─ Você gosta dele.
Maite arregalou os olhos quase que se machucando com o lápis que Anahí passava cuidadosamente no rosto olho dela. O choro havia borrado toda a maquiagem e a situação em si bagunçado todo o cabelo de Maite. Enquanto ouvia o que tinha acontecido, Annie tratou de arrumar o mesmo e agora só faltava o lápis de olho para completar a maquiagem.
─ Ai, Mai, cuidado! Se eu te machucar seu namoradinho me mata... ─ ela riu marota e Maite revirou os olhos.
─ Ele não é meu namoradinho, Anahí. E eu não gosto dele. ─ ela fez uma careta só em pensar naquilo.
─ Bom... ele gosta de você. ─ Ela deu de ombros, fechando o lápis e colocando o mesmo dentro da sua bolsinha de mão. ─ Prontinho, está perfeita!
─ Oh, não. ─ Maite riu. ─ Definitivamente você tá louca, Annie! Alfonso me odeia tanto quanto eu odeio ele. Só... cuidamos um do outro... às vezes... mas pelo Christian, você sabe. ─ Ela deu de ombros e suspirou, virando o corpo para se olhar no espelho.
─ Podem se odiar e estarem se apaixonando ao mesmo tempo, ora. A paixão é inesperada, inevitável. ─ Annie deu de ombros também se olhando no espelho e ajeitando seus cabelos que estavam soltos.
─ Se você diz... mas com a gente não é isso, acredite.
Então elas deixaram essa conversa para lá, e assim que voltaram ao salão de festas Maite buscou Alfonso com os olhos e esse já olhava diretamente para ela. Ela suspirou aliviada ao vê-lo e Anahí sorriu sozinha ao notar aquilo e ainda mais quando ela saiu quase que desesperada para chegar logo até ele. A morena nem sequer olhou com quem Alfonso estava conversando naquele momento, só se aproximou e uniu o corpo dela ao dele, encostando a cabeça no seu peito e ficando satisfeita quando ele a abraçou prontamente pela cintura, deixando-a confortavelmente segura ali sem dizer absolutamente nada. Os homens que Alfonso conversava que por sinal Maite não tinha nem ideia de quem eram, não disseram nada, mas não deixaram de demonstrar surpresa por Alfonso estar assim com ela naquele momento. Sequer sonhavam que aquele homem na frente deles tinha um lado carinhoso. E verdade seja dita, nem Alfonso sonhava e tinha a ideia de que estava sendo carinhoso com Maite... ele só estava sendo, espontaneamente.
A hora de cantas o parabéns logo chegou e depois do mesmo houve finalmente a paz. Alfonso e Maite não se desgrudaram mais um minuto sequer depois daquilo, e foi ali que Ruth teve a certeza de que eles eram um casal, já que o clima chato do começo da festa havia sumido completamente. A propósito, o pedido de Serena que ninguém além dela sabia foi “já que minha mamãe não pode mais voltar, deixa a Mai e o meu papai juntinhos pra sempre comigo tá bom, Deus?” e então assoprou as velinhas. Restava saber se seu desejo se realizaria.
No fim da noite, os três voltaram juntos para casa. O caminho foi silencioso, calmo... todos estavam cansados. Serena acabou dormindo no caminho e ao chegar no arranha-céu Alfonso levou-a no colo enquanto Maite levava o presente da menina em mãos.
─ Uma pena ela ter dormido antes do presente. ─ Maite disse e eles já estavam no quarto da menina. Alfonso sorriu ao ver a menina se mexendo desconfortavelmente na cama.
─ Hum... Cadê, Mai? ─ Maite deu risada.
─ Você está em condições de vê-lo e dar atenção a ele agora, querida? Tem certeza que não quer deixar para amanhã? ─ A menina rapidamente se sentou na cama, passando as mãos nos olhos e negando com a cabeça.
─ Hoje, vamos! ─ Alfonso e Maite riram e os dois terminaram se sentando na cama com Serena, na frente da mesma, cada um de um lado. Maite pôs o presente em cima da cama.
─ Certo, calma... é algo simples, ok? Mas eu fiz com todo amor do mundo e eu espero que você goste.
─ Mai, eu vou amar, tenho certeza... ─ afirmou e a outra assentiu, deixando a menina abrir a embalagem, minimamente ansiosa.
Serena abriu com cuidado a embalagem. Quando terminou de o fazer tomando o máximo cuidado possível para não rasgar justamente porque era Maite quem estava dando a ela, a mesma arregalou os olhos, sorrindo.
─ Uau, Mai... isso é tão, tão bonito...
─ Mais ainda por dentro... Abre página por página.
Era um álbum de fotos personalizado construído a mão. Era grosso, tinha muitas páginas, e a capa dele era rosa, haviam três fotos enfeitando-a. A maior delas era uma de Serena sozinha, só tinha o rosto da menina e ela estava linda, parecendo uma verdadeira Barbie. A outra era Alfonso e a filha, em uma foto que eles desconheciam a existência: os dois estavam de costas, na pista de gelo, as mãos dadas e se olhavam docemente, ela conseguiu capturar aquele momento com o celular de Serena. E a outra era uma foto da mãe de Serena, grávida, com uma barrida linda de aparentemente uns cinco a seis meses. Alfonso olhou o álbum e olhou Maite, sem fala. Serena não estava diferente. Então foi passando as páginas e se encantando cada vez mais com o que via... todas as páginas eram personalizadas. Começava com fotos de Alfonso e Belinda, depois dela grávida, dos dois juntos com ela grávida, e em seguida de Serena bebê... e assim ia seguindo, cada mês da menina várias fotos e algumas frases fofinhas enfeitando ainda mais as páginas rosas.
─ Meu Deus, Mai... eu...
Ela queria dizer o quanto amou, mas não conseguia nem fazer isso, de tão hipnotizada que estava. Vieram fotos dela com 1 ano, 2, 3, 4, 5, 6... então vieram mais fotos dela com seus tios, com sua avó, com os primos.
─ Mai. ─ A menina fez uma careta e Maite não entendeu.
─ O que houve? Não gostou?
─ Não, não é isso, mas... cadê fotos nossas?
─ Bom, eu... não sabia se vocês iriam querer que colocasse aí... mas eu estou com as fotos, e deixei dezenas de páginas para você adicionar toda as fotos que quiser.
─ Eu quero colocar as suas, Mai! E esse foi o melhor presente do mundo! Eu não vejo a hora de estar bem grande vendo essas fotos com você e o papai de novo! ─ A menina exclamou animada e passou por cima do álbum com cuidado para não pisar no mesmo se jogando nos braços de Maite e agradecendo sem parar. Maite riu de lado a abraçando e mirando Alfonso. Eles dois trocaram o mesmo olhar... Maite não estaria ali quando Serena estivesse “bem grande”. E eles tinham que dar um jeito de fazer a menina aceitar aquilo.
─ De nada, minha borboletazinha. ─ ela piscou para a menina que sorriu e em seguida abraçou com força o pai.
─ Obrigada, papai. Pela festa, por deixar a Mai ficar com a gente, por gostar da Mai... eu sou muito mais feliz desde que ela tá aqui. E essa foi a minha melhor festa!
─ De nada, querida. ─ Alfonso suspirou. ─ Mas agora é hora de dormir...
Uns dez minutos depois Alfonso e Maite saiam do quarto. Eles acabaram parando frente a frente, entre as portas do quarto dele e do que ela dormia antes.
─ Hum... você irá dormir aqui? ─ Ele indagou e pela primeira vez ambos estavam sem graça um com o outro. Havia algo de errado ali... por que raios eles estavam nervosos?!
─ Bom, eu... ─ ela desviou o olhar. ─ Uma hora eu teria que fazer isso mesmo. ─ deu de ombros. ─ Não quero incomodar a Annie e o Jared uma hora dessas da noite.
─ Isso se eles não vierem te pegar, né. ─ Alfonso revirou os olhos e Maite riu.
─ Obrigada por hoje. ─ Maite disse, incerta.
─ Não precisa agir como se eu não estivesse te devendo aquilo. ─ Ele rebateu e ela suspirou. ─ Escute, me perdoe por aquele dia. ─ Maite o olhou desconfiada. ─ Eu só... perdi o juízo. As coisas que envolvem Belinda... e tudo indicava a você e...
─ Você já não confia em mim, e tudo mais. Eu entendi, Alfonso. Mas até que eu tivesse feito algo de errado, a violência não é justificada nunca. ─ ela negou com a cabeça. ─ Você... ah, eu não sei, Alfonso. Eu não consigo entender você. Eu senti tanto medo. Em um segundo você conquista minha confiança, no próximo você a destrói da pior maneira que pode. No próximo, você aparece, me salvando. E no próximo, com certeza, eu sou salva de você... isso é tão fodidamente confuso.
─ Confusão é a palavra, Maite. Eu... não posso mudar o que eu sou e não consigo controlar os meus instintos quando se trata de você. O que eu posso fazer é te pedir desculpa pelo que eu fiz, te afirmar que não tinha a intenção nenhuma de te machucar daquela forma que te machuquei e...
─ Por que você não foi ao hospital? ─ Ela o interrompeu e ele cessou a fala, franzindo o cenho para a única pergunta que ele realmente não esperava que ela o fizesse.
─ Maite, a última coisa que você iria querer era me ver. E além do mais...
─ Isso é o que você não entende, Alfonso. Aí que está o problema. ─ ela falou suspirando e era quase impossível de acreditar que eles finalmente estavam tendo uma conversa civilizada, sem brigas, ou deboches e ironia. ─ Desde que eu entrei nesse mundo dos “Herrera” que eu nem sonhava que existia eu só tinha o Christian. Então ele se foi e, automaticamente, fodidamente, eu só tive você. ─ ele esperou. ─ A Annie é um amor, ela é um anjo, nos tornamos amigas e eu a adoro com todas as forças do meu ser, mas é com você que eu convivo. Do sexo até a guerra é com você que eu convivo. Então, infelizmente, eu estou me acostumando a isso. Naquele hospital, eu só via Annie, Jared, Paul, Candice, Christopher e Dul. Me sentia bem, mas sozinha. Mesmo você sendo um filho da puta e mesmo eu negando sempre que não queria nem olhar para você, tudo que eu queria era ao menos ver essa sua cara ridícula e me sentir, estranhamente, no lugar que agora, mal ou boa, é a minha casa.
─ Você queria que eu estivesse lá, porque mesmo só para brigar, mesmo só para nos irritarmos mutuamente, eu ainda sou tudo o que você tem enquanto estiver aqui, não é? ─ ela assentiu e pela primeira vez se sentiu envergonhada com aquilo. ─ Ah, Maite, eu sinto a mesma coisa. Essa casa... por Deus, eu odeio quando você está nela, mas a mesma se torna o inferno de silenciosa e vazia quando não está. ─ confessou e por aquela ela realmente não esperava. ─ E eu... eu estava lá. ─ disse parecendo estar em uma luta interna incerto de dizer ou não a verdade a ela. ─ No hospital. Todas as vezes que você estava dormindo, eu estava lá.
Por aquela ela realmente não esperava...