VOLTEI!!! Finalmente!
Todos já haviam almoçado e o clima estava relativamente tranquilo considerando que algumas pessoas ali internamente estavam prestes a explodir de raiva. Eles conversavam sobre assuntos da empresa, logo Maite não estava prestando nenhuma atenção no assunto. A empresa era o único assunto, a propósito, em que não haviam nenhuma briga em família fora das reuniões que ocorriam na mesma, pois geralmente eles falavam por alto nas conversas sobre o quanto estavam obtendo sucesso, ou não, em determinados ramos empresariais e era só. Maite estava alheia a tudo, soltando risos divertidos com Serena enquanto limpava a boca da menina que estava levemente suja, até que ouviu chamarem o seu nome e chegou a franzir o cenho, não conhecia aquela voz que falara com ela ainda.
─ Senhorita Maite. ─ Fora Elias quem falara, em um tom rígido. Todos calaram a boca imediatamente e viraram para olhá-lo. O homem estava praticamente mudo durante todo o evento. Alfonso olhou-o duro, esperando o absurdo que ele iria dizer. Os outros irmãos engoliram a seco. Ruth estava ansiosa. Os outros, indiferentes.
─ Sim, senhor Herrera? ─ Indagou depois de passar levemente o guardanapo de tecido em seus lábios.
─ Depois da sobremesa quero ter uma conversa apenas com a senhorita, pode ser? ─ Maite quase franziu o cenho com aquilo. Percebeu que Alfonso tomou impulso para dizer algo que provavelmente não seria agradável e por baixo da mesa pôs a mão em sua perna, parando-o.
─ Sim, pode. ─ Sorriu educada e o clima tenso, querendo ou não, ficou no ar.
─ Hum... mas enquanto a sobremesa não vem, pode vir comigo rapidinho, Mai? ─ Anahí indagou se levantando. ─ Assuntos femininos. ─ Piscou, inventado, e pegou Nathaniel que estava no carrinho, já inquieto, no colo. Alfonso e Jared, assim como Maite que prontamente levantou entenderam os reais motivos delas se retirarem depois daquilo.
─ De qualquer forma... ─ Paul falou coçando a garganta para atrair a atenção das pessoas para si. ─ Os Barney realmente não estavam esperando que cumpríssemos a nossa promessa de colocar uma Manhattan decadente para baixo e reerguêssemos outra nova em folha com o dinheiro dos principais burgueses que regiam até então essa ilha. ─ Retomou o assunto. ─ Foi minimamente cômico vê-los voltarem com a cabeça baixa dizendo que reavaliariam a nossa proposta depois de já estarmos praticamente no topo da sociedade, aclamados por muitos.
─ O que fizeram com eles em seguida? Fecharam algum tipo de contrato? ─ Jared indagou. Conhecia aquela história de uma ponta a outra, mas tinha que reverter o clima daquele almoço de qualquer forma.
─ Derrubamos eles também. ─ Ian resumiu entediado. ─ A propósito estou pensando em derrubar e vender o meu antigo prédio de advocacia e assumir o que Christian deixou para mim.
Aquela notícia, no entanto, foi a verdadeira válvula de escape para a conversa tensa. Todos começaram a falar sobre os negócios de cada um e a indagar a Ian os motivos dele ter tido a ideia tão radical de simplesmente derrubar o prédio que ele dedicou anos em construir. Até Alfonso começou a prestar atenção na conversa, afinal envolvia em grande parte um escritório que era do seu irmão. Ele não estava feliz em saber que o mesmo havia deixado aquele escritório imenso que ele mesmo havia ajudado a construir nas mãos de Ian, porém não envolvia o pessoal com o profissional e Ian, agora que Christian não estava mais ali, era o melhor advogado de Manhattan. Aquilo bastava. O problema foi que ele se distraiu tanto que não viu quando Katrina saiu dali, procurando Anahí e Maite por todo canto até que as encontrou no quarto que Anahí geralmente ficava quando eles estavam lá... no segundo andar. A porta estava entreaberta e a ruiva viu Maite amamentando Nathaniel sentada na cama enorme de casal do quarto. Ela arregalou os olhos e um monte de questionamentos passou pela sua cabeça naquele momento.
Há dois pontos em Katrina estar ali naquele momento, um positivo e outro negativo. O negativo era que ela havia descoberto uma coisa que deveria ser mantida em segredo para o bem-estar de Maite... o positivo, foi que de tão abismada com a cena ela sequer deu ouvidos a conversa que Anahí e Maite tinham onde a morena confirmava a outra que tudo com Alfonso não passava de um contrato.
Dizemos “ufa” ou começamos a orar?
Logo todos estavam de volta a mesa e a sobremesa havia acabado. Decidiram então ir para o fundo da casa, na área da piscina. Lá, havia um lugar especialmente arrumado para Ruth... bolo, docinhos, salgados, tudo bancado por Candice, Dulce e Jared como prova de carinho a mesma. Ela ficou feliz da vida... porém não deixou de se preocupar com o fato de Elias estar naquele momento junto a noiva do filho que, estranhamente, ele não parecia suportar mais.
─ Tem alguma ideia do por quê te trouxe aqui, Maite? ─ Elias indagou e a mesma negou, sentando-se em frente a ele e a sua enfermeira que mais parecia um robô porque ficava apenas quieta, parada, esperando o patrão da alguma ordem. Os três estavam no escritório. ─ Pegue o envelope. ─ Ele falou e Maite franziu o cenho, mas logo viu a enfermeira-robô se mexer e pegar para ele o envelope colocando sobre a mesa.
─ Abro, senhor?
─ Não. Deixe que ela abra.
Então Maite o pegou e o abriu... vendo o mesmo formato de envelope das cartas que Christian havia deixado para ela. Na frente do mesmo havia “Para Elias”, ela virou o envelope e havia um PS bem embaixo, em letras pequenas: “Permita que Maite leia essa carta para o senhor. Descobrirá quem é ela em breve.”. Enquanto isso...
─ Alfonso, você não está nem um pouco preocupado que a sua futura esposa está lá dentro com o papai? Se fosse a Dulce, a Candice... tudo bem, eu e o Paul não precisaríamos ligar porque ele não nos odeia, mas você...?
─ Christopher! ─ Anahí falou alarmada, dando um tapa no braço dele.
─ Não bate tio Clis, tia Annie. É feo! ─ Chuck, que estava deitado no colo da mãe falou e eles riram.
─ O tio Chris mereceu dessa vez, meu amor. Ele falou coisa errada. ─ Dulce explicou acariciando o rosto do menino. ─ Desconsidere o que ele diz, Poncho. Já está alterado pelo álcool.
─ Eu não ligo! ─ Alfonso falou óbvio dando de ombros. ─ E não é como se ele pudesse fazer nada contra ela... ─ Ele falou e não era para soar grosseiro, mas terminou soando. Anahí revirou os olhos e se levantou saindo dali. Odiava quando mencionavam direta ou indiretamente o fato de Elias estar tetraplégico. Fora depois desse acidente que sua família perfeita se desuniu completamente.
─ Certo, eu... posso fazer isso. ─ Maite deu de ombros, estranhando, então abriu o envelope e dois papeis saíram dali. Estavam dobrados e numerados. Ela pegou o de número 01 e começou a ler. Elias esperou. ─ Caso a Maite esteja lendo isso essa parte da carta fará total sentido. Se você não for a Maite, pare de ler agora e passe para a carta de número 02. Se você for a Maite leia essa, cumpra o que eu pedir nessa e em seguida leia a outra. ─ Maite quase riu da forma com que Christian escrevia aquelas cartas, ela podia quase ouvir a voz dele na sua mente, só em ler aquelas palavras. ─ Maite, o homem a sua frente é um assassino. ─ Ela fez uma pausa e com os olhos arregalados mirou Elias que se mantinha impassível. Maite teve a certeza de que a enfermeira não era um robô quando ela estremeceu com aquilo.
─ Continue. ─ Elias ordenou. Maite olhou para baixo e suspirando, continuou a ler.
─ Ele é realmente um assassino. Já matou e foi responsável pela morte de mais pessoas do que eu e você juntos podemos imaginar. Além de matar pessoas, ele já roubou muitas pessoas, já destruiu lares e negócios de muitas pessoas e já foi extremamente cruel com muitas pessoas. Isso não é uma brincadeira, eu estou falando realmente a verdade. E digo mais: hoje, Elias Herrera odeia com todas as suas forças Alfonso, o homem que você ama e que certamente também ama você. ─ Maite não parou a leitura ali, mas teve certeza que a atuação dela e de Alfonso era algo planejado por Christian também ali. Ele não falaria de amor entre ela e Alfonso se não fosse. ─ Elias prometeu a Alfonso que mataria a primeira pessoa que o mesmo amasse depois da morte de Belinda, e bom... essa pessoa é você. E na altura do campeonato você já deve saber que os Herrera cumprem suas promessas. Elias, diga a ela se é ou não verdade. ─ Maite parou de ler e o olhou, esperando. Seu corpo tremia, mas ela se mantinha séria.
─ Sim, é verdade. ─ Maite teve quase certeza que a enfermeira desmaiaria com mais uma daquelas.
─ Com isso, eu espero que já esteja subtendido que se ele não tivesse tetraplégico agora ele já teria pego a arma que esta na primeira gaveta do lado direito da mesa em que muito provavelmente está na sua frente agora e teria te matado. Confirma, Elias?
─ Com certeza, sim. ─ Ele respondeu e foi como se nada tivesse acontecido para Elias e Maite ali; eles se olhavam fixamente. Maite abaixou a vista e continuou lendo a carta. A enfermeira tremia, as mãos estavam geladas e que Deus a perdoasse, mas ela só estava ali porque Elias era tetraplégico.
─ Agora eu vou te dar duas opções. Ou você levanta e sai dessa sala, deixando-o sozinho para nunca mais olhar na cara dele. Ou você continua aí e lê essas duas cartas até o final. ─ Quando ela não parou, ficou subtendida a resposta. ─ Certo, agora eu te peço encarecidamente que diga a ele tudo o que você quiser dizer depois de eu ter te dito toda a verdade sobre ele
A carta acabava ali e Maite, quando terminou de lê-la, dobrou-a e a colocou novamente no envelope.
─ Você mataria o Alfonso se tivesse a chance? ─ Elias assentiu sem pestanejar. ─ E a mim?
─ Sim.
Aquele estava sendo realmente um longo dia...