Demorou alguns minutos para os três se despedirem daqueles que interessavam realmente se despedir, e então eles foram embora. Serena não saiu do colo do pai em momento algum. Ele a colocou no fundo, colocou o cinto e franziu o cenho quando viu Maite sentar na frente, diferente da ida em que ela foi no fundo com Serena. A menina também notou aquilo e estava em um misto de brava e triste com Maite. A morena nada disse no caminho, Serena também não... Alfonso, que foi irritado com o barulho que elas faziam no carro percebeu o quão horrível era quando elas faziam um completo silêncio ali.
─ Raios, vocês poderiam dizer alguma coisa? Qualquer coisa! Até cantar aquela música chata que você estava apresentando a Maite, Serena, eu não vou ligar.
Ele falou e as duas olharam para ele, em seguida se olharam pelo retrovisor interno e voltaram a olhar para o lado de fora do carro pelas janelas.
─ Vocês duas são inacreditáveis! Inacreditáveis. A volta toda eu pedi para fazerem silêncio e ninguém me ouvia, agora... Honestamente.
Maite quase riu com aquilo, mas estava exausta demais para falar algo. Ele ficou em silêncio por mais cinco minutos, se controlando, mas realmente aquela tensão o irritava.
─ O que a Katrina te disse, Serena? ─ Perguntou com uma voz rígida; as duas sabiam ali que tudo que ele perguntasse iam ter que dizer a partir daquele momento. Ele havia realmente se irritado.
─ Disse que a Mai quer ser minha mãe falsa só pra roubar o senhor de mim e o seu dinheiro.
Tudo o que Maite não queria que acontecesse, aconteceu... ela terminou naturalmente contando para o pai o que Katrina havia dito e agora ele com certeza concordaria, jogando ainda mais a menina contra ela. Alfonso olhou Maite e viu que ela continuava sem expressão, olhando para o lado.
─ Algum dia dos que a Maite está conosco você a viu pedir ou pegar algo que meu dinheiro possa comprar, Serena? ─ Indagou com a voz cortante e Maite franziu o cenho, passando a olhar para frente, mais atenta a conversa.
─ Não. ─ Ela fez uma careta pensando que Maite e Alfonso viram pelo espelho. ─ Teve um dia que eu pedi a ela para pegar o dinheiro daquele meu cofrinho que o senhor guarda e ela falou que não podia pegar sem te pedir... ─ A menina falou pensativa, estava mais calma.
─ Quem conseguiu fazer com que eu e você saíssemos juntos mais de uma vez?
─ A Mai... ─ A menina falou, abaixando o tom de voz e cada vez mais se dando conta de que gritar com a mesma na casa da avó havia sido uma escolha errada.
─ Quem fez eu prometer que participaria das refeições com você todos os dias que eu pudesse?
─ A Mai, papai...
─ E é assim que ela tenta me roubar de você, Serena?
─ Não papai, mas...
─ Se ela não quis pegar nem umas moedas do seu cofre, como você pode acreditar que ela roubaria dinheiro de mim? ─ Ele falava em um tom perigosamente calmo. Maite não tirava os olhos dele, desacreditada.
A menina abriu a boca pra falar algo, mas em seguida fechou. Seu pai estava certo... Maite só melhorara a vida dela desde que entrara naquele apartamento, como ela podia duvidar de Maite?
─ Quando a Katrina me convenceu a fazer algo com você? ─ Ele continuou perguntando.
─ Nunca, mas...
─ Mas? ─ Alfonso indagou, tendo uma ideia do que a menina falaria.
─ Mas ela já estragou um aniversário meu, te tirando de lá... ─ Era incrível. Quando isso aconteceu, Serena estava fazendo quatro anos. Agora ela tinha seis, caminhando para sete e não esquecia.
─ Pois é. Então quem é a certa e quem é a errada da história?
─ Katrina tá errada. ─ Ela afirmou e o pai não disse mais nada, deixaria a menina pensar. Maite foi incapaz de pensar em dizer algo, não esperava aquela atitude de Alfonso, mas viu que ele estava cumprindo a promessa de não magoar a menina, talvez por isso não lhe dissesse o que ele realmente achava dela...
O resto do caminho foi teoricamente tranquilo. Quando eles chegaram no arranha-céu, Alfonso viu Maite e Serena “fazendo às pazes” quando Maite foi automaticamente abrir a porta e tirar o cinto dela, por puro costume que ela tinha. Então a menina lhe pediu desculpa e Maite lhe sorriu docemente, assentindo, dizendo algo que ele não entendeu enquanto tocava delicadamente o nariz da menina, abraçando-a em seguida. Ele não soube dizer o porquê, mas sorriu de lado com aquilo. Por hora, a paz estava reinando ali. O restinho da tarde foi tranquilo, Alfonso foi para o escritório cuidar de coisas que Maite não sabia o que era e ela e Serena assistiram dois filmes na sala. Quando acabaram, Maite deu banho na menina e a colocou para dormir inventando alguma história do leão e da princesa que ela jurava não ser de Nárnia, mas a menina ria e dizia ter certeza de que era. Quando Maite desceu encontrou Alfonso na sala de jantar, provavelmente esperando por elas como o combinado e sorriu sem que ele visse.
─ Ela já dormiu. ─ Comunicou e foi até a cozinha, direto para a geladeira beber água.
─ Não comeu nada?
─ Na verdade comeu besteira... ─ Alfonso tinha certeza que ela tinha feito uma caretinha naquela hora. ─ Mas amanhã a gente compensa com um café reforçado. ─ Disse e depois de um tempo apareceu de novo encostada na parede que dividia a sala de jantar da cozinha, olhando fixamente para ele, a cabeça levemente inclinada para o lado. Ele comia alheio a isso, até que percebeu que estava sendo observado e virou para olhá-la, erguendo uma sobrancelha na sua direção.
─ O que? ─ Indagou e ela nada disse. ─ Quer transar? ─ Maite revirou os olhos, mas quase sorriu da maneira espontânea e ainda assim séria que ele perguntou.
─ Definitivamente, não. A de hoje tá doendo até agora! ─ Fez uma careta e ele riu debochado.
─ Então o que? ─ Perguntou de novo e a viu suspirar, como se tivesse em uma luta interna em se perguntava ou não... optou por não e se afastou da parede negando com a cabeça.
─ Não é nada. ─ Deu de ombros. ─ Boa noite.
E saiu dali. Não esperou a resposta, pois sabia que ele não iria responder, e assim foi. Maite se deitou e Afonso demorou para fazer o mesmo, mas ela ainda estava acordada imersa a milhares de pensamentos quando ouviu a porta dele ser fechada. Ela ficou revirando na cama cerca de meia hora depois daquilo até que não aguentou, se levantou, vestiu um robe preto e saiu do quarto. Parou em frente ao de Alfonso numa dúvida sem fim entre bater e entrar ou voltar para a cama... se voltasse, certamente ainda não conseguiria dormir, então fechou os olhos e bateu, entrando logo em seguida.
Alfonso arqueou as sobrancelhas quando a viu entrar ali, agoniada da mesma forma que mais cedo na cozinha. Ela viu que ele lia um livre, as luzes do abajur preso a cabeceira da cama iluminando apenas o corpo dele ali. Então ele fechou o livro, tirou os óculos, colocou ambas na cômoda anexa a cama e cruzou os braços esperando ela dizer algo, mas a mesma ainda estava parada analisando aquele homem que verdade seja dita... que homem! Alfonso estava sem camisa e usava uma calça moletom. Os braços estavam cruzados o que dava uma maior amostra aos seus músculos e Maite engoliu a seco ao olhá-lo e ver que ele esperava ela dizer ou fazer algo, já impaciente. Então ela suspirou e fechou a porta, se encostando na mesma e cruzando também os braços. Ele quase riu. Que diabos aquela mulher queria, afinal? Agora ele estava curioso. Só quando ele abriu a boca para falar algo, ela o cortou.
─ Não, eu ainda não vim transar com você. ─ Afirmou e ele prendeu o riso, perguntaria exatamente aquilo.
─ Gostei do “ainda”. ─ Piscou e ela revirou os olhos.
─ Alfonso, eu... ─ Começou, mas parou no caminho. Como diabos ela perguntaria aquilo?
─ Você...? ─ Incentivou já entediado e viu quando ela respirou fundo antes de dizer tão rapidamente que ele quase não entendeu uma palavra sequer.
─ Vocêéassassinotambém?
É. Estava feito.