa vida, que Serena não é nada sua, eu tampouco, portanto deixe a nossa vida em paz. Não se meta mais em nada e ficaremos ótimos assim. ─ Cortou duro e ela esperou. ─ Inclusive você só atrapalhou tudo ainda mais mentindo para ela dizendo que eu havia a procurado nesses dias... não trabalho com mentiras, Maite. Não as suporto. ─ Disse. ─ Em terceiro, eu estava disposto a deixar que você trabalhasse, mas sinceramente... seu senso zero e intromissão numa vida que não é nem nunca será sua me ofendeu completamente. Então, permita-me informar que nesse um ano que ficará aqui, ficará presa nesse lugar a menos que vá a algum evento ou outro lugar que eu queira que você vá. Não esqueça nunca da sua posição de menos que nada nessa casa.
Aquilo bastou. Maite nunca fazia nada com a intenção de ser reconhecida ou retribuída pelas ações, mas o fato dele ter levado tudo de bom que ela fizera para ele para o lado negativo fora demais para a mesma. Então ela mesma se repreendeu e se chamou de tola mentalmente por aquilo. Alfonso era um monstro. E ela, idiota. Claro que ele não teria atitudes boas, claro que não seria grato e claro que seria, como de costume, um completo idiota. Talvez fosse a TPM, talvez a dor que já sentia unida ao estresse mental que ela estava vivendo, mas ele havia realmente a magoado daquela vez. E ela não conseguiu esconder os olhos marejados antes que ele visse. De qualquer forma, ela virou-se e saiu dali rapidamente rumo ao quarto que ela dormia e, infelizmente, era dele.