Sozinho em seu quarto Alfonso pegou o celular possesso de raiva. Estava dolorido e além de toda a dor física que sentia, estava revoltado com Maite. Na cabeça dele ela ainda era apenas uma mendiga imunda e o fato deles dois estarem se aproximando tão naturalmente estava deixando-o louco. Ele não seria imbecil de negar que o contato dos dois já estava em excesso e nem falara só do sexo... mas os beijos que eles deram, o momento no hospital, ela cuidando dele na noite anterior... tinha a certeza que ela o odiava tanto quanto ele a odiava, mas os dois, movidos mentalmente por Christian, acreditava ele, estavam perigosamente perto demais.
Então ele começou a ver tudo que ela havia feito. Primeiro foi nas mensagens... franziu o cenho quando viu que tinha para Anahí, Maria, Robbins e Christopher. Abriu uma por uma...
“Annie, seu irmão está doente. Não tem condições de ir hoje para o trabalho, sugiro inclusive que ele fique o resto da semana em casa, mas acho que isso ele não vai querer topar. Quais os nomes dos seus outros irmãos mesmo? E qual trabalha com ele na empresa? – M.”
Tinha a resposta de Anahí ali.
“Hey, Mai. O que esse idiota tem? Sabia que esse imbecil uma hora iria adoecer imerso apenas nesse trabalho. Os nomes deles são Paul e Christopher. Chris é o da empresa. Qualquer coisa fale comigo, beijos. – A.”
Então ele abriu a outra mensagem, era pra Maria.
“Oi, Maria, é a Maite! Alfonso está meio doente, por assim dizer... você vai entender quando o vê. A questão é: tem alimentos que ajudam na cicatrização das feridas, a diminuir inchaços e tudo mais. Teria como a senhora comprar alguns deles para ele? Aqui vai uma listinha de coisas, obrigada desde já.
- Frutas (de preferência com vitamina C) (café da manhã e lanches)
- Pimentão (especialmente amarelo), agrião, coube, brócolis e repolho. (almoço e janta)
- Castanhas, nozes e afins.
- Peixes e carnes magras.
- Vegetais arroxeados.”
Alfonso suspirou ao ler aquilo e viu a resposta de Maria.
“Claro, senhora. Faço apenas uma observação: Alfonso é alérgico a castanhas, mas de resto levarei tudo e preparei as alimentações dele baseada nisso. Obrigada, querida. – Maria.”
Então ele foi para as outras mensagens. Primeiro para Christopher e em seguida para Robbins.
“Hey, Christopher. Não nos conhecemos, mas aqui é Maite, você deve ter ouvido falar de mim. Seu irmão está doente e hoje vai faltar ao trabalho (na verdade eu espero que a semana toda ele falte, mas acredito que o mesmo só vai querer ficar em casa hoje, então...). Estou te avisando porque sei que trabalham juntos. Tenha um bom dia. – Maite.”
“Robbins, aviso que Alfonso não irá ao trabalho hoje. Como sei que o senhor é muito provavelmente quem o leva, preferi avisar ao invés do senhor ficar esperando por ele. Bom dia. – Maite.”
E eles responderam.
“Olá, Maite. Obrigada por avisar... Alfonso doente? Pode ser sincera, ele chegou aí todo quebrado, né? Pelo visto a senhorita é muito gentil, ganhou um pontinho comigo. Bom dia. – Christopher.”
“Certo, senhora. Obrigada pelo comunicado. Bom dia. – Robbins.”
Ele realmente pensara que a mesma era atrevida, mas não aquele ponto... e o pior fora que ela fizera tudo para ajudar ele, em prol do bem dele. Quem diabos aquela mulher era, afinal? Fazia tudo com segundas intenções ou sua bondade era realmente sincera? Ele estava confuso. Então recuperou as chamadas atendidas naquela manhã e ouviu as duas que tinha. A primeira era de Katrina e a segunda de sua mãe, Ruth. Ele gemeu só de ler os nomes na tela... que raios Maite falara com elas? Mas ele viu também que ela não havia feito nenhuma ligação e sim atendido. Primeiro ouviu a de Katrina.
─ Alô. ─ Maite entendeu e pela voz ficou claro para ele que ela estava incerta sobre o que estava fazendo.
─ Alfon-... Espere, quem diabos é você? ─ A voz enjoativa de Katrina falou e Alfonso sentiu vontade de revirar os olhos só em ouvi-la.
─ Eu, hum... ─ ela demorou alguns segundos para falar, incerta. ─ Sou a noiva dele, algum problema? ─ Alfonso não pode deixar de rir. Pelo tom dela, ele saberia na hora que estava mentindo, porém Katrina não a conhecia e o pior: ainda não sabia da história do noivado. Alfonso sentiu-se satisfeito ao ver que Maite estava cumprindo bem o contrato dos dois.
─ Noiva de Alfonso? ─ Riu. ─ Ok, querida, agora me conte a verdade... ele te comeu, vocês estão sei lá, em um bordel da vida e você atendeu o telefone dele por um descuido do mesmo, não é?
─ Não, querida. ─ começou na mesma ironia que Katrina e Alfonso riu novamente, tinha certeza que ela havia revirado os olhos no ato. ─ Eu realmente sou a noiva dele e me encontro na cobertura do mesmo nesse momento. Um tríplex, pra ser mais específica. Com a filha dele embaixo do mesmo teto que ele para ser mais específica ainda e provar que não estou em nenhum bordel, não que eu precise provar, claro... Mas o que a senhorita deseja? Algum problema?
─ Oh sim, tenho alguns problemas. Primeiramente o fato de Alfonso ter passado quatro dias seguidos comigo, Katrina Herrera, e não ter me comunicado em nenhum momento sobre alguma noiva.
─ Ele deve ter se passado... Alfonso trabalha muito, deve ter esquecido.
─ Oh, sim. Trabalha muito, muito bem, querida... De qualquer forma foi um imenso desprazer conversar contigo. E saiba que nossos caminhos ainda irão se cruzar e à primeira vista você vai saber quem sou.
E a ligação foi encerrada. Alfonso teve a certeza que assim que isso aconteceu Maite muito provavelmente deu de ombros sem dar a mínima importância e estava certo, aquela fora a exata reação que ela teve. Em seguida ele foi na ligação dela com Ruth.
─ Alô. ─ atendeu, novamente incerta.
─ Filho... oh, quem está falando?
─ Hum... Maite. ─ reduziu-se em dizer e Alfonso entendeu a reação dela. Sabia que Ruth era a mãe dele, mas não haviam conversado sobre se ela sabia do noivado ou não e como era a mãe dele, tinha que ir com calma.
─ Oh! Anahí já me falou muito sobre você... pelo que eu entendi, você e o Alfonso se entenderam e estão namorando, né? Oh querida, fiquei muito feliz quando soube isso por Annie. Finalmente Alfonso deixou de lado seus preconceitos e se permitiu amar novamente.
─ Oh! Sim... sou eu. Que bom que está feliz, hum... eu também estou. Alfonso foi difícil nas primeiras semanas, mas depois se mostrou o amor de pessoa que é. ─ Pelo tom dela, Ruth não percebia, mas Alfonso percebia muito bem a ironia que ela falava aquilo, quase podia ver a expressão de atrevida e debochada dela pronunciando aquelas palavras...
─ Vivi para ver alguém dizer isso, nunca tive dúvidas que Alfonso é um amor de ser humano, só é... difícil. Mas sim, querida, onde ele está? Posso falar com ele?
─ Olha, ele está aqui comigo... mas está dormindo.
─ Dormindo? E o trabalho?
─ Ah, ele pediu uma folga hoje... peço desculpas, inclusive. Eu quase o obriguei a fazer isso porque percebi que ele estava muito cansado. ─ Mentiu descaradamente, mas Alfonso entendia que era para não preocupar a mãe dele. Aquela demônia pensara em exatamente tudo.
─ Meu Deus, você é realmente um anjo! Tento que meus filhos tenham uma folga quase que mensalmente e já consegui de todos, menos do Alfonso. De qualquer forma, querida, nesse fim de semana teremos o meu aniversário aqui e eu iria falar isso com Alfonso... ele inventaria uma desculpa para não vir, então peço encarecidamente que o convença a vir e além disso venha com ele e traga Serena! Estou morrendo de saudade dos dois. Vai ser um evento só com a nossa família, tudo simples. Não deixe de vir, por favor.
─ Oh... certo, eu... falarei com ele. Farei o máximo para conseguirmos ir. Muito obrigada pelo convite, dona Ruth.
─ De nada, querida Maite. Pode me chamar só de Ruth...
─ Certo, um beijo.
─ Beijo, querida.
E desligaram. Ah, claro... como se não bastasse Ruth era mais uma da família que estava simpatizando com aquela mendiga intrometida e fodidamente... doce.