Ninguém soube dizer como, ninguém nem entendia como, mas naquela semana Alfonso não foi ao trabalho um dia sequer. Maite, no fim das contas, conseguiu exatamente o que ela queria e Serena era a criança mais feliz do mundo naqueles dias. A menina fazia questão de cuidar do pai quando ela estava em casa, além de ficar a maior parte do tempo no quarto com ele, até dormir lá ela conseguira naquela semana e a mesma não sabia e nem precisava saber que para cada atitude daquela era uma discussão longa que Maite tinha com Alfonso por trás das entrelinhas para conseguir que ele amolecesse o coração para a própria vida. A morena estabelecera algumas metas para cumprir nos trezentos e sessenta e cinco dias que passaria ali (que começaria a ser contato pós casamento) e a primeira delas era melhorar o relacionamento de pai e filha.
Era domingo de manhã e Serena ainda dormia, o que significava que Alfonso e Maite podiam discutir tranquilamente até que a mesma acordasse e era claro que eles aproveitavam bem o tempo de brigar.
─ Deus tenha piedade, Alfonso! Não existem motivos convincentes para você ligar e simplesmente dizer que não vai! Não existem...
Ela andava atrás dele pela sala, os dois indo em direção a cozinha. As empregadas como de costume não estavam ali, o que deixava todo o apartamento livre para eles gritarem um com o outro.
─ Exatamente, por isso nem me darei o trabalho de ligar. Apenas não irei e então mando um presente, sei lá, com um cartão desejando parabéns a ela e tudo mais. ─ Respondeu já sem paciência para aquela discussão, a qual Maite tentava convencê-lo a ir para o aniversário da própria mãe dele que seria naquela tarde.
─ Isso não se faz, Alfonso! Ela é sua MÃE. Sua MÃE e está morrendo de saudade do filho que pode ir lá sempre, mas por sinal não vai nunca! ─ Falou irritada apoiando as mãos no balcão da cozinha enquanto ele estava de costas para ela, colocando a água de um dos jarros no seu copo.
─ E que coisa fodida você entende sobre ser mãe? Me diga, Maite! ─ Ele indagou em um tom alto virando-se para ela, derrubando um pouco de água do copo no chão e xingando com isso. Viu que ela recuou com o olhar magoado com a pergunta que ele lhe fez.
─ Eu odeio você... ─ Disse ameaçadoramente baixo enquanto dava passos para trás. ─ O Christian deve estar realmente muito orgulhado do irmão ótimo que deixou aqui na Terra. Deve estar realmente pulando de alegria! ─ Ela forçou o riso com um tom amargurado e deu as costas saindo dali.
Só deu tempo de Alfonso virar toda a água do copo, em seguida colocar o mesmo e a jarra que tinha em mãos no balcão que enfeitava a cozinha, dar a volta no mesmo e ir atrás dela, possesso. Puxando-a com agressividade pelo braço.
─ QUANTAS VEZES EU VOU TER QUE MANDAR VOCÊ PARAR DE TOCAR NO NOME DO MEU IRMÃO?
Mas daquela vez, ela não ficaria por baixo. Não aguentava mais Alfonso e seu jeito ridiculamente absurdo de ser.
─ EU VOU FALAR O NOME DELE TODAS AS VEZES QUE EU QUISER, ALFONSO! QUEM VOCÊ ACHA QUE É? O REI DO MUNDO? ─ Gritou em mesmo tom, puxando o braço com tanta fúria que ele, por um deslize, deixou que ela se soltasse. Porém os dois ainda estavam frente a frente, ela vermelha de raiva e ele com as veias da testa quase saltando em sinal de fúria.
─ SE EU SOU DO MUNDO, EU NÃO SEI. PORÉM ISSO AQUI É MEU! ESSE APARTAMENTO É MEU, ESSE TRÍPLEX É MEU, A MAIOR MULTINACIONAL DAQUI LEVA MEU NOME E PRA RESUMO DE CONVERSA ESSA MERDA DE ILHA CHAMADA MANHATTAN É MINHA!
─ MAS EU NÃO SOU SUA! EU NÃO SOU SUA E NUNCA SEREI SUA! VOCÊ NÃO MANDA EM MIM, HERRERA! ENTENDA ISSO.
─ AH, EU MANDO! E AH, VOCÊ É. OU ESQUECEU QUE EU TENHO UM CONTRATO ASSINADO COM O SEU NOME O QUAL VOCÊ SE VENDE PARA MIM, QUERIDA?
Foi demais para ela. Primeiro, porque ele falou como se ela realmente tivesse se vendendo para ele, como se ela estivesse ali por livre e espontânea vontade, e claro... pelo poder e dinheiro dele. Segundo porque ela só assinara aquela merda de contrato porque fora forçada ao extrema por ele. Então, em um ato de impulso que ela devia ter controlado ela ergueu a mão para dar na cara dele, mas Alfonso era rápido, tinha um reflexo impecável e já agarrou o braço dela, jogando-a com força para o lado. Ela caiu no chão com tudo, sobre o tapete e bateu as costas na mesinha de centro de madeira, gemendo em protesto. Aquilo não a parou, ela levantou rapidamente e foi para cima dele, os dois se atracando ali na sala. Ele não batia nela, mas a segurava com uma força esmagadora afinal ela estava descontrolada, o empurrava, chutava-o, tentava arranha-lo e até conseguira na região do pescoço.
─ DIGA, FILHO DA PUTA, POR QUE EU ASSINEI AQUELE CONTRATO! DIGA, SEU COVARDE! ─ Gritou furiosa, era a primeira vez que ele a via explodir de raiva daquela forma.
─ VOCÊ ASSINOU PORQUE QUIS! OU QUER DIZER PARA MIM QUE SE IMPORTA COM AQUELAS CRIANÇAS QUE VOCÊ ABANDONOU? NÃO VENHA BANCAR A BOAZINHA PARA CIMA DE MIM, MAITE! VOCÊ É UMA IMUNDA!
─ NÃO SE ATREVA A FALAR DELES, ALFONSO! VOCÊ NÃO SABE DE NADA, NÃO SABE DE NADA SEU IMBECIL!
A guerra continuou. Por mais um deslize dele, ela conseguiu soltar uma mão e aproveitou, em um golpe baixo, para acertá-lo na costela recém machucada: aquilo o irritou. Em um grunhido como se dissesse “chega”, ele segurou suas duas mãos com apenas uma das suas apertando com tanta força que Maite achou que ia quebrar e com a mão livre agarrou-a com força pelo cabelo, ela gritou de dor com aquele processo.
─ OU VOCÊ PARA AGORA COM ESSA PALHAÇADA OU EU JURO POR TUDO QUE ACABO COM A SUA RAÇA AGORA, MAITE!
─ VÁ EM FRENTE, DESGRAÇADO! ACABE, ANDE! O QUE DIRÁ PARA SERENA? PARA SUA MÃE? O QUE DIRÁ PARA ANAHÍ?
Possesso de raiva pela ameaça ele jogou-a mais uma vez no sofá, só que daquela vez subiu na mesma, as pernas apertando os quadris dela, uma mão segurando os dois braços de Maite acima da cabeça da mesma e a outra mão no pescoço dela, ameaçando apertar.
─ Me ameasse mais uma vez e será o seu fim. ─ disse lentamente, ela sentia a fúria dele nas mãos do mesmo que tremiam.
─ Se você não for hoje, Alfonso, eu dou um jeito de contar tudo a sua mãe, a sua filha, eu espalho tudo na mídia... o homem podre que você é, suas ameaças contra mim e quem eu amo, falo do sangue que você chegou aqui naquela noite, eu conto tudo... ─ ela falaria mais, porém começou a sufocar pois ele estava começando a apertar o seu pescoço, furioso. Ela estava ameaçando machucar a sua filha por raiva dele! Finalmente aquela mulher mostrava sua verdadeira versão. ─ Me ma-mate... Ande... fa-faça o q-que você faz... Christian va-vai amar.
Alfonso soltou seu pescoço ou realmente a mataria, mas antes de sair de cima dela ainda lhe deu mais uma sacudida, fazendo ela bater o corpo duas vezes no sofá.
─ O CHRISTIAN ESTÁ MORTO! PARE DE CONTINUAR USANDO ELE COMO BENEFÍCIO PRÓPRIO SUA INFELIZ! INFERNO, SE SERENA NÃO ESTIVESSE SOB O MESMO TETO QUE NÓS DOIS, EU JÁ TERIA TE MATADO.
Gritou ignorando as tosses de Maite que estava sentada no sofá, o pescoço totalmente vermelho.
─ A-a... carta. ─ Ele franziu o cenho virando-se para ela possesso, o peito arfando de raiva. ─ A carta de Christian. Ele me mandou ler quando estivesse o odiando, eu o odeio agora por ter me obrigado a conhecer você. ─ Ela falou com a voz gélida. Então Alfonso lembrou... era para ele ter lido a dele depois do testamento que lhe obrigava a casar com Maite. Claro que ele esqueceu, a raiva era tanta.
Foi então que aconteceu. Maite estava sentada no sofá, ele em pé em uma distância segura para os dois não se atacarem mais. Então o celular de Alfonso tocou. Maite conhecia bem o toque, afinal já havia atendido ele duas vezes. Primeiro, os dois ignoraram. Depois, ele viu quando os olhos dela brilharam, uma ideia com certeza passando pela sua mente. Então eles se encararam intensamente e ele apertou os olhos.
─ Você não... ─ A continuação seria “se atreveria”, se Maite não pulasse simplesmente o sofá – sabe-se lá Deus como – e corresse rapidamente até a cozinha. Ele disparou atrás, mas só conseguiu pegá-la pela cintura a ponto de erguê-la no ar quando ela já havia pego o celular e o atendido, rezando para ser Ruth.
─ Alô. ─ Houve um silêncio e Alfonso teve esperanças de não ser a mãe. ─ Oi, dona Ruth! ─ Alfonso colocou-a no chão praguejando aos infernos e ela riu. ─ Meus parabéns! Tudo de melhor na vida da senhora e sim! Claro que vamos... eu já estava até me arrumando. ─ Mentiu descaradamente e Alfonso a fuzilou com o olhar mexendo a boca enquanto falava algo silenciosamente e Maite não entendeu, mas com certeza era uma ameaça. ─ Sim, a Serena com certeza vai também. ─ Disse e conseguiu entender um “eu vou matar você” que Alfonso disse, ela riu ainda mais. ─ Não se preocupe, tentaremos chegar mais cedo sim... Certo... De nada, não há de que... Beijo. ─ E desligou.
─ Nós NÃO vamos. ─ Ele bradou irritado puxando o celular da mão dela.
─ Ah, nós vamos sim!
─ Para onde vamos, Mai? ─ Uma Serena sonolenta chegou ali, colando os olhinhos e Maite sorriu abertamente, enquanto Alfonso bufava, revirando os olhos.
─ Para a casa da vovó! ─ Anunciou feliz e viu a menina pular de alegria. ─ Vai decepcionar sua mãe e sua filha no mesmo dia? ─ Sussurrou a última parte passando por Alfonso e ele grunhiu. Havia prometido para si mesmo que não magoaria mais Serena depois do sufoco que passara com ela naquele hospital. Então...
É, eles iriam.
Em relação a momentos desesperadores como esse... confiem em mim! Alfonso é assim por um motivo, não tô justificando nem romantizando violência, brigas nesse nível (não será a última), e sim retratando algo que infelizmente acontecesse diariamente; às vezes existem saídas, melhoras e às vezes não... nesse caso existirá, e não será um processo simples, pois a vida não é simples, as pessoas não são simples e ninguém muda da água para o vinho da noite para o dia, sim? Mas prometo que esses dois tomam jeito, ELE PRINCIPALMENTE. A evolução de Alfonso vai ser LINDA! Prometo.